1. Mensagem, de 16 do corrente, do José Ferraz de Carvalho (ou simplesmente J. de Ferraz, ou ainda mais simplesmente Zé, como ele gosta que o tratem), aceitando o nosso convite para a ingressar na Tabanca Grande, o que muito nos honra [; ele vive nos EUA, há mais de 40 anos, e continua orgulhosamente a ser cidadão português e a sentir-se patrioticamente português]
Companheiro e camarada Luís:
(i) Ser o nº 527 é uma honra. Obrigado. Para mim é uma honra juntar-me à Tabanca [Grande]. As histórias, como dizes, já as tens.
Quanto às fotos... tinha uma quantidade delas, dos meus tempos na Guiné, infelizmente no transcurso da minha vida, aqui nas Américas, não sei onde estão.
Foi formidável, o companheiro e camarada Manuel Moreira enviou-me um e-mail dizendo que se lembrava muito bem de mim; enviou-me também uma foto tirada no Xime quando, para descarga da infinita espera, decidimos fundar a Rádio Televisão do Xime.
Por curiosidade o homem à minha direita, de tanga, era o famoso Júlio que bebia 2 garrafas de Sagres grandes como pequeno almoço e foi o protagonista da coluna a Bambadinca onde se cortou o corpo inteiro [sic].
Lisboa > Lyceu Central de Pedro Nunes, no tempo da 1ª República... Foto: Cortesia do blogue De Rerum Natura > 17 de Setembro de 2010 > Os liceus na 1º República.
(ii) Nasci por acidente em Ponta Delgada, Açores, em 20 de março de 1945, quando meu pai como oficial da marinha aí estava destacado num dos nossos submarinos.
Com 15 dias voltei a Lisboa com a mãe e, depois de viver com os avós paternos, mudámo-nos para casa dos avós maternos e em 1948 os meus pais finalmente encontraram casa própria, em Carcavelos, onde me criei.
Estive no liceu de Oeiras, depois no Pedro Nunes onde me envolvi nos movimentos de estudantes dessa época e finalmente fiz o terceiro ciclo nos Salesianos do Estoril.
Em 1965 o pai foi nomeado para ser o Senior Portuguese Officer no SACLANT [The Supreme Allied Commander Atlantic,], em Norfolk, Virgínia. Vim então estudar Engenharia nuclear para o Virginia Politecnical Institute, mas tive que ir primeiro para o Old Dominion College para fazer estudos de habilitação. Sempre quis fazer tropa e estava aqui com uma licença militar porque era da incorporação de 65. Lisboa nunca me reconheceu os meus estudos aqui, pelo que em vez de ir para Mafra [, COM], fui para as Caldas [, CSM].
2. Comentário de L.G.:
Zé, para refrescar a tua memória: A CART 1746 eve como unidade mobilizadora o GCA 2, seguiu para a Guiné em 20/7/1967, regressou em 7/6/1969; esteve em Bissorã e no Xime; comandante: Cap Mil António Gabriel Rodrigues Vaz. O destacamento da Ponta do Inglês, onde esteve o Moreira, foi desativado ao Novembro de 1968. Tudo indica que tenhas chegado ao Xime, em janeiro ou fevereiro de 1969, um ou dois meses do início da Op Lança Afiada. Eu, periquito, quando desembarquei no Xime, em 2 de junho de 1969, ainda estavas lá tu.
Depois foste para Bissau, para o QG, onde ficaste os "últimos meses" da tua comissão e regressaste a Lisboa já em 1970. Deves ter chegado à Guiné, com a 16ª Ccmds, meados ou finais de 1968... É isso ? É o que deduzo do que escreveste no primeiro poste (*):
(...) Ofereci-me como voluntário para a 16ª Companhia de Comandos com a qual cheguei a Guiné em 68 [, não dizes em que mês]. No fim da fase operacional [, IAO,] não quis ser comando e fui então destacado para a Cart 1746, Xime, onde o Capitão Vaz me responsabilizou em formar um grupo de combate com o segundo pelotão cujo alferes tinha sido enviado para Lisboa doente" (...).
O Torcato Mendonça acrescenta o seguinte:
"A Companhia do Xime era a Cart 1746, comandada pelo Cap Mil Vaz e pertencente ao Bart 1904. Os Alferes eram o [Gilberto ]Madaíl; um de Évora (Montes? creio que não, talvez Mata); um que foi evacuado para a metrópole em meados de 68 (estive com ele em Agosto de 68 na minha vinda de férias, acompanhado com o Cap Vaz); e um outro que era, salvo erro, de Angola. Não recordo o nome".
Antes da CART 1746, passou pelo Xime a CCAÇ 1550 (1966/68) (estivera antes em Farim; era comandada pelo Cap Mil Inf Agostinho Duarte Belo). À CART 1746, seguiu-se a CART 2520 (1969/70) (que veio comigo na LDG), a CART 2715 (1970/71), a CART 3494 (1972/73) e a CCAÇ 12 (1973/74)...
Há cinco anos atrás, recebemos aqui um comentário do António Vaz:
(...) Chamo-me Antonio Vaz, tenho 73 anos e fui capitão miliciano, comandante da CART 1746, no Xime, de Janeiro 1968 até ao fim da comissão, em Junho de 1969.
Como companhia independente, conheci vários comandantes de batalhão: primeiro os de Bula e depois de Bambadinca. Dos que me recordo melhor foram o Cmdt do BCAÇ 1904, Ten Cor Branco, o Fontoura e o Pimentel Bastos. Todos diferentes, todos iguais. Do Pimentel Bastos recordo com saudade o espírito, a cultura e a simpatia ingénua de um homem que não nascera para aquilo. Nas muitas conversas que tive com ele compreendi o seu drama. Eu estimei-o. António Vaz (...)
[Vd. poste de 4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1025: Tenente-coronel Pimentel Bastos: a honra e a verdade (Luís Graça) ]
Zé, camarada, senta-se aqui ao pé de nós, sob o poilão, frondoso, secular, mágico, fraterno, inspirador, protetor, da Tabanca Grande (**), e deixa fluir (e partilha connosco) os teus pensamentos, memórias, emoções... Estou a acompanhar os teus comentários com muito interesse. Vou aproveitar alguns, para os editar em poste. Manda-me (ou tu, o Manuel Moreira) a tua a que te referes acima, e explica-me o que se passou na tal coluna Xime-Bambadinca em que o Júlio "se cortou o corpo inteiro". Vejo, por outro lado, que és um cidadão do mundo, mas intrinsecamente português. Para quem não escrevia em português há muitos anos, estás muito bem. Recebe um grande Alfa Bravo, querido camarada do Xime!... Meu, dos demais editores e do resto da Tabanca Grande. LG
PS - Vou pôr-te na lista alfabética dos membros da Tabanca Grande (constante da coluna do lado esquerdo) como José Ferraz de Carvalho, se achares bem. Ou só José de Ferraz, se achares melhor.
______________
Notas do editor:
(*) 14 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9043: Camaradas da diáspora (7): José Marçal Wang de Ferraz de Carvalho, Fur Mil Op Esp, da 16ª CCmds e da CART 1746 (Xime, 1968/69): vive hoje em Austin, Texas, EUA
(**) Último poste da série > 16 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9052: Tabanca Grande (306): José Santos, ex-1º Cabo Enf, CCAÇ 3326 (Mampatá e Quinhamel, Jan 71/Jan 73)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
7 comentários:
Caro camarigo Zé Ferraz
Pois que sejas muito bem aparecido por aqui.
É, dum modo geral, um local confortável e agradável, embora de quando em vez apareçam umas perturbações... afinal é assim a vida, não é?
Pelo que já li terás muitas recordações para 'soltar'. Venham de lá essas memórias que agora começas a desfiar.
Uma pequena pergunta: andaste no Pedro Nunes, em que anos? Eu estive na Machado de Castro nos anos lectivos de 64/65 e 65/66 e sempre havia a velha rivalidade entre o pessoal dos liceus e os das escolas técnicas. Recordo-me que por vezes havia uma espécie de 'guerra de pedras' dum lado para o outro...
Abraço
Hélder S.
Caro José Ferraz
Primeiro que tudo desculpa o engano no comentário anterior.
Sabes que fomos vizinhos, tu eras de Carcavelos e eu de Cascais, eu também estudei nos Salesianos do Estoril, e fui parar á Guiné, mais propriamente estive em Bissorã, pertencendo á Cart.643-Aguias Negras, isto nos anos 64 e 65. Eu sou um pouco mais velho, cerca de 3 anos e meio.
O Helder Valério tem razão, despeja essas memórias, pois vai fazer bem tanto a ti como a nós cá na Tabanca.
Um abraço
Rogerio Cardoso
Para ambos os companheiros e camaradas Helder Valerio e Rogerio Cardoso que sem me conherem de parte nenhuma... muito obrigaado pelo vossa carinhosa recepcao faz-me sentir bem.
Para o Helder lembro-me das pedradas do nosso campo de jogos do P.N. sobre o muro para a tua escola. mas eu estive nesse liceu no anos lectivos 60/61,61/62 e 62/63 fiz o 6 e 7 anos nos Salesianos que portanto seriam os anos lectivos 63/64 e 64/65 quando vim estudar para os EUA.
Para o Rogerio nos meus tempos do Estoril -Lembraste do Padre Joao disse-lhe uma vez se me bate com a campainha outra parto-lhe a cara nunca mais me tocou, professores ai porquem tive e tenho respeito foram os padres Langner-fisico-quimica,padre Fransiaco-filosofia, o dr. Brito-matematica, e o professor de ciencias que morava na Parede e de que nao me lembro do seu nome. de condescipelos mues que me lembro bem eram o Ze Farinha Guerrao,o Rui Reis Pereira, 0 Federico Roquette e outros que agora vejo a cara mas nao me lembro dos seus. Agora em Cascais durante esses dois ultimos anos ia todos os fins de semana para o quartel GDAAC1 andar de cavalo onde fiz amigos que me lembro Antonio Silva Pinto, Chico Stoffel
uma moca alema por quem tive uma paixao assulapada.
Gosto de me lembrar dos episodios anedoticos dos meus temos militares por que penso que teem graca dos tristes nao me esqueco mas nao gosto de falar deles proque sei de antemao puderao causar polemica e de polemica estou farto,
Um forte abraco -Ze.
Companheiro e camarada Luis: Aqui esta a historia do Julio uma manha ao alvorecer sai do Xime com a minha malta para montar seguranca na area do costume entre o Xime e Amdalai para uma coluna de reabasticimentos que sairia pouco depois. Sem novidades passarao e nos regressamos ao Xime. Essas colunas de reabast5ecimento de costume regressavao a volta das 3 da tarde. Chegam as tres e nada 4.5.6.7.8.9.10,11 e nada nunca soube porque mas os meios radio nesse dia estavao de rastos e nao conseguiamos comunicarnos com Babadinca. A volta da meia noite fui chamado as relotes e o Ferraz aguarre no seu grupo e va ver o que se passa, noite de lua nova nao se via nada.... aguarrei na G-3 passei pelo abriga da minha malta acordei dois ou tres passando duma ponta a outra dizendo... Ta no ir "pessoal balanta" e arranquie pelo arame farpado fora. ja no trilho da bolanha passarao-me a frente a bazuka e o morteiro porque se suspeitavamos que o IN estava emboscado junto a primeira ponte fazia sempre fogo de reconhecimento 3 morteiros e isso fazia com que o In levantasse a emboscada. Nessa noite devido ao imprevisto tinha a certeza que eles nao teriao tido tempo de fazer nenhuma emboscada nem teriam tido nenhuma informacao endicando a nossa saida.. iamos a vontade mas como sempre prevenidos. Passa-mos Amedalai nada da coluna...chagamos a Babadinca e ai estavao porque a GMC tinha um problema com o eixo. Disse ao meu pessoal que se desenrrascace com os amigos e eu fui dormir. Na manha seguinte vieram-me avisar que o Julio estava na enfermaria todo cortado.
Primeiro pensamento- o sacana foi para a tabanca mandar a queca da ordem e lixou-se. Fui a enfermaria e ai estava o Julio nu na cama a G-3 e saco de dilagramas no chao. O Julio o que e que te aconteceu... Meu furriel diz-me ele- como e que nos chagamos aqui...o Julio estavas com a buba nao? Meu furriel sabia la que iamos sair ontem a noite nem me lembro do caminho.. evidente que o nosso amigo vim mais tarde a saber... acordara-no gosse gosse ta no ir ele de tanga para nao dizer nu agara na sua G-3 saoc de dilagramos e porta fora durante ess trajecto lua nova ninguem se deu conta do estado em que estava ou o que trazia vestido e aos trambulhoes la foi andando ate Babadinca a partir desse dia tive o maior respeito pela sua facanha que grande soldado que bebado ou nao, nao deixou os seus companheiros... Valente.
Lembro agora que depois da minha loca chegada ao Xime quando o Cap. Vaz me chamou ao seu gabinete no dia seguinte e me apresentei Lembro bem da sua figura pera e tudo ( se bem me lembro era arquitecto.. O nosso furiel se nao e loco tem-os de bronze... benvindo agora quero que forme um grupo de combate com aquilo que aprendeu... e eu disse-lhe Meu caitao posso pedir voluntarios... disse-me que sim e quando a palavra passou que eu queria voluntarios quase a toda companhia se apresentou na "parada"nunca se formou nada e vi-me como o furriel reponsavel pelo 2 pelotao cujo alferes tinha ido para Lisboa evacuado. Realmente foi um pelotao formidavel era-mos companheiros e tinhamos a maior confianca em todos nos em e fora de perigo. Tenho imensas saudades de todos esse valiosos companheiros.
Um forte abraco Luis-Ze- e ai tens agora o resto historia do valente Julio... se bem me lembro....
Amigo Zé Ferraz
Gostava de ter o teu contacto, para dar resposta sobre os tempos da Escola Salesiana do Estoril, para já fica o meu:
rmcardoso1941@gmail.com
um abraço
Rogerio Cardoso
para quem me quiser contactar me por outros meios o meu E-mail e
jdeferraz@yahoo.com.
Morada postal:
Jose M. deFerraz
4911 Manchaca rd. #231
Austin, Texas-78745
U.S.A.
Telefone-512-999-0561
Carissimo Companheiro e Camarada Luis:
Relampagos mentais (Traducao livre de Brain farts= peidos cerebrais)
Ja estava no QG. quando um dia a volta do almoco apareceu la um jeep da PM queriam falar comigo urgentemente (nunca gostei desses tipos cagoes ate dizer chega a minha recruta nas Caldas foi dada por cabos milicianos da PM que curiosamente estavao de servico no cais no dia do meu wembarque para a Guine onde eu de proposito me aproximei deles tocavia cabos milicianos e eu furriel para que me fizessem a continencia da ordem) mas voltando ao assunto deste "relampago" Disse-me um dos PMs -Meu furriel persisa de vir conosco ao Pilao porque esta ai um soldado nativo que nos ameaca com a G3 quansdo queriamos entrar na sua tabanca diz que so fala consigo... La fomos e quando la chegamos os PMs tinham montado seguranca a volta dessa tabanca e procuraram disuadir-me de entrar- gritei para que soldado me ouvissee entro pela tabanca ai estava o Mussa, que tinha feito operacoes comigo no Xime sentado na cama e semi deitado contra a parede fardado com a G3 ao seu lado e um enorme punhal fula espetado na barriga de que so se via o punho e uma enorme mancha de sangue coagulado e ja seco sobre o seu ventre, estava vivo... falamos consegui convencelo primeiro a dar-
me a G3 e depois a ser levado para o hospital militar onde os medicos o salvaram. nunca consegui saber as as suas reais razoes detras deste
acto, soube infelizmente que postriormente consumio o suicidio.
Um forte abraco -Ze
Enviar um comentário