sábado, 10 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9177: Blogpoesia (172): Uma a uma, tomei nas mãos as Kalashs... (António Graça de Abreu)

1. Sobre a construção da estrada Jugudul-Bambadinca, de que temos aqui falado, ultimamente, a propósito da localização de Polibaque, encontrei um apontamento poético do António Graça de Abreu (AGA), no seu Diário da Guiné, que merece ser divulgado no nosso blogue, na série Blogpoesia... 


Quem passa por lá hoje, vindo de Bissau, a caminho do leste ou do sul, não imagina quanto suor, sangue lágrimas custou, tanto ao PAIGC como às NT e aos civis guineenses que lá trabalharam,  aquele troço de estrada... 


No final de Julho de 1974, quando o BCAÇ 4612/72, deixou a responsabilidade do Setor 04 (Mansoa),  a estrada Jugudul-Bambadinca tinha uma extensão de 25 km asfaltados (a asfaltagem começara em Fevereiro de 1973, mês em que se concluíram os 7 primeiros quilómetros; em Junho de 1973, os trabalhos estavam no quilómetro 14; um ano depois no 25).




2. No seu Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra e Paz, 2007, p. 109), escreveu AGA o seguinte (que reproduzimos com a devida vénia):




Mansoa, 11 de Junho de 1973


Dois pelotões da 38ª de Comandos , afectos ao CAOP1,] foram dar uma ajuda à tropa do batalhão [, BCAÇ 4612/72,] que fazia a segurança nos  trabalhos da estrada Jugudul- Bambadinca e foi flagelada. Houve contacto com o IN e os Comandos que não sofreram feridos, fizeram quatro mortos. Para o CAOP [, Mansoa,] trouxeram as armas dos guerrilheiros, três Kalashikovs e uma Simonov de fabrico russo e chinês. Eu escrevi:


Quatro armas frias,
puras do húmus da terra,
de sangue ainda fresco,
num pano de lona verde.


Uma a uma,
tomei nas mãos as Kalashs,
culatra atrás, bala na câmara,
patilha de segurança.


As armas dos homens que tombaram,
outra vez caídas,
silenciosas, mortas.
O canto doloroso da razão.


3. Comentário de L.G.:


Esta acção não vem referida na actividade operacional do mês de Junho de 1973, constante da História da Unidade do BCAÇ 4612 (Mansoa, 1972/74), talvez por que a 38ª CCmds dependesse do CAOP1 e não do comando do batalhão, sediado em Mansoa.


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Nota do editor:


Último poste da série > 7 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9152: Blogpoesia (171): Guineíades - Memórias de uma Comissão (António Tavares)

1 comentário:

Hélder Valério disse...

Caros camarigos

É bem conhecida a feliz relação do nosso camarigo AGAbreu com a escrita.

Escreve bem, tem bons artigos e os seus poemas 'dizem-nos' sempre alguma coisa.

Deve dar continuidade e sublimar essas suas capacidades e, se for do seu agrado, partilhá-las connosco.

Abraço
Hélder S.