Praia da Luz - Foz do Douro - Porto
1. Mensagem do nosso camarada Henrique Cerqueira* (ex-Fur Mil da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74), com data de 22 de Agosto de 2012:
Camarada Carlos Vinhal
Hoje aconteceu que fui apanhado pela “Nostalgia” e vai daí escrevi com o lápis e com o “Coração”.
Como dará para ver, e como sempre lembro, não sei “escrever” para todos lerem mas arrisquei, e como este escrito é mais do coração que da “pena”...
Um abraço
Henrique Cerqueira
A minha Praia
Enfim instalado na areia dourada da minha praia preferida da Foz do Douro.
É de areia dourada e muito rochosa de cor acastanhada, que em certos momentos a paisagem nos faz lembrar outros locais utilizados em filmes de ficção sobre outros planetas. Mas neste local onde me instalei para saborear um pouco dos raios do nosso astro-rei para relaxar e bronzear um pouco corpinho, tenho à minha frente o meu Oceano azul, salpicado aqui e ali por crista brancas, com a sua linha do horizonte como que riscada a régua e esquadro numa tela de fundo azulada, onde se encontra com o céu salpicado de alguns novelos de nuvens acinzentadas.
Mais próximo da praia, a escassas dezenas de metros, lá está o "Velho Gilreu" que é uma ilhota ou seja um grande rochedo no meio do mar, como que a lembrar os meus tempos de jovem adolescente, que à boleia de alguns barqueiros, formávamos pequenos grupos de rapazes e raparigas para irmos apanhar lapas e mexilhões, e com um pouco de sorte um beijinho ou outro da nossa miúda.
Mas o que pode interessar assim tanto a minha praia? Afinal há tantas praias e todos poderão ver o horizonte, o Gilreu e a paisagem.
Pois é... Só que não a veem com os meus sentidos e muito menos com as minhas recordações. Ou ainda com a falta delas naqueles dois anos passados na Guiné, longe tão longe da minha praia. Tinha as recordações dos anos anteriores não é? Não na verdade eu lá na Guiné não recordava a minha praia, o meu mar, o meu Gilreu, não... não recordava.
Quando tentava recordar só aparecia uma imagem na minha cabeça, imagem essa que era como um letreiro a neon que piscava incessantemente... Até que consegui decifrar esse letreiro.
Não... não era o nome da minha praia, nem imagens da minha praia, nada disso. Depois de muito tentar eu decifrei e... então entendi a mensagem que era: "Tens que sobreviver a isto. Tens que voltar à tua praia".
Eu estive lá e voltei, e hoje a minha praia está tal e qual como quando a deixei nesses dois anos. Já não posso ir ao Gilreu aos mexilhões e às lapas mas estou aqui espraiado ao sol mirando o meu horizonte, o meu Gilreu e o meu mar. Estranho... também estou triste, e porquê? Já sei, é que tive camaradas e amigos que jamais voltaram para ver a "Sua Praia".
Quem sabe, um dia nos encontraremos noutro "Espaço" e então eu lhes falarei da minha praia. Quem sabe?...
Hoje escrevi estas letras movido por alguma nostalgia quando estava na praia a desfrutar um pouco de sol, e como tenho que fazer alguma coisa na praia, geralmente ocupo o tempo com papel e lápis.
Hoje desculpo-me perante vós com esta escrita mal alinhavada e ao correr da pena, no entanto gostaria que vissem a minha e a vossa praia com o sentimento real e verdadeiro que hoje vi.
Um grande abraço e um bom Verão para toda a tertúlia deste Blogue
Henrique Cerqueira
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 3 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10220: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (12): Os primeiros encontros, em Bissorã, com o inimigo de ontem (Henrique Cerqueira, ex-fur mil, CCAÇ 13, 1973/74)
Vd. último poste da série de 17 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10275: Blogoterapia (213): Amizades encontradas nas bolanhas e matas do nosso Blogue (José da Câmara)
4 comentários:
Henrique, o que vou escrever aqui não tem própriamente a ver com o texto, apenas esclarecer ou chegar mais perto do conhecimento.
Há dias vi aqui no blog uma foto tua, à frente do pelotão, vi então um jovem de vinte e poucos anos, e "vi" o Henrique tripeiro, que conheci nas Caldas- 3ºturno 72, ou teria sido Tavira-4º turno72?
Já revolvi alguns "bonecos" daqueles tempos, porque juro que este Henrique fez parte do meu grupo de instruendos, mas a quse totalidade dos bonecos daquele tempo desapareceram.
Dá-me lá umas dicas por onde andaste e quando, pelotão que pertenceste, enfim o que achares que possa servir como ponto de referência.
É que este Henrique que conheci é das poucas pessoas que me ficaram na retina. Daqueles tempos lembro-me apenas de uma dúzia pouco mais, pelas mais diversas razões. Quanto a ti era o facto de seres um pachá (desculpa lá o termo) sempre disposto a ajudar e a moderar qualquer mal entendido. Um homem de paz.
Um abraço
Antonio Almeida
António Almeida
Eu não sei se sou a pessoa que recordas e o termo "pachá" não me ofende porque não o entendo como vulgarmente se aplica (ou aplicava)aqui no Norte,que era sinónimo de molengão.Quanto a ser um homem de paz e não gostar de qualquer tipo de violência e sempre pronto a apaziguar,sim esse é e sempre foi o meu feitio .
Quanto ao meu percurso:Estive nas Caldas R5 na 4ª companhia e no 3º turno de 1971.Em Tavira 4ºturno 1971.Em Janeiro 72 em Elvas BC8 e a partir de Março até 19 de Junho 1972 em Evora R16 a partir de 19 de Junho de 1972 até Julho de 1974 na nossa "amiga Guiné".
De qualquer dos modos seja ou não a pessoa que recordas fico grato pelas tuas simpáticas palavras sejam para mim ou para o Henrique que retens na memória.É sempre agradável recordarmos os bons camaradas e ás veses até os menos bons,pois que não poderemos esquecer que naquela época o contesto dos comportamentos eram na maioria das vezes condicionados por imensos fatores da vida.
Se desejares conversar um pouco mais e até porque me despertaste alguma coriosidade e para não ocuparmos demasiado este espaço,podes me enviar um email para o seguinte inderesso.
(henricerqueira@gmail.com)
Um abraço Henrique Cerqueira
Pois caro Cerqueira, eu tinhas todas as saudades da Avª, do Moreira, da Cantareira onde nasci, Bailes de S.João, disso tudo e das vezes que fui ao Gilreu nunca mais o fiz depois) a nado, mais os saltos de criança no Relógio, mais oparadão do Molhe.
Nada disso esqueci na Guiné. Porque sabia, queria estar outra vez com meus camaradas. Somente uma coisa me fazia falta. A sirene do Farol.
Um Abraço e saúde.
Cumprimentos p/ a restante Tabanca.
Carlos Filipe
ex-CCS Bcaç3872 Galomaro/71
Caro Carlos Filipe.
Eu sempre achei que te reconhecia na foto de apresentação dos comentarios.Provavelmente será só de vista,pois percorremos lugares comuns da Foz e Cantareira,Palmeiras ,Meia-Laranja,Praia das Pastoras,enfim lugares da nossa juventude.Hoje ainda os frequento e até se ouve a sirene do farol embora com som mais moderno que nos lembra que há nevoeiro na costa.
Um abraço e vai dando novas ,o meu paradeiro principal é no Xalé Suisso.
Henrique Cerqueira
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