1. Pedi ao Luís Nascimento algumas informações adicionais:
(...) Já agora diz-me a razão de ser da tua alcunha, "assassan" (do francês, "assassin", assassino)... Diz-me também as datas (mês/ano): quando é que estiveste em Canjambari e em Farim... Quando é que vieste férias... Se tu foste para a Guiné com a tua companhia, a CCÇ 2533, então viajámos juntos (eu pertencia à CCAÇ 2590, futura CCAÇ 12), no Niassa, em 24/5/1969 (com chegada a Bissau a 30) e regressámos juntos, ni Uige (a 17/3/1971)!!!...
É verdade ? Se sim, como vês, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!!!... Um abração forte. Luis Graça
2. Resposta de imediato do Luís Nascimento,com data de ontem:
Assunto: Histórias e Recordações de Guerra
Amigo Luís Graça,
Começo por agradecer a tua disponibilidade, por aturares todos estes filhos da Guiné e responder às tuas dúvidas, acerca do meu passado pelas fileiras do exército e a alcunha de "SIR ASSASSIN" meio inglês, meio francês...
Assunto: Histórias e Recordações de Guerra
Amigo Luís Graça,
Começo por agradecer a tua disponibilidade, por aturares todos estes filhos da Guiné e responder às tuas dúvidas, acerca do meu passado pelas fileiras do exército e a alcunha de "SIR ASSASSIN" meio inglês, meio francês...
Fiquei com a alcunha dos tempos em que era júnior do Académico de Viseu. Na altura, o meu avô Vicente Afonso estava estabelecido com um negócio de talho, lá para os lados da Feira Franca de S. Mateus (Ribeira), junto ao campo de Viriato.
Num jogo disputado no estádio do Fontelo com o Abraveses, eu que era guarda-redes, por indicação de mestre Vieirinha jogo a avançado centro. Ora numa rotação à entrada da área, deixei o defesa pregado e estatelado no chão e, sem maldade, com as travessas da chuteira, atingi o meu adversário na mão que com os pregos à vista se feriu, sangrando abundantemente.
Jogo parado, para assistência ao jogador, e da bancada central do estádio, um espetador (Sr. João Pereira), ex sénior do clube, manda a grande boca:
- És um assassino, julgas que estás lá no talho a matar vacas! ?
Daí a alcunha que perdura até hoje, mas com um toque mais macio, "Sir Assassan".
Estive no R.I. 14. na recruta, estive 2 semanas nos campeonatos de atletismo da 2ª Região Militar em Coimbra, no estádio universitário. E depois em Leiria R.A.L 4 (Escriturários e S.P.M), onde bati umas bolas com:
(i) o Aurélio Pereira (S.C.P), o Manecas (Elefante Branco), o Gê Gê (Gabriel Gonçalves, Cripto, o Jeselito de Bambadinca, já teu conhecido, da CCAÇ 12);
(iv) o Moita (Oriental), o Brazão e o Camões (Trafaria), o Rodrigo Moura (AC de Viseu), internacional júnior na Alemanha com Victor Damas (Andámos os dois na Nuno Gonçalves, morámos na mesma rua, em Ponta Delgada, no mesmo prédio, jogámos à bola nas escadinhas da Ilha do Pico, com o irmão Miguel, o Dani e o Colorado, mais tarde dos "Neptunos" das grandes noites do Passadiço)...
(i) o Aurélio Pereira (S.C.P), o Manecas (Elefante Branco), o Gê Gê (Gabriel Gonçalves, Cripto, o Jeselito de Bambadinca, já teu conhecido, da CCAÇ 12);
(iv) o Moita (Oriental), o Brazão e o Camões (Trafaria), o Rodrigo Moura (AC de Viseu), internacional júnior na Alemanha com Victor Damas (Andámos os dois na Nuno Gonçalves, morámos na mesma rua, em Ponta Delgada, no mesmo prédio, jogámos à bola nas escadinhas da Ilha do Pico, com o irmão Miguel, o Dani e o Colorado, mais tarde dos "Neptunos" das grandes noites do Passadiço)...
(v) e ainda o Pavão (F.C.P) (ainda bebi uns copos com o pai, quando da minha estadia no B.C.10 em Chaves, na formação da CCAÇ 2533), o Caló (S.C.P) e o Camocas (S.L.B).
Ainda hoje o Assassan está presente nos almoços anuais do 2º Turno de 1968 (Criptos, Material Segurança, Informação, Escriturários S.M.P). Estive de férias no mês de Agosto na Metrópole.
As datas referidas estão certas. Quando cheguei a Bissau, depois de passar pelos adidos, quartel general e Amura de visita a camaradas, embarcámos na banheira "Montante" [LDG], com destino a Farim, com paragem no Cacheu, em Ganturé, Binta e finalmente à terra da Maria Gorda e do Pedro Turra.
Em coluna lá foram os piriquitos à ração de combate, há 9 dias com destino a Canjambari, Morocunda, com passagem por Ponte Lamel (onde mais tarde em 71 morreu em combate o nosso Alferes Ambrósio), Jumbembem (terras do Carlos Silva) e por fim o inferno até Dezembro 70, o fim da comissão cerca de 3 meses em Farim, sem grandes problemas só umas bazucadas em Nema, na companhia de Vasco Lourenço e seus muchachos.
Pois, amigo, viajamos nos mesmos cruzeiros e numa tivemos a companhia do camarada Jerónimo de Sousa, do P.C.P, da Companhia Polícia Militar 2537.
A bordo do Niassa, ancorado no cais do soldado, em Stª. Apolónia, o meu pai Alberto Ramos (Tripulante do N/M Moçambique), foi fazer um pedido a um colega pasteleiro do navio, para me dar de comer e beber, pois a dormida ficou por minha conta, umas vezes no tombadilhos, outras vezes no fundo do porão em estado de coma com uma Vat 69 por perto.
Um Alfa Bravo,
Com WW um para ti, outro para mim. Nascimento
"Sir Assassan"
P.S - Quero aqui homenagear duas Grandes Mulheres que recordo com saudade, da minha vida de Militar: Dª Aida Batista e Dª Fanta de Farim.
N/M Niassa > Navio misto (carga e passageiros), de 1 hélice, construído em 1955, na Bélgica, registado no Porto de Lisboa, e abatido em 1979; com mais de 151 metros de comprimento, tinha arqueação bruta de c. 10.700 toneladas, uma potência de 6.800 cavalos e uma velocidade normal de 16,2 nós. Dispunha dos seguintes alojamentos: 22 em primeira classe, e 300 em classe turística, num total de 322 passageiros. (Quando transportavam tropas, a sua lotação quintuplicava...). O número de tripulantes era de 132. Armador: Companhia Nacional de Navegação, Lisboa.
Foi neste navio, adaptado a transporte de tropas, que viajaram (!), de Lisboa para Bissau, diversas companhias independentes, incluindo a CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), a CCAÇ 2591 (futura CCAÇ 13), a CCAÇ 2592 (futura CCAÇ 14), bem como a do nosso camarada Luís Nascimento, a CCAÇ 2533 ou ainda a CPM 2537 a que pertenceu o atual secretário geral do PCP (Partido Comunista Português), Jerónimo de Sousa. (Foi através do Luís Nascimento que soube deste facto, que desconhecia por completo).
Crédito fotográfico: Navios Mercantes Portugueses (2004) (Foto aqui reproduzida com a devida vénia...)
T/T Niassa > Maio de 1969 > Lista das subunidades transportadas para o TO da Guiné (Documento gentilente disponibilizado pelo camarada da Reserva Naval, Manuel Lema Santos)
Guiné > Região do Oio >Canjambari > CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 19679/71) > o 1º cabo cripto Luis Nascimento.
Fotos (e legendas) : © Luís Nascimento (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]
(Continua)
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Nota do editor:
4 comentários:
Na biografia (oficial) do deputado e dirigente do PCP, Jerónimo de Sousa, diz-se que ele é membro do PCP desde 1974 e que, antes, "entre 1969 e 1971 cumpriu serviço militar no Regimento de Lanceiros 2 e na Guiné"...
Não é identificada a companhia. Segundo informação do Luís Nascimento seria a CPM 2537, que embarcou connosco no T/T Niassa em 24/5/1969.
http://www.pcp.pt/actpol/temas/presidenciais2006/biografia.htm
A Companhia de Polícia Militar 2537 (Guiné, 6/1969 a 1271970) tinha um jornal de caserna, "O Santo", de que se terão publicado 23 números.
Será que alguém tem um ou mais mais exemplares de "O Santo" ?
http://guerracolonial.home.sapo.pt/bibliografia/c.html
É provavel que existam na biblioteca do Estado maior do Exército.
É efectivamente possível que na hemeroteca da Biblioteca do Exército exista o tal jornal "O Santo". É questão de procurar. Encontrei lá alguns, mas creio que serão poucos, se comparados com os que se terão produzido.
Um Ab.
António J. P. Costa
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