Foto: © José Casimiro Carvalho (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
Excerto de uma das cartas enviadas pelo J. Casimiro Carvalho, de Gadamael, dirigida à "Minha querida mãezinha" e datada de 26/6/73: "Now we have peace", finalmente estamos em paz... Das cartas enviadas pelo J. Casimiro Carvalho aos pais, a partir de Guileje e Gadamael, em 1973, fizemos uma pequena série, Cartas do Corredor da Morte.
Para:
(i) o José Casimiro Carvalho (Maia),
que perdeu ontem a sua mãezinha,
(ii) o Lázaro Ferreiro (Braga),
que também ficou órfão há um mês
(em 31/10/2013, perdeu a sua mãe, Alzira da Conceição Dias)
e (iiii) todos demais camaradas e amigos
e (iiii) todos demais camaradas e amigos
a quem faleceu recentemente a mãe,
aquela que lhes deu o ser... (LG)
Meu querido amigo e camarada:Soube, pela teu aziago mensageiro,
que a tua querida mãezinha,
o teu "primeiro amor"
(que linda e feliz expressão!),
se despediu hoje desta vida...
A morte, mesmo quando anunciada,
aquela que lhes deu o ser... (LG)
Meu querido amigo e camarada:Soube, pela teu aziago mensageiro,
que a tua querida mãezinha,
o teu "primeiro amor"
(que linda e feliz expressão!),
se despediu hoje desta vida...
A morte, mesmo quando anunciada,
é intolerável.
Procuramos, nestas ocasiões, únicas,
encontrar palavras de conforto
Procuramos, nestas ocasiões, únicas,
encontrar palavras de conforto
para dizer aos nossos amigos em luto.
Não é fácil.
Nesta ocasião,todas as palavras são demais,
estão a mais,
parecem deslocadas...
Não é fácil.
Nesta ocasião,todas as palavras são demais,
estão a mais,
parecem deslocadas...
Mas sabemos quanto é bom
ter um ombro amigo,
à nossa disposição,
à nossa disposição,
à nossa altura,
à altura do nosso ombro,
para estes dias e horas de amargura.
Guarda, meu caro,
as tuas melhores memórias,
os teus melhores momentos
passados com a tua mãe, que te deu o ser,
que te protegeu,
que te alimentou,
amamentou,
te ensinou a falar,
que te ensinou a dizer a palavra "mãe",
que te ensinou a ver o mundo,
a distinguir as cores,
a descodificar os sabores,
a destrinçar os sons,
a conhecer as formas....
Que te indicou o norte e o sul,
o oeste e o leste.
Que rezou por ti,
para que regressasses são e salvo da guerra.
Que daria a vida por ti,
à altura do nosso ombro,
para estes dias e horas de amargura.
Guarda, meu caro,
as tuas melhores memórias,
os teus melhores momentos
passados com a tua mãe, que te deu o ser,
que te protegeu,
que te alimentou,
amamentou,
te ensinou a falar,
que te ensinou a dizer a palavra "mãe",
que te ensinou a ver o mundo,
a distinguir as cores,
a descodificar os sabores,
a destrinçar os sons,
a conhecer as formas....
Que te indicou o norte e o sul,
o oeste e o leste.
Que rezou por ti,
para que regressasses são e salvo da guerra.
Que daria a vida por ti,
se necessário fosse.
Enfim, sem elas, as nossas mães,
sem elas e sem os nossos pais,
não passaríamos muito provavelmente
de uma folha de couve, de uma tábua rasa,
sem valores,
sem linguagem,
sem emoções...
Enfim, sem elas, as nossas mães,
sem elas e sem os nossos pais,
não passaríamos muito provavelmente
de uma folha de couve, de uma tábua rasa,
sem valores,
sem linguagem,
sem emoções...
A morte de uma mãe
(a par da morte de um pai, de um filho, e do cônjuge)
é, por isso,
um dos mais terríveis acontecimentos de vida,
a que está sujeito um ser humano...
Com a morte da nossa mãe
cortamos o cordão umbilical,
pela segunda e derradeira vez.
Os nossos pais são as nossas raízes mais telúricas,
as que nos prendem à vida e ao mundo.
É por isso que, mais do que nunca,
nos sentimo-nos desamparados,
fisicamente sozinhos no mundo,
quando eles desaparecem.
A orfandade é isso.
Mas teremos, sempre, que fazer o luto.
No teu caso, eu sugiro que escrevas
sobre a tua mãe,
que releias as suas cartas
(e as que lhe escreveste,
da Guiné, de Guileje, de Gadamael, de Paunca)...
Vai te fazer bem.
E quando fores ao cemitério,
fala com ela em voz alta,
com a ternura com que lhe falavas
nas tuas cartas da Guiné,
para que o seu espírito repouse em paz,
(a par da morte de um pai, de um filho, e do cônjuge)
é, por isso,
um dos mais terríveis acontecimentos de vida,
a que está sujeito um ser humano...
Com a morte da nossa mãe
cortamos o cordão umbilical,
pela segunda e derradeira vez.
Os nossos pais são as nossas raízes mais telúricas,
as que nos prendem à vida e ao mundo.
É por isso que, mais do que nunca,
nos sentimo-nos desamparados,
fisicamente sozinhos no mundo,
quando eles desaparecem.
A orfandade é isso.
Mas teremos, sempre, que fazer o luto.
No teu caso, eu sugiro que escrevas
sobre a tua mãe,
que releias as suas cartas
(e as que lhe escreveste,
da Guiné, de Guileje, de Gadamael, de Paunca)...
Vai te fazer bem.
E quando fores ao cemitério,
fala com ela em voz alta,
com a ternura com que lhe falavas
nas tuas cartas da Guiné,
para que o seu espírito repouse em paz,
e para que os bons irãs a protejam
e te protejam, a ti e aos teus.
É isso que eu faço
com o meu pai, meu velho, meu camarada,
que me deixou o ano passado...
Faz-nos bem.
Far-te-á bem,
meu bom amigo e camarada.
Um xicoração apertado.
26/11/2013
Luís Graça
É isso que eu faço
com o meu pai, meu velho, meu camarada,
que me deixou o ano passado...
Faz-nos bem.
Far-te-á bem,
meu bom amigo e camarada.
Um xicoração apertado.
26/11/2013
Luís Graça
______________
Nota do editor:
Útimo poste da série > 27 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12353: Blogoterapia (243): Reflexão sobre a amizade (Abel Santos / Alberto Alves)
Nota do editor:
Útimo poste da série > 27 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12353: Blogoterapia (243): Reflexão sobre a amizade (Abel Santos / Alberto Alves)
2 comentários:
Joaquim Luis Mendes Gomes
27/11/2013
Ouvi-te cantar esta noite...
Eras tu, minha Mãe saudosa,
Que me embalavas,
Esta madrugada de insónia,
Para eu dormir...
Como quando era menino de berço.
Aquela voz tão linda...
Soava tão doce.
Vinha do céu.
Onde moras,
Com teu Amor,,
Há muitos anos.
Ao pé de Deus!...
Bendita sejas!...
( lembrando minha Mãe...no seu derradeiro dia)
Berlim, 27 de Novembro de 2013
10h38m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Perante a partida e a perda dos nossos entes mais queridos e na imensurável dor experimentada, sobressai a pena de não ter retribuído em amor em tempo útil, todo o amor recebido na essência do nosso Ser.
- Mas não é na gratuidade que se manifesta a natureza do verdadeiro Amor?!
- Na Guiné, no Chão Manjaco, nas populações animistas, aprendi a respeitar a estacas de pau preto junto às moranças, que personificavam as almas dos antepassados com quem a família se relacionava, falando-lhe, apresentando-lhe os seus problemas e as suas preces.
- Entre nós, de matriz cultural e religiosa judaico-cristã, um dos pilares das nossas convicções assenta na imortalidade da alma e na vida eterna.
- Felizes aqueles que abertos ao dom da Fé, assumem na sua vida a relação com os seus ausentes, tornando-os presentes, na comunicação dos santos, na nova e definitiva vida.
Um abraço fraterno, na dor e na esperança.
JLFernandes
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