sábado, 30 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12367: Carta aberta a... (9): Senhor Coronel de Artilharia António Carlos Morais da Silva (Vasco Pires)

Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Vista aérea de Gadamael Porto nos finais do ano de 1971
Foto: © Morais da Silva (2012). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72) com data de 26 de Novembro de 2013:

Caríssimos Luís Graça e Carlos Vinhal,
Cordiais saudações.
Peço, publiquem esta CARTA ABERTA.

Vasco Pires


CARTA ABERTA AO SENHOR CORONEL DE ARTILHARIA ANTÓNIO CARLOS MORAIS SILVA

Exmo. Senhor Coronel de Artilharia Antonio Carlos Morais Silva,

Sou mais um desses milhões da multisecular Diáspora Lusitana; saí de Portugal no mesmo ano (1972) em que voltei da Guiné-Bissau, e por aí vou andando até esta data.
As andanças pelo mundo me afastaram das memórias Africanas, armazenadas lá onde quer que chamemos, subconsciente, inconsciente, ou qualquer outro rótulo, onde o cérebro humano guarda as experiências extremas para que a vida continue fluindo; algum tempo atrás, recuperando de um acidente, "mergulhei" nesse passado, que tantos de nós intensamente vivenciamos.

Confesso, que há tempos estou procurando coragem para vencer um certo acanhamento em escrever estas linhas. Já, algumas vezes, emiti publicamente, a minha modesta opnião sobre o Comando de V. Exa. no Aquatelamento de Gadamael. Não reputo que isso tenha qualquer importância, pois, por seus atos, o Senhor já tem lugar na história deste nosso País, por outro lado, insignes portugueses já o fizeram, entre eles destaco o Senhor General Monteiro Valente.
Contudo, não ficaria de bem com a minha consciência se não o fizesse de forma direta e pública.
Escrevo esta carta na condição de Ex-Oficial do Exército Português, no comando de uma sub-unidade sob o seu Comando.

Lembro o já longínquo ano de 71, quando V. Exa. assumiu o Comado do Aquartelamento de Gadamael, depois de trágicos acontecimentos, quando o moral da tropa já se aproximava do ponto de ruptura. Lembrar as condições operacionais daquele momento seria repetitivo, pois, já foi feito exaustivamente. 

Como "Commanding Officer" de Gadamael - uso o termo anglo-saxonico, não para exibir conhecimentos que não possuo, mas por pensar que expressa melhor a função como Oficial Superior, pois havia sob Comando de V. Exa. uma Companhia de Infantaria, um Pelotão Fox, um Pelotão de Milícias, um Pelotão de Artilharia, e em alguma data uma Companhia de Comandos Africanos -, V. Exa. restituiu o moral da tropa, realizou notável atividade operacional, afastou o que mais tarde acabou por acontecer em Guileje; sempre mantendo as condições de habitabilidade possíveis, tanto para a Tropa como para a população civil.
Permita-me também lembrar, mesmo sendo V. Exa. um insigne Oficial de Artilharia, e não sou eu que o digo, e sim o Exército Portugês, ao nomeá-lo Profesor da Academia Militar, nunca interferiu no meu comando, respeitando sempre a minha condição de comandante da sub-unidade.

Perdoe-me se invadi o seu recato.
Estas palavras são de JUSTIÇA E GRATIDÃO.

Vasco Pires
Ex-Comandante do 23º Pel Art
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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE OUTUBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10468: Carta aberta a... (4): Meu amigo português de Cufar, António Graça de Abreu (Cherno Baldé)

1 comentário:

Luís Graça disse...

Meu caro coronel Morais Silva:

O meu amigo vai. por certo, apreciar esta "carta aberta" que o Vasco Pires (um nosso grã-tabanqueiro da diáspora) lhe escreveu e fez questão de publicar no nosso blogue.

São tão raras, hoje em dia, as palavras de gratidão e apreço pelos militares da nossa geração que souberam fazer a guerra e a paz, com destaque naturalmente para aqueles que tiveram funções de comando operacional...

Fico visivelmente agradado pelo que o Vasco lhe escreveu e naturalmente pelo profundo sentido de justiça que transmitem.

São dois camaradas por quem tenham particular consideração, e para quem mando um grande Alfa Bravo.

Boa saúde, bom fim de semana. Luís Graça.