Inteiramente verídica. Se publicares põe bolinha. Abração.
J. Cabral
[ , jurista, advogado de barra, docente universitário reformado, ex-alf mil at art, cmdt Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, setor L1, Bambadinca, 1969/71; foto atual à esquerda]
2. Estórias cabralianas > Da Gata Catota à Tabanca da Queca
por Jorge Cabral
No fim dos anos 70, era um simpático advogado, com muitas clientes que me gabavam a grande sensibilidade…Entre elas, destacava-se a D. Prazeres, que eu divorciara de um marido violento e me assediava todos os dias, com questões que, de jurídico, tinham muito pouco…
No fim dos anos 70, era um simpático advogado, com muitas clientes que me gabavam a grande sensibilidade…Entre elas, destacava-se a D. Prazeres, que eu divorciara de um marido violento e me assediava todos os dias, com questões que, de jurídico, tinham muito pouco…
Claro que se sentia só, razão pela qual a aconselhei a arranjar um animal de estimação. D. Prazeres seguiu o conselho e comprou um gata, pedindo-me para ser o padrinho. Obrigado a dar-lhe o nome, escolhi…Catota.
– Que nome bonito!| – agradeceu. – E que quer dizer?
– É chinês. Significa felpuda – respondi convictamente,
A partir de então as nossas conversas incidiam quase sempre sobre a gatinha.
– Olá, D. Prazeres como vai a sua Catota?
– Ah ! Doutor está tão bonita! E que pelo luzidio!
– E come bem?
– Oh! Sim! É cá uma comilona. Mas tem que a ver – insistia sempre.
Tanto insistiu que lá fui, cumprindo a minha obrigação de padrinho. A gata estava enorme de gorda e devorou num ápice os seis carapaus que lhe levei como prenda.
– Tenha cuidado, D. Prazeres. Ponha de vez em quando a Catota de dieta– disse-lhe, enquanto afagava a bichana.
O tempo foi passando, dando-me ela, diariamente, notícias da sua Catota… Foi uma época de muitos divórcios e a D.Prazeres, recomendou-me a todas as amigas.
– ~É um querido. Se vissem o carinho com que faz festinhas na Catota – afiançava.
– É chinês. Significa felpuda – respondi convictamente,
A partir de então as nossas conversas incidiam quase sempre sobre a gatinha.
– Olá, D. Prazeres como vai a sua Catota?
– Ah ! Doutor está tão bonita! E que pelo luzidio!
– E come bem?
– Oh! Sim! É cá uma comilona. Mas tem que a ver – insistia sempre.
Tanto insistiu que lá fui, cumprindo a minha obrigação de padrinho. A gata estava enorme de gorda e devorou num ápice os seis carapaus que lhe levei como prenda.
– Tenha cuidado, D. Prazeres. Ponha de vez em quando a Catota de dieta– disse-lhe, enquanto afagava a bichana.
O tempo foi passando, dando-me ela, diariamente, notícias da sua Catota… Foi uma época de muitos divórcios e a D.Prazeres, recomendou-me a todas as amigas.
– ~É um querido. Se vissem o carinho com que faz festinhas na Catota – afiançava.
Um dia porém, telefonou-me em pranto. Arranjara um namorado que lhe garantira que catota era um palavrão.
– Não deve saber chinês. O que é que ele faz? – perguntei.
– É capitão. Também esteve na Guiné. Diz que quer falar consigo.
E falou mesmo. Em fúria…Ciúmes retroactivos talvez…
– Seu depravado! Precisava que lhe partisse a cara!
– Mas porquê, senhor Capitão? Há um General Buceta, um Coronel Coito, um Sargento Piça e perto de Bambadinca, na Guiné, existia um Tabanca chamada Queca, que infelizmente nunca patrulhei…Porque não pode a adorável gatinha ter o poético nome de Catota?
Jorge Cabral
3. Comentário de L.G.:
Qual o significado do vocábulo catota ? É português de lei ou é chinês de contrabando ? Por que é que o indignado e apaixonado capitão da Guiné esteve quase a desafiar o alfero Cabral para um duelo de consequências imprevisíveis ?...
– Mas porquê, senhor Capitão? Há um General Buceta, um Coronel Coito, um Sargento Piça e perto de Bambadinca, na Guiné, existia um Tabanca chamada Queca, que infelizmente nunca patrulhei…Porque não pode a adorável gatinha ter o poético nome de Catota?
Jorge Cabral
3. Comentário de L.G.:
Qual o significado do vocábulo catota ? É português de lei ou é chinês de contrabando ? Por que é que o indignado e apaixonado capitão da Guiné esteve quase a desafiar o alfero Cabral para um duelo de consequências imprevisíveis ?...
Afinal, a palavra catota em português (do Brasil) é inocente, embora designe uma coisa pouco agradável ao tato e à vista, sinónimo de monco (#)... Em português de Portugal, monco quer dizer "Humor espesso, segregado pela mucosa do nariz", "muco, ranho, ranho". Em sentido informal, "mucosidade nasal seca", "macaco"...
(#) ca·to·ta (origem duvidosa)
substantivo feminino
[Brasil, Informal] Muco seco aderente às fossas nasais. = MONCO
"catota", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/catota [consultado em 26-11-2013].
__________
Nota do editor:
(...) Em Missirá durante dois meses, estivemos sem abastecimentos. Época das chuvas, o sintex e os dois unimogues avariados .Ainda tínhamos conservas,mas faltavam as batatas, o vinho e o arroz para os africanos. Um dia porém, o Pechincha conseguiu fazer dos dois burrinhos, um, que andava. Fomos a Bambadinca, deixando a viatura, à beira da bolanha de Finete, que atravessámos até ao rio, o qual cambámos na piroga do Fodé. (...)
14 comentários:
Caro amigo,
Estória bem engraçada. De rir um pouco com a inocência.
Sr. Dr. Luís????????????
A definição de "catota", na Guiné, penso ter outro significado. Já o li por aqui algures em qualquer poste. Não quiz seguir as instruções e colocar "bolinha" foi?
Abraços
Filomena
Nosso alfero:
Em boa verdade, não entendo a indignação da Dona Prazeres e muito menos do seu gentil homem, valente capitão da Guiné, que te queria partir a fuça...
Não gosto de jurar, mas tenho caso a certeza que o vocábulo "catota" não existe no português de Camões, em Portugal...
E depois... ele há tantos sítios, nesta santa terrinha, com tantas conotações... sexuais (ou que se prestam a trocadinhos, mal entendidos, etc.). Aqui vai uma lista, a título exemplificativo, de topónimos que se prestam à risota... (indica-se o concelho)
Bicha - Gondomar
Cabrão - Ponte de Lima
Cabrões - Santo Tirso
Cama Porca - Alhandra
Casal da Gaita - Lourinhã
Catraia do Buraco - Belmonte
Cemitério - Paços de Ferreira
Coina – Barreiro
Coito - (Vários concelhos)
Colo do Pito - Castro Daire
Cu de Judas – Ilha de São Miguel, Açores
Cu Marinho - Évora (distrito)
Endiabrada - Aljezur e Odemira
Monte do Pau - Évora (distrito)
Monte do Trambolho - Évora (distrito)
Monte dos Tesos - Avis
Pernancha de Cima - Portalegre (distrito)
Pernancha de Baixo - Portalegre (distrito)
Pernancha do Meio - Portalegre (distrito)
Picha - Pedrógão Grande
Pirescoxe - Santa Iria da Azóia, Loures (a terra em que viu nascer gente operária e militantes comunistas como o Jerónimo de Sousa)
Pitões das Júnias - Montalegre
Punhete - Valongo
Rabo de Peixe - Ilha de São Miguel, Açores
Rabo de Porco - Penela
Rata - (11 concelhos, pelo menos: Arruda dos Vinhos, Beja, Castelo de Paiva, Espinho, Maia, Melgaço, Montemor-o-Novo, Murça, Santarém, Santiago do Cacém e Tondela)
Rego do Azar - Ponte de Lima
Rio Seco dos Marmelos - Ferreira do Alentejo
Sempre Noiva - Évora (distrito)
Sítio das Solteiras - Tavira
Terra da Gaja – Lousã
Tomates - Albufeira
Traseiros - Oliveira de Azeméis
Vaginha - Vagos
Vale da Rata – Almodôvar
Venda da Gaita - Tomar
Venda da Porca - Estremoz
Venda das Pulgas - Mafra
Venda das Raparigas - Alcobaça
Vergas - Vagos
Vila Nova do Coito - Santarém
Olá meu caro Jorge; eu, neste fim de tarde friiiiooooo e chato, necessitava mesmo de uma destas.
Li e ao aparecer a "catota" fiz: - oh e ri com gosto. Genial e a confirmação de que muitos capitães, talvez devido a excesso de esforços, muitos deles não tinham sentido de humor...ou pelos deuses, nunca "partiram catota"...
Abração para ti e outro para o Luís Graça que parece uma enciclopédia.
Ab, T.
O problema que vejo aqui e pelos vistos não está esclarecido, mas conhecendo como vou conhecendo o nosso Alfero, questiono-me: Mas c'a raio de catota era aquela por onde ele diz ter passado a mão? E mais "ter afagado a bichana" (sic).
De Veríssimo Ferreira
Olá Jorge Cabral.
Engraçado, engraçado e, podias continuar com o texto, pois havia "pano para mangas", tudo o que viesse a seguir e, metesse a palavra "catota", tinha sempre lugar a segundas intenções!.
É disto que precisamos, no intervalo das "lembranças" da guerra!.
Obrigado pelo alegre momento que me fizes-te passar!.
Um abraço companheiro.
Tony Borie.
Cara Filomena, na nossa caserna virtual, os camaradas tratam-se por tu e as viúvas dos nossos camaradas com o respeito que elas merecem e a memória dos nossos mortos o exige...Dito isto, o doutor está a mais...
Mas a Filomena Sampaio pode (e tem todo o direito de) perguntar: porquê esse tom galhofeiro num dia triste, em foi a enterrar um camarada e amigo como o "bedandense" Tony Teixeira ?
Em boa verdade, foi um dia triste e por três razões (não acrescento mais, para não entrar pela atualidade política adentro, coisa que não devo fazer em respeito às 10 boas regras que temos de cumprir e fazer cumprir)...
Sim, foi um dia triste, para mim, por uma trágica efeméride que nunca mais poderei esquecer: faz hoje 43 anos que, no Xime, logo pela manhãzinha, tivemos 6 mortos e 9 feridos graves, no decurso da Op Abencerragem Candente.
Sim, foi um dia triste, para mim, e para muitos "bedandenses" e outros camaradas da Guiné, por termos perdido mais um de nós, que se sentava aqui connosco debaixo do poilão da nossa Tabanca Grande, o camarigo Tony Teixeira, acabado de ser cremado há umas horas, e reduzido a um caixinha de cinzas, guardadas algures no cemitério da sua terra, Espinho.
Sim, foi ainda um dia triste porque o nosso camarada e herói de Gadamael, o José Casimiro Carvalho, perdeu hoje a sua "velhotinha", o seu "primeiro amor", como ele tão ternamente lhe chamou...
Não em levem a mal se vos disser que a estória (genial, como quase sempre...) do nosso alfero Cabral me fez sorrir... Um sorriso com meia cara... E se eu estava a precisar. Eu e todos nós, leitores do blogue...
E é inatacável, a "estória": acabei de consultar o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (o mais completo e exaustivo que eu tenho cá em casa...)e o vocáculo crioulo "catota" não consta mesmo, na aceção que lhe deu o nosso capitão da Guiné e, com ele, a Dona Prazeres...
Espero que ninguém se indigne com estas brincadeiras inocentes, estes trocadilhos, estes jogos com palavras ambíguas, de duplo sentido ... Afinal, ele há coisas bem mais graves para a gente exercer o tal direito que os brazucas chamam o "jus esperniandis", o direito de estrebuchar, de espernear, de esbracejar, de berrar a plenos pulmões, de reclamar quando não não mais nada a fazer... Obrigado, Vasco Pires, por me teres enriquecido o meu léxico juridico-político...
A lista pornotoponímica do pais mnais antigo da safada da Europa é a seguinte (depois de expurgados alguns erros, e acrescentados outros)... Atenção: não é exaustiva, é apenas indicativa. E o topónimo, eventualmente "jocoso", "brejeiro", "de mau gosto", "indecente", etc., vem sempre associado ao respetivo concelho...
Bicha - Gondomar
Cabrão - Ponte de Lima
Cabrões - Santo Tirso
Cama Porca - Alhandra
Casal da Gaita - Lourinhã
Catraia do Buraco - Belmonte
Coina – Barreiro
Coito - (Vários concelhos)
Colo do Pito - Castro Daire
Cu de Judas – Ilha de São Miguel, Açores
Cu Marinho - Évora (distrito)
Endiabrada - Aljezur e Odemira
Filha Boa - Torres Vedras
Fonte do Bebe e Vai-te - Oliveira do Bairro
Monte do Pau - Évora (distrito)
Monte dos Tesos - Avis
Pernancha de Cima - Portalegre (distrito)
Pernancha de Baixo - Portalegre (distrito)
Pernancha do Meio - Portalegre (distrito)
Picha - Pedrógão Grande
Pitões das Júnias - Montalegre
Punhete - Valongo
Rabo de Peixe - Ilha de São Miguel, Açores
Rabo de Porco - Penela
Rata - (11 concelhos, pelo menos: Arruda dos Vinhos, Beja, Castelo de Paiva, Espinho, Maia, Melgaço, Montemor-o-Novo, Murça, Santarém, Santiago do Cacém e Tondela)
Rego do Azar - Ponte de Lima
Rio Seco dos Marmelos - Ferreira do Alentejo
Sempre Noiva - Évora (distrito)
Sítio das Solteiras - Tavira
Terra da Gaja – Lousã
Tomates - Albufeira
Traseiros - Oliveira de Azeméis
Vaginha - Vagos
Vale da Rata – Almodôvar
Venda da Gaita - Tomar
Venda da Porca - Estremoz
Venda das Pulgas - Mafra
Venda das Raparigas - Alcobaça
Vergas - Vagos
Vergão Fundeiro - Proença a Nova
Vila Nova do Coito - Santarém
Viva o Portugal Profundo!
Meu Querido Luís,
Não quiz ofender quando te tratei por "Sr. Dr.". Habituei-me a tratar-te por tu, no momento em que querias que assim fosse. Hoje "desculpa", mas foi por brincadeira. Sabia que estavas triste, disses-te-o ontem, mas não medi bem as minhas palavras. Um grande abraço com amizade
Filomena
Jorge
Então, tirando macacos do nariz?!
(Outro mais, teria sido trocadilhar com a catota da Catota).
Bem apanhada!
Torcato
Vamos lembrar o significado de "partir" em crioulo.
Quem dá, não dá tudo, só dá "parte". "Partir" é, portanto, dar.
Portanto, deixas-te de malandrices. "Partir" catota não é NADA DISSO...
Abraços
Alberto Branquinho
CARO ALFERO,
SIMPLESMENTE FABULOSA ESTA HISTÓRIA DA CATOTA...
OBRIGADO PELO GOZO EXPERIMENTADO NO EXERCÍCIO DA SUA LEITURA.
Caro "Alfero" Cabral
Mais uma lufada de ar fresco!
E que 'frescura', como dizem os brasileiros.
Essas brincadeiras com os nomes, com os segundos sentidos, é sempre uma coisa interessante mas que exige 'bom encaixe' por parte de terceiros, coisa que, por norma, é rara. Como tenho dito, convém que tenham sido adeptos do humor estilo "pantera cor-de-rosa".
Há alguns anos assisti a uma peça de teatro aqui no TAS (Teatro de Animação de Setúbal), que também passou na televisão e em que um dos protagonistas era o gato "Pirilau", coisa que provocou hilariantes e brejeiros trocadilhos. Ninguém pareceu incomodado....
É claro que o "Sr. Capitão" quis mostrar conhecimento. E 'autoridade'!
Abraço
Hélder S.
Genial, Alfero Cabral, genial!
Uma passarinha chamada Catota,a gaiola aberta (ai José Vilhena...)
e a Catota a voar. Todos a querem
agarrar, pôr-lhe a mão, acariciar
a penugem fofa e quente.
E, para companhia, dar-lhe um pardal
para aconchegar a tal passarinha, a Catota.
Abraço,
António Graça de Abreu
Conheco uma senhora que tem um cão que batizou com o nome de Adolfo Dias, porque, dizia ela é um nome que bem pronunciado é poético, sugestivo, evocativo. Ao tempo, caso o capitão tenha partido para outra guerra,teria sido boa ideia a Dona Prazeres ter arranjado um gato com esse nome para fazer companhia à Katota. Enfim uma boa ideia se a estória fosse actual.
Ainda há dias a comunicar por email com o nosso amigo Carlos Vinhal eu falei na falta que faziam as estórias do alfero Cabral. Pelo humor, pela graça, têm todos os condimentos necessários. sal, pimenta, piripiri, e outras especiarias africanas e orientais.
O Luís Graça apimenta mais a estória com o seu saber enciclopédico. Um sociólogo que abarca tudo, sexologia, geografia e brejeirice associada.
Obrigado pelo vosso sentido de humor, bem precisamos dele nestes dias frios e cinzentos e que os nossos salazares prometem que vão piorar. Qualquer dia não temos capacidade para dar uns carapaus às bichanas.
Abraços
Francisco Baptista
Passados estes anos todos, com as leituras eruditas do nosso blogue, os tipos do Dicionário Priberam já grafaram o vocábulo "catota"... Fica mais rica a língua portuguesa... LG
catota | s. f.
ca·to·ta
(origem duvidosa)
substantivo feminino
1. [Brasil, Informal] Muco seco aderente às fossas nasais (ex.: catar catota). = MONCO
2. [Cabo Verde] Órgão sexual feminino.
"catota", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/catota [consultado em 26-11-2018].
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