sexta-feira, 27 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18872: Notas de leitura (1086): "Heróis limianos da Guerra do Ultramar", de Mário Leitão, ed. autor, Ponte de Lima, 2018, 272 pp. Um ato de pedagogia cívica e patriótica, que devia ser replicado em todas as nossas terras.











Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)


1. Foi lançado oficialmente no dia e no local certos: em 10 de junho, em Ponte de Lima (*)...

Ele prometeu e cumpriu... Foram muitos anos de trabalho. Pelo menos, cinco... A resgatar e a honrar a memória dos seus conterrâneos e camaradas, limianos, que morreram nas guerras de África.  "Limianos que tombaram pela Pátria em África". Ele não usa o eufemismo, nem quer ser politicamente correto.

53 ao todo: 45 lá nas terras do ultramar, longe de casa, longe das suas terras: Ardegão, Anais, Poaires, Fornelos, Cabaços, Vitorino de Piães, e por aí fora, que o concelho é grande (tinha nos anos 60/70 mais de 40 mil habitantes e cerca de 4  dezenas de freguesias). A guerra cobrou muitas vidas em Ponte de Lima: 45, mais os 8 que morreram "ao serviço de Portugal na Metrópole durante o período da guerra colonial".

Das 45 mortes  em África, 16 ocorreram em Angola, 15 em Moçambique, 13 na Guiné e 1 em Cabo Verde. A maior parte (71%) em combate  (49%) e acidentes em campanha (22%).  (**) 

O Mário Leitão, hoje farmacêutico reformado, foi fur mil, na Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11 do Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos (LMPQF), no período de 1971 a 1973. É natural de (e residente em) em Ponte de Lima, é membro da nossa Tabanca Grande, e já tem 3 livros publicados:   "Biodiversidade das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d´Arcos" (2012),  "História do Dia do Combatente Limiano" (2017) e, agora,  "Heróis Limianos da Guerra do Ultramar" (2018).

Numa primeira leitura, na vertical, eu só posso concluir que este livro é um ato de amor pátrio e fraterno,  de paixão pela vida e pelas terras e gentes limianas, um livro que nasce  da compaixão por todos limianos que deram o melhor que tinham, a sua vida, em plenos verdes anos, à Pátria, Mátria, Fátria... tantas vezes Madrasta, Padrasto, Irmão Brutamontes, que trata os melhores dos seus filhos e manos como "enjeitados"... A Pátria afinal  não existe, ou só existe quando lemos, comovidamente, livros como este...

O Mário andou de porta em porta, de arquivo em arquivo, de blogue em blogue, durante cinco anos a recolher apontamentos, notas, fotos, pedaços de papel, aerogramas, depoimentos, testemunhos, restos de memórias, restos/rastos de vidas... para poder escrever 53 biografias, pequenas histórias de vida dos seus conterrâneos, seus e nossos camaradas... Com um propósito de pedagogia cívica e patriótica: para que estes homens, combatentes, não fiquem na "vala comum do esquecimento"...

Ao todo são 272 páginas, profusamente ilustradas, com as notas biográficas de 53 bravos limianos, o que em termos de conteúdo dá cerca de 4,4 páginas por cada um. Na maior parte dos casos foi possível recolher o nome (e até fotos) dos ascendentes (pais e avós) mas também dos irmãos. Nem todos repousam no sagrado solo limiano: seis ficaram em terras de África, um na Guiné, cinco em Moçambique.

O livro tem ainda um prefácio ("Ninguém fica para trás", de Manuel Albino Penteado Neiva),  um glossário e um posfácio (,assinado por Lu+is Gonzaga Coutinho de Almeida,  coronel da GNR, na reserva). Foi feita um edição de autor, com uma tiragem de 500  exemplares.


2. Eu tinha prometido, de viva voz, ao telefone, em conversa há dias com o Mário,  fazer-lhe e publicar esta primeira nota de leitura, antes de irmos de férias (***). 

Homem generoso como poucos e grato ao nosso blogue, que foi para ele também uma  importante fonte de informação e conhecimento, o Mário Leitão manda-me de dizer que terá todo o  gosto em remeter, pelo correio, um exemplar autografado do livro, sem quaisquer custos (incluindo os portes de correio),  a quem, dos nossos leitores,  o pedir, por email...  Ele ainda tem 200 e tal exemplares em stock... Alguns vendeu, a maior parte ofereceu.

Aqui fica o seu endereço, que ele me autoriza a divulgar:

António Mário Leitão > gentelimiana@gmail.com
_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 5 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18814: Efemérides (287): O 10 de junho em Ponte de Lima: vibrante homenagem aos Limianos mortos na Grande Guerra e na Guerra Colonial (Mário Leitão)

(**) Lista dos 13 camaradas limianos que morreram no TO da Guiné:

5. António da Silva Capela, sol at cav (pp. 55-60);
8. Armando Ferreira Fernandes, sold at inf (pp. 70-72);
11. Celestino Gonçalves de Sousa, sold at inf (pp. 83-93);
12. Damásio Fernandes Cervães, sold at art (pp. 94-100);
15. João Alves Aguiar, sold at inf (pp. 119);
16. João da Costa Araújo,  sold cond cav (pp. 120-125);
18. João Fernandes Caridade, sold at art (pp. 130-136):
20. João Vieira de Melo, 1º cabo aux enf (pp. 140-144);
29. José Pereira Durães, sold coz (pp. 177-178);
30. José Rodrigues Barbosa, 1º srgt art (pp. 179-181);
31. Júlio de Lemos Pereira Martins, fur mil inf (pp. 182-190);
43. José da Silva de Sousa, sold at inf (pp. 229-230);
44. Casimiro Rodrigues Alves, sold at inf (pp. 231-234)

4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigdo, Mário, pela dedicatória. A tua homenagem não é a mim, pessoalmente, mas ao blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, todo um coletivo que tem procurado, sim, conservar, divulgar e honrar as memórias comuns dos homens e mulheres que passaram pelo TO da Guiné.

Fico honrado pela tua distinção. Mas, sendo tu próprio membro da Tabanca Grande, ficamos duplamente satisfeitos pelo resultado alcançado. Estás de parabéns, tu e a tua terra, de que eu gosto muito. Força também para o núcleo local da Liga dos Combatentes, recém-criado. Luis

Antº Rosinha disse...

"Limianos que tombaran pela Pàtria em África". Ele não usa o eufemismo, nem quer ser politicamente correto.

Pois é Luis Graça, não só não é políticamente correto, como é "incorretíssimo", porque estes limianos não tombaram só pela Pátria em África, mas pela Europa colonial e pela própria África colonizada.

Claro que o meu raciocínio não é acompanhado por ninguém aqui nesta tertúlia, mas mesmo assim eu não me calo.

Há vários anos vejo quase diariamente confirmado o quão estava certo o não abandono daquelas gentes que todos os outros, cinicamente abandonaram depois de tantas centenas de anos a explorarem-nos.

Mas os africanos sabem aquilo que lhe fizeram e estão constantemente há 40 anos a lembrarem-nos.

Coincidiu hoje ler este belo post para a história de Portugal, enquanto houvia o telejornal pelo canto do olho e vejo uma centena de africanos, quais pardais poisados no arame farpado de Ceuta, todos rasgados e a sangrar, mas felizes porque tinham o pesadelo de África, pelas costas.

Daí a inspiração imediata para este meu comentário.

Pior ainda quando oiço (leio) que entre senegaleses e outros estavam lá também pendurados, guineenses.

Os Limianos que tombaram merecem ser lembrados, como de todas as terras desde Bragança, a Faro, da Madeira a Bafatá, Luanda e Lourenço Marques, que lutaram a mesma luta.

Pior ainda para a Europa, agora, é que por mais que o homem "branco" grite ao homem "preto"que só podem jogar 11 de cada lado, não é bom ficarem tantos no banco sem jogar.

A Europa vai pagar, só que os cínicos dos ingleses, como sempre no fim sabem como se safar, já sairam do Shenguen.






Julio Vilar pereira Pinto disse...

Mais uma vez te felicito, meu grande amigo e conterrâneo, António Mário Leitão.
És um homem lutador, estudioso, investigador e com esta obra dedicada a tantos Capelas da nossa terra que pereceram em África a defender a Pátria. Tive o privilégio de ter estado nas cerimónias do 10/6, na nossa terra e na cerimonia da apresentação do teu livro, que devia ser lido nas escolas, e vi a maneira como te comoveste ao tentar dizer o que te levou a escreve esta obra. Eu também me senti emocionada porque sei o amor que colocaste nesta fabulosa obra.
Falamos algumas vezes, sobre a obra.
Sei também a obra que estás a escrever outra obra.
Abraço e que Deus te ilumine e te mantenha a coragem que tens demonstrado.

José Marcelino Martins disse...

"Um livro que saiu antes do tempo".
Eu explico: não é normal escrever sobre algo que se passou, antes de decorridos 50 anos, que é quando os "factos" ganham o direito de ser HISTÓRIA.
Este livro, devido ao facto de ainda estarem vivos muitos dos que participaram nas ULTIMAS CAMPANHAS PORTUGUESAS EM ÁFRICA, poder-se-à dizer, que "quase foi escrita na primeira pessoa".
Há muitas autarquias que ainda não interiorizaram que, nas guerras que houveram em Portugal, muitos dos seus filhos, ou morreram ou ficaram com a mesma tatuada no seu íntimo, quanto mais a existência de algo que possa ler recordado, no silêncio e no recolhimento de cada um.
Odivelas, onde vivo, não existe nada que recorde a presença dos seus filhos, nas várias guerras em que participaram.
Leiria, onde nasci, aguarda há NOVENTA ANOS, que seja colocada num local nobre da cidade, o nome dos 28 munícipes que ficaram em França. E essa promessa está lavrada nas actas da Comissão que orientou a construção do monumento de 1920 a 1929.
AINDA não li a obra. Será uma das próximas.
Parabéns, Mário Leitão, por arrancares estes camaradas do esquecimento natural do tempo.