Fotos das placas toponímicas do "Bairro das Novas Nações": Jorge Araújo, Jan2020
Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); um homem das Arábias... doutorado pela Universidade de León (Espanha) (2009), em Ciências da Actividade Física e do Desporto; professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; autor da série "(D)o outro lado do combate"; nosso coeditor.
MEMÓRIAS DAS GEOGRAFIAS ULTRAMARINAS
NA TOPONÍMIA DA CIDADE DE LISBOA
- HISTÓRIAS CRUZADAS -
Planta dos terrenos da antiga Quinta da Mineira ou da Charca onde nasceu, no início dos anos vinte do século passado (faz um século), o "Bairro das Colónias". A construção dos edifícios começaria na década seguinte (1930), criando um dos melhores e mais coerentes conjuntos Art Déco e modernistas de Lisboa. Inicialmente foi proposto que a toponímia do bairro homenageasse colonialistas famosos, optando-se, em lugar disso, pelos nomes das ex-colónias portuguesas.
Fonte: http://www.jfarroios.pt/portfolio/bairro-das-colonias/ (com a devida vénia).
1. - INTRODUÇÃO
No último trânsito de avião de "regresso a casa", realizado por ocasião da quadra natalícia de 2019, as rodas da minha mala de viagem foram-se desintegrando ao longo dos diferentes caminhos, ocorrência sempre desagradável pelas dificuldades que daí resultaram, nomeadamente no seu controlo e condução. É certo que este facto só sucede a quem anda nestas "vidas", mas, no geral, pode acontecer a qualquer um de nós, independentemente do lugar e do contexto.
Perante esta realidade, impunha-se a sua reparação imediata, de modo a ficar operacional para nova viagem, cumprindo a função para que foi criada/concebida. Nesse sentido, iniciei os primeiros contactos, na zona de residência, com especialistas do ramo, mas sem sucesso, na medida em que ninguém estava preparado para o fazer.
Seguiu-se a pesquisa em Lisboa. De todas as empresas contactadas, ficámos na última cujo gerente – Sr. Romero ["Casa Romero", passe a publicidade] nos informou que: "sim, senhor; pode trazer a sua mala, pois temos uma secção de reparação de malas de todas as marcas, incluindo rodas". A sua localização ficava (e fica) na Rua Maria da Fonte, perto de duas estações do Metro: "Anjos" (antigo Bairro das Colónias) ou "Intendente".
Entregue a mala (trolley) para consertar, ficou combinado com o Sr. Romero que este me telefonaria após a conclusão do mesmo. Reservei o sábado seguinte ao contacto para a recolha da 'dita cuja' mala.
Passavam poucos minutos do meio-dia quando lá cheguei. A loja fechava às 13h00. Durante a nossa presença, tivemos a oportunidade de conversar sobre este negócio e das dificuldades que tive em encontrar uma solução para o meu caso. A dada altura disse-me que tinha sido combatente em Moçambique, onde ficou por lá mais alguns anos, como civil. No regresso ao Continente, escolheu este ramo para aquela que continua a ser a sua actividade profissional e a sua ocupação de vida.
Passavam poucos minutos do meio-dia quando lá cheguei. A loja fechava às 13h00. Durante a nossa presença, tivemos a oportunidade de conversar sobre este negócio e das dificuldades que tive em encontrar uma solução para o meu caso. A dada altura disse-me que tinha sido combatente em Moçambique, onde ficou por lá mais alguns anos, como civil. No regresso ao Continente, escolheu este ramo para aquela que continua a ser a sua actividade profissional e a sua ocupação de vida.
Ele, de Moçambique, e eu, da Guiné, cruzámos, então, histórias das duas geografias coloniais/ultramarinas: A "Física" e a "Humana", onde estivéramos, mas em épocas diferentes. Já muito perto da hora de fecho, chega um seu familiar (já esperado, pois tinham combinado ir almoçar) que, ao aperceber-se do tema da conversa, alargou o âmbito das "geografias", ao cruzar mais algumas histórias, agora de Angola, onde fora, também ele, combatente. Eram quase 14h00 quando decidimos suspender os diálogos.
Das diferentes experiências individuais, que deram lugar ao cruzamento de histórias vividas nas três geografias ultramarinas, surge o facto de estarmos a paredes meias com o "Bairro das Colónias" (1933); depois "Bairro do Ultramar" (1933) e, na sequência do "25 de Abril", passou a ser denominado por "Bairro das Novas Nações" (1975) (ver planta acima).
E foi assim, a pretexto do "conserto da mala", que nasceu mais esta narrativa, onde se cruzaram memórias/histórias das duas geografias acima identificadas.
Uma vez que todos os factos históricos são passado, é através do conhecimento específico e aprofundado desse passado que se entende melhor o presente. Por isso, eis alguns apontamentos sobre a origem da toponímia do "Bairro das Colónias", na antiga Freguesia dos Anjos, agora Freguesia de Arroios, em Lisboa, no ano de 1930.
Foto da "Praça das Colónias" (1933), depois "Praça do Ultramar" (1933) e, agora, "Praça das Novas Nações" (1975), da autoria de Ana Luída Alvim; com a devida vénia.
2. ANTECEDENTES HISTÓRICOS NA ORIGEM DA TOPONÍMIA DO "BAIRRO DAS COLÓNIAS", EM LISBOA
De acordo com a literatura disponibilizada pela Junta de Freguesia de Arroios, a construção dos primeiros edifícios do "Bairro das Colónias", assim como dos respectivos arruamentos, dão-se início nos anos trinta do século passado (1930).
No que concerne à sua Toponímia, o Edital da Câmara Municipal de Lisboa, de 19 de Junho de 1933, atribui à praça aí existente o nome de "Praça das Colónias". Três semanas depois, em 06 de Julho de 1933, em nova deliberação camarária, a denominação da "Praça das Colónias" é alterada para "Praça do Ultramar", onde se referem também os seguintes topónimos, segundo a ordem do Edital: Rua de Angola, Rua de Moçambique, Rua da Guiné, Rua do Zaire, Rua da Ilha do Príncipe, Rua de Cabo Verde, Rua da Ilha de São Tomé, Rua de Macau e Rua de Timor.
Identificação das cinco ex-colónias portuguesas do continente africano e a data da sua independência
(Fonte: adapt. de www.elo.pro.br/cloud/aluno/atividade.php?id=2062&etapa=0), com a devida vénia.)
(Fonte: adapt. de www.elo.pro.br/cloud/aluno/atividade.php?id=2062&etapa=0), com a devida vénia.)
Após o "25 de Abril de 1974" a "Praça do Ultramar", cuja nomenclatura remetia para o Estado Novo o domínio colonial, voltou a ter uma nova designação: "Praça das Novas Nações", atribuída pelo Edital de 17 de Fevereiro de 1975, tomando o Bairro o mesmo nome de "Novas Nações".
Esta alteração da toponímia de Lisboa foi a forma que o Município da Capital escolheu, na sequência do fim da Guerra Colonial, para homenagear as cinco novas nações no continente africano (ex-colónias) identificadas na infografia acima: Guiné (independência declarada unilateralmente em 24 de Setembro de 1973 e reconhecida em 10 de Setembro de 1974), Moçambique (25 de Junho de 1975), Cabo Verde (5 de Julho de 1975), São Tomé e Príncipe (12 de Julho de 1975) e Angola (11 de Novembro de 1975).
Esta alteração da toponímia de Lisboa foi a forma que o Município da Capital escolheu, na sequência do fim da Guerra Colonial, para homenagear as cinco novas nações no continente africano (ex-colónias) identificadas na infografia acima: Guiné (independência declarada unilateralmente em 24 de Setembro de 1973 e reconhecida em 10 de Setembro de 1974), Moçambique (25 de Junho de 1975), Cabo Verde (5 de Julho de 1975), São Tomé e Príncipe (12 de Julho de 1975) e Angola (11 de Novembro de 1975).
Fonte: https://toponimialisboa.wordpress.com/2013/03/26/a-rua-de-angola-do-bairro-das-colonias-ao-bairro-das-novas-nacoes/ (com a devida vénia).
Foto da "Praça das Colónias" (1933), depois "Praça do Ultramar" (1933) e, agora, "Praça das Novas Nações" (1975), da autoria de Sérgio Dias; com a devida vénia.
Termino, agradecendo a atenção dispensada.
Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
10MAR2020
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4 comentários:
Olá Camaradas
Por mim moro na Rua de Macau junto à Praceta de Macau, e Rua de Angola.
As ruas da Ilha da Taipa e de Coloane estão aqui perto.
Na Alemanha encontrei a Kamerunstrass Rua dos Camarões, um ex-colónia ou área de influência da Alemanha em África.´
São os restos do Império...
Um Ab.
António J. P. Costa
Mais abaixo, na Av. Almirante Reis, no lado contrário do antigo Cinema Lys havia o Café Colonial e mais para cima, já na Alameda D. Afonso Henriques, o Café e o Cinema Império.
Ab. saúde da boa e cuidado com o cornodovirus.
Valdemar Queiroz
Calcorreei todas essas ruas desde a minha infância até à minha adolescência.
Ironia do destino, namorei uma rapariga que morava na Rua da Guiné. Pouco depois do namoro acabado, fui mobilizado para..a Guiná.
Interessante esta toponímia.
Também andei por aí algumas vezes.
Quando estava no Quartel do BT passava muitas vezes de "militar a civil" numa casa da Rua de Angola.
Tudo muito discreto e sem grande perigo pois a zona estava guardada e vigiada, já que perto da porta onde entrava e saía era a morada dum oficial do Exército que ao tempo chefiava uma instituição policial e tinha sempre guarda à porta.
Quanto ao Armando pode-se sempre pensar se não teria sido "castigo" ou então "compensação".
Hélder Sousa
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