segunda-feira, 16 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20738: O que é feito de ti, camarada ? (9): António Graça de Abreu e Constantino Ferreira D'Alva, andam a fazer a volta ao mundo num cruzeiro, no MSC Magnifica... E ainda falta metade do percurso, com o cenário da pandemia do coronavírus COVID 19 na linha do horizonte mais próximo... Boa continuação da viagem e melhor regresso a casa!



Oeiras >Algés > Restaurante Caravela de Ouro > Tabanca da Linha > 42º Convívio > 21 de março de 2019 > À mesa, o Constantino Ferreira d'Alva e o António Graça de Abreu. Na altura soubemos que iam os dois fazer um cruzeiro de volta ao mundo, no princípio do novo ano de 2020, com regresso em finais de abril (*)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O António Graça de Abreu, ex-alf mil,  CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), nosso camarada e amigo, membro da nossa Tabanca Grande de longa data, com mais de 240 referências no blogue,  cofundador, em 14/10/2010, da Magnífica Tabanca da Linha, já não nos dá notícias desde o fim do ano passado... 

O último poste que li dele, da sua autoria, na página do Facebook, é de 31 de dezembro passado. É um excerto do seu "diário secreto de Pequim" dos anos 80... Sabemos, pelo Constantino, que ele vai a bordo do MSC Magnifica, mas que não escreve para o Facebook, até porque a ligação à Net, a bordo, é lenta e cara.

Pequim, 1 de Setembro de 1981

Um dos meus grandes prazeres, nestes últimos tempos, é atravessar meia Pequim ou perder-me deliberadamente pelos milhentos atalhos e recantos dos arredores da cidade, aos comandos da minha mota, a pequena Peugeot 102 que fura com facilidade por dentro destes imensos pelotões de ciclistas que pedalam, pedalam e eu acelero, acelero levado pelo motorzinho do meu extraordinário velocípede.


No fim do ano passado, trouxe de Macau algo que, tal como a moto, é diferente de quase tudo o que os chineses possuem, um Walkman, marca Toshiba, azul, maneirinho que prendo no cinto das calças, meto a cassete, coloco os auscultadores, ligo e aí vou eu, singrando na minha Peugeot 102, por tudo quanto é avenida, rua ou caminho de terra batida, ultrapassando todos os ciclistas (as motas são raríssimas, estão ainda quase proibidas para os chineses), circundando carroças, autocarros, furando entre as gentes. 

Tenho estereofonia, som total a cantar-me aos ouvidos e toda a imensa cidade de Pequim a perpassar diante dos meus olhos. Tenho os cinco concertos para piano, de Beethoven, e que prazer a grande música na minha cabeça, ressoando em mim, atravessando Pequim. 

Tenho a batida fantástica do álbum The Wall, dos Pink Floyd, com palavras sábias do Roger Waters e do David Gilmour que bem podem ser adaptadas às realidades chinesas que me enchem os olhos e que a minha costela, meia anarca, hoje já acaricia:

We don't need no education
We don't need no thought control
No dark sarcasm in the classroom
Teacher leave the kids alone,
Hey, teacher! Leave the kids alone!
All in all it's just another brick in the wall
All in all you're just another brick in the wall.



Nova Zelândia, Napier, 14 de março de 2020 > O Constantino Ferreira d'Alva, desembarcando do MCS Magnifica. 

Fonte: página do Facebook do nosso camarada.



2. O Constantino Ferreira d'Alva foi fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala e Mampatá, 1969/71), é um camarada do meu tempo (CCAÇ 2590 / CCAÇ 12): viajámos juntos, no T/T Niassa, em 24 de maio de 1969.... e penso que regressámos juntos, no T/T Uíge, em 17/3/1971. A CART 2521, mobilizada pelo GACA 2, esteve em Aldeia Formosa.

À  conversa com ele,  à mesa,  no 42º convívio da Magnífica Tabanca da Linha, em 21 de março de 2019 (*), disse-me que era natural de Arganil, e trabalhara na TAP como tripulante de cabine, estando reformado há uns largos anos... Naturalmente que conhecia (e era amigo de) o José Brás e de outros amigos meus da TAP, como é o caso do Jorge Mateus... Confidenciou-me, na altura, que tinha intenção de fazer uma "cruzeiro de volta ao mundo", no princípio do ano de 2020, juntamente com o António Graça de Abreu, que acabara de conhecer num outro cruzeiro.

Eu não tinha a certeza se esses planos se tinha concretizado, e se tinham chegado a  partir juntos, no mesmo navio, até em dezembro passado começaram a surgir notícias de mai agoiro, provenientes da China... Nas a MSC manteve os seus cruzeiros para aquelas bandas...

Pela consulta que fiz à sua página do Facebook, verifiquei que  o Constantino deve estar hoje no hemisfério sul, na Oceania, já na Austrália, a bordo do MSC Magnífica, depois de terem parado na Nova Zelânida. E, com ele, ficamos a saber que está... o António Graça de Abreu.

Escreveu o Constantino anteontem, às 5h45:

(...) Cá estamos a entrar na Baía de Napier! Hoje a entrada faz-se já com o luz do Sol a iluminar esta Baía, larga e profunda, com a cidade lá ao fundo, já bem visível com a luz do Sol.

Logo que atracamos ao cais dos cruzeiros, o grupo que vai na excursão de visita com recepção pela chefe indígena, de uma aldeia do povo Maori, está pronto para seguir no autocarro. (...)


(...) Assistimos a todo o cerimonial de aproximação de um povo estranho. A recepção dos indígenas era feita com aproximações e afastamentos, até que se realizava o contacto, mas com os Maoris sempre à defesa e desconfiados !

De seguida, as demonstrações guerreiras, os seus cantares e danças rituais. A demonstração num lago ou ribeira, da pesca ás enguias, como sobrevivência deste povo na sua alimentação, foi tema de uma palestra à beira do lago. A visita termina com a venda de alguns produtos de seu artesanato. (...)


(...) Ficamos com uma ideia bem formada, da vida e cultura deste povo guerreiro, que quase foi apagada pelas políticas britânicas, nos últimos duzentos anos ! Agora em tentativa de recuperação, por pessoas como a nossa guia, mas também com o apoia do Parlamento da Nova Zelândia.

Regressamos a Napier, novamente por montanhas e vales, em que pastam milhares de ovelhas e carneiros, mas nos vales e terras chãs, lá estão as plantações de kiwis e maçãs, a perder de vista.(...) Foi um dia de vistas largas, de cultura e de reflexão sobre a destruição da cultura Maori , pela Europa colonizadora do Mundo, nos séculos de descobrimentos e encobrimentos !

Embarcamos no MSC-Magnífica, e assistimos á saída lenta do navio, ao som da magnífica voz de Andrea Bocelli.(...), 
O nosso próximo encontro, será na Baía de Wellington. Já amanhã de manhã ! (...)

Por uma rápida visita ao último poste,  de ontem, às 15h. Confirmo, pela leitura, que o MCS Magnífica está a dar a volta ao mundo... e ainda falta metade do percurso (com mês e meio para voltar à Europa) , mas já com o fantasma da pandemia do coronavírus  COVID 19 na "agenda de bordo"... O Constantino, bem humiorado, bem disposto,  tem escrito uma espécie de "diário de bordo" que partilha com os seus amigos do Facebook

(...) Largámos de Wellington  [, capital da Nova Zelândia,] ao fim do dia, navegamos pelo Canal Cook rumo West, durante toda noite. Mas pela madrugada já levamos o rumo Sul, tendo a ilha a bombordo, lado esquerdo.

Pelas 3 horas da tarde, damos entrada no Fiorde Milford Sound. Um outro navio de cruzeiro, navega lentamente à nossa frente. Mas outros pequenos barcos e lanchas, passam por nós nos dois sentidos. São turistas amantes da natureza, que viajam em pequenos aviões, que aterram numa pista lá ao fundo, onde o Fiorde acaba e tem uma pequena planície antes das montanhas.

As margens apresentam algumas cascatas e, lá nos cumes das montanhas algumas têm neve outras não. Os pequenos aviões passam por cima de nós, o som com a ressonância das montanhas, multiplica-se com os ecos repetidos e multiplica-se, criando um ambiente de guerra “pacífica” !

Lá está o pequeno aeroporto, com alguns aviões estacionados, anunciando o fim do Fiorde. Inverter o rumo para a saída é uma manobra delicada, pois o navio tem mais de 300 metros e este fiorde tem pouco mais de 700 metros de largura neste local da manobra! Esta pequena localidade de apoio ao aeroporto, está absolutamente isolada por ausência de estradas, só se tem acesso a esta localidade de barco ou de avião pequeno.

Navegamos agora rumo West e, ao sairmos do fiorde, tomamos o rumo Noroeste, navegando no mar da Tasmânia, rum
o a Hobart [, a capital e a maior cidade do estado australiano da Tasmânia], a nossa próxima escala, onde chegaremos com dois dias de navegação. 

Quando lá chegarmos, é que veremos o Diabo da Tasmânia, ou será que o Coronavírus é que vai ser o nosso Diabo?!

Teremos que enfrentar os dois “bichos”, com muita calma, disciplina, saber e segurança sanitária. Consta que o coronavírus já se manifestou em cinco pessoas na cidade de Hobart. A confirmar-se estes casos, não sabemos se seremos autorizados a desembarcar!

Daqui a dois dias, saberemos a confirmação ou não, destes cinco casos de coronavirus, que aguardamos com alguma ansiedade, mas com calma e esperança, nestes próximos dias e, da Volta ao Mundo,  apenas temos metade realizada.

Aqui a bordo, não temos, felizmente, nenhum caso de coronovirus. Quando chegarmos á Tasmânia, a ver vamos que “Diabo” iremos ver. Esperamos que seja o Diabo  da Tasmânia! (...)


Há dias, a 10 de março, o Constantino tinha respondido ao Manuel Resende, régulo da Tabanca da Linha, nestes termos, tranquilizando-o sobre a saúde do pessoal a bordo e dando notícias do António Graça de Abreu:

(...) Depois, vamos ver o Diabo na Tasmânia e os cangurus na Austrália! Mesmo agora estive com o António Graça de Abreu, que está muito bem, a escrever um novo livro !... Aqui a bordo não tivemos nada de Coronavírus! (...)

Desejamos, a estes nossos amigos e camaradas  boa continuação da viagem de volta oa mundo e bom regresso a casa!... Ficamos mais tranquilos por saber notícias deles!...

Mas quando chegarem, à Europa [, a Génova ? a Marselha ?],  deve estar a pandemia, aqui em Portugal,  no seu pico e a nossa vida feita... num pandemónio... (Esperemos que não, e que saibamos todos dizer, em voz alta, com determinação e coragem: O COVID 19 não passará!... Mesmo à custa de sangue, suor e lágrimas.)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 22 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19612: Tabanca da Linha (1): 42º convívio, Algés, 21 de março de 2019: Caras novas: o Constantino Ferreira d'Alva, nosso grã-tabanqueiro nº 711, desde 16 de fevereiro de 2016Último poste da série > 

1 comentário:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Mensagem de Luís Graça, deixada ontem na página do Facebook do Constantino Ferreira:

Um alfabravo fraterno e emocionado para ti, Constantino, e para o António, e respetivas esposas!... Que regressem a casa com saúde e em segurança... Por aqui estamos a "aguentar o barco", mas já se grita às janelas das nossas ruas: "Viva o SNS!", "O Covid 19 não passará!"...

Haveremos de beber um copo, os três, em maio ou junho, na próximo almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, quando este pesadelo acabar para todos nós!.. Vai escrevendo e mantendo o teu bom humor!..