sexta-feira, 20 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20754: Da Suécia com saudade (64): O coronavírus no Círculo Polar Ártico... Como diz o provérbio lapão, "o problema não está em falares com as árvores da floresta, o problema surge quando elas te respondem!" (José Belo)



Suécia > Lapónia > s/d > É, pessoal, onde começa a "cerca sanitária"? E a fronteira está aberta? E, já agora,  sabem onde mora o régulo da Tabanca da Lapónia, vizinho do Pai Natal?

Fotos (e legenda): © José Belo (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


José Belo, na Florida, EUA.
1. Mensagem do Joseph Belo, ex-alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, e manteve-se no ativo, no exército português, durante uma década; está reformado como capitão inf do exército português: jurista, vive entre Estocolmo, Suécia, Abisco, Kiruna, Lapóbia, no círculo polar ártico, e Key-West, Florida, EUA.

Date: sexta, 20/03/2020 à(s) 14:59
Subject: O coronavírus no Círculo Polar Árctico.

Estava quase a convidar os Camaradas para virem-se isolar na minha casa, já bem dentro do Círculo Polar Ártico.

Isolamento? O meu vizinho mais próximo vive a cerca de 300 quilómetros da minha casa.

Desinfecção? O meu vodka caseiro nos seus 94% de teor de álcool torna desnecessário lavar as mäos com desinfectantes de farmácia. Basta, à boa moda do cavador lusitano, cuspir para as mãos de vez em quando!

Mas, apesar das temperaturas negativas e dos nevões, o vírus também por aqui se passeia. Até agora a situação mais séria por aqui era a referida por um velho ditado lapão: "O problema não está em falares com as árvores da floresta; o problema surge quando elas te respondem!"

Ao olharmos para a situação,tanto quanto à saúde como às consequëncias económicas mundiais, tudo se está a tornar na tal... tempestade perfeita.

Tanto a Alemanha como a Suécia foram buscar às suas reservas económicas quantias muito superiores a 600 mil milhöes de euros (números quase incompreensíveis) para fazerem frente ao impacto inicial da crise.

O que se irá passar no nosso querido Portugal sem recurso a tais "reservas"? A "solidariedade" europeia? O caso Italiano veio mais uma vez demonstrar que, quando necessária, só existe nos discursos dos políticos.

Também näo temos ao dispor as máquinas de fabricar dólares existentes nos Estados Unidos que, na sua dívida descomunal, irão certamente funcionar a todo o vapor, pelo menos até ás eleições presidenciais de Novembro.

O tempo perdido pela Administração Norte-Americana a negar o problema poderá vir a ser pago por uma tragédia muito superior à italiana.

Em Key West, Florida, o Sloppy Joe's Bar tem estado continuamente aberto desde há muitas décadas. Dizia-se mesmo que, a haver uma invasão de extra-terrestres, este viriam certamente sentar-se ao balcão do Bar para beber uns daiquiris bem gelados.

Esta semana [, em 17 de março], por causa do vírus, o bar encerrou as portas.

Continuando com estas notícias "leves" sobre o vírus aqui seguem duas curiosidades suecas:

(i) O governo informou todos os trabalhadores que, ao sentirem dores de cabeça, de garganta, tenham febre, alguma tosse,ou dores musculares, devem ficar em casa. Näo é necessária visita ao médico nem qualquer atestado de doença.

Recebem 90% do salário normal. Está-se no período normal de gripes e constipações.

Os infindáveis, e escuros, invernos nórdicos criam sempre algumas "dores musculares"...Quantos irão ficar em casa? É claro que mais vale prevenir do que remediar... quando existem as tais reservas de milhares de milhões.

(ii) Tem sido muito avultado o número de médicos e pessoal hospitalar reformado  que se tem apresentado para trabalhar voluntariamente. As autoridades de saúde informaram que só aceitavam voluntários até aos 70 anos de idade.

Ainda poderiam ter sido simpáticos para com os "velhinhos" se tivessem invocado como razão o facto de se preocuparem com os perigos de contágio e saúde dos mesmos. Mas näo. A razão apresentada foi a de que o trabalho virá a ser demasiado intensivo e esgotante para idades superiores aos 70 anos.

Ponto final!
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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20655: Da Suécia com saudade (63): reabrindo a Tabanca da Lapónia, agora ao povo... (José Belo)

10 comentários:

Juvenal Amado disse...

José Belo

As tuas crónicas bem dispostas também nos fazem bem.
Bem vodka a 94º como é que bebe? Bem pior que a cachaça que o sr Lima mandava ao filho para Galomaro.
Quem beber bem quentinho se deve ficar.

Um abraço e deixa-te ficar que a Califórnia esta´a ferro e fogo

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Os teus "lapões", os "samis", tem um belo sentido de humor...

Eu, que colecciono provérbios, vou guardar este e divulgá-lo pelos meus psiquiatras conhecidos, a começar pelo meu filho...

Lembro-me de, na Guiné, um básico que estava de sentinela, ter acordado, aos berros, toda a caserna, porque tinha visto uma manada de... elefantes ao pé do arame farpado...

Não dá para mandares,pela UPS, uma amostra do teu vodca a 94% ? Em passando a pandemia, temos que lá ir provar essa obra-prima da tua destilaria...E eu pensar que os suecos eram abstémios compulsivos, por causa da ética protestante luterana e calvinista, e que o álcool era monopólio do Estado ? ...A ASAE lá da Lapónia não te cai em cima ?...

Take Care, meu amigo, camarada, mano.

José Marcelino Martins disse...

Boa crónica.
Uma autentica lufada de ar .... gelado.
Mas, daqui, um caloroso abraço, apesar de virtual.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

E, a propósito, do teu vodca e do meu "lourinhac"...lembrei-me há dias da tua "Lapónia": estive a ver na Net (através da FilmIn o filme"Sami Blood", de Amanda Kernell...

Notável!...Lembrei-me do que aqui escreveste, em tempos, sobre o colonialismo e o racismo suecos... Acho que é um filme "universal" sobre dominantes e dominados, e a dificuldade, senão impossibilidade, de "sobrevivência" das "minorias étnicas" face ao "rolo compressor" da "globalização"...

Grande interpretação da Lene Cecilia Sparrok, a atriz norueguesa, de origem sami sulista, que faz o papel principal (a jovem rebelde que rompe com a sua origem e identidade para superar a alienação...).

Li que é também "pastora de renas profissional"... Cada um tem os seus "índios", os ianques, os suecos, os portugueses... Olha, é uma boa sugestão para uma próxima crónica tua....O filme perturbou-me, se queres que te diga... Cuidado com o Covid-19... Vamos bebendo uns "vodcas", uns "cagaços" de Candoz, uns "lourinhacs"...

Xicoração. Luís

Anónimo disse...

Meu Caro Luís

É certo que a venda de álcool é monopólio do Estado mas,o bonito alambique de cobre é...meu!
Neste extremo do extremo norte da Europa devem existir tantos alambiques como famílias de lapöes.
Mas em cobre täo bonito...só o do Lusitano e mais nenhum!
O ditado português "Para lá do Maräo mandam os que lá estäo" é mais do que óbvio quando ao quereres comprar o jornaleco diário na cidade principal cá do sítio que é Kíruna ,tens de fazer viagem de carro de 300 quilómetros/ida e mais 300 quilómetros/volta.
A Capital Estocolmo está,lá para o Sul, a mais de 1.500 quilómetros daqui.
2/3 da populacäo sueca,em número mais ou menos igual à portuguesa num país geograficamente 14 vezes maior,vive no centro-sul.
Muitas das regras e regulamentos vistos a estas distäncias e limites naturais de milhares de lagos,florestas e montanhas,tornam-se bastante...relativas.
Historicamente para bem,mas também para muito mal.

Quanto à pergunta do Amigo Juvenal-"Como se bebe?" só posso responder...BEM!
É claro que se näo pode beber a maravilhosa ,de *destilacöes repetidas feita*,(e aqui o que mais há é tempo para o fazer),nos tradicionais copos de água aqui usados.
Para encher tais copos para visitantes usa-se a mais infantil vodka de 40% a 50%.
Mas,para os imprescindíveis "fins medicinais" usam-se pequenas quantidades da multi-destilada (a tal!) bem misturada com sumo de limäo,de laranja,algum mel e um pau de canela.

Ao luar,entre nevöes,até as renas parecem pavöes!

(Com a minha tradicional humildade... Fernando Pessoa näo o diria melhor!)

Um grande abraco do J.Belo


José teixeira disse...

Meu comandante.
Já voltaste ao teu cantinho retirado lá no meio da neve? Espero que aí escondido e bem acompanhado pela vodca caseira te safes, do maldito do "corno" do vírus.
Guardei o provérbio que tem montes de sabedoria. Com a vodca a 90º quase de certeza que as árvores falam sozinhas enquanto os homens tentam segurar o candeeiro e acertar na fechadura da porta se é que há portas na lapónia a 300 km. da dita civilização.
Um forte abraço do
Maioral Zé Teixeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

"Ao luar,entre nevöes,até as renas parecem pavöes!" (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)


Na Tabanca da Lapónia,
Ao luar entre nevões,
Até as renas são pavões,
Já estou mal da cachimónia,

Até as renas são pavões,
E eu aqui de quarentena,
Mas o hotel vale a pena,
Venham cá, seus parvalhões.

Ao luar entre nevões,
Não apanhas nenhum cagaço,
O Zé Belo tem bagaço,
Que até chega aos pulmões.

Já estou mal da cachimónia,
E eu aqui no treco-lareco,
A ouvir o próprio eco
Na Tabanca da Lapónia.

Luís Graça, um "cacimbado" da Guiné
Lourinhã, 21/3/2020

Anónimo disse...

Meu Caro Luís.

Como estamos a falar de vodkas com os tais 90% (+!)tenho que admitir que o teu poema me levou aos elevados níveis Clássicos de um Horácio e,
aos pensamentos por ele descritos nas suas "Sátiras".
Tendo sempre como referência os 90%(+!)da minha vodka caseira.... o amigo Horácio (näo o Atirador da Companhia Cac.2381/Guiné) mas o poeta-filósofo do classicismo.... poderia ter escrito (quanto ao poema) em nota de pé de página :"est modus in rebus".
E tudo isto a propósito de verificar que escreves-te o poema na Lourinhä-21/3/2020 ás 14:24!!!

Quando tenho visitantes e abro a garrafa da 90% (+!) costumo sempre avisar de que näo devem INALAR junto à garrafa antes das 18:00.
Será o mesmo com a "LOURINHAC"mas...com diferente fuso horário?

Um abraco lapäo do J.Belo

Anónimo disse...

Meu Caro José Teixeira, Maioral da 2381 e... introdutor da ginecologia na Tabanca de Mampatá.

(Quanto ao "introdutor" podem dar-lhe o sentido que quiserem.
Eu uso o termo no seu sentido missionário.
E,mais uma vez,clarinho clarinho para militar entender,uso o termo "missionário" no seu sentido religioso e NÄO quanto a posicöes tradicionais da sexologia clínica e... näo só!)

Por aqui,nas noites do infindável Inverno,quando o vento sopra e as temperaturas väo até aos quarenta e tais negativos,näo se estabelecem diálogos com as árvores (e as renas!) mas sim...verdadeiros Debates Parlamentares à moda,e nível, da täo distante Assembleia da República Lusitana.

No tempo em que ainda tinha paciência para os acompanhar na TV acabei por ficar certo que os geniais Senhores Deputados também teriam em casa o tal( muito conveniente)...alambique de cobre.
Espero com isto näo ter ofendido as minhas renas!

Um grande abraco ao "Dôtor" do 2PL/C.C.2381


José Teixeira disse...

Meu comandante Alfero José Belo
Devo informar que as catraias, a tua "lavandera" por exemplo, a Mariama choraram na tua forçada despedida (eu vi) e ainda me recordo da festa que te fizeram e os teus homens também quando lá pareceste de helicóptero.
Dizes bem. Eu aprendi ginecologia em Mampatá. Da primeira vez foi numa alta madrugada porque um catraio não queria sair cá para fora e chamaram-me. o miúdo parece que se assustou e apareceu à portinhola, estendeu uma mão e saiu. Ainda me recordo que fiquei pasmado a olhar para o puto. O gajo era branco. Devo ter ficado amarelo porque logo a mãe da Muna, uma das matronas de serviço, me disse para me acalmar: Fermero, minino preto nasce branco. Amanhã está preto!
Respirei fundo e como prémio tive convite para festa do "batismo" com a presença do grande Cherno Rachid de Aldeia Formosa onde não faltou o carneiro e a batucada. Até deu para escrever o poema que agora te envio.

Ventura da minha vida
Ver uma criança parida
No momento da chegada.
De mãe preta bem pintada.
Negro pai, para meu espanto.
O raio do puto era branco.

Vi-te nascer.
Não sei teu nome, não importa.
Foste e és esperança, um novo ser
Nesta sociedade morta.
Lançaste um grito de alegria,
Tua vontade de viver,
A esperança a renascer,
No meio da dor, como sempre.
Em ti, peguei com jeito,
Como um pai, que estava ausente,
Na guerra, da tua terra,
Encostei-te bem ao peito,
Teu olhar, que encanto,
Ternura, paz, bem-estar.
A tua pele macia. . .
Tua brancura de espantar,
Nesta terra, vermelha, queimada,
De uma África em sofrimento,
Que anseia em cada momento,
Como tu. Ser amada.
Mampatá, 25/09/1968

Quando te cansares da divertida comédia como os parlamentares a discutirem a forma de se governarem bebe uma vodca à tua maneira e do teu alambique e vai passear as renas.

Espero que estejas bem de saúde e a ganhar força para correres como "corno" do vírus se ele aparecer por aí.

Um Fraternal abraço do Maioral
Zé Teixeira.