sábado, 21 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20757: Da Suécia com saudade (65): "Ao luar, entre nevões, até as renas parecem pavões" (José Belo)


Tabanca da Lapónia

Fonte: Antigo blogue do José Belo, radicado há  cerca de 40 anos na Suécia: "Lappland near Key West" [A Lapónia ao pé de Key West, Florida, EUA]. 

Ao cimo da foto, do lado esquerdo, abaixo do título, há uma frase muito didática e certeira, antietnocêntrica, prevenindo-nos contra a tentação de ver o mundo através do nosso umbigo, a nossa cultura, a nossa religião, a nossa língua, o nosso país, o nosso grupo: "We dont see the things as they are, we see them as we are"... Traduzindo: "Nós não vemos as coisas como elas são, vemo-las como nós somos"... [A frase é atribuída à escritora Anïs Nin (1903-1977)]


1. Comentário de José Belo, Joseph Belo, ex-alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, e manteve-se no ativo, no exército português, durante uma década; está reformado como capitão inf do exército português: jurista, vive entre Estocolmo, Suécia, Abisco, Kiruna, Lapóbia, no círculo polar ártico, e Key-West, Florida, EUA.

Respondo a duas perguntas dos seus leitores:

"Bem,    vodka a 94º como é que  se bebe? Bem pior que a cachaça que o sr Lima mandava ao filho para Galomaro. Quem beber bem quentinho se deve ficar."  (Juvenal Amado)

"Não dá para mandares,pela UPS, uma amostra do teu vodca a 94% ? Em passando a pandemia, temos que lá ir provar essa obra-prima da tua destilaria...E eu pensar que os suecos eram abstémios compulsivos, por causa da ética protestante luterana e calvinista, e que o álcool era monopólio do Estado ? ...A ASAE lá da Lapónia não te cai em cima".  (Luís Graça)


É certo que a venda de álcool é monopólio do Estado mas o bonito alambique de cobre é...meu!

Neste extremo do extremo norte da Europa devem existir tantos alambiques como famílias de lapöes. Mas em cobre täo bonito...só o do Lusitano e mais nenhum!

O ditado português "Para lá do Maräo mandam os que lá estäo" é mais do que óbvio quando, ao quereres comprar o jornaleco diário na cidade principal cá do sítio, que é Kíruna, tens de fazer viagem de carro de 300 quilómetros/ida e mais 300 quilómetros/volta.

A capital Estocolmo está,lá para o Sul, a mais de 1.500 quilómetros daqui.

2/3 da populacäo sueca,em número mais ou menos igual à portuguesa num país geograficamente 14 vezes maior,vive no centro-sul.

Muitas das regras e regulamentos vistos a estas distâncias e limites naturais de milhares de lagos,florestas e montanhas,tornam-se bastante...relativas. Historicamente para bem,mas também para muito mal.

Quanto à pergunta do Amigo Juvenal, "Como se bebe?,  só posso responder...Bem!

É claro que, se näo pode beber a maravilhosa ,de 'destilações repetidas feita',(e aqui o que mais há é tempo para o fazer), nos tradicionais copos de água aqui usados.

Para encher tais copos para visitantes usa-se a mais infantil vodka de 40% a 50%.

Mas, para os imprescindíveis "fins medicinais",  usam-se pequenas quantidades da multidestilada (a tal!) bem misturada com sumo de limão ,de laranja, algum mel e um pau de canela.

Ao luar, entre nevöes, até as renas parecem pavões!

(Com a minha tradicional humildade... Fernando Pessoa não o diria melhor!)

Um grande abraço do J. Belo


2. Comentário do nosso editor LG:

Mote: "Ao luar, entre nevöes, até as renas parecem pavöes!" (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)

Na Tabanca da Lapónia,
Ao luar, entre nevões,
Até as renas são pavões,
Já estou mal da cachimónia,

Até as renas são pavões,
E eu aqui de quarentena,
Mas o hotel vale a pena,
Venham cá, seus parvalhões.

Ao luar, entre nevões,
Não apanhas nenhum cagaço,
O Zé Belo tem bagaço,
Que até chega aos pulmões.

Já estou mal da cachimónia,
E eu aqui no treco-lareco,
A ouvir o próprio eco,
Na Tabanca da Lapónia.


Luís Graça, um "cacimbado" da Guiné

Lourinhã, 21/3/2020

PS - Se um gajo não morrer da pandemia, morre do pandemónio... Se sobreviver a ambos, vai parar ao manicómio... (no caso de  ainda existirem manicómios...). Como as coisas vão por aí, na outrora bela Itália, nem os médicos já dizem: "Purgai-o e purgai-o e, se morrer, enterrai-o"... Humor (negro) com humor (negro) se paga... Mas os tempos são para recordar  a vigorosa e sábia palavra de ordem do Secretário de Estado do Reino (, 1º ministro), Marquês de Pombal, em 1 de novembro de 1755, perante o acagaçado rei Dom José I: "Enterrar os mortos e cuidados dos vivos".
____________

Nota do editor:

Último poste da série >  20 de março de  2020 > Guiné 61/74 - P20754: Da Suécia com saudade (64): O coronavírus no Círculo Polar Ártico... Como diz o provérbio lapão, "o problema não está em falares com as árvores da floresta, o problema surge quando elas te respondem!" (José Belo)

5 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Oh Zé, até já me esquecia que hoje era Dia Mundial da Poesia!... Não tens aí nenhuma em "sami" ?
Precisamos de vodca e de poesia... LG

Anónimo disse...

E eu este anos todos a julgar que o 5 de Julho 1932, (data em que Salazar é nomeado Primeiro Ministro),era a data oficial do Dia Mundial da Poesia !
Ignoräncias básicas.

Quanto aos poetas lapöes que o Luís procura säo como os *militares-poetas-revolucionários* do PREC.
Ouvem-se uma vez e...fica-se sem saber se dá para chorar ou para rir.

Näo creio que haja lapäo com o "engenho e a arte" do nosso Ruy Belo ao escrever:

"Numa boa página de prosa ouve-se chover"

Um abraco do J.Belo

Anónimo disse...

Com as temperaturas que por aí se fazem sentir é compreensível a sua medicinal multidestilada.
Dando-lhe o nome de calorífrico-engarrafado seria bem vendida em Portugal.
Já considerou o negócio?

Manuel Teixeira

Anónimo disse...

Caro Manuel Teixeira

A *Maravilhosa de destilacöes sucessivas feita*,a ser consumida sem receita médica causa, na verdade..."esquentamentos".
(Atencäo!Aqui NÄO uso este termo no seu normal significado, quase diria...militar.)
Deveria,talvez,antes usar o termo "suadeiras".

E porquê "suadeiras"?
Näo só pelos 90%(+!) mas,a dar-se ao trabalho de consultar um mapa da Suécia poderá verificar a existëncia de uma pequena povoacäo,mesmo sobre a fronteira com a Finländia,que é a mais próxima da minha casa.
Chama-se Karesuando.

Como descendente em linha reta (!) dos gloriosos Descobridores do nosso passado marítimo,e tendo em conta o facto de eu por aqui andar há mais de 40 anos,näo será por mero acaso que a referida povoacäo tem o nome que tem.

Pois repare...Suadeira igual a... a Kare+SUANDO!

(É só olhar para o mapa.Garanto que lá está!)

J.Belo

Anónimo disse...

Meu Caro Manuel Teixeira.

Tenho que admitir que a sua sugestäo quanto a possível exportacäo da minha ***multidestilada/90%+*** para o nosso querido Portugal me obrigou a usar a máquina de calcular grande parte da noite.

A atrever-me a mudar o nome comercial que amigavelmente me sugeriu (calorífico/engarrafado) pelo,quanto a mim mais vendável ,por bem masculino,...(esquentamento/engarrafado)...o coisa teria sucesso certo.
É claro que esta escolha de nomes comerciais elegantes(!) fez-me,nos seus meandros profundos dialéctico-existensiais,perder o sono grande parte da noite.
Lá fui obrigado a abrir e INALAR (!) a multidestilada/90%+.
E em resultado destas inalacöes nocturnas,ao olhar da minha janela para os nevöes que continuam a cair lá fora tudo se complicou.
As renas que ao "luar entre nevöes quase se tornam pavöes" alternavam-se com bonitas, e muito comerciais,garrafas de cristal.

Obviamente que ao recolocar a rolha na garrafa para evitar tais inalacöes,rapidamente me apercebi ser tal exportacäo moralmente impossível para mim.
Näo poderia de modo algum,neste momento grave do virus,vir a concorrer com as farmácias lusitanas quanto ao seu álcool etílico de 90+.

E porque escrevo farmácias lusitanas?
Porque tanto na Suécia como Noruega e Finländia esse tipo de álcool näo pode ser vendido nas farmácias,pois a sê-lo seria consumido misturado em bebidas variadas.
Aqui chama-se álcool hospitalar.Médicos passam receitas a amigos aquando de festas.

É dificil de se acreditar mas posso dar exemplo passado comigo quando vim para aqui há 40 anos.
Até entäo habituado a usar a água de colónia "Brut",muito "bem" nos meus Estoris e Cascais de entäo,fui procurá-la em Estocolmo.

Informaram-me que a mesma,e muitas outras, näo eram vendidas por conterem um elevado teor de álcool.
Ainda procurei saber se a causa seriam alergias ou algo semelhante mas as respostas em todos os locais foram...que se näo vendia porque eram bebidas em "drinks".

Quarenta anos passados, recordo como se fosse hoje,que me vieram à memória as monumentais bebedeiras dos soldados Balantas na Guiné que... também bebiam tudo de tudo !

Um abraco do J.Belo