Foto nº 2A
Fot0 nº 2
Foto nº 1A
Foto nº 1
Foto nº 3A
Foto nº 3
1. Fotos relacionadas com uma visita do general Bettencourt Rodrigues a Fulacunda, sector de Tite, em janeiro/fevereiro de 1974, enviadas em 28/1/2014 pelo nosso camarada e amigo Jorge Pinto (*):
[natural de Turquel, Alcobaça. é professor de história no ensino secundário, reformado, vive em Sintra; é membro da Tabanca Grande, desde 2012; tem 55 referências no blogue; foi alf mil, 3ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74; iremos falar mais vezes dele, proximamente, reeditando algumas das suas melhores fotos]
O adeus do general a Fulacunda,
por Jorge Pinto
(...) Lembro-me que esta visita foi curta e marcada por três pequenos discursos com conteúdo e tom adquados às características do grupo social a que o general se dirigia.
Num primeiro momento (Foto nº 1), logo à entrada, ainda junto à pista de aviação, dirigiu-se à população em geral, que se juntou para o saudar, com os mais novos à frente.
Lembro-me que, sem referir a palavra "Nação", salientou a necessidade de Portugal manter a unidade territorial e multirracial. Percebi nas suas palavras a intenção de que vinha a Fulacunda para transmitir aos guinéus ali residentes a confiança na sua capacidade de "autodefesa", em relação ao "inimigo", sem necessidade de haver uma permanente presença da tropa.
Lembro-me que alguns soldados ao ouvirem a palavra "autodefesa", algo confusos, me perguntaram o que queria dizer... Ficando incrédulos e com um sorriso cínico após a explicação.
Num primeiro momento (Foto nº 1), logo à entrada, ainda junto à pista de aviação, dirigiu-se à população em geral, que se juntou para o saudar, com os mais novos à frente.
Lembro-me que, sem referir a palavra "Nação", salientou a necessidade de Portugal manter a unidade territorial e multirracial. Percebi nas suas palavras a intenção de que vinha a Fulacunda para transmitir aos guinéus ali residentes a confiança na sua capacidade de "autodefesa", em relação ao "inimigo", sem necessidade de haver uma permanente presença da tropa.
Lembro-me que alguns soldados ao ouvirem a palavra "autodefesa", algo confusos, me perguntaram o que queria dizer... Ficando incrédulos e com um sorriso cínico após a explicação.
No segundo discurso, em frente à casa do chefe de posto (foto nº 2 ), dirigiu-se exclusivamente à juventude masculina. Dirigiu-lhes, apenas algumas palavras em tom militarizado e paternal. Incentivou-os a unirem-se àqueles que combatem o "inimigo" e lutam por uma Guiné com um futuro melhor para todos.
Por fim o terceiro discurso (foto nº 3), teve lugar na parada do quartel e foi exclusivamente dirigido à 3ª Cart/Bart 6520/72.
Neste discurso começou por referir o longo tempo de comissão que a companhia já tinha. Enalteceu o espirito de missão e sacrificio vivido durante esse tempo. Alertou para a necessidade de estarmos preparados para mais sacrificios.
Como foi o encerramento desta visita, sinceramente não me recordo... julgo que o nosso general e a sua pequena comitiva não chegaram a almoçar em Fulacunda.
Esta foi a última visita de um Governador Colonial da Guiné-Bissau a Fulacunda. O esperado "25 de Abril" ocorrerá dois ou três meses depois desta visita." (...)
Como foi o encerramento desta visita, sinceramente não me recordo... julgo que o nosso general e a sua pequena comitiva não chegaram a almoçar em Fulacunda.
Esta foi a última visita de um Governador Colonial da Guiné-Bissau a Fulacunda. O esperado "25 de Abril" ocorrerá dois ou três meses depois desta visita." (...)
(Revisão / fixação de texto, título, parênteses retos, negritos e itálicos, reedição das fotos: LG)
2. Nota do editor LG:
O gen Bettencourt Rodrigues deve ter feito escassas visitas a quartéis e destacamentos no mato (eram cerca de 225 as guarniçóes então). Até por falta de tempo. Mas o assunto não está devidamente documentado no nosso blogue. Daí a oportumidade da republicação destas fotos que, de facto, são raras. (**)
O BART 6520/72 cumpriu 26 meses de comissão (jun 72/ago74), o seu pessoal devia estar farto da Guiné até à ponta dos cabelos. Mas era preciso acalmar os ânimos e manter a um nível razoável o moral da tropa.
Na longa entrevista que deu à investigadora Maria Manuela Cruzeiro, o Marechal Costa Gomes fala sempre com rasgados elogios deste general, de quem era amigo pessoal. Diz dele:
(...) "Foi o general que melhor serviu sob as minhas ordens ". (...)
"Era meu amigo pessoal e também de Marcelo Caetano, aceitou o lugar de comandante e de governador da Guiné, mas sempre com a corda no pescoço.
"Não concordava nada com Spínola e, como mo disse pessoalmente, considerava que a sua ação na Guiné, não tinha sido muito positiva".
Além disso, era de lamentar "o facto de Spínola ter montado uma impressionante máquina de propaganda. que dava uma ideia distorcida da nossa ação na Guiné, do que lá se passava realmente" (Fonte: "Costa Gomes, o último marechal entrevista de Maria Manuela Cruzeiro"- Lisboa, Editorial Notícias, 1998, pág. 151).
____________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 11 de fevereiro dc 2014 > Guiné 63/74 - P12706: Memórias da minha comissão em Fulacunda (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART / BART 6520/72, 1972/74) (Parte VIII): A última visita de um general colonial, Bettencour Rodrigues, a dois ou três meses do 25 de abril
13 comentários:
Caros amigos,
Segundo o texto e citando as palavras do Marechal Costa Gomes na longa entrevista que deu à investigadora Maria Manuela Cruzeiro, o General Bethencourt Rodrigues "Não concordava nada com Spínola e, como mo disse pessoalmente, considerava que a sua ação na Guiné, não tinha sido muito positiva".
Mas, as imagens que ilustram este Poste sugerem que ele tentou fazer o mesmo que o Gen. Spinola fazia na guine para conquistar os nativos e quase com o mesmo discurso sobre a necessidade de defender o territorio, mesmo se nao concordava nada com este ultimo.
Na verdade, com ou sem propaganda alegadamente montada por Spinola na Guine, nao me parece que ele pudesse reverter a situacao naquele territorio ultramarino tendo em conta a evolucao desfavoravel do contexto internacional apos o choque petrolifero de 1973 e os subsequentes acontecimentos militares no CTIG nesse mesmo periodo, de modo que podemos considerar a sua avaliacao pessoal sobre o seu desempenho como lucida e muito honesta. E penso que a populacao da Guine, na altura, sobretudo a urbana, teve a mesma percecao de um consulado dificil e/ou quase falhado, comparativamente ao seu antecessor. So nao sabiam das causas profundas subjacentes a isso e do que estava por vir.
cordialmente,
Cherno Balde
Spínola pode ser visto, hoje, como um populista, ou pelo menos tem alguns traços do populismo (conceito polémico, que não obtem ainda o consenso dos politólogos, os especialistas em ciências políticas e demais ciências sociais...). Depois do 25 de Abril,conhecemos o seu percurso, mas já está fora do espaço temporal do nosso blogue que não se envolve nas questões da atualidade(e mormente da atualidade político-partidária).
Referindo-nos ao seu "consulado" na antiga Guiné Portuguesa (de meados de 1968 a meados de 1973, cinco longos anos!), um traço que ressalta da sua personalidade, dos seus discursos, da sua ação, da sua política, enfim do seu comportamento (incluindo o não-verbal, a pose, o traje, etc.), era a "demagogia" (prometendo tudo ou quase tudo a todos, incluindo os antigos militantes do PAIGC que regressassem "a casa" e que poderiam chegara até a ser generais!)...
Dotado de uma "persoanlidade carismática", com uma cultura militar "elistista (colégio militar, arma da cavalaria, germanófilo na II Guerra Mundial, amigos dos poderosos como Champallimaud...), com fama de bom operacional em Angola (enquanto comandante de batalhão), inegavelemente com coragem física..., e sempre rodeado de "bela e brava rapaziada", elegeu dois alvos a abater,no seu discurso para a massa "informe" do povo, civil e militar:
(i) a elite "cabo-verdiana", associada à história da colonização portuguesa do território mas também a "nomenclatura" do PAIGC (Amílcar Cabral e o escol intelectual e político era "cabo-verdiano");
(ii) e por outro as "oficiais superiores", os comandos de batalhão, acusados de "corruptos, fracos, incompetentes", a quem ele "comprava patins"...
O pobre do Zé Soldado, espezinhaado por todos desde o berço e das berças, adorava esta figura de estilo: o nosso comandante já levou com um "par de patins"!...
Portanto, Spínola era um "justicionalista", indo ao encontro dos recalcados instintos da "plebe" contra as "injustiças" e a "impunidade" dos mais fortes e ricos e letrados, que gozavam as delícias do sistema (incluindo a "corja dos refratários e desertores"...).
E depois, o seu gosto pela "teatralização" (o pingalim, o monóculo, a voz de "ventríloquo, um ego imenso, a bravata, a chegada do helicóptero a horas mortas da manhã...).
Conseguiu arranjar meios (financeiros, humanos, materiais, etc.) para fazer mexer a Guiné, tentando tirar o "tapete" ao Amílcar Cabral... Reprimiu abusos, seduziu os chefes tradicionais, sobretudo fulas e manjacos, dividiu o PAIGC, usou a cenoura e o chicote... Mas nunca pôs em causa a ditadura do Estado Novo, nem o sistema colonial...
E eu, confessso, ainda estava à espera, antes do 20 de janeiro de 1973, de ver sentado na esplanada do Café Bento, a tomar um café com o Amílcar Cabral, "o filho pródigo que finalmente regressava à casa paterna"... Mais o Senghor, claro...a lembrar que parte do seu ADN também era português...
O populismo (à esquerda e à direita) é sempre mau (tem-se visto ao longo da História), mas tem destas coisas imprevisíveis...
Olá Luís,
Há poucos dias li no Blog, um comentário muito critico do Gen. Almeida Bruno, ás forças em quadricula no interior da Guiné, que eu desconhecia e fiquei admirado, que eramos uns cagados e indisciplinados.
Agora vejo esta referência, a afirmações do Gen. Spínola, sobre o mesmo assunto, e que os Comadtes. de Batalhão, eram incompetentes e corruptos,qu e levavam com os patins ou eram presos, e sinceramente, veio-me á memória, uma certa recordação, eu não me lembro de ver no mato, quer em Op. quer em nomadizações ou colunas, um oficial superior, quer fosse Major, Ten-Cor. ou Coronel,
pois andavam andavam muito de avião.
Então, a conclusão, a que eu chego, é que o Almeida Bruno, tinha alguma razão no que afirmava e não estava só nesse pensamento.
Abílio Duarte
Nas fotografias 3 e 3A há um pormenor que julgo eu, não passei por todas as fotos do blogue, não se ver noutras fotografias de formaturas.
Repare-se que toda a tropa da formatura está de camuflado e quico, não há um único com outro fardamento.
O quer dizer que o cmdt da companhia sabia da visita do cmdt-chefe e mandou que todos se apresentassem fardados de campanha.
Valdemar Queiroz
Leio
... elegeu dois alvos a abater, no seu discurso para a massa "informe" do povo, civil e militar:
"(ii) e por outro as "oficiais superiores", os comandos de batalhão, acusados de "corruptos, fracos, incompetentes", a quem ele "comprava patins"...
Caro Luís pode fazer o favor de me indicar onde posso comprovar esta acusação de corruptos, fracos e incompetentes e dizer-me a quantos oficiais superiores o Cmdt Chefe "comprou" patins?
Ainda...
"Mas nunca pôs em causa a ditadura do Estado Novo, nem o sistema colonial..."
Quem escreveu Portugal e o Futuro em 1973? Quantos outros o fizeram? Não pôs em causa a governação? Sabe da importância que esta publicação teve no movimento dos capitães? ...
Caro Luís com monóculo e bastão (pingalim é outro artefacto) o senhor General Spínola foi um brilhante comandante-chefe na Guiné na senda do Tenente-coronel que com 52 anos (nasceu em 1910) se ofereceu voluntariamente para comandar um batalhão de cavalaria em Angola onde a sua coragem física e moral deixou memória nos seus subordinados.
Lembro a iniciativa de, em tempo útil, ajudar a encontrar solução política para o problema da Guiné que Marcelo Caetano impediu. Já em 1971 tinha dito "Esta guerra é um conflito político e ideológico e não uma confrontação armada. O Governo estabelecido não ganhará uma guerra subversiva no campo das armas mas é nesse campo que a poderá perder". E quantos afirmaram, publicamente,
“... se não podemos aceitar a ideia de que seja em vão tanto sacrifício, tão-pouco podemos admitir que hoje se morra apenas para que amanhã continue a morrer-se”.
Morais Silva
Meu caro coronel Morais Silva, que foi um bravo comandante operacional no CTIG, e que eu me permito saudar como camarada, e por quem tenho muita estima e apreço...
Uma das regras de ouro do blogue é não fazer "juízos de valor" (operacional, militar, profissional, ético, moral, humano, etc.) dos nossos "camaradas" (conceito que abrange o comandante operacional de uma subunidade) e até dos nossos superiores hierárquicos...
Sempre fizemos questão que no nosso blogue coubessem todos (ou quase todos) os combatentes que passaram pelo CTIG entre 1961 e 1974, sem distinção de oficiais, sargentos e praças, sua origem, suas armas, seu historial, etc... E temos procurado (o que nem sempre é fácil) evitar e sobretudo prevenir os "ressentimentos", os "ajustes de contas" tardios, patológicos, etc., enfim, restos de alguma conflitualidade motivada por razões disciplinares...
É inevitável falarmos, já de uma perspetiva histórica, dos comandantes-chefes do nosso tempo (generais Schulz, Spínola, Bettencourt Rodrigues..., de resto já todos falecidos).De uma modo geral, o tom é de elevação, mesmo quando usamos o "humor de caserna"...
Essa do "par de patins" ("comprar um par de patins", "levar com um par de patins", isto é, ser "transferido por razões disciplinares"...) era uma expressão recorrente no meu tempo, e na zona leste onde atuei (mai 69/ mar 71)... Tenho conhecimento de um caso ou, apenas pelo que me ficou do "jornal de caserna"...
Mas o Morais Silva, que é um militar e um professor que gosta de falar com números, lança-me um difícil repto: "Caro Luís, pode fazer o favor de me indicar onde posso comprovar esta acusação de corruptos, fracos e incompetentes e dizer-me a quantos oficiais superiores o Cmdt Chefe "comprou" patins?" (...)
Há um sempre risco no abuso e abuso no nosso recurso à "evidência anedótica"... O gen Spínola (que nunca amei mas admirei, quanto mais não fosse pela gesto, simples, que sempre registei e considerei enquanto militar, o de ter ido apresentar saudações de ano novo em 1 de janeiro de 1971, no miserável destacamento da ponte do rio Udunduma, a mim, simples furriel miliciano a comandar menos de um Gr Comb de soldados africanos de 2ª classe... ) tem sido às vezes vítima de "muitos preconceitos", resultantes afinal da nossa falha de conhecimento como militar e como homem... (Estou a conhecê-lo agora melhor, relendo a sua biografia, escrita pelo historiador Luís Nuno Rodrigues.)
Mas, aceitando seu repto, vou citar alguns excertos onde a expressão "levar com os patins" é utilizada no nosso blogue para descrever o exercício da ação disciplinar por parte do nosso general...
Exemplo 1:
(...) "Um dos alferes pôs-me a par da situação existente. Soube que iria substituir o anterior alferes de Informações (que não cheguei a conhecer) e que o Comandante anterior, Cor José Affa Castel Branco tinha ido de patins para a metrópole com 30 dias de prisão, na sequência de uma visita do General Spínola.
O Gen ter-lhe–ia pedido informações sobre a situação no sector e o Cor titubeando, não soube adiantar nada. Ainda sobre este Coronel foi-me contado que costumava divertir-se à noite, a matar, com uma carabina ponto 22, os gatos que iam ao cheiro dos restos do rancho, pelo que no dia seguinte havia sangue por todo o lado. Felizmente já não assisti a tão degradante espectáculo.
Decorreram mais quatro ou cinco dias de boa vida até que, vindo de Tite, chegou o novo Comandante, o Ten Cor Hélio Felgas. (...)
27 DE ABRIL DE 2009
Guiné 63/74 - P4254: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (1): Três oficiais: um General, um Coronel, um Alferes - suas personalidades
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2009/04/guine-6374-p4254-guerra-vista-de-bafata.html
O Fernando Gouveia, transmontano, hoje arquiteto, foi Alf Mil Rec e Inf, Comando de Agrupamento nº 2957, Bafatá, 1968/70...
Não gosto de citar os nomes de ninguém, quando se trata de punições de militares, que estiveram no CTIG, mesmo já tendo falecido... Mas já agora que o Fernando Gouveia citou (com erro dele, ou do editor do poste) o nome do oficial superior, que comandou em 1968 o Comando de Agrupamento nº 1980, o que sucedeu o Cm Agr nº 2957, aqui fica a correção:
Cor Inf José Frederico Porto Assa Castel-Branco
Morais Silva, aqui vai o Exemplo 2:
(...) Levar com os patins - Demissão de comandante, em geral de batalhão, por decisão de Spínola (por ex., "O Pimbas levou com os patins"; "Pimbas" era o nominho ou alcunha do 1º comandante do BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70, ten cor Pimentel Bastos).
31 DE DEZEMBRO DE 2019
Guiné 61/74 - P20516: Pequeno dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (8): edição, revista e aumentada, Letras I, J, K e L
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2019/12/uine-6174-p20516-pequeno-dicionario-da.html
O então tenente-coronel Pimentel Bastos tem sete referências no nosso blogue... Incluindo este poste:
4 DE AGOSTO DE 2006
Guiné 63/74 - P1025: Tenente-coronel Pimentel Bastos: a honra e a verdade (Luís Graça)
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2006/08/guin-6374-p1025-tenente-coronel.html
(...) 4. Eu vou inserir esta nota de esclarecimento no blogue… Como é timbre da nossa tertúlia e, de acordo com o nosso código de ética, temos o direito à verdade, devemos sempre prezar a verdade dos factos… Temos também que prezar a honra dos nossos camaradas e até daqueles que mandaram em nós (umas vezes bem, outras vezes mal, não vamos agora discutir isso)… E sobretudo temos a obrigação de respeitar a memória dos nossos mortos – de todos os nossos mortos - que, esses, já não podem infelizmente defender-se nem apresentar a sua versão dos acontecimentos… (...)
(...) 5. Fiquem, por fim, com a minha opinião: a famigerada expressão Ó Pimbas, não tenhas medo! – que o Beja Santos, por exemplo, nunca ouviu em Bambadinca – não é uma invenção minha, nem muito menos é uma infâmia que atinja a honra e o brio de um militar que eu não conheci, e que até poderia ser um homem afável e cosmopolita, sem vocação para comandar outros homens no teatro de guerra; é muito provavelmente uma expressão – satírica, grotesca, burlesca, caricatural, vicentina – que o nosso Zé Soldado criou para invectivar e ridicularizar o comportamento – muitas vezes deplorável, pouco honroso – de alguns dos nossos oficiais superiores do Exército que eram de facto militares de opereta… Falo, obviamente, dos poucos que conheci ou de quem ouvi falar...
O Pimbas não era necessariamente o tenente-coronel Pimentel Bastos, mas sim um boneco que nós, soldados, criámos, para causticar os nossos comandantes, um boneco para consumo dos programas de crítica social, na caserna, no bunker, no abrigo, na hora do lobo… Um pouco à semelhança do actual, popular e divertido, Contra-Informação da RTP 1…
De resto, muitos nós também tínhamos o nosso boneco: o Turra, o Vermelhinha, o Campanhã, o Alfero Cabral, o Camarada Sov, o major Eléctrico, o Tigre de Missirá… Temos que dar a conhecer, divulgar… e amar estes bonecos… Afinal, de contas, eles são nós, todos nós fizemos parte desta trágico-comédia… (...)
Caro Luís pode juntar outro, comandante de Bambadinca em 1970: TCor Magalhães Filipe. Quando pedi números foi para que se concluísse que o reduzidíssimo número de ocorrências de "patinagem" não permite tornar esta faceta como caracterizadora do Cmdt Chefe (apesar de tudo falta a vertente da corrupção...). A sua severidade e exigência perante as falhas dos seus militares era proporcional ao grau de responsabilidade e ao posto do infractor. Apreciava quem cumpria e é obrigatório lembrar o especial cuidado que tinha com os feridos em combate que diariamente visitava no HM 241.
Aguardo que o prometido encontro permita continuar este bate-papo.
Morais Silva
P.S. perdoe-se este desabafo: o Gen Spínola detestava os "coiros" independentemente do posto, quadro ou cor da pele.
Spínola tem 459 referências no nosso blogue... É obra!... O quer já escrevemos sobre ele dava patra escrever um pu mais livros... Não há nernhum outro dos governadores gerais e com-cvhefes com tantas referªencias....
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Sp%C3%ADnola
Como ler estes "resultados" ?
Foi o comandante-chefe de muitos de nós que aqui escrevemos... E de modo geral pode-se dizer que na Guiné do nosso tempo era: (i) idolatrado, por uns; (ii) admiado, por outros; e (iii) detestado, por alguns...
Mas o tom com que se fala dele é de elevação (com "humor de caserna", à mistura; a gtenet, afinbal, só se ri de quem admira...).
É uma figura que já pertence à nossa história, deu uma grande pedrada no charco do "impasse da guerra", e merece o nosso respeito... LG
Meu caro Morais Silva:
Sempre admirei a sua frontalidade. nomeadamente nas opiniões que aqui tem emitido ou defendido, no blogue ou nas nossas conversas esporádicas ao telefone.
Portanto, é bom ter o privilégio da sua participação na "montra pequena" da "Tabanca Grande" que é esta caixa de comentários... Mas prometo dar o devido destaque às questões relevantes que me pôs, em comentário anterior...
Ainda bem que eu (e, por certo, mais leitores) tive o prazer de o "ver por aqui", o que não é habitual... Reagiu, de certo modo "a quente", e ainda bem, a um comentário meu em que, a pretexto, do estafado e ambíguo conceito de "populismo", veio à baila, a traço grosso. a figura do seu, meu, nosso comandante-chefe no CTIG, gen Spínola (agora marechal, no Olimpo dos Combatentes).
O número de referèncias a Spínola no blogue (ou Spínola como "descritor" ou "tag") é impressionante e diz muito do interesse que a sua figura e a ação como militar ainda hoje despertam, entre os antigos combatentes... E vamos continuar a falar, nos 50 anos do seu livro "Portugal e o Futuro" mas também do 25 de Abril de 1974 (limite temporal do nosso blogue)...
Nalguns casos não temos sabido falar com objetiuvidade, serenidade, inteligência emocional, distanciamento crítico, etc., deste e doutros homens a quem a nossa geração está grata pelo que fizeram em prol da liberdade, da paz, da democracia, e do orgulho de continuarmos a ser portugueses...
Um alfabravo, Luís Graça
PS - O ten-cor art Filipe, cmdt do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) também é do meu tempo...Haveria mais uma meia dúzia de comandantes de batalhão que o gen Spínola considerava "inábeis para comandar" e a quem terá posto (ou tenciobava pòr) os patins... A expressão, insuspeita ("Olha que levas um par de patins") é de um grande "spinolista" e militar, com 3 comissões na Guiné, o Carlos Fabião... (citado pelo biógrafo de Spínola, na pág. 104).
Voltando à nossa querida Guiné (que no nosso tempo era mesmo a Spinolândia)... O nosso general conseguiu esta coisa espantosa: negociar,com Saalzar, a aceitação da sua dupla função como governador-geral e comandante-chefe da Guiné, mediante alguns contrapartidas, que eram verdadeiras "prerrogativas"... Uma delas a de poder escolher "os melhores" para a sua equipa de comando, o que ia até ao nível de comando de batalhão... Não constava, no nosso tempo, que houvesse algum caso de corrupção, os "patins" foram dados a oficiais superiores, coronéis, tenentes-coronéis e majores, cujas qualidades (ou falta delas) não não se encaixavam no perfil que o general definou para a sua vasta equipa...
Em todo o caso, há muito dinheiro em jogo naquela época, o Spínola teve o "euromilhões" que o pobre do gen Bettencourt Rodrigues não teve...
Só para investimento naa área económica, social e cutural, o Governo Central, no quadro do III Plano de Fomento (1968/73), concedeu apoios financeiros ao Governo da Guiné da ordem dos 650 mil contos (um pipa de massa, que a valores de hoje representariam qualquer coisa como perto de 200 milhões de euros)…
Os reordenamentos (mais de 8 mil casas construídas, cerca de metade das quais com cobertura dezino) levaram uma fatia importante desta verba, para além de equipamentos sociais, estradas (500 e tal km construídos), etc. Muito disto passava pelo BENG 447…
Em próximo comentário reproduziremos um excerto de um poste que diz muito do rigor e sentido de justiça imposto por Spínola aos seus colaboradores... É uma história contada pelo saudoso Fernando de Pinho Valente Magro (1936-2023) (ex-cap mil art, BENG 447, Bissau, 1970/72)...
Na História da Unidade, Bart 2917 (Bambadinca, 1970/72) lê-se:
(...) "- Em 12.NOV.70 - Por determinação superior, marchou para BISSAU o Tenente Coronel de Artilharia DOMINGOS MAGALHÃES FILIPE, a fim de se apresentar no Quartel General."(...)
No "jornal da caserna", não se usava este eufemismo... Dizia-se, pura e simplesmemte, que o comandante tinha "levado com um par de partins". A linguagem rude e cruel da tropa...
Já agora, informação complementar:
- Vivia na Amadora;
- Já falecido;
- Foi Governador de Diu, de 1956/61 com o posto de Capitão de Artilharia;
- Comandou o BART 2917 de 15/11/69 a 12/11/70.
- Em 12/11/70 apresentou-se no Quartel-General em Bissau e deixou o Comando do BART 2917.
Foi substituído por JOÃO POLIDORO MONTEIRO
Tenente Cor Inf, também já falecido;
- Comandou o BCAÇ 2861 (Fev69 a DEZ.70 - Bula e Bissorã);
– Apresentou-se em 02/02/71 para comandar o BART 2917, em substituição do ten cor art Domingos Magalhães Filipe;
- Comandou o BART 2917 de 02/02/71 a 27/03/72.
Enviar um comentário