terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25220:A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte VI: Dois generais de escolas, perfis e personalidades muito diferentes



Gen Bettencourt Rodrigues (1918-2013): 
aqui na base naval do Alfeite, em 30/4/1974; 
detalhe de foto do álbum de família 
do cor inf António Vaz Antunes,
a quem a agradecemos a gentileza, 
na pessoa do seu filho Fernando Vaz Antunes.


Guiné > Bissau > c. 1970/71 > Spínola condecorando um alferes 'comando' africano... Em segundo plano, eu sou o portador da bandeja que contem a condecoração . (Foto do álbum do nosso camarada, médico, Ernestino Caniço, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa; Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, Bissau, fev 1970/dez 1971).

Foto (e legenda): © Ernestino Caniço (2022) . Todos os direitos reservados (Edição e legendag complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


1. O depoimento do gen Bettencourt Rodrigues (Funchal, 1918 - Lisboa, 2011), o último governador e com-chefe da Guiné, antes do 25 de Abril, prestado em 1997, no âmbito dos Estudos Gerais da Arrábida, ao Manuel de Lucena e ao Luís Salgado de Matos (ICS / UL) merece ser conhecidoe divulgado neste blogue de antigos combatentes da Guiné (*). 

Nesta segunda (e última) parte há expressões(e revelações), no mínimo "pitorescas",  que merecem o devido destaque:

  • Ele   [o general Spínola ]  fazia a sua política, era lá com ele. 
  • O general Spínola não era assim tão popular na Guiné.
  • O sr. general Spínola, lamento dizê-lo, era muito faccioso. Para ele, quem não tivesse andado no Colégio Militar ou não fosse de Cavalaria era menos que zero.
  • Caramba, oito anos na Guiné é de morrer! 
  • O Governo não lhe [a ele,  general Spínola ] dava todo o dinheiro que pretendia para a sua política de aliciamento das populações.
  • Eles   [a mim ] não me metiam a mão no bolso! 
  • Recordo-me de um dia ter ido a uma sanzala [ sic ]  e de um grupo de mulheres me ter pedido rádios. Vejam bem (,,,), para falar com os maridos (...) em Bissau!
  • A Guiné é um país cuja área varia em função da maré!
  • Sim,  planeava converter as 225 guarnições em 80 e tal
  • Só se morre uma vez, não há mortes provisórias.
  • O PAIGC não estava menos exausto que nós.
  • A     [nossa] tropa podia estar farta, mas obedecia.
  • Em Lisboa em Março de 1974,  vim cá buscar 150 conto[cerca de 28 600 euros, a preços de hoje
  • Felizmente, o episódio da «brigada do reumático» apanhou-me já a caminho da Guiné.
  • [ O 25 de Abril foi uma surpresa para mim, ] tanto que me assaltram o gabinete!

Estudos Gerais da Arrábida > A descolonização portuguesa > 

Painel dedicado à Guiné (29 de Julho de 1997) >
Depoimento do general Bethencourt Rodrigues > 
II (e última) parte (*)


Fonte: Arquivo de História Social > Instituto de Ciências Socias da Universidade de Lisboa (o link original foi descontinuado: ver aqui em Arquivo.pt:

https://arquivo.pt/wayback/20140929225751/http://www.ahs-descolonizacao.ics.ul.pt/

(...) "O Arquivo de História Social publica nesta página uma série de entrevistas sobre a descolonização portuguesa de 1974/1975, fruto de um projecto do Instituto de Ciências Sociais apoiado pela Fundação Oriente.

" Maria de Fátima Patriarca, Carlos Gaspar, Luís Salgado de Matos e Manuel de Lucena que coordenou, entrevistaram grandes protagonistas desse processo: por um lado, governantes, chefes militares, dirigentes do MFA e outros que então actuaram na Guiné-Bissau, em Cabo Verde, Angola e Moçambique; por outro lado, responsáveis metropolitanos ou íntimos colaboradores seus.

"Não procurando promover qualquer interpretação, chegar a juízos gerais ou encerrar os eventos abordados numa dada problemática, o grupo entrevistador foi seguindo os relatos e aceitando as visões dos seus interlocutores, embora não deixasse de lhes solicitar esclarecimentos por vezes incómodos." (...)

O sítio original na Net foi descontinuado. Só há pouco tempo o conseguimos recuperar através do Arquivo.pt.  Devido à sua entensão, o depoimento  é reproduzido,  com negritos nossos (e itálicos), em duas parte (com a devida vénia, ao ICS - Instituto de Ciências Sociais, da Universidade de Lisboa). 

A primeira parte, como já vimos,  é dedicada a Angola, onde o general Bettencourt Rodrigues foi o "herói da região militar leste" (1971-1973). A segunda, à sua comissão na  Guiné (set 1973/ abr 1974).

Os entrevistadores, já falecidos, Manuel Lucena, cientista político (1938-2015)  e Luís Salgado de Matos, sociólogo (1946-2021), foram dois brilhantes investigadores do ICS - Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

Este documento também está disponível no Arquivo de História Social do ICS. Faz parte do espólio de Manuel Lucena.

______________________
 

(…) Luís Salgado de Matos:

Passando agora para a Guiné. O sr. general chegou a organizar algum Congresso do Povo?

General Bettencourt Rodrigues:

Sim, o quinto. Foi até  
o acontecimento político-social mais marcante do meu mandato como Governador. 

Para sua informação, eu descrevo isso com algum detalhe no depoimento que o Paradela de Abreu me solicitou em tempos, "Vitória Traída". Mas houve também os congressos regionais, de onde eram cooptados os delegados para o Congresso Provincial.

Tudo isso movimentou na altura milhares de pessoas, completamente à margem do PAIGC.

Manuel de Lucena:

Mas essa não interferência do PAIGC era deliberada por parte deles…

General Bettencourt Rodrigues:

Incapacidade militar, meu caro amigo!

Luís Salgado de Matos:

Havia alguma reflexão no Estado Maior sobre a táctica que o general Spínola estava a desenvolver na Guiné?

General Bettencourt Rodrigues:

Ele fazia a sua política, era lá com ele. Cada um tinha as suas características próprias. Volto a repetir: os comandantes militares gozaram sempre de uma larga autonomia.

Quando cheguei à Guiné em 1973, habituado como estava à largueza de Angola, o que mais me impressionou foi a pequenez daquilo tudo. A Guiné é um país cuja área varia em função da maré!

Manuel de Lucena:


Na Guiné, o sr. general chegou a pensar numa concentração do dispositivo?

General Bettencourt Rodrigues:

Sim, planeava converter as 225 guarnições em 80 e tal. A dispersão é inimiga da eficácia. Mas já não tive tempo,

Manuel de Lucena:

Por outro lado, a quadrícula dispersa é sinal de presença efectiva, possibilita o contacto directo com as populações…

General Bettencourt Rodrigues:

É uma outra forma de ver as coisas. Simplesmente, havia que fazer uma opção.

Luís Salgado de Matos:

Manteve o acordo do general Spínola com os Felupes, em que estes recebiam 100 escudos por cada cabeça de guerrilheiro abatido?

General Bettencourt Rodrigues:

Não estava ao corrente desse acordo, mas se ninguém o denunciou…

Manuel de Lucena:

Quando chegou à Guiné encontrou uma tropa bem preparada, motivada, com bons quadros? Faço lhe esta pergunta porque a ideia que normalmente se tem acerca do estado de espírito da nossa tropa na Guiné é a de uma desmoralização generalizada.

General Bettencourt Rodrigues:

Sobre isso direi o seguinte: só se morre uma vez, não há mortes provisórias. Quando se combate com convicção e tenacidade, quando se tem a certeza de um trabalho bem feito, a motivação é coisa que não falta.

Manuel de Lucena:

Mas o MFA na Guiné, ao nível dos quadros, aparentava estar bem organizado, tinha um número muito significativo de adesões. Qual era a sua percepção?

General Bettencourt Rodrigues:

Não tive conhecimento disso- Que as condições eram terríveis, não contesto. Agora dizer que a tropa estava desmoralizada, de maneira nenhuma! 

Em Angola podia cumprir-se uma comissão alternando sítios fáceis com difíceis. Na Guiné não; vivia-se num sobressalto permanente. Por isso é que na Guiné as comissões duravam 21 meses e em Angola 24. Só quando os strelas entraram em cena é que as comissões passaram a 24 meses. O general Spínola deixou ficar os que lá estavam e aumentou o contingente com tropas frescas.

Manuel de Lucena:


O 25 de Abril foi então uma surpresa para si?

General Bettencourt Rodrigues:

Tanto foi que me assaltaram o gabinete! (**) Embora quase tivesse assistido ao golpe das Caldas, quando vim a Lisboa em Março de 1974, não dei por nada. Quando a Revolução estalou, estava perfeitamente inocente.

Luís Salgado de Matos:

O sr. general tinha confiança na tropa das informações? Na Marinha, onde fiz o meu serviço militar, corria que o Exército, na Guiné, estava infiltrado pelo PAIGC de alto a baixo.

General Bettencourt Rodrigues:

Em geral tinha. Nas Informações trabalhava-se em estreita colaboração com a DGS, reconhecidamente competente nesse campo. O PAIGC, de resto, não tinha técnica para entrar um jogo desses.

Diz-se que um dos efeitos da contra-subversão é a lassidão. Mas a lassidão também os afectava a eles. O PAIGC não estava menos exausto que nós.

Manuel de Lucena:

De qualquer forma, de todos os MFA's, não restam dúvidas de que o MFA da Guiné era o melhor estruturado. Basta atentar nos nomes proeminentes do 25 de Abril que saíram da Guiné. Se eles fossem fracos, o sr. general, no dia 25, ter-se-ia rido na cara deles e dado voz de prisão. Depois, o evoluir dos acontecimentos logo após o 25 Abril veio a demonstrar que na Guiné a vontade de regresso à Metrópole se sobrepunha praticamente a tudo.

General Bettencourt Rodrigues:

Olhe, como dizem os brasileiros, quando um general passa à reserva vira historiador. Foi o que sucedeu comigo. Reformado aos 55 anos, dediquei-me ao estudo. Pesquisei, li, meditei, E sabe a que conclusão cheguei? 
Que o país nunca teve um problema de defesa nacional em África. A tropa podia estar farta, mas obedecia. Faz parte da nossa natureza. A esse respeito nunca tive dificuldade - fui sempre obedecido. 

Raramente tive de usar de expedientes punitivos; escolhi sempre a via do exemplo: quando era preciso suportar dificuldades, eu fazia questão em suportá-las.

Quando estive em Lisboa em Março de 1974 - vim cá buscar 150 contos -, achei isto uma coisa horrorosa. Tinha havido a remodelação ministerial, a última do professor Marcelo. Senti um mal-estar generalizado, uma atmosfera pesada. Felizmente, o episódio da «brigada do reumático» apanhou-me já a caminho da Guiné.

Manuel de Lucena:

Como foi a reacção ao golpe das Caldas na Guiné?

General Bettencourt Rodrigues:

Irrelevante. O Ultramar ficava muito longe.

Luís Salgado de Matos:

O facto do general Spínola ter saído após Guileje foi entendido como uma derrota? Não afectou as pessoas que lá estavam?

General Bettencourt Rodrigues:

Note: o general Spínola esteve lá oito anos, fora nomeado no tempo do do Salazar. Eu até dizia: o Spínola não deve sair da Guiné senão por limite de idade ou de caixão. E, caramba, oito anos na Guiné é de morrer! 

A partir de determinada altura, admito que as coisas terão deixado de lhe correr de feição, nomeadamente porque o Governo não lhe dava todo o dinheiro que pretendia para a sua política de aliciamento das populações.

Apesar de cada um ter a sua maneira de comandar, eu não enjeitei a sua política de melhoria e desenvolvimento das populações autóctones. Mas com uma diferença: eles não me metiam a mão no bolso!  
Quer dizer:  não lhes satisfazia todos os pedidos. 

Recordo-me de um dia ter ido a uma  tabanca [sanzala, no original ]  e de um grupo de mulheres me ter pedido rádios. Vejam bem: rádios para falar com os maridos quando estes iam a Bissau! 

Não fui para a Guiné para agradar a toda a gente. Fui lá para cumprir o que devia ser cumprido.

Manuel de Lucena:

Na conversa que teve com o professor Marcelo, antes de ir para a Guiné, não ficou com a sensação que a saída do general Spínola lhe causava a ele, Marcelo, um problema bicudo?

Luís Salgado de Matos:

E a isso eu acrescento: não implicava a admissão da derrota de Spínola na Guiné?

General Bettencourt Rodrigues:

Leiam o Depoimento do professor Marcelo Caetano. Ele narra a nomeação a reunião com os altos comandos.

Manuel de Lucena:

E quando é nomeado para a Guiné tem outra entrevista com o professor Marcelo ...

General Bethencourt Rodrigues:

Naturalmente. No entanto, o pretexto dessa conversa até foi outro assunto, designadamente, a negociação de um contrato publicitário entre a RTP e a Movierecord - eu nessa altura em administrador delegado da RTP. 

Só depois é que o Presidente do Conselho me assediou para a Guiné, onde a situação se deteriorara nos últimos tempos.

Luís Salgado de Matos:

Mas porque é que saltaram a escala hierárquica e o escolheram a si? Não foi pela aura vitoriosa que trazia do Leste de Angola?

General Bettencourt Rodrigues:

Sim, pode aceitar-se essa leitura.

Manuel de Lucena:

Mas o sr. general Bethencourt e o sr. general Spínola são comandantes de estilos e escolas diferentes, não é assim?

General Bettencourt Rodrigues:

O mais possível.

Manuel de Lucena:

De resto, a «terceiro-mundialização» que o Exército português conheceu durante o PREC - e que se traduzia em ordens por despacho, ultrapassagem das hierarquias, etc. – não procedeu da organização do general Spínola na Guiné?

General Bettencourt Rodrigues:

Mas note que, ao contrário do que muita gente pensa, o general Spínola não era assim tão popular na Guiné.

Manuel de Lucena:

Quando fui subordinado do major Salles Golias, que servira sob as ordens do general Spínola na Guiné, e depois se tornou seu inimigo figadal,  recordo-me de ele ter dito que era capaz de tudo para evitar que o general Spínola, já depois do 25 de Abril, voltasse a pôr os pés na Guiné. O major Golias estava ciente que o general Spínola deixara uma multidão de indefectíveis, tanto cá como na Guiné.


General Bettencourt Rodrigues:

Mas esses fiéis - o Monge, o Bruno, o Fabião, etc. - já haviam todos regressado quando fui para a Guiné. 

O sr. general Spínola, lamento dizê-lo, era muito faccioso. Para ele, quem não tivesse andado no Colégio Militar ou não fosse de Cavalaria era menos que zero.

Texto fixado por Pedro Aires Oliveira, a partir de notas suas e de Fátima Patriarca.

 (Revisão / fixação de texto, parênteses retos,  negritos e itálicos para efeitos de publicação neste blogue: LG)
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Notas do editor:

(*) Útimo poste da série > 26 de fevereiro de 2024 > Guiné 6/74 - P25217: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte V: Angola 'versus' Guiné

(**) Vd. postes  de 

4 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13096: (Ex)citações (229): O MFA na Guiné-Bissau: comentário do ten cor ref Jorge Sales Golias sobre os acontecimentos de 26 de abril de 1974, em Bissau: o gen Bethencourt Rodrigues e os oficiais que com ele se solidarizaram foram tratados com deferência e cordialidade (Carlos Pinheiro / Bento Soares)

4 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13095: (Ex)citações (228): O golpe de 26 de abril de 1974, o MFA, o Com-Chefe, gen Bethencourt Rodrigues, e o comandante interino do COMBIS, cor inf António Vaz Antunes (Luís Gonçalves Vaz, que tinha 13 anos, e vivia em Bissau, sendo filho do cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz, último chefe do Estado Maior do CTIG)

1 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13078: O golpe militar de 26 de abril de 1974 no TO da Guiné: memorando dos acontecimentos, pelo cor inf António Vaz Antunes (1923-1998) (Fernando Vaz Antunes / Luís Gonçalves Vaz): Parte I

9 comentários:

Anónimo disse...

Julgo que é o Adriano Sisseco que está a ser condecorrado pelo Gen. Spínola.

V. Briote

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Vb. É sempre bom ver-ter por aqui. Estás sempre em casa.

É mais que justo podermos identificar os nossos camaradas guineenses, e nomeadamente os bravos comandos que remontam ao teu tempo.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Pois é, seis meses na Guiné não deu para o nosso general beber a água do Geba e aprender o crioulo elementar. Quem lá esteve de 1972 a 1974 pode comparar melhor as duas personalidades, o António Spinola e o Bettencourt Rodrigues.

Anónimo disse...

O general Rodrigues veio destruir tudo o que o Spínola fez na Guiné, eu estive lá de 72 a 74, Bigene, Cantanhez e Nhacra; nunca deveria ter ido, foi um erro clamoroso de casting!A Guiné não era Angola!
Albertino Ferreira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Albertino, tu estavas lá, eu não, eu já estava na metrópole desde finais de março de 71 e tentando a todo o custo esquecer a maldita guerra ...

Mas fica-se com a ideia de que o teu comandante-chefe tinha, da Guiné, meia dúzia (se tanto!) de ideias estereotipadas... Foi para lá como poderia ter ido para outro sítio qualquer se o Marcello Caetano lhe tivesse pedido (ou implorado)... Era uma militar habituado a cumprir ordens e missões...

Ele diz, na I parte da entrevista: "Comigo foi sempre assim: basta apresentarem-me a guia de marcha e eu vou para qualquer lado"...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

... Um governador, um general inteligente, um com-chefe que vem "mendigar" ao Governo 150 contos (!) ao Governo, em março de 74, sabe que não vai poder contar com tropas frescas e reforço de armas e munições...

Joaquim Luis Fernandes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Joaquim Luis Fernandes disse...

Destaco algumas passagens desta entrevista:

"Luís Salgado de Matos:

O sr. general tinha confiança na tropa das informações? Na Marinha, onde fiz o meu serviço militar, corria que o Exército, na Guiné, estava infiltrado pelo PAIGC de alto a baixo.

General Bettencourt Rodrigues:

Em geral tinha. Nas Informações trabalhava-se em estreita colaboração com a DGS, reconhecidamente competente nesse campo. O PAIGC, de resto, não tinha técnica para entrar um jogo desses."

Pergunto eu: Como era admissível que nas NT tivesse no seu seio, em postos de comando, elementos infiltrados, afetos ao PAIGC ? Seriam elementos filiados ou próximos do PCP, que faziam o jogo do IN, vindo a revelar essa duplicidade depois do 25 de Abril de 74?


"Manuel de Lucena:

Quando fui subordinado do major Salles Golias, que servira sob as ordens do general Spínola na Guiné, e depois se tornou seu inimigo figadal, recordo-me de ele ter dito que era capaz de tudo para evitar que o general Spínola, já depois do 25 de Abril, voltasse a pôr os pés na Guiné. O major Golias estava ciente que o general Spínola deixara uma multidão de indefectíveis, tanto cá como na Guiné.

General Bettencourt Rodrigues:

Mas esses fiéis - o Monge, o Bruno, o Fabião, etc. - já haviam todos regressado quando fui para a Guiné.
O sr. general Spínola, lamento dizê-lo, era muito faccioso. Para ele, quem não tivesse andado no Colégio Militar ou não fosse de Cavalaria era menos que zero."

Perguntas para o senhor (major) Salles Golias: O que o levou a tornar-se inimigo figadal do senhor general Spínola? Porque faria tudo (?) que evitasse que Spínola voltasse à Guiné depois do 25 de abril? Está feliz com o destino que foi dado, aos militares, milícias e à maioria da população, que serviram e foram leais a Portugal, que estiveram sob o Alto Comando Militar e do Governo do general Spínola?


Atentamente
JLFernandes

Manuel Luís Lomba disse...

Os Comandos, Fuzileiros e Paraquedistas são tropa especial, "trabalhavam" no mato, passavam pelas quadrículas, mas a cosmopolita Bissau era a sua casa. O então major Almeida Bruno era militar especial (era e foi!), logo não conhecia a saga dos militares das quadrículas.

Eis a minha experiência: um ano no Forte da Amura, de intervenção no Sul e no Norte (Naga, Bula, Morés, Talicó, Bironque, etc,, no tempo de Osvaldo Vieira, Inocêncio Cani, etc, dávamos e levávamos porrada, regressávamos, tínhamos três dias de descanso à lorde, eram seguidos dos serviços de guarda ao QG, patrulhamento no Pilão, na cidade, no aeroporto, etc, - as hierarquias e a Polícia Militar eram as nossas chatices.

Um ano na quadrícula de Buruntuma: guerra três vezes ao dia e nem mais um dia ripanço.

Sem as quadrículas e as suas "formiguinhas" militares, o In iria e viria a Bissau, nem a gente, as tropas especiais e os outros senhores da guerra viveriam ou dormiriam descansados.

O General Almeida Bruno é uma referência da Guerra da Guiné e das nossas Forças Armadas. O seu comentário foi manifestamente infeliz, creio que não o repetiu.

O "outro lado" tem dito "bocas" mais soezes - e são repetidas à exaustão.
Abrç.