segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25215: As nossas geografias emocionais (22): O antigo Hospital Militar Principal (HMP), Lisboa, Estrela


Fachada do Hospital Militar Principal,  Lisboa, â Estrela, s/d .  



Hospital Militar Principal de Lisboa 
(Igreja e antigo Convento de Nossa Senhora da Estrela)


Fonte: Adapt de Município de Lisboa


1. Quantos de nós passaram por aqui, pelo HMP, que não se resumia a este antigo edif´ciio conventual ?  Do complexo hospitalar da Estrela, fazai ainda parte o Anexo de Campolide... Algns andaram pelo HMP , em tratamento, recuperação e convalescença, um, dois ou até mais anos...  

Importa então relembrar a história do antigo Hospital Militar Principal (HMP) (que encerrou definitivamente em 2013) (*)... 

O edifício  (qeu vemos na foto) começou por ser,   originalmente,  um convento beneditino, fundado em 1572 e dedicado a Nª Sra. da Estrela. 

Em 1615, muito próximo deste, é fundado o Mosteiro de S. Bento da Saúde (no sítio onde é hoje o Palácio de São Bento) (**) . O primitivo convento da Estrela será, entretbato, transformado em colégio e casa de estudo da Ordem.

Em 1624 construiu-se no Convento das Janela Verdes, o Hospital Real Militar da Corte, mais tarde transferido para o colégio de Nossa Senhora da Estrela, passando a designar-se por Hospital Militar de Lisboa.

Com a Restauração e a guerra peninsular, a partir de 1640, desenvolve.se o Serviço de Saúde Militar e criam-se Hospitais de Guarnição.

O edifício da Estrela, tal como outras construções da cidade, fortemente abalado pelo terramoto de 1 de novemvro de 1755. Anos depois, em 1797, passa para as mãos do Estado, acolhendo um hospital militar que será utilizado por tropas auxiliares britânicas (ma também pelas tropas de Junot).

Em 1836, por parecer da 
Comissão de Saúde Militar, o  Hospital Militar Permanente instala-se definitivamente no edifício da Estrela.

Com a evolução dos tempos o Hospital foi alargando as suas instalações e em 1898 anexou-se a ala que dá para a Rua de S. Bernardo, para no ano seguinte alguns dos seus serviços serem instalados na "cerca" do Convento do Sagrado Coração de Jesus (Basílica da Estrela).

Em 1926, passa a designar-se Hospital Militar Principal. No ano seguinte, na "cerca",nas traseiras da Basílica da Estrela, será instalada a Escola do Serviço de Saúde Militar (ESSM)-

Posteriormente, com a abertura da Avenida Infante Santo, em 1950, ficou a referida "cerca" dividida ao meio: os pavilhões de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e o Laboratório de Análises Clínicas vão ficar no lado nascente (lado esquerdo da Infante Santo, quando se desce); o Bloco Operatório e o Pavilhão da Família Militar, construído na década de 1940, situam-se no lado poente (lado direito da Infante Santo, no sentido descendente) (***)

Sem entrar em detalhes, sobre a sua estrutura física e orgânica, que se foi alargando ao longo do tempo, o HMP (constituído por diversas áreas e diversos edificios, e com graves problemas de circulação "intra-hospitalar") vai ter um papel importante durante a guerra de África (1961/75). 
Faz parte das "geografias emocionais" de alguns de nós (****).

Em 1961, o Aquartelamento de Campolide deixou de ser ocupado pelo Regimento de Artilharia n.º 1, sendo aí instalado o Centro Ambulatório de Doentes e Convalescentes, anexo do HMP (conhecido como o Anexo de Campolide), face ao grande número de evacuados do Ultramar.

Em 18 de Outubro de 1973 foi inaugurado a Casa de Saúde da Família Militar, localizada na "cerca" do hospital, com 12 pisos.

Em 1991 procedeu-se à concentração hospitalar dos três corpos de edifícios dispostos em volta do Largo da Estrela, de forma a permitir a alienação do referido Anexo de Campolide que se tornou desnecessário.

Durante a década de 90 o Hospital responde aos desafios da medicina moderna efectuando obras e melhoramentos em diversas áreas. O Hospital Militar de Belém como hospital complementar, integra os seus serviços clínicos no funcionamento hospitalar global.

Em 2009, avançava-se com um projeto para a criação de um Hospital Único das Forças Armadas. Porém, o Hospital Militar da Estrela acabaria por fechar em 2013. O seu destino ficou incerto. 

Anos depois, em 2022, o antigo convento e depois hspital militar, adjacente ao Jardim da Estreka, reabriu portas como espaço cultural, com o nome “House of Neverless” , prometendo eventos, workshops e formações. Tem dois pisos dedicados ao teatro e um terceiro para a academia. 
 
Fontes: 
Adaptado de página do Exército > Hospital Militar Principal > Historial

____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 24 de fevereiro de  2024 > Guiné 61/74 - P25210: Os nossos seres, saberes e lazeres (616): Visita técnica no âmbito da minha Ordem Profissional, a OET (Ordem dos Engenheiros Técnicos), à chamada "Linha Circular" do Metro de Lisboa (Hélder Valério de Sousa)

(**)  Mosteiro de São da Saúde de Lisboa > Historial 

(...) O Mosteiro de São Bento da Saúde de Lisboa era masculino, e pertencia à Ordem e Congregação de São Bento.

Também designado por Mosteiro de São Bento da Saúde de Lisboa, Mosteiro de São Bento de Lisboa, Mosteiro de São Bento o Velho.

Em 1581, os monges beneditinos que estavam instalados no Mosteiro de Nossa Senhora da Estrela de Lisboa, decidiram construir um novo edifício, na quinta da Saúde, também em Lisboa.

Em 1598, foram iniciadas as obras, pelo Geral da Ordem Beneditina, frei Baltazar de Braga, segundo o projecto do arquitecto Baltazar Álvares.

Em 1615, a 8 de Novembro, a comunidade transferiu-se para a quinta da Saúde. A invocação do Mosteiro teve a sua origem nesta nova residência, o qual viria a ser designado por São Bento de Lisboa ou por São Bento da Saúde de Lisboa.

A partir de 1755, os monges foram obrigados a ceder uma parte das suas instalações para vários fins. De 1755 a 1856, e de 1769 a 1772, foi sede da Patriarcal de Lisboa. Em 1757, e nos anos seguintes, serviu de instalação à Academia Militar. Em 1796 e 1798, serviu de prisão de pessoas notáveis. Entre 1797 e 1801, serviu de instalação ao Batalhão de Gomes Freire de Andrade. Entre 1756 e 1990, acolheu o Arquivo da Torre do Tombo.

Em 1822, os monges tiveram de abandonar o mosteiro, indo para o Mosteiro de São Martinho de Tibães de onde regressaram em 1823.

Em 1833, abandonaram o edifício definitivamente quando este foi cedido para local de reunião das Cortes Constituintes.

Em 1834, no âmbito da "Reforma geral eclesiástica" empreendida pelo Ministro e Secretário de Estado, Joaquim António de Aguiar, executada pela Comissão da Reforma Geral do Clero (1833-1837), pelo Decreto de 30 de Maio, foram extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e casas de religiosos de todas as ordens religiosas, ficando as de religiosas, sujeitas aos respectivos bispos, até à morte da última freira, data do encerramento definitivo.

Os bens foram incorporados nos Próprios da Fazenda Nacional.

Localização / freguesia: Lapa (Lisboa, Lisboa) (...)


(***) Vd. artigo "Alterações na estrtutura do Hospital Militar Principal", do major Rui Manuel Pereira Fialho, publicado na Revista Militar N.º 2566 - Novembro de 2015, pp 909 - 918. (Disponível aqui em pdf: https://www.revistamilitar.pt/artigopdf/1064)

6 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

É uma boa ocasião para lembrar quem passou por aqui, em formação (enfermeiros. médicos...) ou em tratamento e recuperação (combatentes)...

Já aqui temos alguns testemunhos, mas poucos. Precisamos de muitos mais...

Hélder Valério disse...

Pois é, Luís

Foi por me ter ocorrido a lembrança do conhecimento de por essas instalações terem passado muitos militares que me atrevi a trazer para conhecimento e, já agora, reavivar a memória e as recordações de quantos por lá passaram, com o apontamento que enviei antes, mesmo sabendo que não tinha que ver diretamente com a "guerra da Guiné".

Eu, na realidade, não fui utente.
Mas muitas vezes vi esse edifício, essas instalações que enviaste nas fotos.
E vi a azáfama dos militares que entravam e saíam, pois em 1966, 67, 68 e 69 frequentava o Instituto Industrial de Lisboa, que ao tempo se situava na Rua de Buenos Aires, à qual se chegava a partir da parada da Estrela pela Rua João de Deus.
Se quando ia da Estrela para o Instituto virava as costas ao HMP, já quando era para o regresso o caminho era inverso, e o edifício e seus ocupantes ficavam mesmo em frente e, no começo da rua, a uma cota superior. Por isso as imagens estão bem gravadas na minha memória visual.

Quanto ao destino das edificações, dizem-se coisas várias mas ainda será cedo para se terem certezas.

Hélder Sousa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Morei na Lapa dos Pobres (na Travessa do Possolo, onde moravam outros estudantes e professores universitários, do ISEF, como o Prof Cavaco Silva, por exemplo, meu "anónimo" vizinho, na altura, em 1976/77, não figura pública)... Eu trabalhava na Praça do Comércio, fazia sempre o elétrico que vinha até à Estrela... Nunca me deu (porquê ?) vontade de "visitar"o HMP da Estrela, e muito menos os "anexos"...

E no entanto o querido amigo e camarada António Fernando Marques, meu colega de infortúnio na mina A/C que a nossa GMC accionou em Nhabijões, em 13 de janeiro d 1971, fez lá "outra comissão" (perto de 2 anos, com o tempo do HM 241, em Bissau)... Nunca o visitei nesses dois anos, só nos reencontrámos, vinte a tal anos depois, em Fião, Esposende, em 1994 (!)...

O meu cunhado, António Carneiro, de alcunha o "Brasileiro" (hoje com 85 anos!. e que só conheci em 1975), foi ferido em julho de 1964, na Beira, Moçambique, e transferido para o HMP - Hospital Militar Principal, em Lisboa, em Dezembro desse ano, seis meses depois. No HMP passou cerca de oito meses. Regressou à vida civil em agosto de 1965, tendo casado depois...É um DFA - Deficiente das Forças Armadas (com 2/3 de incapacidade)...(Nunca o foram visitar, a família, é uma das suas mágoas.)

Tinha razões de sobra eu para lá ir dar uma "espreitadela" enquanto foi HMP... Nunca consegui vencer a "relutância visceral"... Agora é tarde demais... Mas foi um local de sofrimento (e também de esperança) para muitos camaradas nossos... Quantos lá terão passado ?

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Pequeno "pormenor biográfico"... No ano letivo de 1976/77 eu frequentava o antigo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, ou ISCEF (designação que vinha de 1930, quando o Instituto Superior de Comércio foi integrado na Universidade Técnica de Lisboa... Em 1972 passou a ser ISE - Instituto Superior de Economia e só em 1989 ISEG - Instituto Superiode Economia e Gestão... Em 1977/78 passei para o ISCTE...

Foi nessa altura, 1976/77, que morei na "Lapa dos Pobres", paredes-meias com o HMP e seus anexos... onde nunca entrei (Nem, masi tarde, quando os meus filhos, já maiores, aranjaram casa na Rua de Santo António à Estrela!...)

João Carlos Abreu dos Santos disse...

É demasiado fácil clicar no 'google' e pesquisar seja o que fôr...
Mas com um pouco de "ginástica mental", como se sabe, é possível - e necessário - informar correctamente sobre qualquer tema em presença.
Ou seja: há aí grosseiro equívoco, porquanto a maioria dos militares, vitimados no decurso da guerra no Ultramar, não se encontrava acolhida nas instalações supra indicadas - seja, no "antigo Convento de Nossa Senhora da Estrela" (paredes-meias com o Jardim da Estrela) -, antes sim nos anexos construídos e sitos no início da Avenida Infante Santo (tanto os do lado direito, de quem desce aquela artéria, como os que anos depois vieram a ser abertos no lado esquerdo daquela mesma avenida).
E está aqui quem por ali passou, como transeunte, todos os dias - várias vezes! -, desde a década de 1960!
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(Quanto ao acintoso àparte da "Travessa do Possolo" ser "Lapa dos Pobres", a educação recebida não me consente qq réplicas... )

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... em tempo: onde acima se lê «tanto os do lado direito» [...] «como os que anos depois vieram a ser abertos no lado esquerdo», meu lapso momentâneo, porquanto é/foi precisamente o inverso.