domingo, 3 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25231: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (20): A abetarda que não é mais desastrada...


A abetarda (Otis tarda),uma espécie eurasiática, parecida com  o peru ("Estado de conservção: Em perigo, em Portugal, pouco preocupante na Europa e vulnerável internacionalmente, segundo a Lista Vermelha da IUNC – União Internacional para a Conservação da Natureza"). 

Fonte: Biodiversidade, by The Navigator Company > Biogaleria > Conheça a Espécie > Abetarda) (Com a devdia vénia...)


1. Aos veteranos, antigos combatentes da Guerra dos Cem Anos,  desculpa-se muita coisa, aos velhos quase tudo e aos avós tolera-se todas as bizarrias... 

Estava eu a frequentar um curso "on line" sobre escrita para crianças, uma organização da empresa escrever escrever, quando tive a 29 passado, na véspera do último dia do curso, de ser operado a uma catarata (senil), um autêntico "pedregulho", segundo a oftalmologista que me operou. 

Durante 72 horas (que ainda decorrem) não posso expôr-me de todo a écrãs...  A ultima sessão do curso, de duas horas e meia (4 sessões, ao todo, semanais), foi sacrificada. Mas já tinha o TPC feito... Partilho, com a vossa paciência e tolerância, uma das historietas que escrevi... e que dedico à minha neta Clara Klut Graça, oui só Clarinha, de 4 anos e meio.  Amanhã retomo as atividades bloguísticas. 

É um microconto que é dedicado aos avós, e sobretudo aos nossos netos, com votos de que haja para eles (e para a abertarda) um melhor lugar do que aquele que nos coube, ao nascermos, no velhinho Portugal que continuamos, apesar de tudo,  a amar.

A abetarda que não é mais desastrada…

Por Luís Graça


Foi num passeio ao Baixo Alentejo que a Clarinha viu, pela primeira vez, as “abetardas”. Ao vivo e a cores.

O avô tinha-lhe mostrado um vídeo com o “abetardo” a querer namorar com a “abetarda”.

− Ó avô, não gosto do “abetardo”!

− Não gostas ?!... Mas é tão fofinho!... Com aquele casaco de penas…

E lá explicou o avô à neta que as “abetardas”, eles e elas, os machos e as fêmeas, são um bocado pesadões, e por isso difíceis de ver a voar, aos bandos… Além disso, fazem os ninhos no chão, nos campos de trigo (que agora já não há, substituídos por quilómnetros de vinhas e olivais). 

− E depois vêm as máquinas, e zás!, estragam os ninhos. E os filhotes, coitadinhos, fogem com dói-dóis, cheios de medo…

− Mas, ó avô, a tua história é da abetarda… ”desastrada”…

− Mas já não é mais “desastrada”, porque tu agora vais ajudá-la a salvar-se!

− Não tem cuidado, e atravessa a estrada com o sinal vermelho, é isso, avô?!

− Ora vês?!... E depois é atropelada!

E o avô, passando-lhe os binóculos, lá contou que ela não tem culpa, porque ela já lá estava, na sua casinha, com os seus filhotes, muito antes da estrada, e dos campos de trigo, dos vinhegso e dos olivais, e das máquinas pesadas que andam nos campos…

− Então, vamos ajudá-la… Eu só não gosto é do “abetardo”, que parece um pavão.

− Gosta de namorar, como tu!

− O meu namorado é o Peter Pan, não é o “abertado”… Vou casar com ele quando for grande… Já pedi liença ao meu pai...

E lá chegaram a uma ideia de salvar a “abetarda” e os filhotes, incluindo o pai, que era o “abetardo”…

Com outros meninos e meninas de Castro Verde, uma terra que fica no Baixo Alentejo e tem umas minas muito grandes de cobre e zinco, fizeram um "herdade" só para as “abertadas”… Lá não entram carros nem máquinas… E todas as “abertadas”, eles e elas, são felizes na sua nova casinha com jardim…

Cansada, mas também muito feliz pela sua boa ação, a Clarinha contou depois à Laura e às sus amigas da Escolinha (o Peter Pan agora está na Terra do Nunca), que a “abertada” já não é mais “desastrada”…

− Já não é atropelada na estrada… 

E lá combinaram, ela e as amigas, virem um dia, nas férias grandes do verão, brincar com as “abetardas” que agora já não são mais “desastradas”…
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Nota do editor

Último poste da série > 29 de fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25226: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (19): O Braço e a Perna...

2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não há lugar para a joaninha, para a rã, para o lince, para a abertarda, para o azevinho, para o sobreiro..
Não haverá lugar para nós e os trisnetos dos nossos trisnetos. O problema é que não lhes vemos o rosto nem sabemos os seus nomes. Só podemos amar o que conhecemos.

Eduardo Estrela disse...

Infelizmente Luís, qualquer dia não há lugar para coisa nenhuma.
As tuas melhoras rápidas
Abraço
Eduardo Estrela