terça-feira, 26 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26195: Manuscrito(s) (Luís Graça) (262): Porto Santo e a África aqui tão perto - Parte VI: Casa Colombo - Museu de Porto e dos Descobrimentos Portugueses



Região Autónoma da Madeira > Porto Santo > Vila Baleira > 4 de outubro de 2024 > Mural de Cristóvão Colombo, pintado a spray no edifício da Câmara Municipal do Porto Santo, da autoria de artista de arte urbana Mr. Dheo, natural do Porto e com obra espalhada por mais de dezena e meia de cidades de todo o mundo.



Região Autónoma da Madeira > Porto Santo > Vila Baleira > 4 de outubro de 2024 > Casa Colombo - Museu de Porto Santo e dos Descobrimentos Portugueses


Região Autónoma da Madeira > Porto Santo > Vila Baleira > 4 de outubro de 2024 > Casa Colombo - Museu de Porto Santo e dos Descobrimentos Portugueses






Madeira > Porto Santo > Vila Baleira > Casa Colombo - Museu da Madeira e dos Descobrimentos Portugueses > 4 de outubro de 2024 > A Odisseia dos Mares > Painel sobre o Tratado de Tordesilhas


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Casa Colombo - Museu de Porto Santo e dos Descobrimentos Portugueses


1. Pois é... já lá vai o tempo em que os dois então poderosos vizinhos ibéricos pegavam no globo terrestre e, qual  "melancia", cortavam-no ao meio.. E toma lá, dá cá... A gente sabe como é que acabou a história: sobrou para nós, "os últimos soldados do império"... 

Foi isso que eu pensei quando em 4 de outubro me pus a ler estes painéis sobre a "Odisseia dos Mares", no Museu de Porto Santo, na Vila Baleira... Aliás, Casa Colombo - Museu de Porto Santo e dos Descobrimentos Portugueses...

Pois é, o Fernando Medina, o anterior presidente da Câmara Municipal de Lisboa,  queria criar na cidade um Museu dos Descobrimentos. É preciso distrair os turistas quando nos vêm "visitar" e deixar cá uns euritos... Que a cidade, em boa verdade, em matéria  de museus e monumentos nacionais e outras "atrações turísticas", não pode competir, nem de longe nem de perto com as rivais (Londres, Paris, Madrid, Roma, Amesterdão, Berlim....). (A culpa, dizem, foi do terramoto de 1755 que tudo levou, mais a beatice e a incultura  da maior parte dos nossos reis e rainhas que nunca foram grandes nem exigentes colecionadores de arte, muito menos profana.)

Caiu-lhe o Carmo e a Trindade em cima, ao pobre do Medina: "seu saudosista, seu imperialista, seu esclavagista, seu negreiro, seu colonialista, seu racista, seu filho daquele e daquela"... Enfim, quem tem ideias que não sejam "politicamente corretas", como esta pouco ortodoxa do "Museu dos Descobrimentos", está sujeito a levar  no "toutiço" dos historiadores, dos curadores de museus, dos dirigentes de associações de afro-descendentes, dos jornalistas, e por aí fora, sem esquecer os novos censores das redes sociais...

Mas os madeirenses (incluindo os porto-santenses) não deixaram cair a ideia em saco roto...e logo em 2023 decidiram, sem complexos,  remodelar e ampliar o museu local de Porto Santo, inaugurada em 1989 e reestruturado em 2004, passando a Casa-Museu Cristóvão Colombo,  a chamar-se Casa Colombo - Museu de Porto Santo e dos Descobrimentos Portugueses.

Afinal, foi aqui (e em Ceuta) que tudo começou...Para o bem e para o mal, para a glória e para a perdição...(Em boa verdade, o que seríamos nós, Luís Vaz de Camões, enquanto povo, se toda a gente tivesse dado ouvidos ao teu  "homem do Restelo" ?!...)

Pensando bem, até  já havia um núcleo museológico, baseado na casa onde, segundo a tradição,  o  descobridor do "Novo Mundo" viveu e casou com uma das filhas do capitão donatário da ilha, o Bartolomeu Perestrelo, filho de mercadores italianos. (Eu sempre o tratei, ao Colombo,  por idiota por  ter chamados "índios" aos desgraçados que foram "descobertos" para começarem logo a ser "dizimados"; e idiota por se ter enganado na leitura das cartas  de navegação e pensado que tinha chegado às "Índias"; se, calhar, mais do que idiota, mas isso é outra história, outra conversa,...).

A Casa Colombo - Museu do Porto Santo e dos Descobrimentos Portugueses apresenta uma nova museografia (nunca conheci a anterior), tendo  sido enriquecida com novos conteúdos e recheios, estes fruto da  doação mecenática de obras de oficinas nacionais e europeias (Alemanha, Espanha, Flandres, França), africanas, asiáticas e sul-americanas.

Do interessante espólio entretanto adquirido destacam-se peças que vão desde o século IV até ao século XVIII (tais como pratos, taças, travessas, terrinas, vasos, garrafa, bilha, azulejos, elmo, imagens devocionais em escultura e pintura, mobiliário, gravuras, mapas e moedas),  enfim, obras executadas nos mais diversos materiais com o porcelanas, faianças, cobres, marfins, madeiras exóticas, tartaruga, madrepérola, ferro, etc.. 

Em suma, é um pequeno grande espaço de cultura, de memória e de aprendizagem, que vale uma visita,e que aconselho  a quem, dos nossos amigos e camaradas, for passar uns dias à "Ilha Dourada". Os antigos combatentes têm acesso gratuito à Casa Colombo... 


PS - Contrariamente ao que aprendemos, nos anos 50, na escolinha primária do livro único, a ilha de Porto Santo não foi "descoberta" em 1420 pelos portugueses João Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo, mas sim "reconhecida" por eles... Já vinha assinalada pela cartografia castelhana por volta de 1385. E em 1417 navegadores castelhanos tinham passado pela ilha (desabitada).... 

Vinte e seis anos depois, em 1446, os portugueses chegavam à Costa da Guiné... Podemos dizer, isso, sim, sem euforia (muito menos com arrogância) mas com orgulho, que foram os nossos antepassados quem abriu a grande autoestrada marítima que deu "novos mundos ao Mundo", unindo terras, ilhas,  mares, continentes, povos e civilizações... E tudo começou há mais de 600 anos... Porto Santo é, pois, uma referência emblemática, incontornável...

Como todas as odisseias humanas, reais ou míticas ou mitificadas (como a de Ulisses), a nossa "odisseia dos mares", os nossos "Descobrimentos", também tiveram efeitos perversos, é bom não esquecê-lo... Mas assumamos tudo isso, de maneira crítica, frontal  e...descomplexada!

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4 comentários:

Valdemar Silva disse...

O Tratado de Tordesilhas e a bula Papal Romanus pontifex do Mare Clausum de Portugal e Espanha, dava o direito de portugueses e espanhóis a serem "donos do oceano Atlântico".
O jurista holandês De Groot, na sua obra Mare Liberum e apoiando-se no direito natural à
liberdade nos mares, apresenta ao Papa, Deus criou os mares para todos, a alteração do Mare Clausum Ibérico.
E assim, no início do séc. XVII todas as nações podiam navegar pelos mares abertos e desenvolver o comércio, surgindo as Companhias das Índias Ocidentais e Orientais, de Holandeses e Britânicos.
(Holandeses por a Companhia ser de Amesterdão, na província da Holanda do Norte, das Províncias Unidas dos Países Baixos) .
Ao contrário da expansão/conquista dos portugueses e espanhóis serem fomentadas pelas respectivas Coroas nacionais, a expansão/comércio de holandeses e britânicos as Companhias eram sociedades comerciais particulares.
Este comentário é feito de memória, e faltará mais precisão dos acontecimentos.
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, "neerlandês", faz o favor de aprofundar e expor o que tu sabes sobre o assunto... E obrigado. Luis

Valdemar Silva disse...

República das Províncias Unidas dos Países Baixos (Republiek der Verenigde Nederlanden) de que faziam parte as províncias da Holanda do Norte e Holanda do Sul (Noord Holland e Zuid Holland), que por a Companhia das Índias Ocidentais estar sediada em Amesterdão, província da Holanda do Norte, eram chamados holandeses e por arrasto todos os habitantes das outras províncias. E os holandeses nunca se chatearam com isso, principalmente com os ingleses que lhes davam publicidade comercial
Mas vários países traduziram Nederlanden para Países Baixos que sempre assim foram
tratados.
Há uns anos outras províncias começaram a protestar, também por razões comerciais, que não eram "holandeses" e partir daí foi encetada uma grande campanha para acabar com Holanda como a denominação do País, surgindo Nederland = Países Baixos.
Quanto ao neerlandês é o habitante dos Países Baixos, assim como a sua língua e também de uma parte da Bélgica, do Suriname e Antilhas Neerlandesas.
Bem podia ser Neerlândia, que continuaria a ser os Países (cidades estado) lá de baixo, em relação às possessões cá de cima (Alemanha) do Império de Carlos V.
Agora o correcto é chamarmos neerlandeses aos habitantes dos Países Baixos, (Nederland em neerlandês).
( é quase parecido com a história do Vinho do Porto e o Porto não tem vinhedos)
Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

Faltou acrescentar, internamente o país sempre se chamou Nederland = País Baixo, e como foi constituído pelas Sete Províncias deu Países Baixos.
Valdemar Queiroz