terça-feira, 25 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6468: Em bom português nos entendemos (8): Francofonia 'versus' lusofonia ? Não, o problema é outro: Haja mais Estado, mais Governo! (Nelson Herbert)







Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Fotos da Seamana > Janícia Ampa Ungha Sambú, pequena aluna da 2ª classe da Escola de Verificação Ambiental (EVA) de Suzana, no norte da Guiné-Bissau, prepara-se com orgulho para mais um dia de aulas. Título da foto: Cadernos escolares para alunos das EVA; Data de Publicação: 17 de Janeiro de 2010; Data da foto: 9 de Janeiro de 2010; Palavras-chave: Ensino Ambiental.

Ela foi um dos 4.000 alunos beneficiados por cadernos escolares especialmente mandados fazer e doados pela Fundación Juan Perán-Pikolinos de Espanha, para as onze escolas EVA do norte do país.

Com uma capa muito bonita onde se lê “Juntos vamos proteger o tarrafe na Guiné-Bissau” e onde se vê uma fotografia deste tipo de vegetação e dos benefícios que traz para as populações locais (caranguejos, peixes, ostras, camarões, pau de pilão, lenha e madeira para cobrir as casas), estes cadernos incluem ainda o mapa da Guiné-Bissau e o período de degradação do lixo que se deita na natureza.







Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Fotos da Seamana > Título da foto:
Conferência ambiental da escola EVA de Cubampor; Data de Publicação > 21 de Março de 2010; Data da foto: 6 de Fevereiro de 2010; Palavras-chave: Ensino ambiental

Desde o início deste ano de 2010, a Rede das EVA (Escolas de Verificação Ambiental) da zona Norte, têm vindo a organizar conferências em cada uma das 11 escolas integradas nesta Rede, com o objectivo de fazerem uma reflexão e assumirem os seus compromissos ambientais a curto prazo.

Dos quatro temas em causa, Água, Terra, Energia e Ar, só os 3 primeiros foram considerados os mais importantes para a Guiné-Bissau e aqueles que estavam a ser mais ameaçados, pelo que eram prioritários para uma intervenção destas escolas.

Esta acção inscreve-se igualmente na contribuição do nosso país para a Conferência Internacional Infanto-Juvenil dos países de língua portuguesa, cujo lema é “Vamos cuidar do Planeta” e que se realizará de 5 a 10 de Junho deste ano, no Brasil.





Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Fotos da Seamana > da foto > O orgulho de saber escrever;: Data de Publicação > 7 de Fevereiro de 2010; Data da foto > 20 de Maio de 2008; Palavras-chave > Alfabetização.


É com muito orgulho que Bissam Galissa escreve o seu nome, materializando o sonho de toda a sua vida: ser alguém na sociedade, saber assinar e concitar o respeito de todos os membros da sua comunidade.
No passado ela era obrigada a colocar a sua impressão digital em documentos e cartas, o que lhe provocava um grande mal-estar social no relacionamento com as outras pessoas. Hoje, ela sabe que tem todo o respeito do marido e dos filhos porque, como eles sabe ler uma carta sem ajuda de outros, não precisando de partilhar assuntos pessoais com mais ninguém e fazendo as próprias contas da sua actividade económica, a horticultura.




Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Fotos da Seamana > Título da foto: Aprender a escrever para tomar conta do seu negócio; Data de Publicação > 14 de Março de 2010; Data da foto > 8 de Fevereiro de 2010; Palavras-chave: Alfabetização.

Hoje, Alima Fati, sob o olhar atendo e satisfeito das suas colegas vendedoras, Quinta Lima e Angélica Mango, regista directamente no seu bloco de notas, as receitas da venda dos seus produtos hortícolas no Mercado Comunitário de S.Domingos.

Hoje, depois de aprender a ler e a escrever num dos círculos de alfabetização promovidos pela AD em todo o sector geográfico, ela gere melhor o seu negócio, registando as despesas e receitas que vai fazendo, podendo assim melhor utilizar os lucros obtidos com a sua actividade de “bideira”.

Hoje, tal como ela, centenas de outras mulheres frequentam cursos de alfabetização em português apoiados pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional, com a supervisão de especialistas cubanos, que introduziram a metodologia de alfabetização via televisão, designada por AlfaTv.


Fotos (e legendas): ©  AD - Acção para o Desenvolvimento (2010). (Com a devida vénia...)



1. Sobre a questão levantada pelo Eduardo Campos, "francofonia 'versus' lusofonia" (*), eis o comentário do nosso amigo e membro da nossa Tabanca Grande, Nelson Herbert, jornalista guineense a trabalhar e a viver na América, e que merece o devido destaque como poste (**):


Caro Campos:

Relativamente ao fenómeno linguístico de que foi testemunha, ele existe, por razões óbvias,ligadas ao intenso fluxo populacional, de e para um e outro lado da fronteira... em todos os domínios, com destaque para o comércio, entre a Guiné e as suas duas "francófonas fronteiras". Um fenomeno regional e vivenciado em toda essa nossa Africa, com o francês ou o inglês a se imporem de forma alternada e regional,como uma espécie de língua franca...

Alarmismos a parte, idêntica experiência encontramos no Norte de Angola, na fronteira com a República Democrática do Congo,mas nem por isso a língua portuguesa esteve alguma vez em perigo !

A entrada do pais da "Zona do Franco CFA" e o estatuto de país-membro da CEDEAO, acredite,  em muito mais terão contribuido para essa experiência por si vivenciada, do que qualquer actuação da Françaa, digna desse feito !

Mas o problema da língua portuguesa, no caso concreto na nossa Guiné não se resume hoje a um caso de mais Françaa menos Portugal ou vice versa.

Encarar o debate desse prisma tem porventura os seus riscos: o seu cunho paternalista! Aliás, longe de se estar perante um naco de terra em disputa de carácter linguístico entre as duas outroras antigas potencias coloniais, a história comum, que nem "ferro em brasa" costuma por conseguinte deixar, indelével,  as suas marcas!

No caso da Guiné, por mais ténue que pareça à vista desarmada, a língua portuguesa faz parte da nossa genética cultural e linguística,isto apesar do bom senso nos impelir também a admitir que se hoje ela é pouco ou mal falada na Guiné, a realidade de per si resulta, em certa medida, de uma herança colonial...

E temos tido,  neste blogue,testemunhos de experiências de militares portugueses que,  de arma em tiracolo, às costas,  deram o seu contributo ao combate de um "analfabetismo" crónico, particularmente nas zonas rurais que,  como atesta a historia recente do país, acabaria por ser fatal aos ideais de construção de um Estado moderno... ou no mínimo tolerante !

Por conseguinte, o problema da língua portuguesa na Guiné, neste caso o do seu ensino , está de forma intrínsica ligado à ausência de políticas de educacão e porque não à decadência do próprio sistema educativo de um Estado de há muito em franca derrocada !

Haja mais Estado e mais Governo, resgate-se por iniciativa nossa com o imprescíndivel concurso dos parceiros internacionais, Portugal entre eles, a língua comum e sobretudo a dignidade dos guineenses!

Mantenhas

Nelson Herbert

USA

Segunda-feira, Maio 24, 2010 4:33:00 PM

PS - Fui docente, numa época em que todo o sistema educacional da Guiné era dominado por técnicos, pedagogos e especialistas cubanos, mas nem por isso a língua de Cervantes se impôs à nossa língua comum!

[Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
                                                                                        
________________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 24 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 – P6461: Histórias do Eduardo Campos (13): Língua Portuguesa na Guiné: Em Perigo?

(**) Último poste desta série > 18 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6015: Em bom português nos entendemos (7): O kapuxinho vermelho, contado aos nosso netos, de Lisboa a Dili, de Bissau a S. Paulo (Nelson Herbert / Luís Graça)

Guiné 63/74 – P6467: Estórias avulsas (37): A minha viagem à Guiné-Bissau 2 (José Casimiro Carvalho, Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAV 8350)

1. O nosso Camarada José Casimiro Carvalho (ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAV 8350 - 1972/74 -, e dos Lacraus de Paunca (CCAÇ 11) - Gadamael, Guileje, Nhacra, Paúnca, enviou-nos a seguinte mensagem:

A minha viagem à Guiné-Bissau 2

Camaradas,

Na minha viagem á Guiné não consegui ir a Paúnca (que pena), mas fui a Pirada. Lembram-se do 69 (não é esse, mentes poluídas), é o marco que dividia a Guiné com o Senegal!

Pois, na foto, eu estou literalmente com um pé em cada país e, que calor fazia nesse dia, só me apetecia uma daquelas bazucas que o Vasco tinha no seu café.
Claro que mesmo estando em Pirada me vieram imagens à cabeça, da “minha” Paúnca e do convívio com os guerrilheiros do PAIGC, que aí nos visitaram.
Que coisa… bem, é obvio que esta situação embora caricata para alguns, soube-me bem melhor que o verdadeiro inferno que eu vivi em Gadamael Porto, claro…
Agora vou passar a uma surpresa para os meus camaradas de Paúnca, é que eu, em Bissau, resolvi fazer uma demanda por conta própria e fui procurar o Fur Mil Reis Pires (Cabo-verdiano), que pertenceu à CCAÇ 11 “Lacraus”.
Assim, meti pés ao caminho, sozinho, e encontrei-o. Que felicidade (bipartida), o homem reconheceu-me, pois eu vivi com ele numa das tabancas.
Foi um disparar de memórias antigas… não esquecendo que ele foi fundador do P.R.S. e foi… Primeiro-Ministro, estando agora retirado da vida politica.
Também me vieram à memória as patuscadas no forno da padaria, onde os nossos “mestres cuca” preparavam os pombos de peito verde, que eu caçava de G-3, ou o macaquinho-cão que eu apanhei (G-3) e que eram a delícia da cambada.
O Falcão (Capitão Falcão "SUPERSTAR")... incluído, claro, que me preparou, e de que maneira para a famigerada coluna, que eu comandei (!?), para Bissau, passando por Fajonquito, Jumbembem e Nhacra… onde paramos para eu cumprimentar o meu cunhado (Eduardo Campos), da CCAÇ 4540, não antes de termos sido “parados” por guerrilheiros do PAIGC.
Mas, continuando a falar de Paúnca, não podia deixar de mostrar uma foto, que reuniu, 36 anos depois, dois bons amigos de então, pois privávamos em conversas, pela noite dentro, sobre uma variedade de temas, onde a Bíblia estava em primeiro lugar, pois o Reis Pires era um erudito que me encantava com as estórias de Jesus e da sua “caminhada” entre nós.

Estávamos junto à sua residência, que fez questão de me mostrar e de onde me foi difícil sair, mas…
Claro que não me podia esquecer de um dos meus companheiros do dia a dia, um sagui muito irrequieto, que me fazia esquecer as saudades da “Metrópole” e cobrava muito pouco.
É óbvio pois vivia connosco (eu e o Reis Pires nesta cabana) e uns rebuçados, mancarra e alguma fruta bastavam.
Enquanto o “puto” descansava eu tratava da minha higiene pessoal e pensava na “moca” fenomenal, que apanhei ao beber uma “Old Parr” no meio de uma estúpida aposta, que fiz depois duma jantarada bem regada e que só não acabou “mal” porque tínhamos um solicito furriel enfermeiro – o Meireles -, que me salvou a vida.
Não querendo ser lamechas seria injusto não falar da minha menina babuína, muito querida, que me fazia boa companhia na minha tabanca (e do Reis Pires), e que alguém motivado por algum ódio, ou algo inexplicável, acabou por envenená-la o que me provocou um choro tão sentido e intenso que vieram perguntar se tinha tido más noticias de casa.
Um abraço,
José Carvalho
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAV 8350 e CCAÇ 11 "Os Lacraus"
__________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

22 de Maio de 2010 >
Guiné 63/74 – P6454: Estórias avulsas (87): A sabedoria do “Homem Grande” (José Nunes, ex-1º Cabo do BENG 447)

Guiné 63/74 - P6466: A minha CCAÇ 12 (2): De Santa Margarida a Contuboel, 5 mil quilómetros mais a sul (Luís Graça)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Fevereiro de 1970 >  Região do Xime >   1º  Grupo de Combate, comandado pelo Alf Mil Inf Op Esp Moreira, no decurso da Op Boga Destemida, uma operação sangrenta...  Foi uma subunidade de intervenção, duramente usada e abusada pelo comando dos BCAÇ 2852 (1968/70) e BART 2917 (1970/72)  (*)


Foto: © Arlindo T. Roda. Direitos reservados


Niassa > Navio misto (carga e passageiros), de 1 hélice, construído em 1955, na Bélgica, registado no Porto de Lisboa, e abatido em 1979. Dados técnicos: comprimento: mais de 151 metros; arqueação bruta: c. 10.742 toneladas; potência: 6.800 cavalos ; velocidade normal: 16,2 nós; alojamentos para 22 em primeira classe, 300 em classe turistica, no total de 322 passageiros; nº de tripulantes: 132; armador; Companhia Nacional de Navegação - Lisboa. Fonte: Navios Mercantes Portugueses (2004)

Sobre o Transporte marítimo de tropas para o Ultramar, pode ler-se no  Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra:

 "Em finais dos anos 50, depois de investimentos públicos de grande envergadura, a marinha mercante portuguesa teve o seu desenvolvimento máximo. Contava, nomeadamente, com 22 paquetes, no total de 167 mil toneladas. Entre eles estavam os quatro gigantes: Santa Maria, Vera Cruz, Príncipe Perfeito e Infante D. Henrique, com cerca de 30 000 toneladas cada, capazes de transportar mias de 1000 passageiros ou mais de 2000 soldados.

 "Muitos destes paquetes foram requisitados em diversas ocasiões para transporte de tropas, muito especialmente na fase inicial da guerra, e as restantes unidades da marinha mercante seriam essenciais para manter o esforço em África. Os paquetes mais requisitados na ligação a África foram o Vera Cruz, o Niassa, o Lima, o Império e o Uíje.

"O Niassa foi o primeiro paquete afretado como transporte de tropas e de material de guerra, por portaria de 4 de Março de 1961, mas seria o Vera Cruz a fazer mais viagens, chegando a realizar 13 num ano. Em 1961, efectuaram-se 19 travessias por nove paquetes em missão militar e o ritmo aumentou à medida que a força expedicionária em África crescia: em 1963, tinham-se efectuado 27 viagens por oito paquetes e, em 1967, 33 por nove. Até 1974, o mar era a grande via de ligação ao império, tendo mais de 90 por cento da carga e de 80 por cento do pessoal metropolitano empenhado na guerra sido transportado em navios" (Fonte: Centro de Documentação 25 de Abril).




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector de Contuboel > Aquartelamento de Contuboel > Junho de 1969 > CCAÇ 2590/ CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71) > Os 1ºs Cabos Cripto Gabriel da Silva Gonçalves (à esquerda) e José António Damas Murta (à direita), junto ao abrigo de transmissões. Em Junho e Julho de 1969, foi administrada aos futuros soldados (guineenses) da CCAÇ 12 a instrução de especialidade bem como a IAO (LG).

Foto: © Gabriel Gonçalves (2008). Direitos reservados


1.  De Santa Margarida a Contuboel, 5 mil quilómetros mais a sul (**)...

Eis como era a máquina do Exército (burocrática e totalitária, como todas as máquinas dos Exércitos de todo o mundo) nos arrancou, meninos e moços, das nossas terras e nos levou para as bolanhas e matas da selvagem Guiné...

Muitos dos combatentes da "guerra do ultramar" passaram por este percurso, aqui descrito ou advinhado, e nomeadamente os que foram parar ao CTIG (Comando Territorial Independente da Guiné): Campo Militar de Santa Margarida, IAO, viagem nocturna, de comboio, pela linha da Beira Baixa até ao Cais da Rocha de Conde de Óbidos, embarque no Niassa, adeus pai, adeus mãe, adeus amigos e companheiros, adeus minha terra que vou para longe, Tejo meu, Madeira, mar encapelado dos Açores e das Canárias, vómitos e saudades, trópicos, África, Guiné, o insuportável mix calor e humidade de Bissau, a LDG Rio Geba acima, Xime, Bambadinca, Bafatá, Contuboel...

Vale a pena conservar alguns tiques da linguagem castrense da época... Algumas siglas já não as sei descodificar... Era ainda o país de Suas Excelências. E do respeitinho. Da lei e da ordem. O país do Deus, Pátria e Família. Das missas campais e das paradas militares. Do patriotismo (para mim, serôdio e decadente)...

Por muito estranho que pareça, era o nosso país, a nossa pátria, de há 40 anos... Em 3 de Agosto de 1968, Salazar  tinha caído da sua cadeira, depois de mandar o Spínola para a Guiné dois ou três meses antes. Em 27 de Setembro o seu antigo delfim, Marcelo Caetano,  vem substituí-lo na Presidência do Conselho de Ministros.

Em 1969 há ainda quem acredite, ao ler-se o Expresso, na "primavera marcelista"... Em Bambadinca, eu recebia o Comércio do Funchal... e creio que era o único da minha companhia, a par do capitão, que estava inscrito no recenseamento eleitoral, tendo votado nas fraudulentas eleições para a Assembleia Nacional em 26 de Outubro de 1969... Ou melhor: não sei se votei, se votei em branco ou se rasguei o boletim de voto... Creio que o candidato pelo círculo da Guiné era o Pinto Bull, acusado na época de ser um colaboraccionista... Morreu já em 2005, de certo modo injustiçado. Na época, acusei-o, apressadamente, de ser um Tchombé.


2. Mobilização para o CTI da Guiné (***)

Pela nota-circular nº 00864/PM-Pº 18/2590 da Secção de Administração e Mobilização de Pessoal da 1ª Repartição do Estado-Maior do Exército, de 14 de Fevereiro de 1969, era dada ordem para se proceder à mobilização da Companhia de Caçadores 2590, destinada a reforço do Comando Territorial Independente (CTI) da Guiné, e tendo como Unidade Mobilizadora o RI [Regimento de Infantaria] 15.

A mesma nota determinava que os quadros da CCAÇ 2590 seriam do origem metropolitana, sendo o restante pessoal fornecido pelo recrutamento da PU [Província Ultramarina](89 praças, das quais 11 cabos).

A apresentação do pessoal mobilizado pela Metrópole fez-se no Campo Militar de Santa Margarida, de 3 a 8 de Março de 1969. Tirada a Escola Preparatória de Quadros e a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional [IAO], os quadros da Companhia entravam de licença da NNAPU, de 31 de Março a 9 de Abril, ficando prontas para embarque a partir de 11.

A cerimónia de despedida realizou-se no átrio da Capela do CIM, com missa campal, bênção o e entrega dos guiões. O Comandante  [, Excelentíssimo, segundo a linguagem da época, ] do RI 15 proferiu a alocução de despedida às tropas expedicionárias. Imagino o que terá dito, mas já não tenho pachorra para reconstituir...

Tendo embarcado no Niassa a 24 de Maio, juntamente com outras Companhias independentes como a 2591 e 2592 [, futuras CCAÇ 13 e 14,], chegamos ao CTI da Guiné em 29, pelas 21 h, tendo desembarcado no dia seguinte de manhã.

A 31, no Depósito de Adidos, Sua Excia, o Comandante-Chefe das Forças Armadas, Brigadeiro António de Spínola, passa revista às tropas em parada e dirige-lhes palavras de boas-vindas.  Também já não me lembro do discurso, de circunstância, pronunciado naquela inconfundível voz de ventrícola do nosso Homem Grande (Reconhecê-la-ia até no inferno).

Colocados em Contuboel (Sector L2, Zona Leste, a norte de Bafatá, a meio caminho da fronteira norte),  a fim de darmos a segunda fase de instrução ao nosso pessoal africano, embarcamos em LDG [Lancha de Desembarque Grande] para o Xime, a 2 de Junho, tendo seguido depois em coluna auto até ao local destinado. Um dia de viagem, exaustivo, extenuante, com o primeiro grande banho de pó e de emoções: íamos descobrindo a Guiné profunda, da tensa viagem entre o Xime e Bambadinca, com a ponte do Rio Udunduma, recém-dinamitada e parcialmente destruída pela guerrilha, na mesma noite do ataque a Bambadinca (28 de Maio de 1969)...

Os quadros da CART 2479 [futura CART 11 e depois CCAÇ 11, a que pertenceu o meu amigo Renato Monteiro, o homem da piroga] já tinham dado, entretanto, a instrução básica àsas nossas praças africanas, de 12 de Março a 24 de Maio, em Contuboel.

A cerimónia do Juramento de Bandeira realizara-se em Bissau, a 26 de Abril, na presença do Comandante-Chefe (sempre Excelentíssimo). A instrução da especialidade teve início imediatamente a seguir à nossa chegada a Contuboel. Ao longo de um mês e meio, em plena época das chuvas, os nossos graduados aprenderam a conhecer os elementos dos seus futuros grupos de combate.

Integrada na "nova força africana", a futura CCAÇ 12 receberia a visita, durante a semana de tiro,  Brigadeiro António de Spínola que se inteirou pessoalmente do nível de instrução ministrada às nos­sas praças africanas.

Os exercícios finais da especialidade efectuaram-se de 6 a 12 de Julho, a 10 km ao norte de Contuboel. A 18 de Julho, finda a instrução, a CCAÇ 2590 [futura CCAÇ 12] é dada como operacional, sendo colocada em Bambadinca (Sector L1, Zona Leste).

3. A solicitude do Homem Grande

A presença de Spínola, brigadeiro, já com um ano de Guiné, na cerimónia de juramento da bandeira dos soldados da PU (província ultramarina) da Guiné não deixa de ser significativa do seu empenho pessoal no projecto de africanização ou, melhor, guineização da guerra. A futura CCAÇ 12 é uma das primeiras unidades da "nova força africana". Spínola visitar-nos-ia várias vezes, incluindo na nossa semana de campo, em Contuboel. Tal gesto tinha um especial significado para as nossas praças africanas e para alguns de nós, quadros metropolitanos.

Confesso que nunca simpatizei com a personagem. De resto, nunca o escondi. Digo-o, sem com isso querer escamotear ou ignorar o seu papel nas mudanças operadas em Portugal com o 25 de Abril de 1974, nem muito menos ofender os seus admiradores. Para todos os efeitos, é uma figura de referência nacional, e como tal a sua memória deve ser respeitada. Competirá aos historiadores definir o seu papel da nossa história.

Na época em que demos a instrução de especialidade às nossas tropas africanas (de Junho a meados de Julho de 1969), Contuboel era, ainda era, um oásis de paz. Lá ainda se podia brincar às guerras num raio de alguns quilómetros, no meio de uma vegetação luxuriante e de belíssimas tabancas mandingas.

Lembro-me de haver lá uma serração de um empresário português, o que indiciava abundância de madeiras exóticas. Ao longo dessas curtas e rápidas semanas aprendemos a conviver com os nossos soldados fulas (e alguns futa-fulas, dois mandingas e um mancanhe, num total de cerca de 100 homens). A maior parte não falava o português, o que dá uma ideia do grau ou do esforço penetração da nossa cultura, no leste da Guiné, depois de "cinco séculos de missão civilizadora"...).

4. Contuboel, far from the Vietnam

Nestas condições, a instrução de especialidade, como se deve imaginar, não foi nada famosa. Estávamos a milhares de quilómetros do nosso ponto de partida, o Campo Militar de Santa Margarida, onde, ainda me recordo, também brincámos às guerras, e fizemos os nosso roncos (no essencial, assalto aos acampamentos do IN a fingir, e pilhagem de tudo o que era bebível e comestível).

Em plena época das chuvas, ainda em fase de adaptação ao terrível clima da Guiné, hostil a qualquer tuga, em farda nº 3, espingarda automática G3 ao ombro e cartuchos de salva nos bolsos (à cautela, não fosse o diabo tecê-las, os graduados, metropolitanos, levavam alguns carregadores com bala real...)... Estão a imginar esta guerra-de-faz-se-conta ?

Era ainda a dolce vita da Guiné (como eu escreveria no meu diário), aqui e ali perturbada pelas histórias que a velhice nos contava, a nós periquitos, de Madina do Boé e de Guileje, "lá longe no sul" (sic)... A companhia de tugas aquartelada em Contuboel havia participado na dramática operação de retirada do campo fortificado de Madina do Boé, que custara a vida cerca de meia centena de militares portugueses, em finais de 1968; e também na grande Op Lança Afiada, que durante uma semana, em março de 1969, varrera todo o triângulo Bambadinca-Xime-Xitole até ao Rio Corubal (efectivos das NT: 1300 homens, cincoluindo carregadoers...).  Duas histórias já aqui contadas e recontadas...

A 18 de Julho de 1969 , a futura CCAÇ 12 (que, por enquanto, ainda era a CCAÇ 2590) é dada como operacional. Atendendo à origem étnico-geográfica das suas praças, por sugestão do Com-Chefe, ficamos radicados em chão fula, às ordens do Batalhão de Caçadores 2852 (1968/70), com sede em Bambadinca...

A 21 de Julho, menos de dois meses depois da nossa chegada à Guiné, quando ainda nem sequer tinham sido distribuídos os camuflados à nossa tropa africana, temos a nossa primeira "saída para o mato" (sic) , seguida do nosso "baptismo de fogo"...

De facto, em Madina Xaquili, temos o nosso primeiro ferido grave, evacuado para Bissau; e a 28, mais dois feridos graves, numa ataque nocturno àquela aldeia fula que será definitivamente abandonada pela sua população e, mais tarde (em Outubro), pelas NT.

Para três dos nossos soldados africanos, a guerra havia acabado, mal começara: ficarão definitivamente inoperacionais e/ou incapacitados, não sem que um deles tenha de passar, primeiro, por outro inferno, o do Hospital Militar da Estrela, em Lisboa...

Pergunto-me, com amargura, 40 anos depois: o que será feito de vocês, valentes soldados ? Tu, Sori Jau (3º Gr Combate, evacuado para o HM 241); tu, Braima Bá (inoperacional) e tu, Udi Baldé (evacuado para Lisboa e retornado a casa com 35% de incapacidade física), ambos do 2º Gr Comb ?

Madina Xaquili é uma história para contar noutro dia. Ficava perto de Dulombi, no sub-sector de Galomaro que, se não me engano, foi depois transformado em Sector L5 da Zona Leste. Contuboel fazia parte do sector L2.
_______________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 9 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXXVIII: Violenta emboscada em L (Op Boga Destemida, CCAÇ 12, CART 2520 e Pel Caç Nat 63, em Gundagué Beafada, Fevereiro de 1970) (Luís Graça)

 (**) Vd.. primeiro poste da série > 21 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6447: A minha CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969/Março de 1971) (1): Composição orgânica (Luís Graça)

(***) 23 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXIV: A nossa mobilização para o CTI da Guiné (CCAÇ 12) (Luís Graça)  

Guiné 63/74 - P6465: Tabanca Grande (222): Benvindo Gonçalves, ex-Fur Mil TRMS da CART 6250/72 (Mampatá, 1974)

1. Mensagem de Benvindo Gonçalves, ex-Fur Mil TRMS, CART 6250/72, Mampatá, 1974, com data de 23 de Maio de 2010:

Caros Camaradas!
Como ex-Furriel de Transmissões em rendição individual na Cart 6250, sita em Mampatá, envio alguns dados sobre a minha breve passagem por esta Companhia e por terras da Guiné.

Embarquei no dia 09 de Abril de 1974 na Rocha do Conde de Óbidos, no paquete NIASSA, um dos vários navios que existentes em Portugal e vocacionados à época para o transporte de militares e material de e para as várias colónias onde marcávamos presença.

O dia 9 de Abril de 1974 ficou profundamente marcado na memória de todos os militares que estavam no navio Niassa, na altura encostado no Cais de Alcântara e assim como em todas as pessoas que se encontravam na plataforma ou na varanda da Gare Marítima, a aguardar a partida dos familiares e ou amigos que estava marcada para as 18 horas.

Às 17 horas já o embarque tinha sido efectuado e militares dum lado, familiares e amigos do outro, trocavam gestos e sons muito característicos destas alturas.

Eram 17 horas e 15 minutos, faltando pouco mais de 45 minutos para a partida, e, já só se encontrava colocada uma escada de acesso ao navio, foi solicitada através dos altifalantes a presença de todos os Oficiais, no bar da 1.ª Classe, para a costumeira exaltação do amor à Pátria, desejos de boa missão e o do cumprimento do dever, desta vez a cargo de um Brigadeiro.

Foi uma despedida surreal, passados alguns momentos, ouviu-se um grande estrondo, acompanhado de um balançar do navio, seguido de incêndio a partir do próprio barco, num dos porões que serviam de abrigo e dormitório aos soldados.
Instantaneamente se instalou o pânico, correrias e gritos do interior e exterior, principalmente das inúmeras famílias que se estavam a despedir dos militares e também destes próprios, pois ninguém sabia do que se tratava, se haveria feridos, mortos, ou outros, o que felizmente não se veio a verificar.

Rapidamente saímos para o exterior e deparo com a maior gritaria e situações de pânico, que jamais tinha presenciado.

Tratou-se efectivamente de uma explosão muito violenta num dos porões, que provocou um rombo enorme na estrutura lateral do navio, que consumiu todos os haveres e pertences dos militares que aí haveriam de se acomodar para a viagem, obrigando-os a prosseguir a mesma só com o que tinham no corpo, desencadeando vários problemas dentro do navio durante todo o tempo até à chegada à Guiné.

Todo o navio foi evacuado e só na altura que todos os militares chegaram ao pé dos seus familiares e amigos, é que a situação ficou mais calma.

Para todos nós que íamos para um cenário de guerra, durante a nossa instrução já tínhamos assistido a rebentamentos de granadas, morteiros etc., mas sempre em situações controladas.

Este rebentamento para todos os presentes foi, surpresa seguida de um descontrole, mas para quem preparou a acção foi controlo completo.

O local onde foi colocado o engenho explosivo assim como a hora da sua detonação foi de tal forma feito a não permitir qualquer baixa, mas não evitou a perda praticamente total das bagagens dos companheiros que iam nesse porão.

A explosão verificou-se mesmo junto da linha de água, fez um rombo de cerca 80cm nas duas chapas de ferro.

Até à meia-noite tivemos de embarcar e daí saímos para reparação para meio do Tejo, debaixo da Ponte Salazar, hoje conhecida como Ponte 25 de Abril ou Ponte sobre o Tejo, onde após 2 (dois) dias ininterruptos de reparação a cargo de operários dos estaleiros navais da Lisnave.



Durante a viagem um pouco atribulada, não só por um dia e uma noite de mau tempo, como também por motivos do foro interno e disciplinar, passaram-se inúmeros episódios de revolta, não só protagonizados pelos soldados que deveriam ter viajado no porão que ardeu, como por alguns prisioneiros (por terem desertado, por motivos políticos ou outros) que iam como castigo também para prestar serviço na Guiné.

Na manhã do dia 11 de Abril quando acordámos já navegávamos em alto mar, não se dando pela saída da barra em Cascais.

Soubemos posteriormente que se tratou de um dos últimos actos de sabotagem dos grupos que se opunham à guerra colonial, e, que por todos os meios e com a preocupação de não fazerem vítimas, iam chamando a atenção ao Governo e a toda a imprensa mundial, da necessidade de se acabar com a guerra e se entrar na via da Paz e da descolonização.

A Ara vinculada ao PCP, iniciou as acções militares em Outubro de 1970, e, até Agosto de 1972, realizou cerca de doze acções de grande impacto.


2. Comentário de CV:

Caro Gonçalves, bem aparecido na nossa Tabanca onde encontrarás um lugar para te instalares. Poderás contribuir com as tuas histórias e fotografias, fazer comentários, etc. Há muita maneira de participar, assim tenhas disponibilidade.

Não começaste nada mal, com esta narrativa do atentado ao navio Niassa, acontecimento muito marcante na história da ditadura, numa altura em que os movimentos clandestinos contra a guerra colonial tentavam de toda a maneira desencentivar os militares a embarcarem com destino a África.
Contamos também contigo para nos contares as tuas impressões acerca do ambiente vivido no pós-independência da Guiné-Bisssau, particularmente que nos digas como viste as relações entre as NT e as Forças do PAIGC.

Temas não te faltarão para colaborares activamente.

Aqui fica um abraço de boas-vindas da tertúlia para ti que pela certa serás Benvindo (bem-vindo).

CV
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6278: O Nosso Livro de Visitas (86): Benvindo Gonçalves, ex-Fur Mil da CART 6250, Mampatá, 1974

Vd. último poste da série de 24 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6464: Tabanca Grande (221): Apresenta-se Carlos Guedes, Fur Mil Armas Pesadas / Minas e Armadilhas / COMANDOS, CCAÇ 726/Guileje/1964/66

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6464: Tabanca Grande (221): Carlos Guedes, Fur Mil Arm, Minas e Armadilhas, CCAÇ 726 e CCmds do CTIG (Guileje e Brá, 1964/66)


1. Mais um Camarada vem cerrar fileiras junto desta nossa Tabanca Grande, é o Carlos Guedes, ex-Fur Mil de 3 especialidades: Armas Pesadas, Minas e Armadilhas e COMANDOS, da CAÇ 726, Guileje, Mejo e Cachil - 1964/66.

Renviada pelo nosso Camarada Virgínio Briote, recebemos a seguinte mensagem, do Carlos:

Camaradas,

Chamo-me Carlos Guedes e fui Furriel Miliciano com 3 especialidades: Armas Pesadas, Minas e Armadilhas e 'Comandos'.

Estive na Guiné integrdao na CAÇ 726, que “asilou” em Guileje, Mejo e Cachil, nos anos de 1964/66.

Estamos quase a comemorar mais um aniversário da nossa Companhia, e gostaríamos de endereçar o convite que se segue a todos os ex-Combatentes da Guiné, seus familiares e amigos, para que se juntem a nós num dia de memórias, próximo dia 26 de Junho, na cidade da Régua.
20º Almoço/Convívio da CAÇ 726
Programa/Convite


Na frente o então Tenente Martins Cavaleiro, seguido pelo Porta-Bandeira (1º Sargento Balsinhas) e logo atrás os Alferes Barbosa e Vilaça, seguidos pelo furriéis
que compunham a CCAÇ 726


2. Aproveito a oportunidade para enviar as duas fotos da ordem e solicitar um lugar na formatura, ao vosso lado, nesta tertúlia bloguista.



A foto foi tirada em Guileje, à porta da nossa "Suite", onde dormiam os 4 furrieis, com as camas dispostas em círculo e de onde fomos "despejados", um dia, devido a um incêndio provocado por uma morteirada, durante o 1º ataque ao aquartelamento.

Um abraço Amigo,
Carlos Guedes
Fur Mil de Armas Pesadas/Minas e Armadilhas da CCAÇ 726

3. O nosso Camarada Virgínio Briote, transcreveu-nos um resumo da História da CCAÇ 726:

CCAÇ 726 (breve resenha)

Mobilizada através do RI 16 a C.Caç.726 embarcou para a Guiné em 6 de Outubro de 1964, tendo por Comandante o Tenente de Infantaria, Joaquim Manuel Martins Cavaleiro, até 27 de Janeiro de 1966; altura em que deixou o comando.

O desembarque em Bissau, foi a 14 do mesmo mês. O 1º grupo de combate a ser destacado para Guilége, marchou a 28 de Outubro, o 2º a 17 de Novembro, a Formação a 30 de Novembro, e finalmente o 3º grupo de combate, vindo de Cacine, a 15 de Janeiro de 1965.

Em 30 de Março de 1965, após a Operação "Arpão", ocupou a povoação de Mejo, onde foram colocados dois Pelotões.

Em 27 de Janeiro de 1966, para reforçar a C.Caç. 1424, destacou dois Pelotões para o Cachil ( Ilha do Como ).

A partir de 1 de Fevereiro de 1966, a actividade operacional da CCaç. 726 era alargado a 4 frentes de combate: Guilége, Mejo, Cachil e em grupos de "COMANDOS" onde prestam serviço: 1 Oficial, 4 Furrieis e 4 Praças.

Em 6 de Agosto de 1966, seguiu para Bissau, a fim de embarcar de regresso a Lisboa.

Baixas em combate de Novembro de 1964 a Junho de 1966.
Mortos: 9
Feridos: 80

Um abraço,
Virgínio Briote

Fotos: © Carlos Guedes (2010). Direitos reservados.
Guião de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:

Guiné 63/74 - P6463: Agenda cultural (78): Conferência "A Guerra Colonial e as suas repercussões na Sociedade Portuguesa: Um enfoque sócio-antropológico", dia 28 de Maio de 2010, às 18h, no Auditório Victor de Sá, Instituto de Criminologia, Universidade Lusófona

1. Conferência "A Guerra Colonial e as suas repercussões na Sociedade Portuguesa: Um enfoque socio-antropológico", a ter lugar no Instituto de Criminologia,  Auditório Victor de Sá, dia 28 de Maio de 2010, às 18,30 horas.

Conferencista - Prof Dr Luís Graça, Sociólogo, Doutorado em Saúde Pública (Escola Nacional de Saúde Pública / Universidade Nova de Lisboa, ENSP/UNL), Criador e Editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

Apresentação e Comentários -  Dr. Jorge Cabral,  Advogado, Director do Instituto de Criminologia - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia (ULHT)




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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6435: Agenda cultural (77): Lançamento do livro Nha Carlota, de António Estácio, dia 21 de Maio de 2010 em Lisboa

Guiné 63/74 - P6462: Humor de caserna (19): Nha Carlota, uma mulher de armas (António J. Pereira da Costa)


Guiné > Nhacra > Carlota Lima Leite Pires, Nha Carlota (1889-1970): uma figura lendária que atrevessou mais de seis décadas da história da Guiné-Bissau do Século XX... A sua biografia está agora disponível em livro, da autoria de um português, nascido no "tchom de papel", em Bissau, membro da nossa Tabanca Grande, António Estácio.

1. Mensagem do nosso camarada António José Pereira da Costa , que é um verdadeiro oficial e cavalheiro (mesmo não sendo da arma de cavalaria...).

Data: 21 de Maio de 2010 23:26
Assunto: Nha Carlota

Caro Camarada

Não conheci Nha Carlota.

Em 1968 contava-se que tinha sido amante de Teixeira Pinto, o que poderá ser verdade.

Atendendo ao seu passado, gozava de um certo prestígio e frequentava mesmo o Palácio [do Governador].

Um dia, ia num carro com a esposa do Gen Schultz e outras senhoras. Conversavam sobre o género "feminino". De repente Nha Carlota terá exclamado:

- Ah, isso de mulheres fala-se muito, mas para f... não há como a portuguesa e, da portuguesa, a caboverdeana.

Silêncio no interior da viatura...

Compreende-se. Estava a defender os dotes das portuguesas, em geral, e das da sua região, em particular. Regionalismos...

Aqui fica uma "estória" que, aposto, foi verdadeira, pois ninguém a iria inventar, e que corria naqueles tempos pelos mentideros, Bentos, 5.ª Rep, Biafra e outros locais (mal)afamados.

Um Ab.

António Costa

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.] (*)

2. Comentário de L.G.:

Meu caro António: tudo se terá passado no "gineceu" em auto-rodas (isto é, a conversa entre as damas, a ocorrer... foi a "correr" , em carro de Estado...). A haver quebra de confidencialidade (e, portanto, falta de profissionalismo, senão de ética e de disciplina), o suspeito em princípio é o pobre do motorista (que devia ser militar, e que portanto não podia "cego, surdo e mudo", embora os houvesse, e não poucos, no TO da Guiné)...

Mas também, e por que não, entre outros suspeitos estarão a própria protagonista da história (que poderia muito bem contá-la aos amigos em Nhacra, de regresso a casa) ou até mesmo a(s) companhia(s) de ocasião que não sabemos quem seriam para além da Senhora Schultz... Alguma das senhoras, no recato da alcova, poderá ter contado a cena, com o seu quê de picante para a época, ao seu digníssimo esposo...

Uma história pícara como esta tinha todos os condimentos e condições para chegar num ápice à 5ª Rep: era como capim incendiado na época seca... E depois, como é sabido, o ambiente (militar) em Bissau devia ser, na época, bacoco, provinciano, machista, sexista, misógino e não devia estar isento de laivos de racismo... Devia fazer confusão a muita gente, ver uma mulher de armas, caboverdiana, como Nha Carlota, já com os seus setenta e muitos (ela viria a morrer em 1970, com 81 anos), frequentar o Palácio do Schultz...

Vamos imaginar que alguém pôs na sua boca palavras que ela nunca terá dito, até por decoro e pudor (que não são apanágio exclusivo das nossas santas mães)... Mas vamos inclinar-nos para a hipótese mais provável dessa Mulher Grande (e mulher de armas) falar mesmo português legítimo, vicentino, popular...

Será que o Estácio, nas suas pesquisas, também recolheu esta história ? Não sei, ainda não li o livro, mas amanhã vou encontrar-me com ele (ou ele comigo)...Para já, sirva-se a história como "humor de caserna" num blogue onde também se cultiva o sentido de humor...

António: Por defeito, publiquei a tua pequena história... Presumo que era para (com)partilhar... Fico, entretanto, à espera do próximo texto para a tua série A Minha Guerra a Petróleo.

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Nota de L.G.:

(*) Último poste da série > 18 de Março de 2010 > Guiné 63/74 – P6012: Humor de caserna (18): A nossa língua é muito traiçoeira (Armandino Alves, 1º Cabo Auxiliar de Enfermagem da CCAÇ 1589 - Beli, Fá

Guiné 63/74 – P6461: Histórias do Eduardo Campos (13): Língua Portuguesa na Guiné: Em Perigo?

1. O nosso camarada Eduardo Ferreira Campos, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, enviou-nos a 2ª estória da sua ainda fresquinha viagem à Guiné:

CAÇ 4540 – 72/74 – SOMOS UM CASO SÉRIO
LÍNGUA PORTUGUESA NA GUINÉ: EM PERIGO?


Existe entre nós uma preocupação em ajudar os povos da Guiné e, felizmente, temos muita gente trabalhando intensamente nessa causa, na tentativa de atenuar a miséria que lastra naquele país.
Na minha recente curta estadia na Guiné, fiquei a ter uma nova preocupação (a ser verdade) e esta, para mim, é muito preocupante, já que mais uma vez vem demonstrar que os políticos deste País, ou andam a dormir, ou simplesmente não se interessam em inverter aquilo, que me parece, que com o decorrer do tempo estará irremediavelmente perdido.
Estou a falar da língua Portuguesa, ainda usada pela população, principalmente em Bissau onde, num determinado local, fiquei com a sensação que estava numa rua de uma qualquer cidade de França, já que só ouvi falar a língua daquele país.
Abordei então um grupo de cinco jovens, que me disseram, que dois deles eram da Guiné Conacri e os restantes da Guiné-Bissau.
Com o desenrolar da conversa, lá me foram dizendo que a presença da França, especialmente em Bissau, é muito forte em várias áreas, sobressaindo a cultural.
Ora com o Senegal acima e a Guiné Conacri abaixo, é natural que a língua Francesa se comece a impor à portuguesa.
Talvez com a minha expressão de surpreendido, aproveitaram para me dizerem: “O que é que queres, na área da cultura até parece que a França é que foi a potência colonizadora, já que investem muito mais nessa área do que Portugal.”
Fiquei perplexo, até admitia que na área dos investimentos financeiros a França possa ser mais forte do que a do nosso país, agora na cultura, não posso, nem quero acreditar.
Sinceramente, espero que me digam que estou enganado, que foi apenas “um incidente linguístico” e que um grupo de jovens quiseram brincar com um Tuga.
Seguem-se algumas fotos da minha visita à cidade de Bissau:
Um abraço Amigo,
Eduardo Campos
1º Cabo Telegrafista da CCAÇ 4540

Fotos: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

3 de Maio de 2010 >
Guiné 63/74 – P6308: Histórias do Eduardo Campos (12): CCAÇ 4540, 1972/74 - Sadjo Seidi – O homem do Jerrican

domingo, 23 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6460: Convívios (159): Grande ronco, Óbidos 2010 / Bambadinca 1968/71: CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 12, Pel Rec Daimler 2206, CCS/ BART 2917... (Parte I) (Luís Graça)


Óbidos > Restaurante A Lareira > 22/5/2010 > 16º Convívio do Pessoal de Bambadinca 1968/71 >  O felicissímo organizador do 16º Convívio, Fernando Almeida (ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 12, 1969/71), posando para o nosso blogue com o António Murta (1º Cabo Cripto, CCAÇ 12),  o futuro organizador do próximo Convívio,  em 2011, a 17ª edição, que vai ser em Coimbra. Dois reformados, um da RDP (o Almeida), outro da CGD (o Murta)




Óbidos > Restaurante A Lareira > 22/5/2010 > 16º Convívio do Pessoal de Bambadinca 1968/71 >  o Arménio Fonseca, o Humberto Reis e o João Rito Marques (o nosso Cabo Quarteleiro), todos da CCAÇ 12 (1969/71)... O Arménio e o João, não os via há 40 anos! Fiquei feliz por os rever. E aproveito para revelar um segredo: foi o Arménio que, em grande parte,  me inspirou a figura do Campanhã  (vd. poste de 13 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXXVIII: A galeria dos meus heróis (1): o Campanhã (Luís Graça), que prometo reeditar, e que ele seguramente nunca terá lido)...




Óbidos > Restaurante A Lareira > 22/5/2010 > 16º Convívio do Pessoal de Bambadinca 1968/71 > Luís Graça (ex-FurMil, CCAÇ 12, 1969/71), Victor Alves (ex-Fur Mil SAM, CCAÇ 12, 1971/73), Celestino Ferreira da Costa (Major Inf Ref,  o 2º Capitão da CCAÇ 12, 1971/72, residente na Trofa, trazido pela mão do Fernando Sousa), Jorge Cabral (Pel Caç Nat 63, 1969/71).  Tive, com o Major Costa, uma conversa, algo surreal, sobre a "revolta dos Baldés", uma insubordinação das praças africanas da CCAÇ, na picada Xime-Ponta do Inglês, em 1/2 de Junho de 1971, reprimida com mão de ferro pelo Ten Cor  Polidoro Monteiro, comandante do BART 2917... O então Cap Inf Costa estava, para sorte dele, de férias, na metrópole,  pelo que a bronca sobrou para os Alf Costa e Jaime Pereira e demais quadros da CCAÇ 12, metropolitanos... Uma história que ainda está mal contada, e a que eu prometo voltar um dia destes...




Óbidos > Restaurante A Lareira > 22/5/2010 > 16º Convívio do Pessoal de Bambadinca 1968/71 > Visionando as fotos do Arlindo T. Roda (que me chegaram  finalmente, por mão do Benjamim Durães,  ex-Fur Mil, Pel Rec Info, CCS / BART 2917, 1970/72 > Da esquerda para a direita: a Gina (mulher do Marques), o Marques, o Fernando Sousa, o Joaquim Fernandes e a companheira deste (que conheci o ano passado, em Castro Daire). 



Óbidos > Restaurante A Lareira > 22/5/2010 > 16º Convívio do Pessoal de Bambadinca 1968/71 >  O António Marques e o Gabriel Conçalves (ex-1º Cabo Cripto, CCAÇ 12, 1969/71).




Óbidos > Restaurante A Lareira > 22/5/2010 > 16º Convívio do Pessoal de Bambadinca 1968/71 > Quatro camaradas da CCAÇ 12 > Da esquerda para a direita: João Gonçalves Ramos (ex-Sold Radiotelegrafista), o António Quadrado (ex-1º Cabo Ap Armas Pesadas Inf), o Fernando Sousa (ex-1º Cabo Enf) e o Adélio Monteiro (organizador do enconcontro do ano passado, o 15º, em Castro Daire, e que era Sold Condutor Auto).


Óbidos > Restaurante  A Lareira > 22/5/2010 > 16º Convívio do Pessoal  de Bambadinca 1968/71 > Os organizadores de dois convívios anteriores, o Fernando Sousa (CCAÇ 12), que é da Trofa, e o José Augusto Mendes Mourão (CCS / BCAÇ 2852), que é de Torres Novas.



Óbidos > Restaurante  A Lareira > 22/5/2010 > 16º Convívio do Pessoal  de Bambadinca 1968/71 >  Três dignos representantes do Pel Rec Daimler 2206 (1970/72) > Ao centro o comandante, o ex-Alf Mil Cav José Luís Vacas de Carvalho, membro sénior da nossa Tabanca Grande; à sua direita, um camarada cujo nome não retive, natural de Sines; à sua direita, o António Pinto, de Lisboa.


Fotos: ©  Luís Graça (2010). Direitos reservados

Guiné 63/74 - P6459: Ser solidário (72): Viajar (e sentir) pela Guiné (José Eduardo Alves, ex-Condutor da CART 6250/72)

1. O nosso Camarada José Eduardo Alves(*), ex-Condutor da CART 6250/72, Mampatá, 1972/74, enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 21 de Maio de 2010:

Viajar (e sentir) pela Guiné

Camaradas,

Depois de me ter remetido ao silêncio, mas sempre activo nas leituras do blogue, hoje acho que está na hora de escrever sobre a viagem que fiz à Guiné este ano, e vou fazê-lo porque há sempre alguém que gosta que se fale destas aventuras.

O ano passado também tinha ido à Guiné, mas apanhei a “caravana” nos últimos dias da sua preparação e, pelo caminho, em conversa com alguns dos Camaradas que já lá tinham ido mais vezes, ouvi dizer: “Vais ter uma desilusão pois quem lá conhecias já morreu tudo!”

Mas, felizmente, não foi assim e ainda encontrei bem viva muita gente do meu tempo.

Fiquei então com vontade de lá voltar e voltei este ano, mais bem preparado e com mais coisas para dar aquelas crianças, que necessitam de tudo (muito do que nós esbanjamos).

No ano passado tínhamos ido até Mampatá quatro homens da minha Companhia - a CART 6250: o Carvalho, o Zé Manuel, o Francisco Pereira Nina e Eu. Todo ficamos surpreendidos pelo grau de abandono do nosso antigo quartel

Este ano só fui eu.

Como não podia deixar de ser voltei ao velho quartel de Mampatá, e encontrei em curso obras de recuperação, vendo-se já diferente e renovada a sala do soldado (de pedra e cal), o paiol (que o ano passado nem se via) estava limpinho, a antiga enfermaria (que já não tinha telhado) está a ser recuperada para enfermaria local, os balneários dos soldados estão transformados numa escola, que eu apoiei no que pude e vou continuar a ajudar.

Mas não parei aí e como levava uma encomenda, e um pedido do nosso Camarada e Amigo Vasco da Gama para Cumbijã, segui viagem e visitei a Fonte de Iroel (que data de 1946), Colibuia e Cumbijã.

Cumbijã, onde um dia encontramos a CCAÇ 18 e outras NT que lá estavam encurraladas.

Quem conhece a zona entende o porquê deles estarem encurralados, é que a estrada Mampatá - Hinhacovâ não tem saída para lado nenhum.

Depois visitei Guileje, Gadamael e Cacine, regressando a casa por Mampatá, Hinhala, Buba, seguindo pelo Quebo, Bissau, S. Domingos, Casamança, Gâmbia, Senegal, Mauritânia, Marrocos, Espanha e, finalmente, Leça da Palmeira (minha terra natal e onde vivo).

Vou continuar a trabalhar para levar mais alguma coisa àquelas crianças.

Vou lá quando puder e penso que não é uma forma de neocolonialismo.

Vou dizer algumas palavras que ouvi a uma Guineense: “Ó Leça só vieste agora, foste embora zangado e vieram estes (…), para o vosso lugar. Vocês entregaram isto a um (…) armado, que era uma minoria e cujos cabecilhas nem eram Guineenses, eram de outro país.”

Penso eu que se calhar o governo Português ainda um dia há-de pedir desculpas à parte daquele povo, que ensinou a pegar e usar uma arma, depois tirou-lha e abandonou-a à mercê de uma sorte cobarde, traiçoeira e macabra.

Agora, quero levar luz eléctrica a Mampatá, especialmente para a dita enfermaria e posto de rádio, que foram inauguradas pelo Sr. Pepito, no dia que nós lá estivemos (tenho que lhe pedir autorização para publicar as fotografias).

Se alguém quiser contribuir com objectos, equipamentos e medicamentos, tudo o que nos entregarem será bem aceite. Lembrem-se que muita coisa que para nós já não tem valor, nem aplicação faz falta àquele bom povo da Guiné.

Nós, eu e a minha esposa, pedimos mais precisamente roupas de criança e material escolar, assim como medicamentos (dentro do prazo de validade como é evidente).

É a minha esposa que se ocupa na recolha, selecção e embalagem destas coisas, foi uma vez á Guiné e quer lá voltar.

Até Monte Real onde falaremos melhor, se houverem condições eu faço uma pequena exposição das inúmeras fotos das minhas viagens.

Na presente mensagem não vou anexar muitas fotos, apenas as de Guileje.

Um abraço,
José Eduardo Alves
Condutor da CART 6250
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Notas de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

22 de Maio de 2010 >
Guiné 63/74 - P6450: Ser solidário (71): Visita de Guineenses a Portugal (Agostinho Gaspar)

Guiné 63/74 - P6458: Meu pai, meu velho. meu camarada (21): Expedicionário no Mindelo, S. Vicente, 1941/43, 1º Cabo Inf Luís Henriques (4): O Hino do 5º de Infantaria (Luís Graça)



Luís Henriques (nascido a 19 de Agosto de 1920, na Lourinhã) é mobilizado para Cabo Verde durante a II Guerra Mundial (*). 1º Cabo Inf, nº 188/41, 1º Pelotão, 3ª Companhia, 1º Batalhão, Regimento de Infantaria nº 5 (Caldas da Rainha). À partida para Cabo Verde, no Mouzinho ou no Serpa Pinto (ele já não se lembra bem), no Cais da Rocha Conde de Óbidos, os expedicionários do RI 5 desfilaram perante Salazar e o Ministro das Colónias, Francisco Machado  (Francisco José Vieira Machado, 1898-1972,  que, por sinal, era natural da Lourinhã, ou, pelo menos, era um grande proprietário agrícola no concellho, em Ribeira dos Palheiros, foi Ministro das Colónias, entre 1936 e 19)... E a marchar, perante a tribuna de honra,  perdeu o salto de uma das botas, preso na calha do caminho de ferro ou do elétrico...


Sobre o Historial do RI 5, vd sítio da Escola de Sargentos do Exército (por também passei eue e muitos outros camaradas deste blogue).


O meu pai esteve no Mindelo, S. Vicente, entre Julho de 1941 e Setembro de 1943 (**). Neste episódio, canta o "Hino do 5º de Infantaria"... Cerca de 5 mil estiveram em S. Vicente e em Santiago, na iminência de um ataque às Ilhas de Cabo Verde, por parte quer dos Aliados quer Alemães ou dos Italianos... Seis vezes mais estiverama estaccionados nos Açores, nesta época.  Ainda há dias encontrei um amiga dos meus filhos, cujo avô, Mário Arsénio Nunes (também tio do meu professor de História do Movimento Operário e do Sindicalismo, João Arsénio Nunes, no Curso de Sociologia do ISCTE, que terminei no ano lectivo de 1979/80), foi Alferes Médico em S. Vicente, na mesma altura em que lá esteve o meu pai (e, curiosamente, o Amílcar Cabral, enquanto estudante do Liceu do Mindelo). Mario Moura Bras Arsénio Nunes (1919-1977) foi um notável especialista de medicina legal e professor da FM/UL.


O meu pai  fala de um médico, anti-salazarista, que lhe deu alta, ao fim de quatro  meses de internamento (por problemas pulmonares),  no hospital militar local, já no final da comissão, com o seguinte argumento: "Com 26 meses de Cabo Verde, já estás farto de engolir pó!"... Fala-me também, com emoção, dos camaradas que lá morreram, por doença. Bem como das vítimas da fome de 1942, que se fez sentir em todo o arquipélago...  O Dr. Mário Arsénio Nunes foi logo mobilizado, mal acabou o curso de medicina...


Vídeo: 4' 47'' © Luís Graça (2010). Alojado em You Tube > Nhabijoes






Caldas da Rainha > "15/7/41. A despedida das tropas expedicionárias de Cabo Verde. R.I. 5, Caldas da Rainha. Luís Henriques"


Foto: © Luís Graça (2010). Direitos reservados




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Notas de L.G.:


(*) Vd.poste de 29 de Setembro de 2009 >  Guiné 63/74 - P5029: Meu pai, meu velho, meu camarada (16): Expedicionário no Mindelo, S. Vicente,1941/43,1º Cabo Inf Luís Henriques (3) (Luís Graça)