sábado, 5 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7725: Agenda cultural (106): Programa e Convite do 50.º Aniversário da Guerra do Ultramar (Liga dos Combatentes)


Programa e Convite do 50.º Aniversário da Guerra do Ultramar, no Museu do Combatente no Forte do Bom Sucesso (Belém)



Documento divulgado pelos serviços de marketing da Liga dos Combatentes (excertos:


Exmo/a Senhor/a
Apresentamos o programa da Liga dos Combatentes para a semana evocativa do 50.º Aniversário da Guerra do Ultramar e convidamos desde já a estar presente.


EVOCAÇÃO DO ESFORÇO DA NAÇÃO PORTUGUESA E DAS SUAS FORÇAS ARMADAS, NA GUERRA DO ULTRAMAR


50.º ANIVERSÁRIO DO INÍCIO DOS ACONTECIMENTOSPARTILHA DE MEMÓRIAS E HOMENAGEM A TODOS OS VIVOS, MORTOS E VÍTIMAS ENVOLVIDOS NA GUERRA


No âmbito das comemorações do Cinquentenário da Guerra do Ultramar, a Liga dos Combatentes juntamente com alguns parceiros, nomeadamente o Programa D. Afonso Henriques (ateliê de pintura do exército) e o Centro de Audiovisuais, inauguram a 11 de Fevereiro de 2011 três exposições subordinadas ao mesmo tema. No entanto, o 50.º Aniversário do Início da Guerra do Ultramar é também assinalado por um Ciclo de Conferências e o lançamento de um livro.

Durante a semana de 11 a 18 de Fevereiro de 2011, o Museu do Combatente no Forte do Bom Sucesso (junto à Torre de Belém) e a Liga dos Combatentes apresenta o seguinte Programa:



A semana evocativa do Esforço da Nação Portuguesa e das suas Forças Armadas na Guerra do Ultramar por parte da Liga dos Combatentes tem como principal intuito a aproximação dos Portugueses à sua História recente, através de uma dinâmica expositiva divulgadora do esforço e sacrifício dos milhares de militares portugueses que serviram durante o Conflito Ultramarino. (...).

Preço – a favor do programa “Liga Solidária” (o qual tem como objectivo a criação de Residências Assistidas para apoio aos Combatentes):
3€ (adultos)
2€ (crianças a partir dos 7 anos, reformados e grupos)
grátis (para sócios da Liga dos Combatentes e responsáveis de grupos em visitas guiadas)


Informações adicionais:


Exposição permanente com visitas diárias (aberto todos os dias, incluindo fins-de-semana e feriados).
Das 10:00 às 17:00


Local da exposição:


Museu do Combatente no Forte do Bom Sucesso (junto à Torre de Belém),
1400-038 Lisboa



Tel. 92 738 31 39


Visitar site: http://www.ligacombatentes.org.p/t


Nota de M.R.:

Guiné 63/74 - P7724: Notas de leitura (199): Nó Cego, de Carlos Vale Ferraz (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Fevereiro de 2011:

Queridos amigos,
São poucos os livros que se podem gabar de ter uma capa tão expressiva como esta que o Rogério Petinga concebeu para as primeiras edições de “Nó Cego”.
Não conheço outro livro com esta dimensão, tão poderosa galeria de retratos, com tantos diálogos tão afins à nossa experiência de combatentes.
É o mais universal de todos os horrores de uma guerra, em Nó Cego sente-se que o cansaço daquele capitão iria desaguar no 25 de Abril.

Um abraço do
Mário


“Nó Cego”, a obra-prima absoluta da nossa literatura de guerra

Beja Santos

A acção passa-se em Moçambique mas, com ligeiras adaptações, podia ser transferida para qualquer teatro de operações em África, tal o classicismo com que a prosa se impôs. Publicado em 1983, “Nó Cego”, de Carlos Vale Ferraz, é muito mais do que um livro irrepetível, continuamos a lê-lo em transe hipnótico, a soletrar a crueza dos diálogos que ouvimos décadas atrás, o que ali se escreve, o peso dos silêncios, foi vivido por qualquer um de nós, no emaranhado das matas, no ambiente dos aquartelamentos, nos suspiros dados a olhar, impotentes, o travejamento dos nossos abrigos, nesses lugares ermos por onde pernoitamos.

Foi uma obra de estreia de um oficial do quadro permanente que combateu nas três frentes da guerra. Não importa o que de autobiográfico o livro contém, é pouco crível que tudo quanto aqui se escreve seja fruto da imaginação ou contado por outro. O que importa é que este romance continua a ser o número um, detém a supremacia absoluta de todas as obras de grande qualidade. Nenhum outro livro foi mais ao fundo da raiva e do medo, contornando sempre com pudor a linha do intimismo mesmo no trânsito abundante dos termos chocantes, da exibição das misérias, daquele cansaço sem fim que se vai apoderando do narrador e que é transmitido como um vírus ao leitor. O classicismo de “Nó Cego” assenta porventura na magia da comunicação: é tudo limpo, sóbrio, brusco, eficiente, apologético (toda a arquitectura impele-nos para o horror da guerra e, sobretudo, para a perda de sentido daquela guerra em particular). Vale Ferraz não se subtrai aos desastres da guerra, graças ao esquematismo, à ausência de lágrimas, ele abre-nos sem disfarce o caminho para se compreender estas máquinas de justiceiros do mato, é uma companhia de Comandos, têm as suas normas próprias, os seus ritos e uma cadeia de comando muito particular. Um livro dedicado às mulheres que os amaram, aos que combateram dando o melhor da juventude e aos próprios guerrilheiros. O autor entende que precisamos de uma apresentação: o que ele escreve é ficção, as pessoas e situações narradas não aconteceram nem existiram; o autor, por sinal, é pacato e gordo, cai-lhe o cabelo e escreve de noite com os óculos na ponta do nariz. Posto este labirinto, abre-se a efabulação, estamos na primeira operação, com o sol a pino e todos a marchar na bicha de pirilau. Ouve-se uma explosão, o capitão orientou os grupos de combate, o enfermeiro partiu para os primeiros socorros:

“Dava as ordens com voz calma, como se tudo não passasse de um exercício. Depois aproximou-se do soldado ferido deitado no chão, com um dos pés transformado numa bola de massa onde se misturavam o coiro preto da bota, a terra castanha empapada em sangue e de onde surgiam tendões brancos desligados dos ossos.

À vista deste espectáculo empalideceu, não o podia evitar, sentou-se a observar o LM: uma injecção de morfina, apertar o garrote para estancar o sangue, uma injecção de vitamina K para facilitar a coagulação e, por fim, limpar o melhor possível a pasta avermelhada para a envolver num penso. Era o que restava do que fora um pé”.

Não se pode imaginar mais secura, logo a seguir há contacto, as transmissões procuram desesperadamente um helicóptero. Os figurantes vão sendo apresentados: o cabo Cabral, o da calva nascente, o Pedro, que vai sempre à frente e que ficará sem o pé, o Vergas, alto e patilhudo, o Torrão (que fora pastor no Alentejo), o Chamusca, o Casal Ventoso, o Espanhol. Existem ali conversas possíveis, afinal aquelas máquinas de matar têm sentimentos, basta conferir: “O meu capitão sabe que é raro um alentejano vir para os comandos? – e continuou: – Gozavam comigo por eu ser assim miúdo, chamavam-me alentejano dum cabrao, mesmo os oficiais e os cabos milicianos da recruta, que alentejanos e cães de caça era tudo gente de uma raça. Para lhes fazer ver que era igual aos outros, ofereci-me. Também porque me disseram que se dava menos tempo de tropa… preciso de tratar da vida… – o capitão parecia não ligar muito à conversa, mas o Torrão continuava: – O Alentejo, conhece? –e sem esperar resposta: – Aquilo é que é terra, o ar é limpo, vê-se até longi… – falava sem precisar de ouvinte. Necessitava de desabafar, de se sentir no meio de gente, a floresta assustava-o e voltava ao linguarejar cantado da sua terra – … Guardava porcos, um dia fiquei-me a ver o comboio a caminho do Algarvi, por causa dêli tive de fugir de casa, dois bácoros perderam-se, o capataz do monti queria bater-mi, queria obrigar o mê pai a pagá-los, pagar… – abanou a cabeça a olhar o céu – … Era a miséria mais negra…”. Contraponto é dado pela recordação daquele oficial que quis ir para a Academia Militar, mesmo contrariando a vontade do pai. Segue-se a brutalidade com o guia, um velho Maconde, permanentemente ameaçado pela tortura e de que ainda vai levar mais porrada na PIDE. A galeria dos figurantes vai engrossando: Pierre, o estivador, Evaristo, o guia Maconde, a companhia atravessa um vale, são surpreendidos pelas morteiradas do inimigo, o Preguiça ficou despedaçado, caiu-lhe uma granada mesmo em cima. Igualmente os alferes vão sendo apresentados, são provenientes de vários estratos sociais, o Lencastre vem de uma família com pergaminhos, entre Estoril e Cascais. Bem, a operação não foi um êxito e o novo comandante militar a seu tempo irá repontar. Vamos assistindo à tensão que se irá desenvolvendo entre o recém-chegado e os combatentes que já não vão nas lérias da estridência vã da defesa da civilização ocidental. Chega a hora desta companhia de comandos ir para nova operação, desta vez à Volta ao Mundo, temos aqui outra narrativa fulgurante: “Mueda, no dia da saída da coluna para a Volta ao Mundo, assemelhava-se a um formigueiro rebentado; camiões que andavam de um lado para o outro aparentemente sem sentido, soldados que corriam uns pelos outros, oficiais que procuravam juntar os seus pelotões, artilheiros que tentavam desesperadamente atrelar as peças e bocas-de-fogo às Berliets, caixas de raçoes espalhadas, viaturas que não pegavam e eram empurradas, barulho de motores acelerados, cheiro a óleo queimado, tudo fazia parte de uma caótica confusão da qual parecia ser impossível sair ou, pelo menos, encontrar algum responsável”. De novo embrenhados no mato, o silêncio da noite é atravessado por um grito, ficam todos em alvoroço:

“Um grito horrendo a eriçar a pele em picos de lixa, carregado de electricidade.

Um grito com vida nascendo de um uivo de suicida caindo no abismo; mal nascido e logo fugido para o negrume de árvores sombrias a receberem-no quais fantasmas baloiçando braços descarnados de ramos rendilhados em teias negras; a prolongar-se num eco de mil latidos.

Vindo de um só peito vinha de todos amplificado no estrondo das minas, nos gemidos do sargento cego a chamar pela mulher…”. É naquela confusão que se descobre que o Bento teve um ataque de epilepsia. E depois, quando retomou a caminhada, o capitão conduzia a coluna a passo de caracol pela picada onde as minas nasciam como cogumelos em estrume húmido.

(Continua)
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Notas de CV:

Carlos Vale Ferraz é o pseudónimo literário de Carlos Matos Gomes, hoje Coronel Cav COMANDO na situação reserva

Vd. último poste da série de 3 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7715: Notas de leitura (198): Repórter de Guerra, de Luís Castro (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7723: Tabanca Grande (263): João Pinho dos Santos, ex-Alf Mil da CCAÇ 618/BCAÇ 619 (Susana e Binar, 1964/66)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Augusto Reis (ex-Alf Mil da CCAV 8350, Guileje, 1972/74), com data de 1 de Fevereiro de 2011:

Caro Luís:
Tenho aqui um amigo, de longa data, que ao saber da nossa Tertúlia mostrou desejo de a ela se associar. Como sentia algumas dificuldades em tratar da parte inerente à sua inscrição, tomei a iniciativa de o apresentar e solicitar a sua inscrição.

Participou em dois convívios da Tabanca Pequena, portanto não se pode dizer que desconhece totalmente o ambiente de camaradagem e amizade que se vive nesses encontros.

Vive em Aveiro onde, em tempos idos, foi gerente da Delegação do Banco de Portugal em Aveiro, estando actualmente reformado.



João Henrique Pinho dos Santos, ex-Alf Mil Inf da CCaç 618/BCAÇ 619, esteve em Susana e Binar no período 1964/66.

E-mail: joaopinho.santos@gmail.com

De mim e do Pinho dos Santos vai um forte abraço para toda a tertúlia.
Manuel Reis




2. Comentário de CV:

Caro João, bem-vindo à nossa Tabanca Grande.

Estás apresentado à tertúlia pela mão do teu e nosso amigo Manuel Reis, pelo que se tiveres alguns conhecimentos de informática, não muitos, poderás começar a contar-nos as tuas experiências vividas durante a campanha de 1964/66, pouco tempo depois do início das hostilidades na Guiné. Temos já alguns camaradas na tertúlia do teu tempo, que nos contam as dificuldades sentidas nesse início de guerra, muito diferentes das de quem esteve já no final. Se vocês tinham carências de toda a ordem, inclusive falta de itinerários abertos, os mais modernos enfrentaram um PAIGC mais bem armado e melhor preparado tacticamente. Ninguém teve vida fácil, afinal.

Caro João, ficamos então na expectativa de noticias tuas.
Recebe um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores, com votos de que te mantenhas em plena forma para participares activamente no nosso Blogue.

Um abraço de
Carlos Vinhal
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Vd. último poste da série de 27 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7685: Tabanca Grande (262): António Teixeira, ex-Alf Mil, CCAÇ 3459/BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto) e CCAÇ 6 (Bedanda), 1972/73

Guiné 63/74 - P7722: Memória dos lugares (132): Fotos de Enxalé (Virgínio Briote/António Rodrigues)


1. O nosso camarada Virgínio Briote (ex-Alf Mil Comando, Brá, 1965/67), enviou-nos a seguinte mensagem, que lhe foi endereçada em 29 de Janeiro de 2011, pelo nosso Camarada António Rodrigues, da CCAÇ 2587/BCAÇ 2885, Enxalé, 1969/71).



ENXALÉ

Caro V. Briote,

Tenho sido um leitor assíduo praticamente desde o início do "blogueforanadaevaotres".

Ao ler os trabalhos do Dr. Mário Beja Santos e principalmente o poste "Guiné 63/74 - P7557: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (10): O dia no Enxalé, em Madina e Belel", e como ainda ninguém fez comentários às fotos em referência, conforme o Luís Graça solicita no seu comentário, junto algumas fotos de Enxalé.

Na foto 1, vê-se uma caserna que existia no ponto mais alto de Enxalé, onde eu estive entre 25/6/1969 a 19/08/1969.

Era um edifício sem as mínimas condições de habitabilidade e tinha uma única cama. Todo o grupo dormia no chão em cima de palha de arroz com panos de tenda a servirem de colchões. A única cama era onde eu dormia, com uma maca em cima dos ferros a fazer de colchão.

As duas últimas janelas que se vêm eram dos quartos dos furriéis que pelo menos tinham camas.

Na foto 2, vê-se o meu grupo de combate à frente da caserna.

Na foto 3, vê-se a outra parte lateral do mesmo edifício, onde estavam os chuveiros.

Na foto 4, o monumento.

Na foto 5, mostra como era o monumento exibido na foto 4.

Nas restantes fotos parece-me ser diferente.

A placa que se vê na foto 7 é do Monumento da foto 6.

A foto 8, é uma foto minha, mostrando como se encontarvam os monumentos no período em que lá estive. Junto tmabém duas fotos de Bissá, talvez um dos piores destacamentos que existiam na Guiné, principalmente nos períodos das chuvas. É um dos locais com poucas referências, em tudo o que tenho lido sobre a guerra na Guiné.

Depois deste comentário deixo à sua consideração se entender dar conhecimento ao Dr. Mário Beja Santos destas fotos, assim como publicá-las. Se necessário poderei mandar as fotos com outro tamanho.

Com os melhores cumprimentos,
António Rodrigues
CCAÇ 2587/BCAÇ 2885

Fotos: © António Rodrigues (2010). Todos os direitos reservados

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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

4 de Fevereiro de 2011 >

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7721: Convívios (290): V Encontro dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, dia 5 de Março de 2011 (Carlos Vinhal)



1. V ENCONTRO DOS EX-COMBATENTES DA GUINÉ DO CONCELHO DE MATOSINHOS

Caros camaradas da Guiné do Concelho de Matosinhos e Grande Porto.

Vai ter lugar no próximo dia 5 de Março de 2011 o V Encontro dos ex-Combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos.

Como é habitual, contamos com a presença, não só dos camaradas do nosso Concelho, mas também com a dos ex-combatentes da Guiné de qualquer ponto do país, Grande Porto principalmente, que connosco queiram confraternizar.

O preço do almoço será o mesmo do ano passado, 25 euros.

As inscrições, que terminarão no próximo dia 1 de Março, poderão ser feitas desde já para os telefones:


969 023 731 e 229 996 510 (Ribeiro Agostinho)
916 032 220 e 229 959 757 (Carlos Vinhal), 

e ainda para os endereços: 

mjr.agostinho@gmail.com 
carlos.vinhal@gmail.com.
 

Cada camarada, se assim o desejar, poderá fazer-se acompanhar de um familiar.

A concentração será como habitualmente em  frente à Câmara Municipal de Matosinhos pelas 12 horas. Tirada a fotografia de família, a malta dirigir-se-á para o restaurante Viveiros da Mauritânia em Leça da Palmeira, onde cerca das 13 horas será servido o almoço. Os camaradas poderão, se assim o desejarem, deslocar-se directamente para Leça da Palmeira.

Contamos com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos e de representantes do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes.


2. INAUGURAÇÃO DE UM MEMORIAL AOS MILITARES DO CONCELHO DE MATOSINHOS CAÍDOS EM CAMPANHA, EM ANGOLA, GUINÉ E MOÇAMBIQUE

Este assinalam-se os 50 anos do início do conflito armado que durou 13 anos e que custou tanto sangue aos portugueses e aos combatentes dos movimentos de libertação.

Aproveitamos para informar que finalmente este ano vai ser inaugurado um Memorial aos militares do Concelho de Matosinhos caídos em campanha em Angola, Guiné e Moçambique, a inaugurar no próximo dia 9 de Abril, Dia do Combatente.
 

Este Memorial está situado no topo Leste do Cemitério de Sendim onde pode ser já visitado.
O Memorial lembrará também os mortos no grande naufrágio do dia 2 de Dezembro de 1947, ocorrido ao largo de Leixões.

Oportunamente será dado conhecimento do programa de inauguração.

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7695: Convívios (205): 8.º Encontro da Tabanca do Centro - A Poda (Vítor Junqueira)

Guiné 63/74 - P7720: Memória dos lugares (131): Bedanda, CCAÇ 6 (1972/73): Eu, o José Figueiral, o Pinto de Carvalho, o Bastos (do Pel Art), um 2º tenente da Marinha e ainda o Seco Camará, na messe de oficiais (António Teixeira)



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 (1972/73) > Legenda: "Nesta foto está o Figueiral em frente (ao meio) de óculos escuros e a comer uma cabritada com a garrafa de Casal Garcia á frente. Eu estou do lado esquerdo da fota, com o frigorifico atrás de mim. De costas para a foto está o Pinto Carvalho. Do lado direito da foto, em primeiro plano está o Alferes Bastos, o homem do obus (Alf de Artilharia) e logo a seguir, portanto à esquerda do Figueiral está um segundo tenente de que não me recorda o nome. Era habitual haver um abastecimento via barco por mês e que vinha sempre escoltado pela Marinha, ficando o Oficial instalado lá no quartel [, em Bedanda, na margem esquerda do Rio Cumbijã]".


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 (1972/73) > Legenda: "Nesta outra foto estou eu e o Figueiral e lá atrás o Seco Camará, que era uma jóia de pessoa, e que trabalhava na messe de oficiais (se é assim que se pode chamar),  lá do quartel".

Fotos (e legendas): © António Teixeira (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de  António Teixeira, recentemente entrado para a nossa Tabanca Grande, ex-Alf Mil da CCAÇ 6 (Bendanda, 1972/73) [, foto à esquerda] (*)


Data: 30 de Janeiro de 2011 23:48
Assunto: Mais um


Boa Noite,  pessoal.


Hoje, mais uma alegria grande. Entrou em contacto comigo o ex-alferes Figueiral, que aparece aqui no Blog em várias fotos, assim como nestas duas que vos envio hoje, tiradas á hora da refeição no quartel em Bedanda.


Conheci o Figueiral no dia em que cheguei a Bedanda. Era ele quem estava a comandar a CCaç 6 na altura, pois o na altura Capitão Ayala Botto tinha sido requisitado para ajudante de campo do General Spínula.

E assim continuou durante uns tempos até a chegada do Capitão que o veio substituir, o Capitão Gastão Silva, que eu creio que Pinto Carvalho consegue o seu contacto.

Tenho imensas recordações com o Figueiral, lembrando-me bem duma operação em que passamos uma noite inteira perto do Nhai a inspecionar tudo o que era canoas que passavam no Ungarionol.

E é com enorme prazer ver que este grupo de Bedandenses continua a engrossar. Vamos lá tentar encontrar mais pessoal e tentar que o nosso reencontro seja uma realidade.
Um grande abraço para todos

António Teixeira (**)
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Notas dos editores:


(*) 27 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7685: Tabanca Grande (262): António Teixeira, ex-Alf Mil, CCAÇ 3459/BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto) e CCAÇ 6 (Bedanda), 1972/73


(**) Os mais recentes postes desta série, Memória dos lugares, publicados em 2011 >
 
1 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7702: Memória dos lugares (130): Banjara, destacamento a 45 km de Geba, CART 1690 / BART 1914, subunidade com um dos mais trágicos historiais do CTIG (1967/69) (A. Marques Lopes / Alfredo Reis)

31 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7700: Memória dos lugares (129): Ponta do Inglês no tempo da CART 1746 (Manuel Moreira)

28 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7691: Memória dos lugares (128): Foto da Antiga Administração de Gabú (ex-Nova Lamego) (Virgínio Briote/Rui Fernandes)

28 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7688: Memória dos lugares (127): A despedida de Bedanda, CCAÇ 6 (Dezembro de 1971/Março de 1972) (Mário Bravo, médico)

27 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7683: Memória dos lugares (126): Os meus camaradas da CCAÇ 6, em Bedanda (Dezembro de 1971 / Março de 1972) (Mário Bravo, ex-Alf Mil Med)

26 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7675: Memória dos lugares (125): Aldeia Fomosa (hoje, Quebo): em busca de fotos do Cherno Rachide, que morreu em 1973 (Pepito / Vasco da Gama)

24 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7665: Memória dos lugares (124): As visitas 'sanitárias' do Alf Mil Médico Mário Bravo (Bedanda, Dez 1971/Mar 72): Guileje, Gadamael, Cacine

23 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7656: Memória dos lugares (123): O Alf Mil Médico Mário Bravo em Bedanda, na CCAÇ 6 (Dezembro de 1971 / Março de 1972)

21 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7651: Memória dos lugares (122): Os Adidos (Belmiro Tavares)

18 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7635: Memória dos lugares (121): Bambadinca, ao tempo da Dona Violete da Silva Aires, a professora primária caboverdiana

15 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7619: Memória dos lugares (120): Bambadinca, ao tempo do Manuel Bastos Soares, ex-Fur Mil, CCAV 678 (1964/66), e da Dona Violete da Silva Aires, a professora primária cabo-verdiana

11 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7593: Memória dos lugares (119): Bedanda, do tempo da malta da CCAÇ 6: Alf Mil Médico Mário Bravo, Alf Mil Pinto Carvalho, Lopes, Borges, Silva, Figueiras... do 1º Cabo Azevedo, do Cap Ayala Botto (1971/72)... mas também do 1º Cabo Cripto Vasco Santos (1972/73)

Guiné 63/74 - P7719: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (56): Na Kontra Ka Kontra: 20.º episódio




1. Vigésimo episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 3 de Fevereiro de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


20º EPISÓDIO

Ao fim de algum tempo chegou a uma conclusão: Pura e simplesmente não havia estratégia, ou melhor, o que havia a fazer não era mais do que rapidamente ir falar com o Adramane, perguntar-lhe se podia casar com a filha e quanto queria de “dote”, saindo da incerteza que o andava a consumir.

Num ímpeto, levanta-se e olhando na direcção da morança do Chefe de Tabanca, como que estabelece o azimute para rapidamente lá chegar. Não chega a dar meia dúzia de passos. Para, estático, qual cão da pradaria pressentindo o perigo.

Com algumas ordens dadas em alta voz aos seus camaradas que estavam mais perto, inflecte o sentido da marcha que tinha iniciado e dirige-se a correr para a sua morança. Iria buscar a G3 e colocar o cinturão onde tinha sempre colocados quatro carregadores de munições e três granadas?

Não, não ia, ia simplesmente pôr a boina. O nosso Alferes tinha ouvido ao longe o ruído inconfundível dos rotores de um helicóptero. Ia pois completar o fardamento para receber os superiores que ali deviam vir. O Coronel, Comandante do Agrupamento de Bafata, não tinha héli à disposição pelo que o mais certo era tratar-se do Comandante Chefe de Bissau e com este era preciso ter mais cuidado. Ou então poderiam ser os dois, como muitas vezes acontecia.

Ainda o héli se não via e o Alferes já está no meio da tabanca a dar as últimas instruções ao pessoal no sentido de se apresentarem bem fardados.

De trás das grandes árvores da orla da mata surge o “Alouette III”. O nosso Alferes corre para a zona desmatada, fora do “arame”, o melhor lugar para a aterragem, mas para sua surpresa o piloto opta por pousar dentro da tabanca, numa pequena zona livre de palhotas. Ainda bem que assim foi pois as lavras do João, da zona desmatada, iriam ser todas pisadas. Talvez tenha sido por ordem de quem lá vinha e por acharem que era mais seguro aterrar dentro do arame farpado.

Aterragem normal. Nem pó levantou dado a terra ainda estar húmida da chuvada da noite anterior. Pára o motor turbo-hélice, que equipa estes helicópteros e logo as hélices. Abrem-se as portas e imediatamente se reconhece quem chega, além dos pilotos: Estranhamente, só o Coronel de Bafata. Não vinha o Comandante Chefe e ainda bem pois, com o Comandante do Agrupamento o nosso Alferes tinha uma relação próxima e dentro de certos parâmetros, cordial. Com o Comandante Chefe de Bissau é que nunca se sabia com o que se contava, principalmente quando se tratava de oficiais. Para ele os soldados é que eram os bons.

O Coronel rapidamente percorreu parte da tabanca inteirando-se do adiantamento dos trabalhos nos abrigos, sobretudo do destinado à população civil. O Alferes mostra-lhe o forno que ele próprio tinha construído, arrancando um sorriso ao seu superior, o que era coisa rara.

Tão rápido como chegou partiu, despedindo-se do Alferes, secamente como era habitual:

- Magalhães Faria, só sai daqui quando toda a gente tiver abrigos.

Só muito mais tarde, já em Bafata, é que o Alferes Magalhães vem a saber porque razão o Coronel tinha aparecido naquele dia de helicóptero, em Madina Xaquili. Na sequência da ordem de Bissau para o Comando de Agrupamento de Bafata, este devia mandar para as tabancas em auto-defesa da periferia da zona habitada, os oficiais disponíveis, enquadrando grupos de militares. O Coronel entendeu que ele próprio também devia cumprir a ordem e, nesse sentido, resolveu ir passar uma noite numa tabanca. No dia seguinte tê-lo-iam ido buscar de héli e, aproveitando o transporte, fez a visita a Madina Xaquili.

São horas de almoço e a conversa com o Adramane iria ficar para depois da sesta, ou para o dia seguinte. A agitação militar da manhã tinha amolecido os sentimentos do nosso Alferes.

Desta vez o almoço é uma feijoada com pé de porco enlatado e arroz. Uma comida destas será deliciosa se não se repetir dia sim dia não… ou todos os dias. Como é a primeira vez que se come este prato na tabanca, todo o pessoal o acha óptimo. E no fim até se pôde “limpar” o prato com pão e não com as tais bolachas das rações de combate… O pão já estava a ficar duro pelo que o Alferes anunciou:

- Pessoal, não se vai esperar mais tempo. Amanhã vamos experimentar o forno e também as qualidades do nosso padeiro, que já conta com a ajuda do milícia Sadjuma.

Quase todo o pessoal continuou por algum tempo à mesa, comentando a visita do Comandante de Bafata. Todos manifestaram a ideia que o tinham achado um homem duro, distante e até ríspido de mais para com o Alferes. Este explicou que era a maneira de ser do Coronel mas quem o conhecia bem, como ele próprio, o achava cordial e principalmente um homem justo, com quem se podia contar.

Todos continuam a conversar menos o Alferes que se cala ficando pensativo. Passados poucos minutos levanta-se e sem sequer se despedir, contrariamente aos seus hábitos, dirige-se à sua morança. Entra, sai, vai ao “quarto de banho”, sai, vai carreiro abaixo em direcção à fonte, pára, volta para trás, entra novamente na sua morança, tira a roupa e deita-se.

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7713: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (55): Na Kontra Ka Kontra: 19.º episódio

Guiné 63/74 - P7718: Parabéns a você (211): Mário Silva Bravo, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6, Guiné 1971/72 (Tertúlia / Editores)

PARABÉNS A VOCÊ

04 DE FEVEREIRO DE 2011


Caro camarada Mário Bravo, a Tabanca Grande solidariza-se contigo nesta data festiva.

Assim, vêm os Editores, em nome de toda a Tertúlia desejar-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares e amigos.

Que esta data se festeje por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre por perto aqueles que amas e prezas.

Na hora do brinde não esqueças os teus camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela tua saúde e longevidade.

O Alf Mil Médico, Dr. Mário Bravo (ao centro) em Bedanda em 1971

O Dr. Mário Bravo em Matosinhos, no dia 6 de Março de 2010, durante o IV Encontro do ex-combatentes da Guiné daquele Concelho.
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Notas de CV:

(*) Mário Silva Bravo foi Alf Mil Médico na CCAÇ 6, que esteve em Bedanda nos anos de 1971 e 1972.

(*) Vd. poste de 4 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5762: Parabéns a você (74): Mário Silva Bravo, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6, Bedanda 1971/72 (Editores)

Vd. último poste da série de 4 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7717: Parabéns a você (210): José Belo, ex-Alf Mil da CCAÇ 2381, Guiné, 1968/70 (Tertúlia e Editores)

Guiné 63/74 - P7717: Parabéns a você (210): José Belo, ex-Alf Mil da CCAÇ 2381, Guiné, 1968/70 (Tertúlia e Editores)



PARABÉNS A VOCÊ

04 DE FEVEREIRO DE 2011


A Tabanca do Centro no dia de cozido à portuguesa. José Belo, ao fundo, de frente, entre Eduardo Oliveira e Carlos Santos


Caro camarada José Belo, o casal Giselda e Miguel Pessoa, a Tertúlia e os editores solidarizam-se contigo neste teu  dia de aniversário.

Assim, vem o Editor de serviço, em nome desta gente toda, desejar-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares e amigos, ao mesmo tempo que te envia um abraço colectivo muito quentinho, na tentativa de te dar um pouco de calor nesse frio glaciar.

São nossos votos que esta data se festeje por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre por perto aqueles que amas e prezas.

Na hora do brinde não esqueças os teus camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela tua saúde e longevidade.

Lembra-te de que por cada ano que somamos à vida, diminuímos um no porvir, logo, não deixes passar a possibilidade de, de vez em quando, vir matar saudades deste retângulo à beira-mar plantado e do cozido à portuguesa de Monte Real.

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Notas de CV:

José Belo foi Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, nos anos de 1968/70.

(*) Vd. poste de 6 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5773: Parabéns a você (77): José Belo, se o calor da nossa amizade chegasse a Kiruna, a tua Lapónia era o Alqueva (Os Editores)

Vd. último poste da série de 2 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7708: Parabéns a você (209): Germano Santos, Operador Cripto da CCAÇ 3305/BCAÇ 3832 (Tertúlia / Editores)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7716: Agenda cultural (105): 50 Anos do Início da Guerra do Ultramar. Entrevistas no JN de 6 de Fevereiro de 2011 (Casimiro Carvalho)

1. O nosso Camarada José Casimiro Carvalho (ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAV 8350 - 1972/74 -, e dos Lacraus de Paunca (CCAÇ 11) - Gadamael, Guileje, Nhacra, Paúnca, alerta-nos para a leitura de várias entrevistas que serão publicadas na edição do Jornal de Notícias, do próximo dia 6 de Fevereiro de 2011:

Camaradas,

Três jornalistas do Jornal de Notícias (JN) deslocaram-se a minha casa, onde me entrevistaram durante mais de uma hora acerca do tema Guerra do ultramar, a propósito do 50º aniversário da data do seu início em Angola.

No meio da conversa acabei por convencê-los a aparecerem na Tabanca de Matosinhos, ontem 4ª feira – dia 2 de Fevereiro -, para que eles vissem e sentissem a camaradagem, animação e alegria que são apanágio dos os nossos habituais almoços/convívios.

Eles apareceram, almoçaram, conviveram connosco e recolheram mais alguns depoimentos entre a malta presente.

Ainda não sei quando é que vai sair no “JN online” um documentário filmado que eles gravaram.

Sei e comunico aos interessados, que as entrevistas vão ser publicadas na edição do próximo dia 6 de Fevereiro (domingo).

Um abraço,

José Carvalho

Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAV 8350 e CCAÇ 11
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

1 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7705: Agenda cultural (104): 50 Anos do Início da Guerra Colonial. ANGOLA61. Guerra Colonial: Causas e Consequências (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7715: Notas de leitura (198): Repórter de Guerra, de Luís Castro (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Fevereiro de 2011:

Queridos amigos,
Se o repórter é aquele que não vira a cara ao risco e vai desarmando entre os combatentes até à linha de fogo e trabalha com paixão, procurando informar com o recurso adequado da imagem eloquente, Luís Castro é um sortudo, não lhe escapa, no vórtice desses momentos de conflito, a ousadia e a têmpera para ir mais longe e chegar primeiro que todos os outros. Por isso as suas reportagens são tão peculiares, verdadeiros exclusivos para quem contempla o seu trabalho em frente do ecrã.
Como os acontecimentos que ele registou na Guiné-Bissau.

Um abraço do
Mário


Um extraordinário repórter de guerra na Guiné-Bissau

Beja Santos

“Não escolhi palavras bonitas para embelezar o texto. É meramente factual. O que aqui está, aconteceu. Mesmo. Sou contra as fantasias”. É assim que Luís Castro, jornalista da RTP e que ao serviço desta estação já cobriu um número considerável de guerras ou situações de conflito, com destaque para o Iraque, Afeganistão, Angola e Timor, apresenta “Repórter de Guerra”, um livro de oiro da reportagem (“Repórter de Guerra”, por Luís Castro, Oficina do Livro, 2007). Vamos circunscrever a recensão obviamente ao que se passou na Guiné-Bissau em acontecimentos que ele viveu entre 1998 e 2003. Acerca do que escreve, ele prepara-nos da seguinte maneira: “Pela primeira vez na história da televisão portuguesa, uma equipa da RTP viu como se prepara um golpe de Estado, acompanhou os bastidores nos dias que o antecederam e procederam, conheceu os intervenientes directos e indirectos e sentiu os anseios, medos, pressões, ameaças e ambições. Mas compreender o que foi a guerra civil na Guiné-Bissau é necessário saber como tudo começou em 1998, quando Ansumane Mané se revoltou contra o presidente Nino Vieira”.

Chegam as primeiras notícias de que está em curso um golpe de Estado na Guiné-Bissau, estamos em 1998. Tudo parece surpreendente, para quem nada conhece os antecedentes da história: Nino vem a público acusar Ansumane Mané de contrabandear armas para os guerrilheiros que lutam pela independência de Casamansa, nessa alocução pública pede ajuda aos países vizinhos. Os países vizinhos enviam tropas e armamento, respondem assim ao apelo do Kabi. Só que a situação se vai agravar, Bissau transforma-se numa cidade caótica, brancos, pretos e mestiços o que querem é fugir. Correspondendo ao apelo da RTP, Luís Castro parte para Dakar e daqui para Bissau. Vai acompanhado de Hélder Oliveira, considerado um dos melhores repórteres de imagem da RTP. A bordo da fragata Vasco da Gama vão começando a filmar: os clarões dos bombardeamentos, depois os fuzileiros a trazer nos botes os fugitivos. Quando a fragata atraca em Bissau, Luís Castro lança-se ao trabalho em que ganhou esporas: vai captar imagens no centro do vulcão. Nino está sentado nas escadas do seu palácio, isto quando as ruas de Bissau estão quase desertas. Um religioso muçulmano leva a equipa de reportagem ao encontro dos rebeldes encapuçados por Ansumane Mané. É nessa viagem sob um calor infernal que o repórter conhece o major Manuel Melcíades ou Manuel Mina. É a primeira entrevista dos revoltosos:

“- Quais são as áreas que controlam?

- Todo o país. O Governo não tem tropa. Só soldados do Senegal, de Conacri e alguns franceses. Os nossos estão todos deste lado. Agora lutamos contra franceses, senegaleses e conacris.

- Vão avançar sobre Bissau?

- Não é difícil entrar em Bissau! Temos 10 tanques blindados, daqueles com lagartas e canhão. Podemos entrar a qualquer hora. O problema é a população.

- Aceitam negociações?

- As negociações dependem deles!”.

O repórter está radiante, até apanhou o Hélder enterrado no tarrafo. Nino e os seus acólitos não gostaram da sua reportagem. Depois voltam para conversar com os rebeldes, desta vez na base aérea onde está montado o Comando Supremo da Junta Militar. Ansumane não aceita entrevistas, filma-se o passaporte, imagem que a RTP irá divulgar através da Eurovisão. O repórter regista conversas com sabor a tragédia e comédia. Vão à Rádio Bombolom, é por este meio que os guineenses vão conhecendo o desenvolvimento da guerra, o Manuel Mina vai intoxicando com contra-informação as forças leais a Nino, faz bluff, há muita gente que passa para o lado de Ansumane com medo de ser acusado de traição. Filmam-se depois os soldados senegaleses mortos na linha de combate, afinal as forças internacionais vão sendo destruídas por esses velhos guerrilheiros que conhecem o terreno a palmo e que põem tropas bem equipadas fora de combate. É um quotidiano efervescente, o repórter procura todos os eventos de caixa alta e obtém-nos miraculosamente. É o caso da entrevista com Ansumane Mané, e depois quando este vai encontrar-se com Jaime Gama e Venâncio Moura, a delegação de mediação da CPLP. Aos poucos, o repórter obtém entrevistas que são peças históricas da Guiné-Bissau. Luís Castro volta à Guiné em 1999, no exacto momento em que as forças que apoiam Nino capitulam, ele foge, o povo festeja aquilo a que se chamou a terceira independência, o pessoal da Junta Militar leva o repórter a visitar os prisioneiros de guerra: “Há desde ministros, membros do governo, colaboradores de Nino, comandantes militares, oficiais superiores e simples soldados.

Amontoam-se vinte e tal em pouco mais de dez metros quadrados. Os que não têm espaço cá em baixo penduram-se nas grades das janelas. O cheiro é nauseabundo e os prisioneiros escondem a cara quando se abrem as portas das celas e nos vêm. Entrevisto um que diz ter sido fiel até ao último dia. «Foi o destino», remata”. Acabou a guerra mas o Telejornal tem que ser alimentado. Luís Castro vai à procura de histórias, começa pelas atrocidades de Nino, as falsas intentonas de golpes de Estado e as vítimas das suas câmaras de torturas. Recolhe depoimentos de coronéis e tenentes-coronéis: “Davam-me bocadinhos de comida e água com sal. Durante nove meses não sai da cela para apanhar sol. Espancaram-me até me julgarem morto”, ou “Taparam-me o rosto com um pano, meteram-me fios eléctricos nas mãos e nos pés e ligaram a corrente” ou “Eu tenho um problema de fecundidade. Dera-me choques nos testículos. Nem os colonizadores portugueses fizeram este tipo de tortura”.

Em 2003, Luís Castro cobre o golpe de Estado que afasta Kumba Ialá da presidência da República. Nem Kafka se lembraria de criar esta atmosfera. O golpe é programado por militares, tem hora e lugar preestabelecidos. É um momento extraordinário da história da reportagem escrita em português. Kumba Ialá está sorridente, conversa descontraído com os homens do golpe que o acabou de depor. Kumba ignora o que aconteceu, ri a bandeiras despregadas. É tudo tão surreal que quando os golpistas lhe perguntam: “Quer ficar aqui, no quartel-general ou ir para casa?”, Kumba respondeu: “Prefiro ir para casa, estou cansado”. Forma-se uma coluna militar e levam-no. Quando viu que estava a ser levado para casa, perguntou a um dos seus oficiais: “Para onde vamos? Eu quero ir para a Presidência.”. Seguiu-se um diálogo hilariante: “Não podes”. “Mas não posso porquê?”. “Porque houve um golpe.”. “Um quê?”. “Um golpe de Estado”. “Contra quem?”. “Contra ti”. “Contra mim?”. “Sim. E já não és Presidente!”. “Então quem é?”. “É o Veríssimo”. “O Veríssimo?”. “Sim, o Veríssimo. Tu já não mandas!”. “Ai o filho da puta, cabrão, vou matar-te!”. Foi preciso metê-lo à força dentro de casa.

Claro que a história não acabou aqui. A 6 de Outubro de 2004, militares com patentes inferiores a major assassinaram o general Veríssimo Correia Seabra. Só não conseguiram eliminar todo o Estado-Maior porque os restantes se esconderam na Embaixada Portuguesa. Não se pode entender o poder dos militares na Guiné-Bissau nos dias de hoje, como permanecem intocáveis no seu golpismo, traficando cocaína e numa total impunidade, sem ir atrás e perceber como a partir de 1980 Nino pregou uma grande partida ao poder político e deixou os militares a funcionar com leis arbitrárias e a rirem-se das eleições livres.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7704: Notas de leitura (197): Ordem Para Matar, de Queba Sambu (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7714: Blogoterapia (175): O Regresso, ou quem nos quer ainda ouvir (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 31 de Janeiro de 2011:

Meus camarigos editores
E assim de repente lembrei-me de uma conversa que tive em Lisboa, passados uns tempos de ter chegado da Guiné.
E então escrevi isto a que posso chamar um Conto com Toques de Verdade!

Fica á vosa disposição como sempre.

Um abraço amigo do
Joaquim


O REGRESSO

O homem sentado ao seu lado, ao balcão daquela cervejaria, olhava para ele com uma expressão entre o incrédulo e o trocista.
Há algumas horas que estavam ali sentados, bebendo cervejas atrás de cervejas, e conversando.
Não se conheciam de antes daquele dia, mas o facto de estarem os dois numa tarde de semana sentados ao balcão de uma cervejaria, tinha levado, depois de alguns apartes, ao início de uma conversa sobre tudo e mais alguma coisa e como não podia deixar de ser, ao estado do país.

Destacamento de Mato Cão  > O nome condiz com as instalações

Indubitavelmente a guerra do Ultramar veio à conversa e, perante os comentários errados e ignorantes daquele que estava ao seu lado sobre o assunto, ele decidiu dizer-lhe que tinha regressado há escassas semanas da Guiné, onde terminara uma comissão militar de 24 meses.

Ou pelas expressões do outro, ou pelas cervejas já bebidas, ou por uma necessidade interior de contar o que tinha visto e vivido, (pois que à família e amigos lhe era difícil falar do assunto), deu por si a relatar as operações, as emboscadas, as colunas, as minas, as coragens e os medos porque tinha passado e estavam tão vividas e sentidas em si.

As palavras saíam-lhe em catadupa, e parecia que estava a falar mais para si do que para o outro, que o escutava, por vezes entediado e outras poucas vezes, interessado.

De vez em quando uma frase desgarrada do outro, tal como, “isso é impossível”, ou “foi mesmo assim?”, levavam-no a quase parar a sua narrativa, mas a verdade é que ele ansiava por falar sobre a guerra, e um desconhecido era o interlocutor ideal para o ouvir.

As cervejas iam sendo colocadas no balcão e bebidas, e agora era ele quem as pagava, porque o outro tinha feito menção de se ir embora e ele não queria ficar ali sozinho a remoer nas suas recordações e sobretudo não queria perder aquele momento de contar a sua guerra, sobretudo a si próprio.

Que faço eu aqui?

Parecia-lhe que à medida que ia contando os factos, eles deixavam de fazer tanta mossa nos seus sentimentos, e embora sentisse que tudo aquilo o tinha marcado e continuava a marcar por muito tempo, percebia um certo alívio em libertar-se de algum modo daquelas memórias dolorosas.

Percebia que o outro o olhava de um modo estranho, às vezes quase com medo, mas ele ia-o tranquilizando com expressões mais calmas e sobretudo com mais uma cerveja.

Sucediam-se as emboscadas, as colunas, o medo, o anseio sentido ao levantar esta ou aquela mina.
Queria expressar as dificuldades, a sede, o medo do desconhecido, os sons da mata e os cheiros das bolanhas, mas as palavras pareciam-lhe poucas e sobretudo sem exprimirem verdadeiramente aquilo que ele tinha sentido e ainda sentia.

Falava-lhe já dos soldados africanos que com ele tinham combatido e sentia-os próximos, sentia uma saudade inexplicável daquelas noites no planalto, à luz da vela, tentando perscrutar para além do negro da mata que os rodeava.

A única coisa que naquele momento o ligava àquele balcão era a cerveja e a sua presença física, porque tudo o resto que era o seu ser, se tinha transportado para a Guiné.

Falava de rajada, as palavras lançadas para a frente como facas, a incompreensão das vidas ceifadas tão novas, misturadas com uma noção de dever ainda tão arreigada, mas sobretudo o pensamento de que estava a falar para nada, que estava a falar para ninguém, porque afinal ninguém queria ouvir o que estava a contar.

Primeiro porque pela expressão do outro, percebia a incredulidade com que o ouvia, pois deveria parecer-lhe que ele estava a descrever um qualquer filme americano de guerra.

Um Oficial do Exército Português em pleno uso das suas faculdades mentais. Até o Dick prefere ignorar, olhando para o lado.

Depois, porque percebia também que o outro não queria ser incomodado com algo que podia ser verdade, muito verdade, e se assim fosse teria de ser objecto de uma reflexão que ele, o outro, não queria fazer.

Era essa a sensação que tinha desde que tinha regressado da Guiné!
Os que por aqui estavam e viviam as suas vidinhas, não queriam saber!
Tinha regressado bem? Estava vivo?
Ainda bem! Mas agora escusava de vir contar histórias de uma guerra longe, muito longe, que não tinha nada que vir afectar as suas vidas.

Por um lado as palavras sobre a guerra saíam da sua boca, mas por outro lado o pensamento insistente de que estava a dar uma seca ao outro, que não queria acreditar no que contava, que não queria incomodar-se com guerra nenhuma, cada vez mais era premente na sua cabeça.

De repente calou-se e olhando para o outro perguntou:

- Você não acredita em nada disto pois não?

O outro abriu um sorriso, e numa expressão amigável disse:

- Eu logo vi que o amigo estava a brincar! Mas gaita que você tem cá uma imaginação!

Olhou-o então nos olhos e disse-lhe em tom pausado, mas firme:

- Também eu pensava assim quando lá cheguei, e até ouvir e sentir os primeiros tiros a passarem ao meu lado. Só então tomei consciência que aquilo era uma guerra onde morria gente. Não se preocupe com isso, e vamos beber outra cerveja.

Num instante olhou para o lado contrário, para que o outro não visse a lágrima teimosa que lhe rolou pela cara abaixo.

Estava no seu país, e ninguém o conhecia, ninguém queria saber o que tinha passado.
Era um estranho na sua própria casa!

Monte Real, 31 de Janeiro de 2011
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 11 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7592: Blogpoesia (105): P'rá vala, p'ra vala (Joaquim Mexia Alves)

Vd. último poste da série de 3 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7712: Blogoterapia (174): Posso decepcionar os amigos, mas não os camarigos (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P7713: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (55): Na Kontra Ka Kontra: 19.º episódio




1. Décimo nono episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 2 de Fevereiro de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


19º EPISÓDIO

- Nosso Furriel, o que estou a pensar fazer, o senhor não pode fazer por mim, e como deve imaginar não é ir à orla da mata.

O Furriel afastou-se e o Alferes pensando alto:

- Onde eu vou arranjar uma vaca? Tenho que falar com o João.

Depois de uns momentos a ordenar as ideias, levantou-se e foi procurá-lo para os lados da sua morança, perto do mangueiro, no centro da tabanca. Quando o viu chamou-o à parte e disparou:

- João onde posso arranjar uma vaca?

- Uma vaca? Para que é que o Alferes precisa de uma vaca? Com um cabrito, a sua tropa governa-se dois ou três dias.

- João, João, já se esqueceu da nossa conversa sobre casamentos em que me disse que com uma vaca e uns cabritos se podia “comprar” uma bajuda?

- Ah, então é isso? Desculpe. E pelo que me parece, trata-se da bajuda Asmau. Estou certo? Sempre se quer casar com ela? Quer que o ajude a falar com o chefe Adramane?

- Não, obrigado, eu próprio falarei. O meu único problema, como já disse, é onde vou arranjar uma vaca para dar ao pai da Asmau se ele vier a concordar com o casamento.

- É muito simples Alferes… Quando se fala numa vaca é a mesma coisa que falar no “patacão” que uma vaca vale. O pessoal por aqui dá aos pais das bajudas vacas e cabritos porque é o que tem. Se tivessem dinheiro escusavam de pensar no gado. O Alferes combina com Adramane quanto ele quer e paga-lhe tudo em dinheiro. Além do mais, para ele, que não tem vacas, seria uma grande preocupação ter que tratar só de uma.

Vacas que não são do Adramane.

- Compreendi tudo João. Diga-me só mais uma coisa: Por aqui quanto custa uma vaca, para poder pagar em dinheiro ao Adramane?

- Por mil “pesos” já é bem paga. Quanto aos cabritos uns cinquenta “pesos”.

- Obrigado, João, até logo. Se vier a precisar da sua ajuda, procuro-o.

- Alferes, não se vá já embora pois ainda lhe quero dizer mais umas coisas que é capaz de não saber: Quando for fazer o pedido da bajuda ao Adramane, como eles são muçulmanos não lhe pode levar, como é costume, uma bebida alcoólica como prenda, mas neste caso deve levar uma porção de cola.

- E onde vou arranjar, de hoje para amanhã, a cola?

- Se quiser esperar dois ou três dias, o pessoal como tem que ir a Galomaro, ao comerciante “Regala” fazer algumas compras, podem trazer-lhe a cola mas se não quiser esperar, como eu penso, posso emprestar-lhe alguma e depois dá-ma.

- Agradeço isso. Agora vou mesmo embora. Até logo.

Afasta-se e vai novamente sentar-se na mesa das refeições, de onde se avistavam quase todas as moranças. Via portanto quase tudo o que se passava na tabanca. Alguns dos seus homens, juntamente com milícias, transportavam terra para cima dos abrigos. Outro grupo, que estaria de folga, jogava às cartas na sombra de uma morança, tendo um “pilão” virado ao contrário, como mesa. As mulheres iam e vinham da fonte transportando água. Reparou nos poucos miúdos e bajudinhas que havia na tabanca. Enquanto brincavam iam chupando o miolo das “kabaseras” fruto dos embondeiros, de difícil acesso por se situarem muito alto nas árvores. O vendaval da noite anterior fê-los cair, tendo os miúdos aproveitado essa dádiva da natureza.

Uma Kabasera inteira, outra aberta vendo-se o miolo e
também as sementes depois de chupadas.

Embora longe, a dada altura não teve dúvidas que, num dos extremos da tabanca, a Asmau tinha saído da sua morança e por um carreiro se dirigia provavelmente para a fonte. Era uma oportunidade que tinha para estar com ela, pelo menos para a acompanhar até à fonte. Não se mexe. Continua sentado, seguindo-a com o olhar, apreciando as suas formas perfeitas que a distinguia das demais. Em determinada altura nota que ela olha na sua direcção e então, aí sim, aproveita para lhe acenar com o braço, tendo sido correspondido. Naquele momento foi quanto bastou ao nosso Alferes. Sente-se nas nuvens. Tinha sido correspondido.

Não podia dispersar as ideias. Tinha que pensar na estratégia a usar quando fosse falar com o pai dela. Tudo dependia disso, por mais que ele gostasse da Asmau e ela do Alferes. Tudo estaria nas mãos do Chefe Adramane. Estranhos costumes, que tinham que ser respeitados.

Ao fim de algum tempo chegou a uma conclusão: Pura e simplesmente não havia estratégia, ou melhor, o que havia a fazer não era mais do que rapidamente ir falar com o Adramane, perguntar-lhe se podia casar com a filha e quanto queria de “dote”, saindo da incerteza que o andava a consumir.

Num ímpeto, levanta-se e olhando na direcção da morança do Chefe de Tabanca, como que estabelece o azimute para rapidamente lá chegar. Não chega a dar meia dúzia de passos. Para, estático, qual cão da pradaria pressentindo o perigo.

Com algumas ordens dadas em alta voz aos seus camaradas que estavam mais perto, inflecte o sentido da marcha que tinha iniciado e dirige-se a correr para a sua morança. Iria buscar a G3 e colocar o cinturão onde tinha sempre colocados quatro carregadores de munições e três granadas?

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7707: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (54): Na Kontra Ka Kontra: 18.º episódio