Foto nº 1
Foto nº 2
Foto nº 3
Foto nº 4
Foto nº 5
Guiné > Álbum fotográfico do ex-Alf Mil PCT João José Alves Martins (1967/1970)... De total de cerca de duas centenas magníficas fotos da Guiné (obtidas a partir de diapositivos), e que estão disponíveis no mural da sua página no Facebook, tomámos a liberdade de selecionar, editar e publicar 5, numeradas de 1 a 5... Com a devida vénia, ao autor, bem entendido.
Aqui vão as legendas: Na foto nº 1, temos o nosso artilheiro no BAC1, em Bissau, em 1967; na foto nº 2, posando junto aos obuses 8.8 cm, no BAC1; na foto nº 3, vemos uma série e obuses 10.5 cm; na foto nº 4, três peças de artilharia 11,4 cm (vulgarmente confundidas pelos infantes com os obuses 14), aguardando embarque para o interior na Guiné; e, por fim, na foto 5, pode ver-se o difícil transporte, em picada, de uma peça 11.4, a caminho de Nova Lamego...
Fotos: © João José Alves Martins (2011). Todos os direitos reservados.
1. João José Alves Martins, residente em Lisboa, é um dos nossos mais recentes amigos do Facebook (Tabanca Grande, Luís Graça, Guiné). Ele próprio se apresentou, ontem, nestes termos:
Agradeço terem aceitado o meu pedido de amizade. A Guiné e os portugueses guineenses, porque a Guiné era território português quando a conheci, ficaram-me no coração. O meu testemunho vale o que vale, mas porque o que se pretende com esta página é precisamente a junção de testemunhos, independentemente de opiniões políticas ou religiosas que todos temos, não posso excluir-me de dar o meu, até porque em minha opinião é muito rico.
Entrei no COM em Mafra, em Janeiro de 1967, era o soldado-cadete nº.003251/65. No 2º trimestre tirei a especialidade PCT [, Posto de Controlo de Tiro,] em Vendas Novas, no 3º trimestre fui colocado no RAP 3, na Figueira da Foz, onde estive até embarcar já como Alferes Miliciano de Artilharia, no navio Alfredo da Silva, juntamente com outros dois alferes, rumo a Bissau, onde chegámos em 19 de Dezembro de 67.
Na Bataria de Artilharia de Campanha [BAC] nº 1, unidade de recrutamento da província com cerca de 25 pelotões de soldados de todas as etnias, espalhados por muitos dos aquartelamentos do território da Guiné, fomos recebidos pelo Comandante da Unidade, um capitão do quadro, que, depois de nos ter perguntado quais as nossas pretensões, em que eu resolvi solicitar as férias em Agosto, na Metrópole, para poder gozá-las na praia, me mandou vestir o camuflado e informou-me que estava um pelotão com três obuses 8,8 numa LDM com destino a Bissum-Naga, à minha espera.
Era quase Natal e as duas operações programadas foram designadas por "Bolo Rei" e "Cavalo Orgulhoso". Em Bissum, era frequente entrarmos em acção, inclusivamente durante a noite, pelo que dormia com o camuflado vestido, eramos atacados com alguma frequência, flagelação que também incluía a povoação que tínhamos que defender.
Em Julho [de 1968], vim de férias, e no regresso deram-me um outro pelotão, agora com três peças 11,4 rumo a Piche. Passámos por Bambadinca, Farim, Nova Lamego e finalmente Piche, que foi o único aquartelamento onde não conheci a dureza dos combates e onde se estava relativamente bem o que me levava a aventurar-me, passeando "inconscientemente e perigosamente" pelo interior da Guiné, mas contactando populações extremamente amigáveis, como são os fulas e os futa-fulas.
Nada indicava haver perigo no contacto com as populações. Mas ele era real porque havia um grande esforço de "mentalização e educação" com o objectivo de virar as populações contra os portugueses por parte do PAIGC. Era mais do que óbvio, a excelente acção que os nossos missionários desenvolveram na medida em que as populações sempre nos receberam de braços bem abertos, o que, segundo melhor opinião, ainda deve acontecer nos dias de hoje, apesar de toda a propaganda soviética e americana através do KGB e da CIA, durante a "Guerra Fria" em que se confrontavam pela influência e maior domínio à escala mundial, no seu esforço imperialista e expansionista.
Também é verdade que os portugueses, noutras eras, em que os valores os tornavam unidos e fortes, se lançaram numa grande e valorosa expansão, enfrentando grandes perigos, e "edificaram" um grande império. Mas eram homens de outra têmpera e com outros valores e sentido da Pátria. Que, conforme alguns afirmam, nos dias de hoje, se encontra à venda. Talvez os chineses a queiram comprar...
Depois de umas férias, mandaram-me para Bedanda, onde se encontravam um pelotão com três obuses 14 e a Companhia de Caçadores 6, do recrutamento da província, pelo que éramos uma dúzia de brancos a conviver com centenas de africanos, distribuídos por, um pelotão de artilharia, uma companhia de naturais da província e todo um aglomerado de africanos que tínhamos o dever de defender.
De Bedanda, partimos para Guilege em LDM, com desembarque em Gadamael Porto, onde, no rio Cacine, cheguei a tomar umas ricas banhocas, e recordo a simpatia extrema daquela população. Na verdade, senti em muitos guineenses uma maneira de ser e de conviver que gostaria de encontrar em alguns portugueses com responsabilidades políticas e com a responsabilidade da governação, mas que estão muito longe de estarem à altura das suas responsabilidades e, muito menos, com o discernimento necessário à defesa da nossa pátria.
Seguiu-se Guileje. Foi o local que mais me custou. O morteiro 120, fazia tal barulho que impunha muito respeito. Aliás, quando cheguei, observei uma flecha de um obus que tinha sido partida por uma morteirada. Impunha respeito.
No final da minha comissão ainda conheci Bigene e Ingoré no norte da Guiné, junto ao rio Casamança. Foram uns locais com perigo assinalável, mas, para além disso, bastante agradáveis.
Regressei à Metrópole em 1 de Janeiro de 1970, tendo passado três Natais e três fins de Ano na Guiné que muito me custaram. Agradeço à intervenção Divina o facto de não ter ficado por lá, tantas foram as vezes em que isso podia ter acontecido. O PAIGC chegou mesmo a noticiar na rádio terem-me abatido...
2. Comentário de L.G.:
Na qualidada de fundador, administrador e editor deste blogue bem como da nossa página no Facebook, compete-me saudar a tua aparição. Tens um currículo impressionante como ex-combatente na Guiné, tendo tu passado por sítios aqui representados por diversos camaradas de diferentes épocas: Bissau, Bissum-Naga, Piche, Bedanda, Gadamael Porto, Guileje, Bigene, Ingoré... Temos também aqui camaradas com a tua especialidade (que, de resto, eu desconhecia, a de PCT).
Enfim, deixa-me saudar-te também por outra coisa que temos em comum, o Instituto Superior de Economia (ISE), onde estudei no meu 2º ano da licenciatura de ciências sociais, em 1976/77, antes de seguir para o 3º ano de sociologia do ISCTE. Bom, e já que és um apaixonado por São Martinho do Porto, deixa-me ainda dizer-te que também há uma Tabanca de São Martinho do Porto, filial da Tabanca Grande... (Costuma reunir-se uma vez por ano em Agosto).
Julgo que aceitarás, de bom grado, o convite para integrar este blogue, de que a nossa página do Facebook é uma extensão. A nossa Tabanca Grande tem um conjunto de 10 regras que deve inspirar, mais do que regular, o nosso comportamento enquanto membros desta comunidade virtual de amigos e camarada Guiné.
Podes lê-las na coluna no lado esquerdo do nosso blogue ou aqui, neste poste, P8588, na série O Nosso Livro de Estilo. São também regras que os editores, autores e comentadores devem respeitar e fazer respeitar no dia a dia. Tarefa que nem sempre é fácil, sabendo-se que no nosso blogue há 3 coisas que não devem entrar em (ou não devem perturbar) as nossas relações: a política (partidária), a religião e o futebol... Refiro-me às nossas, naturais e saudáveis, diferenças a nível político, filosófico, religioso, étnico ou clubístico... O que nos une é a nossa vivência na Guiné, que conhecemos grosso modo entre 1961 e 1974...
João, fico aguardar a formalização do teu pedido (neste caso, o pedido para a entrada no blogue). E até lá desejo-te um bom ano de 2012, com saúde e com motivos para continuarmos, tu, eu e todos nós, a acreditar nesta terra, neste povo, neste planeta e nesta humanidade, que são os nossos... Um Alfa Bravo. Luís Graça _________