1. O nosso Camarada José Belo, ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381,Ingoré,
Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada,
1968/70, enviou-nos a seguinte mensagem com data do dia 25 do corrente mês.
Caros
Amigos e Camaradas:
Em
quase todos nós, e com o passar das décadas, vai havendo uma subtil
substituição das recordações dos momentos violentos da guerra por nostalgias
bem mais saudáveis.
As
proximidades várias que ainda hoje sentimos com aquele país terão muito a ver
com o "privilégio" que muitos de nós tiveram de viver longos períodos
de tempo em Destacamentos isolados, em Tabancas perdidas no mato, o que criou a
oportunidade única de viver o dia-a-dia (verdadeiro) de muitas daquelas gentes.
Os
que têm tido a oportunidade de revisitar a Guiné-Bissau acabarão por lá "reencontrar"
o que os seus corações querem sentir (*) Viagens em busca "do que
era" com uma menor atenção para o país... que é!
O
país que hoje é a Guiné não poderá ser descrito com o grito do coração:"A
má reputação da Guiné-Bissau fora de portas nada tem a ver com a realidade
guineense". (Não sendo no entanto difícil de se concordar quanto à
afabilidade e hospitalidade do seu povo).
A
Suécia, a ser suspeita na sua Política de Estado para com a África, o será por
uma parcialidade (quase até à data!) para com a Guiné-Bissau. Aquando da
guerra, os apoios em material escolar, sanitário, propaganda na rádio, TV e
jornais, a somarem-se a uma acção contínua por parte de todo o aparelho
Diplomático da neutral Suécia nas Nações Unidas e na maioria das organizações
internacionais, não encontra correspondência em qualquer outro país ocidental.
Depois
da independência as verbas enviadas para auxílios vários à Guiné ultrapassaram
em muito qualquer outro auxílio internacional. Actualmente tudo tem sido
revisto à luz de este país se ter tornado, como descrito pelas Nações Unidas,
"em uma das maiores plataformas no transporte de drogas para a Europa
tendo-se deixado corromper a todos os níveis sociais e instituições, sejam elas
governamentais, aparelho de justiça, forcas armadas ou funcionalismo. (Para os
mais interessados numa perspectiva mais profunda das realidades actuais
guineenses recomenda-se a leitura do "Plano-Quadro das Nações Unidas de
Apoio e Desenvolvimento-PNUAD-Guiné-Bissau/2008-2012).
Serão
também importantes as leituras dos relatórios do UNODC-"Escritório da Nações
Unidas contra a Droga e Crime” que é um Plano de Acção Regional na abordagem ao
problema crescente do tráfego ilícito de drogas na África Ocidental
2008-2011.Assim como o "Plano-Quadro das Nações Unidas sobre a África como
centro da rede de narcóticos ilegais da América do Sul para a Europa.
A
UNODC forneceu verba avultada para auxiliar a criação de um plano nacional antinarcóticos,
e para a reforma de todo o sector de segurança da Guiné-Bissau e Costa
Ocidental Africana. Estabeleceram-se também parcerias, e união de esforços,
entre a UNODC e o Escritório das Nações Unidas Contra a Droga e Crime (DPKO),
assim como o DPKO-Departamento das Nações Unidas para Assuntos Políticos, e com
o UNOWA-Escritório das Nações Unidas para a África Ocidental, e a ECOWAS-Comunidade
Económica dos Estados da África Ocidental.
A
INTERPOL está também ligada a todo este esforço regional. Infelizmente para os
que - como eu - têm trabalhado décadas junto dos apoios estatais suecos à Guiné
Bissau assim como nas Nações Unidas, a extensão do problema tem vindo a afastar
muitos dos apoios importantíssimos para uma continuidade de auxílios tão
necessários. Tudo demonstrando que..."a reputação da Guiné fora de
portas..."
J.Belo/Estocolmo
25 Jan.12.
__________
Nota
de MR:
(*)
Vd. poste de 23 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9391: Turismo de saudade (1):
Gostei de voltar à Guiné e ver pessoalmente algumas melhorias, mas a Guiné
precisa de muita estabilidade para atingir o tão benéfico desenvolvimento (José
Francisco Borrego)
(**) Último poste da série > 15 de
Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9357: Da Suécia com saudade (33): A guerra
da Guiné vista de uma certa retaguarda (José Belo)

























