terça-feira, 5 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12254: Os nossos seres, saberes e lazeres (60): O livro Baladas de Berlim, de J.L. Mendes Gomes, Lisboa, Chiado Editora: O "pequeno grande segredo" do poeta...



Lisboa > Livraria Bar Les Enfants Terribles > Cinema King > 2 de novembro de 2013 > 19h00 > Sessão de lançamento do livro de poesia do nosso camarada J. L. Mendes Gomes, "Baladas de Berlim" (Lisboa: Chiado Editora, 2013, 229 pp> coleção Prazeres Poéticos; preço de capa: 15€). O poeta falando de si e da sua obra... Muito compenetrado do seu papel e algo emocionado... Enfim, a revelação de um "pequeno grande" segredo...



Lisboa > Livraria Bar Les Enfants Terribles > Cinema King > 2 de novembro de 2013 > 19h00 > Sessão de lançamento do livro de poesia do nosso camarada J. L. Mendes Gomes, "Baladas de Berlim" > O poeta e o seu filho mais velho, Paulo Teia, padre jesuíta. É um jovem que atingiu o estado da sabedoria. Disse, entre muitas outras revelações interessantes para se compreender o "making of" deste livro de poemas, bem a personalidade e o talento do autor, que um jesuíta é um "contemplativo em acção".  O lado contemplativo, conventual, herdou do pai, jurista.  O lado proativo e prático veio-lhe da mãe, bióloga, verdadeira âncora da família... Os filhos são quatro.A intervenção do Paulo Teia tocou-nos a todos e deixou o pai... babado!



Lisboa > Livraria Bar Les Enfants Terribles > Cinema King > 2 de novembro de 2013 > 19h00 > Sessão de lançamento do livro de poesia do nosso camarada J. L. Mendes Gomes, "Baladas de Berlim" > Aspeto geral da mesa: da direita para a esquerda, a representante da editora (que publica 40 obras por mês, a maior parte de autores portugueses), o Paulo Teia (. filho do poeta), o autor (J. L. Mendes Gomes) e o apresentador da obra, Luís Graça. (A intervenção que fez será aproveitada para a série "Notas de leitura").



Lisboa > Livraria Bar Les Enfants Terribles > Cinema King > 2 de novembro de 2013 > 19h00 > Sessão de lançamento do livro de poesia do nosso camarada J. L. Mendes Gomes, "Baladas de Berlim" > Um aspeto da assistência: em primeiro plano, à esquerda, a Irene e o Virgínio Briote, nosso coeditor... jubilado. Foi uma agradável surpresa.  Eles moram ali na zona.


Fotos (c/ a ajuda da Irene) © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do nosso camarada J.L.Mendes Gomes, com data de 3 do corrente


Assunto: Lançamento das Baladas de Berlim

 Notas sobre o lançamento do meu livro de poemas Baladas de Berlim, Lisboa, dia 2 de Novembro de 2013, pelas 19 horas

Meus caros Amigos

Sinto o dever e o prazer de vos contar como tudo correu, ontem. Naturalmente que ficaria muito mais contente se vos tivesse visto lá. Mas, a vida é exactamente assim.

Quando agendei o dia, preocupei-me com a maior disponibilidade do dia de Sábado, mas esqueci essa circunstância incontornável de este Sábado estar inserido nas nossas ricas vivências de recordação dos nossos... Apesar de poucos, posso garantir-vos, sem pecar por excesso, que tudo correu maravilhosamente.

Desloquei-me para o local de forma a chegar um pouco antes. A sala da Editora fica inserida no edifício e interior do cinema King, em Lisboa. É suficientemente espaçosa, muito acolhedora. Um ambiente muito digno e apropriado. As paredes, recheadas de estantes com exemplares das obras recém-editadas por ela. De todos os géneros literários.

Um razoável painel de cadeiras para a assistência. Com a mesa dos interventores. Um bar, ao fundo, também muito acolhedor.

A sala estava repleta. Porque decorria o lançamento duma obra. A sensação foi-me muito agradável. Pus-me a ouvir um pouco.

Entretanto, chegou o meu Amigo Professor Luís Graça. O dono do magnífico blogue sobre a guerra da Guiné, Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Apesar de o conhecer há meia dúzia e anos, era a primeira vez que nos encontrávamos tête-à-tête...ao vivo. Foi uma grande alegria. Saímos para um patamar e ficamos a trocar aquelas coisas todas que se guarda há muito com  vontade louca de partilhar...

Entretanto, foram chegando alguns amigos. E ficamos à espera pelo fim dos habituais autógrafos da autora da obra apresentada.

Até que, avancámos nós. Tenho de avançar já que ontem, vivi um dos dias mais felizes a munha vida. Tomamos os nossos lugares. A representante da Editora falou da Editora e, a seguir, fui eu.

Não me arrisquei a falar de improviso...o peso era muito...Por isso escrevi umas palavras que, sem vos querer maçar aqui vos deixo. Depois de registar, como for capaz, a minha vivência do que se passou.


Ambos os oradores [Luís Graça e Paulo Teia] foram magistrais no que disseram , na forma e substância. Ambos são homens cultos...

O Luís Graça, professor de sociologia da saúde,  com um admirável currículo, e ainda em exercício, com toda a simplicidade que lhe é peculiar, fez uma deliciosa exposição em traços breves mas expressivos, com rigor exacto, sobre o meu livro e a minha pessoa... que muito me surpreenderam, agradavelmente.

Trouxe ao de cima, aspectos muito interessantes, como só um sociólogo pode fazer. Em traços mágicos, desnudou-me a mim e ao livro, com exactidão e fundamento, demonstrando saber mais que eu do que ia dizendo... Fquei maravilhado...

O meu filho [o padre jesuita Paulo Teia] ...apesar de filho...com o rigor e a objectividade...que os jesuítas, normalmente têm...arrasou-me!...Completando a exposição antecedente, com os olhos muito perspicazes, de quem, sem lhe escapar nada, me conhece, desde o seu berço...Disse coisas lindas...ficam gravadas no meu coração. Tenho pena de as não poder partilhar...

E então, aqui fica o que eu li.

Meus caros amigos

O meu profundo e sentido obrigado por terem vindo. Alguns de vós eu conheço de perto. Por laços de sangue. Por laços de trabalho. E até da guerra. E os demais, através dessa admirável maravilha que é a Internet. Outros mais, tenho a certeza, aqui quereriam estar. Mas a distância e a força da vida os impediu.

Passe a imodéstia. Tenho dois blogues pessoais onde registo o que vou escrevendo. Espalhados por todo o mundo. Desde os EU à Rússia, à Alemanha, ao Reino Unido e ao oriente. Tenho centenas de visitas registadas, no dia a dia. Também isso me confirma e me regozija. A todos presentes eu agradeço. Permitam-me porém, que realce dois deles: Um é o Sr. Prof. Doutor Luís Graça. Outro é este rapaz precioso, que é meu filho...e fez questão de aqui estar.

O Professor Luís Graça é um sociólogo, docente em actividade, na Escola Nacional de Saúde Pública em Lisboa, com um currículo notável de trabalhos, no terreno. Foi sargento miliciano na guerra da Guiné. E foi por essa circunstância que, felizmente, entrou no mundo dos meus amigos.

Desde há cerca de 10 anos vem conduzindo e alimentando um blogue sobre a guerra da Guiné, com uma riqueza incalculável. A história o dirá. Agremia nele a colaboração de todos os ex-combatentes, ainda vivos, que ali vêm depositando o relato vivo das suas experiências naquela experiência única e irrepetível. Por onde passaram aas amarguras da maior parte das famílias portuguesas, de norte a sul. Testemunhos palpitantes de emoção e colorido. Que pintam aquelas páginas vividas, e que se não fosse esta feliz iniciativa, ficariam sepultadas no esquecimento absoluto. Tem sido alfobre de informação de muito estudo, em teses de doutoramento.

Isto é parte da sua obra. Mas, tão admirável é, senão mais, a craveira exemplar , insuperável, de sabedoria, delicadeza, equilíbrio e atenção, com que Ele o orienta. E assiste, diariamente. Para além dos seus notáveis contributos pessoais, em posts brilhantes que, ali, ficarão para a história, Éle é um árbitro atento e rigoroso, nos diferendos que, naturalmente, se vão levantando. Cada par de olhos tem sua própria perspectiva, sobre os mesmos factos...e daí surgem inflamadas posições que ele, sabiamente, arrefece.

Foi aí que o conheci. E é daí que vem uma grande amizade e admiração que lhe dedico. E a prova , dum lado e doutro, aqui está registada com esta presença que muito me honra e alegra.

Do outro, apenas, sublinho que é o meu filho primogénito. Além de ser um jovem e promissor sacerdote jesuíta, É o primeiro selo, dos quatro que guardo, a confirmar o amor que nasceu dessa minha passagem pela Guiné, onde fui acompanhado de perto, por sua Mãe, minha madrinha de guerra...Infelizmente, não pôde estar aqui presente...

Do Doutor Luís Graça... Do meu filho... Confesso sinceramente que nunca esperei chegar aqui...
O destino tem dessas surpresas. Umas, de dor... outras gostosas. Como esta. Quem as não tem?

Todos temos nossos talentos. O que é preciso é confiar e se entregar a eles , de alma e coração. E, na devida hora, o fruto vem. Não resisto a revelar-lhes um pouco do que se passou comigo.

Nasci há umas boas dezenas de anos, duma família modesta, muito honrada, numa aldeia do Norte. Tão modesta como ela. Foi em Varziela, no concelho de Felgueiras. Uma terra verde, nas várzeas férteis de Entre-Douro e Minho. Túrgidas de vinho verde e milho loiro. Grassava a guerra no centro da Europa.

Por via dela, as condições de vida eram muito escassas. Meu pai era alfaiate. Minha Mãe, distribuidora do pão que, de canasta à cabeça, ia buscar, inverno e verão, à padaria da Vila. Passava toda a manhã a palmilhar a freguesia, com o pão à porta.

Depois, além das tarefas próprias duma Mãe doméstica, acompanhava o meu Pai na oficina, em labor constante, de sol a sol...muitas vezes, pela noite dentro.

Fiz a primária como qualquer miúdo. Fui pé descalço, de sacola ao ombro. Para a escola e para a catequese cristã. No meu mundo, de criança, só havia a escola e a igreja e o rol de festas, à sua volta. E um deambular feliz, muito responsável, nas brincadeiras, livremente, por aquelas matas, procurando ninhos, caçando pássaros. Com os colegas do meu lugar. Com eles aprendi muito da vida. Que nunca mais se esquece....

Fui um aluno aplicado e estudioso. Queria ser alguém..desde miúdo.
- Estuda muito e sempre, - me diziam  meus Pais que, muito cedo, Deus os quis levar.

Seduzido pela figura ímpar do velho abade, a quem ajudava à missa, quis ser padre. O seminário, porém, custava caro e meus Pais não tinham dinheiro para mo pagar. Não foi por acaso. Surgiu um benfeitor que se propôs custeá-lo. Graças a ele,

Entrei no seminário do Porto, em 1952. Subi, nele, a escada...para ver mais longe. Aí, recebi a sólida e rica formação escolar de que sempre vivi. Quando se avizinhava a hora de subir ao altar, no mundo da teologia, dei comigo numa encruzilhada muito difícil de eu escolher.

Escolhi deixá-lo. Aos vinte anos, vi-me sozinho, com a vida à frente. Sem ambos os Pais. E uma vontade tenaz de vir a ser alguém.

Naqueles tempos, todos os estudos que tinha, só me valeram a parte de letras do quinto ano de liceu. Fui prefeito num colégio para poder recuperar o que me faltava para entrar na faculdade.

Eis que a tropa se intrometeu pela frente. Irresistível. Com a guerra do ultramar à espera. Fiquei miliciano em Mafra e, em Agosto 1964, embarquei para a Guiné. Foi uma experiência dura, mas muito rica. Me serviu para a vida.

Uma vez regressado, por sorte, com o corpo inteiro, fiz-me ao caminho e, já casado, a trabalhar e com três filhos, consegui o curso de direito. Dele vivi, completamente absorvido, até à reforma, em 1999.

Aí, senti-me de novo, como um recluso , julgo eu, que cumpriu pena e sai em liberdade. E toda a agilidade que desenvolvi, ao longo de anos, por dever de ofício, na arte de escrever peças jurídicas, onde imperava o rigor conciso e a densidade do pensamento, se orientou, naturalmente, para a arte incipiente de escrever e publicar.

No Diário de Notícias, dei os primeiros passos, com notas breves sobre o que ia vendo. Colaborei em vários semanários regionais. Como participante certo e reconhecido. Foi então que ensaiei, com muito gosto, a minha auto-biografia parcial, para deixar aos netos. Com os o título de " Filhos de Pedra Maria".

Escrevi contos. Escrevi quadros vivos com retalhos do passado da minha aldeia. A desenvoltura natural com que escrevia, surpreendeu-me e fez-me pensar, naturalmente, noutras paragens. Com que nunca sonhara.

Foi então que eclodiu a bomba atómica do prémio Nobel do Saramago. Para mim, apenas um desconhecido ilustre, escritor e jornalista. E aqui, tenho de vos pedir toda a vossa compreensão ..não vai chegar...para a minha imodéstia, mesmo atrevida. E perdoem-me a revelação deste segredo que só agora, me atrevo a revelar...

Foi só então que eu tomei conhecimento do seu percurso. Com muito espanto, vi que aquele homem, de origem ainda mais humilde que a minha, como todos sabem, apenas recebeu as luzes ténues dum curso oficinal nocturno, pasme-se...de serralharia mecânica!... Onde a literatura e arte de escrever, não seriam, por certo, de realçar. E que foi sozinho e por seu pulso que ele aprendeu tudo o que sabia, se tornou um sábio, nas salas de leitura duma biblioteca pública, ao Campo Pequeno.

Aí, fui acometido por este pensamento, tão atrevido que me deixa envergonhado:
-Se aquele indivíduo chegou, apenas por si, onde chegou...eu que me fartei de receber ensinamentos de toda a ordem, e os assimilei, com este avanço, não ficarei para sempre, um tíbio estudante e um ingrato cobarde do que me ensinaram...

Não mais esqueço. Foi como que um relâmpago, que estonteou e fez sonhar, como nunca sonhara.
E a partir daí, senti-me na obrigação de escrever. Tinha todo o tempo do mundo ao meu dispor. Sentia-me livre. Tudo me servia para escrever...como em vertigem. Veio um romance..e depois outro..e mais outro. Estão na gaveta...

Da poesia pura, só me restava a profunda admiração que aprendi nas aulas mestras de bons professores que Deus me deu. A quem agradeço. Muito reconhecido.

Uma tarde, entre tantas, estava eu, à espera, ao volante do meu "Corsa" frente ao Instituto onde trabalhava minha mulher, que nunca tinha horas certas para sair...e lembrei-me de tentar escrever um poema....

Sobre quê? Puxei dum caderninho que me acompanhava sempre, olhei para o lado, e vi um comboio amarelo, parado na estação de Algés. E foi sobre ele que, ali, saíram, dum só fôlego todos os versos do meu primeiro poema. A que chamei "O Comboio amarelo de Cascais"...

Confesso que fiquei estupefacto e comovido... Posso lê-lo?---

O COMBOIO DE CASCAIS

O comboio amarelo de Cascais não é como os demais, não é:
Vai do Cais do Sodré,
de braço dado,
com o Tejo ao lado,
até Cascais.

Reza a lenda
que o Tejo, perdido,
à procura do mar,
mal chegou, cansado, ao Cais do Sodré,
se quedou, pasmado,
a admirar Lisboa, ali ao pé.

Não avançou. Alargou…
até Cacilhas, ao Seixal, Barreiro e ao Montijo.
Foi beijar a Moita, distante…
Alagou, fez-se mar…
E, ufano, pôs-se a olhar Lisboa…
Olhou, olhou…
e esqueceu o mar!….

Viu o Castelo, verde, à proa;
viu luzir Alfama
e fumegar a Madragoa.
Viu a Sé e a Estrela a rezar.
Viu Lisboa… tão bonita !…

Vieram gaivotas, caravelas e canoas.
Vestiu-se d'ondas verdes e brancas
E começou a cantar…
Fado e loas,
de fazer chorar…
Lisboa.

Às terras secas de Espanha
jurou não querer voltar. Jamais.
O seu fado foi Lisboa:
o Castelo, Alfama, Estrela e Madragoa
e que mais…

E com ela quis casar,
depois de ir ver o mar,
no comboio amarelo de Cascais…

Almada, 25 de Novembro de 1999

Joaquim Luís M. Mendes Gomes


O meu primeiro poema foi este mesmo. Escrito, por impulso espontâneo, quando esperava, frente ao IPIMAR, em Algés, pela minha mulher. Peguei num caderno. Olhei para um comboio parado na estação de Algés... e pus-me a escrever.

Saíu exactamente assim. No fim, desatei a chorar... Dias depois, havia um programa cultural, na antena dois. De Fernando Nobre, onde se lia sempre um poema ao encerrar. Mandei-o para lá num fax...uma tentativa e prova de fogo. Um dia, recebi um telefonema. Era Daniela Gomes a dizer-me que meu poema seria lido nessa manhã. E assim foi. Gravei e, de vez em quando se me apetece chorar, me ponho a ouvi-lo na voz daquele senhor que além do mais, sabia dizer muito bem poesia...

Senti-me confortado. E passei a escrever...escrever...tudo servia para um poema. Voltei a mandá-los para o mesmo programa e, alguns, foram lidos. Nunca mais parei. E deu no que deu. Além dos poemas deste livro que agora sai a lume, tenho centenas deles, se calhar bem, para virem a ter a mesma sorte...

Desculpem-me. Já vai longe demais. Apenas mais duas palavras para dizer que As baladas de Berlim foram escritas numa das minhas estadias em Berlim, por grato dever de ofício, ao pé dos meus filhos que lá habitam e fazem a sua vida.

Muito obrigado.
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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de novembro de 2013 > 2 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12239: Os nossos seres, saberes e lazeres (59): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (6) (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P12253: Memória dos lugares (248): Roteiro de Bissau... nem pouco mais ou menos (Carlos Pinheiro)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Pinheiro (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), com data de 22 de Outubro de 2013:


Roteiro de Bissau*… nem pouco mais ou menos!

Ao Luís Graça que no P12188: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (26) de hoje, 22 de Outubro de 2013, agradeço a referência a este humilde escrevinhador, mas tenho que dizer que foi de algum modo exagerada.

É certo que passei ali 25 meses e 10 dias, a memória ainda se aguenta bem, mas de vez em quando já há falhanços. Faz amanhã, 23 de Outubro, 45 anos exactamente que embarquei no UÍGE para a Guiné onde cheguei a 28 de Outubro, em rendição individual mas bem acompanhado do BCAÇ 2856, de um Pelotão da PM e de muitos outros camaradas também em rendição individual.

Foram de facto 25 meses passados num cerco alargado que nunca foi para além de Brá, da Bissalanca, de Safim ou João Landim. De Bissau, de facto conheci tudo e mais alguma coisa como por exemplo todas as Unidades Militares de Bissau, incluindo o HM 241, toda a cidade, o Cais que visitava sempre que chegava barco, mas também o Cais do Pidjiguiti, a Bolola e o Cemitério, a Antula, o Bairro da Ajuda com o seu “Estádio” dos Cajueiros e até o Pilão, como a malta dizia, de dia e de noite.



Bissau – Avenida principal em 1970 (Foto arquivo do autor - Direitos reservados)


Tenho ouvido falar, e no tal Post é o caso também, de muito do comércio de Bissau e eu próprio também já tive oportunidade de o fazer. Mas penso que nunca falei da casa onde trabalhava nas horas vagas, a COSTA PINHEIRO, de um parente meu também ribatejano que tinha o estabelecimento perto da Amura e do Grande Hotel, ao lado duma casa de fotografia,  a AGFA.

A COSTA PINHEIRO era a maior casa em nome individual da Guiné. Maior do que ela só a CASA GOUVEIA mas essa era da CUF e está tudo dito.

A COSTA PINHEIRO importava tudo,  desde o camião ao alfinete. Era assim. É verdade. Era o representante da Toyota,  directamente do Japão.

Aqueles grandes camiões que vinham em quites eram montados no quintal da sede, escritório e casa do tal meu parente, na Av. Arnaldo Shulz, em frente ao Largo do Colégio Militar ali perto da PIDE. Mas eram também as carrinhas Stout, as Hilux, os Corolas e os Crowns que eram o topo de gama antes de ter aparecido o Celica, tudo Toyota.

Mas importava também a Suzuky, grandes motorizadas e até motas. Importava também a Sony, desde o pequeno rádio de bolso até aos grandes gravadores TC 500 e TC 750, todos de fita mas com um poder de gravação extraordinário e um som fantástico. Mas também importava do Japão as aparelhagens JVC Nivico e as máquinas fotográficas Fujica e os relógios Seiko.

Da França importava os gira discos Garrard, de Inglaterra toda a linha de produtos de Beleza Max Factie, da Checoslováquia as louças e porcelanas da Prago Export, dos Estados Unidos os discos da Ansónia, da Itália os Tapetes de parede da Issing Trading, de Portugal as esferográficas BIC, os sabonetes Palmolive e as Pastas Colgate.

Era um mundo aquela casa que não só vendia ao público mas também fazia revenda especialmente para alguns locais no mato.

Tantas letras das vendas a prestações das motorizadas e dos carros que eu preenchi. Tanta carta que ali escrevi para registar as motorizadas junto da Câmara Municipal de Bissau e as viaturas junto da Fazenda.


Bissau 10 de Junho de 1969 – Estádio da UDIB

Nas vésperas de avião, os serões passavam-se a escrever cartas para a Metrópole e essas cabiam-me a mim, mas também em Francês e essas era à conta da mulher do meu parente que era francesa e as que tinham que ser escritas em Inglês era ela quem as escrevia. Não havia computadores mas havia várias máquinas de escrever e de calcular ali naquela casa. E se a memória não me falha, as de escrever, eram as portuguesas Messa.

Ajudei a ornamentar e a instalar o som para festas de final do ano na Associação Comercial,  junto à praça do Império.

Ajudei a montar o Stand também na Associal quando ali foi realizada a 1ª Feira Comercial de Bissau que ali se manteve durante uma semana.

Estreei centenas de automóveis, depois de desalfandegados, a caminho do armazém.

Enfim, foram tempos passados que deixaram saudades e não voltam mais.

E as saudades ainda são maiores quando contactamos com pessoas de lá ou que lá estiveram e que nos contam a realidade de agora. Ainda ontem estive com um amigo meu, médico aqui no Centro Hospitalar do Médio Tejo, natural de Bissau,  de onde tinha regressado na véspera depois de ter passado alguns dias de férias na sua terra. Fiquei desanimado com o que ele me disse. Avenidas cheias de buracos. Falta de luz e até de água por vezes, edifícios antigos a cair, etc, etc.

Mas falámos da Manutenção Militar onde ele teve o seu primeiro emprego, do Serviço de Material ali ao lado e também do Cemitério da Bolola também ali encostado. E teve que lhe vir uma lágrima ao olho quando disse que tinha estado ao pé da campa do irmão no dia anterior.

De qualquer forma,  e apesar de tanto tempo passado,  ainda não perdi a esperança de uma dia ir à Guiné.

Isto não foi um roteiro, mas foram as recordações a virem de novo ao cimo do capacete.

Um abraço para todos os “camarigos” e já agora perdoem-me se houver aqui alguma inexactidão própria de tantos anos passados.

Carlos Pinheiro,
Torres Novas, 22 de Outubro de 2013
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 20 DE ABRIL DE 2011 > Guiné 63/74 - P8138: Memória dos lugares (152): A cidade de Bissau em 1968/70: um roteiro (Carlos Pinheiro)

Último poste da série de 27 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12209: Memória dos lugares (247): Galomaro e Cutia, ontem e hoje (António Tavares / José Teixeira)

Guiné 63/74 - P12252: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (75): O reencontro de 3 amigos e camaradas estremenhos: Eduardo Jorge Ferreira (Polícia Militar, BA 12, 1973/74), Jorge Pinto (3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) e Luís Fernando Mendes (38ª CCmds, 1972/74)


Lourinhã > Ribamar > Festa anual de Ribamar > Almoço-convívio de um grupo de amigos da região do Oeste > 14 de outubro de 2013 > Da esquerda para a direita, Luís Fernando Mendes, Eduardo Jorge Ferreira, Jorge Pinto





Lourinhã > Ribamar > Festa anual de Ribamar > Almoço-convívio de um grupo de amigos da região do Oeste > 14 de outubro de 2013 > Jorge Pinto, ex-alf mil, hoje professor de história reformado. Natural de Alcobaça, vive em Sintra.


Lourinhã >  Ribamar > Festa anual de Ribamar > Almoço-convívio de um grupo de amigos da região do Oeste > 14 de outubro de 2013 > O Luís Fernando Mendes,  servindo-se da magnífica caldeirada de peixe, encomendada pelo Eduardo, e porventura  lembrando-se da fome que rapou em Gampará, ao tempo da 38ª CCmds  (de agosto a dezembro de 1972). Natural da Atalaia, Lourinhã, vive nas Gaeiras, Caldas da Raínha,,, mas nem tem email, não vai à Net e não conhece o nosso blogue...


Lourinhã >  Ribamar > Festa anual de Ribamar > Almoço-convívio de um grupo de amigos da região do Oeste > 14 de outubro de 2013 > O Luís Fernando Mendes,  ex-fur mil, 38ª CCmds (1972/74), camarada e amigo do Amílcar Mendes.

Fotos (e legendas) © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.


1. Ainda recentemente, no espaço de 3 dias, em dois convívios consecutivos (Festa anual de Ribamar, Lourinhã, 14/10/2013; Tabanca da Linha, Alcadideche, Cascais, 17/10/2013), almocei com o Jorge Pinto, membro da nossa Tabanca Grande, natural de Alcobaça. Foi alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74).

Também tive o prazer de conviver em Ribamar com o Eduardo Jorge Ferreira,  nosso grã-tabanqueiro, natural de A-dos-Cunhados, Torres Vedras.   Recorde-se que este último foi alf mil da Polícia Aérea (BA 12, Bissalanca, 1973/74).

Um terceiro camarada, ex-combatente da Guiné, que encontrei em Ribamar, na festa anual da vila e sede de freguesia de Ribamar, é o Luís Fernando Mendes, natural da Atalaia, Lourinhã, meu conterrâneo. Vive nas Gaeiras, Caldas da Raínha, onde gere um negócio. Foi furriel mil comando na 38ª CCmds (1972/74). Em conversa com ele descobri que foi também nem mais nem menos do  que o comandante da secção a que pertenceu o nosso Amílcar Mendes, ex-1º cabo comando, e hoje taxista na praça de Lisboa, membro da nossa Tabanca Grande, desde 2/11/2005.  São, de resto, amigos e encontram-se, de tempos a tempos. Infelizmente, ele, Luís Fernando Mendes,  não conhece o nosso blogue nem tem endereço de email.

Com um pouco mais de sorte teria encontrado o meu conterrâneo, amigo e parente Horácio Fernandes. Natural de Ribamar, Lourinhã, foi padre franciscano e alferes miliciano capelão do BART 1913 (Catió, 1967/69). É  autor do livro Francisco Caboz: a construção e a desconstrução de um Padre (Porto, Papiro Editora, 2009, 187 pp.). E,  como se sabe, é também membro da nossa Tabanca Grande, desde 12/7/2013. Não o encontrei, na festa da sua terra (e terra da minha bisavó paterna e do seu bisavô paterno. que eram irmãos),  por escassas horas. Tinha, na véspera, regressado a casa, no Porto. 

Gostaria  de o poder mostrar na fotografia de grupo que publico acima. De qualquer é uma feliz coincidência encontrar 3 camaradas da Guiné,  meus amigos, conterrâneos ou vizinhos... O Jorge Pinto e o Luís Fernando Mendes estiveram, inclusive, ao mesmo tempo, na mesma região, a de Quínara, embora o Jorge mais tempo (a comissão inteira) do que o Luís (5 meses)... Também encontrei o Joaquim Jorge e outros veteranos de que falarei a seu tempo...

2. Falando há tempos com o Jorge Pinto, ele queixou-se que se escrevia  pouco sobre  Fulacunda e o chão beafada....É verdade, temos que fazer um esforço por cobrir,  de maneira mais equitativa, todo o teatro de operações da Guiné...

Está então na altura de lhe pedir que ele nos fale (como ele próprio nos prometeu, no poste da sua apresentação à Tabanca Grande),  desta parte da região de Quínara, tão mal conhecida e ainda tão pouco falada no nosso blogue (por comparação, por exemplo,  com o outro lado do Rio Corubal: Ponta do Inglês, Poindom, Ponta Varela, Xime...). 

O Jorge, que vive em Sintra e é  professor de história reformado, é a pessoa indicada por nos falar sobre esta parte do território da Guiné e das mudanças que se operaram na península de Gampará, a partir de 1972, com a contra-penetração das NT e a reconquista parcial dos beafadas no âmbito da política spinolista da "Guiné Melhor". Estava, por outro lado, em Fulacunda quando se deu o 25 de abril. Fica, pois,  aqui  o  desafio ao Jorge. Um abraço fraterno aos três.
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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12251: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (6): Escola Prática de Engenharia de Tancos




1. Com o Historial da Escola Prática de Engenharia, localizada em Tancos, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), dá por findo o seu trabalho sobre o Historial das Escolas Práticas do Exército a integrar num único grupo chamado Escola das Armas.


















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Nota do editor

Vd. postes anteriores da série de:

20 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12178: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (1): Preâmbulo

23 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12193: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (2): Escola Prática de Infantaria de Mafra

26 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12204: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (3): Escola Prática de Cavalaria de Abrantes

29 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12218: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (4): Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas

1 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12233: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (5): Escola Prática de Transmissões do Porto

Guiné 63/74 - P12250: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (6): Carta de Marga ('Nino' Vieira) a Aristides Pereira, presumivelmente de meados de 1964, em que refere um desembarque das NT em Gampará, que terá provocado a morte de "22 pessoas do povo e umas vintenas de vacas" (sic)

1. Transcrição de mais um documento do Arquivo Amílcar Cabral (*), disponível no portal Casa Comum (projeto ligado à constituição de uma "comunidade de arquivos de língua portuguesa", liderado e desenvolvido pela Fundação Mário Soares).

Trata-se  de um manuscrito, de 5 páginas, não numeradas, sob a forma de carta, entregue por mão própria, assinada por Marga (pseudónimo de 'Nino' Vieira, comandante da Frente Sul,  mais  conhecido, no seio da sua tropa,  por Caby, ou Kabi, seu verdadeiro nome de guerra) (**) em que comunica a Aristides Pereira  (no exterior, em Conacri, com o cargo de secretário-geral adjunto do PAGC) que:

(i) chegou ao chão dos Nalús [, ou seja, o Cantanhez,  região de Tombali],  depois de concluída uma  missão nas outras zonas; (ii) dá conta do desaparecimento do comandante Honório Vaz na Zona 7;  (ii) relata sumariamente  as consequências do ataque  das tropas portuguesas  desembarcadas em Gampará, dias antes de ele chegar à região de Quínara; (iv) fala de queixas do povo contra Malam Sanhá (, comissário político que tinha feito, antes da guerra, trabalho de mobilização de pessoal na região de Fulacunda, sob as ordens diretas de Amílcar Cabral); (v) manda lista de camaradas que têm cometido crimes (sic) contra a população na região  de Quinara (, já antes o problema da violência perpretada contra elementos da população por combatentes do PAIGC, se tinha levantado, no Congresso de Cassacá, realizado de 13 a 17/2/1964, no setor de Quitafine) ; e ainda (vi) refere  ataque das tropas portuguesas à base central [, presume-se. no Cantanhez

Repare-se ainda no trecho da carta em que, depopis da denúncia do Malam Sanhá e de outros camaradas sobre os quais recaem graves acusações, o 'Nino'  manifesta ao Aristides  o seu interesse em falar direta e pessoalmente, sem qualquer intermediário,  "com o Secretário Geral [Amílcar Cabral], a fim de  [expor-lhe] uns certos problemas respeitantes à n[ossa] luta". Não podia ser mais explícito: "Tenho certos assuntos que pretendo pôr ao Secretário face a face". O mesmo é dizer que secretário só há um...

A carta não tem data, mas pertence ao lote da correspondência dos responsáveis da zona sul, relativa aos anos de 1963/64 (algumas  são ainda de 1962, quando já havia ações de sabotagem e escaramuças com as autoridades portuguesas, por exemplo, o ataque, gorado,  á esquadra de polícia de Catió, em que o próprio 'Nino' participa!).

Entretanto, cotejando-a  com outra, de 29/8/1964, [, também dirigida ao Aristides Pereira, escrita com a mesma  letra (perfeitamenet legível, e num português relativamente desenvolto, acima da média da literacia de outros comandantes) e em que Marga (i) se queixa da falta de professores, tendo só um professor, o Areolino,  para tantas alunos, (ii) agradece o relógio que lhe enviaram, e (iii)  requisita  sabão "asepso" (sic), ] não temos dúvidas de que se trata de correspondência datada dessa altura (agosto/setembro de 1964)...


Revisão e fixação de texto: L.G. (*)
____________________

2. De Marga [Nino Vieira,  comandante da frente sul, então com 25 anos, foto à esquerda, disponibilizada por Virgínio Briote (**)] para Aristides Pereira [, secretário geral adjunto do PAIGC, desde 1964,  a viver em Conacri, e então com 40 anos]

Camarada Aristides:

A vossa saúde em companhia dos n[ossos] camaradas, são os meus maiores desejos. Nós bastante bons graças ao Devino [Divino] e ao povo.

Comunico-vos que vim [acabei] de chegar no dia 7 ao [chão dos] Nalus, depois de ter conduzido a missão, que fui confiado a cumprir nas outras zonas. Claro que fiz uma boa viagem, donde contactei face a face com os camaradas e o povo, explicando-lhes a razão que levou o Secretariado a tomar estas decisões, a fim de melhorar a nossa condição de luta no interior.

Passei por diversas bases e tabancas do povo. Demorei um mês para concluir toda essa volta. Não tenho encontrado nenhum obstáculo durante a minha viagem, nem tão pouco tenho visto reservazinhas [sic] da parte dos camaradas. Depois de ter contactado com o povo, manifestaram bastante os seus apoios quanto à luta e à decisão que foi tomada ultimamente para unificação das zonas.

Temos colocado responsáveis dos sectores e de bases em todos os pontos indicados.

O camarada Honório Vaz não se encontra na Z[ona] 7 e ninguém sabe do paradeiro deste. Alguns dizem que está na zona e os outros dizem que foi para o Senegal.

Dias antes de [eu] chegar a Gampará, as tropas portuguesas desembarcaram aí, onde destruíram todos os bens do povo. Mataram 22 pessoas do povo  e umas vintenas de vacas.

Junto [h]ouve pessoas do povo que têm participado queixas contra o Malam Sanhá e outros. Junto segue a lista dos camaradas que têm cometido crimes contra a população na área de Quínara. Junto queria contactar com o Secretário Geral [Amílcar Cabral], a fim de expô-lo [expor-lhe] uns certos problemas respeotantes à n[ossa] luta. Tenho certos assuntos que pretendo pôr ao Secretário face a face.

Da minha ida a Cubisseco, aproveitei de [para] trazer para a base central a camarada Carlota da Silva, afim de auxiliar o Areolino Cruz nas instruções [aulas de alfabetização], porque ele sozinho não pode. Trouxe-a comigo depois de ter trocado com ela algumas impressões, na apresentação do João Tomaz e Guerra. Ela já se encontra na base e deve começar a dar instruções [aulas], dentro destes dias.

O Sadjá Bambé disse para dizer ao Luís [Cabral] de mandar-lhe o seu relógio se já estiver pronto. Agradeço mandar-nos oferecer fardas, porque as que os camaradas tinham, foram destruídas pelos portugueses.

No dia 20 deu-se um grande ataque nos arredores da base. As tropas inimigas avançaram até à base central e destruiram aí [sic]. Tinham com eles um guia que conhece muito bem o caminho.

Agradeço ainda de mandar-me oferecer sabão assép[tico], se possível. As mercadorias ainda não atravessaram a fronteira mas vou fazer tudo com que isso atravesse [sic].

Podem confiar [a]o portador desta [carta] de trazer aqueles materiais para defesa dos rios.

Portanto termino. Desejando-vos a todos um bom sucesso nos vos[sos] afazeres. Marga [Nino Vieira]


Fonte
(s.d.), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_39133 (2013-11-3)

Para ampliar o documento clicar aqui:

Casa Comum

Instituição: Fundação Mário Soares

Pasta: 04613.065.047Assunto: Comunica que chegou a Nalús depois de concluída a missão nas outras zonas. Desaparecimento de Honório Vaz. Ataque das tropas portuguesas em Gampará. Queixas do povo contra Malam Sanhá; lista de camaradas que têm cometido crimes contra a população na área de Quinara. Ataque das tropas portuguesas à base.

Remetente: Marga (Nino Vieira)

Destinatário: Aristides Pereira

Data: s.d.

Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1963-1964 (dos Responsáveis da Zona Sul

Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral

Tipo Documental: Correspondencia

Direitos: A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 31 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12229: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (5): Relatório de 22/12/1966, assinado por Brandão Mané, sobre a situação militar na região Xitole-Bafatá, reportando importantes perdas em homens e material

(**) Sobre o 'Nino' Vieira,  vd. aqui poste de 9 de março de 2009 >  Guiné 63/74 - P4001: Nuvens negras sobre Bissau (19): 'Nino' Vieira (1939-2009): tão bom combatente como mau político (Virgínio Briote)

Guiné 63/74 - P12249: Agenda cultural (294): Lançamento do livro "Memórias de Quarenta", de autoria do nosso camarada José Eduardo Oliveira (JERO), a levar a efeito no próximo dia 16 de Novembro de 2013, pelas 15 horas, no Hotel de Santa Maria, em frente ao Mosteiro de Alcobaça

C O N V I T E

O NOSSO CAMARADA JOSÉ EDUARDO REIS OLIVEIRA (JERO) CONVIDA A TERTÚLIA DESTE BLOGUE, E OS LEITORES EM GERAL, A ESTAREM PRESENTES NA APRESENTAÇÃO DO SEU PRÓXIMO LIVRO, "MEMÓRIAS DE QUARENTA", A LEVAR A EFEITO NO PRÓXIMO DIA 16 DE NOVEMBRO DE 2013, PELAS 15 HORAS, NO HOTEL DE SANTA MARIA, EM FRENTE AO MOSTEIRO DE ALCOBAÇA.
UM DOS ORADORES/APRESENTADORES DA OBRA SERÁ O OUTRO NOSSO CAMARADA VASCO DA GAMA


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Nota do editor

Último poste da série de 31 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12225: Agenda cultural (293): Estreia do filme da jovem realizadora portuguesa Catarina Laranjeiro, "Pavia de Ahos", sobre memórias guineenses da guerra de libertação / guerra colonial. Doclisboa'13, hoje, 5ª feira, 31/10/2013, 17h00, Cinema São Jorge, Sala 3

Guiné 63/74 - P12248: Notas de leitura (531): "Cambança Final", contos de Alberto Branquinho (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Junho de 2013:

Queridos amigos,
É do melhor que eu tenho lido, e maior é a satisfação por ele ser um de nós, na confraria.
Alberto Branquinho diz que a cambança é uma passagem para um outro lado de um rio. Por vezes uma fuga ou uma mudança. Pode ser uma partida ou um regresso. Cambança é uma memória, uma viagem que ele capta primorosamente nos seus contos. Ainda bem que aqueles lugares aparecem descontextualizados, como o rio Galola, o novo quartel de Cufia, ou a outra margem do rio Chalarol. Assim, tudo ganha em universalidade naquele mundo pequeno, concentracionário, dentro do arame farpado.
Estamos todos lá. Leio e releio, esta cambança é de um grande mestre.
Vou esperar por mais, pelo menos deste altíssimo nível.
Obrigado pelo teu talento, Alberto Branquinho.

Um abraço do
Mário


Cambança Final, contos de Alberto Branquinho

Beja Santos

O confrade Alberto Branquinho reservou-me uma das mais agradáveis surpresas da primeira metade de 2013: “Cambança Final”, Edição Vírgula, deste ano, é mais do que um livro da maturidade da escrita, revela uma grande mestria na linha do conto e no saber dedilhar as teclas dos sentimentos humanos no contexto de uma guerra. E aquela guerra foi a nossa, estamos todos lá, do atirador ao condutor, do cripto ao enfermeiro. Fez bem em descontextualizar onde decorre aquela guerra, qual aquele rio de amplas margens, que designações reais tinham aquele batalhão e aquelas companhias. Regista, com hábil concisão, como atua o informador, o jogador de lerpa, o furriel de origem cabo-verdiana. Nada de pieguices quando há explosões onde os corpos se desfazem, até porque a natureza se encarrega de limpar a destruição, como escreve magistralmente no conto “Despojos”: “Ia recomeçar a andar e olhou para o chão. Viu, junto ao tronco de uma árvore, três ou quatro formigas grandes, pretas que, com as pinças da cabeça cravadas, tentavam arrastar um pedaço de carne, ainda com um farrapo de farda camuflada agarrado. Com raiva, elevou o pé para esmagar as formigas (e, ao mesmo tempo, o pedaço de carne), mas susteve o pé no ar, com a perna fletida e acabou por dar um passo mais largo, passando adiante. Voltou-se para observar melhor e verificou que havia mais pedaços de carne. Pairava, cérebro vazio…”.

Mata virgem e lama, água e o céu estrelado, chuvas diluvianas, frases em crioulo e a propósito, a linguagem de caserna na justa conta, o caminhar noturno, a solidão mesmo quando temos muita gente à volta. E uma enorme capacidade de trazer a pilhéria e o tom zombeteiro que obriga a uma boa gargalhada. Por exemplo: “Ao fim da tarde, quando retiraram para o quartel, ao passarem próximo do poilão situado no entroncamento, alguns soldados notaram a existência de um cartão pendurado no tronco, batido pelo sol poente. Um furriel tentou aproximar-se do poilão. – Cuidado. Pode estar armadilhado. Estacou. De longe, a coberto da vegetação, tentou apurar a visão baixando com a mão esquerda a pala do quico, tapando o sol. Então leu: PESSOAL TURRA CUNVIDA CAPTÃO DE CUTOL PA BIBE 1 UISQUE NA MATA”.

Não é para todos esta capacidade de relevar o pícaro quando se marcha a arrastar o corpo, no auge do sofrimento. É um dom saber descrever um acontecimento corrente para um soldado branco que assusta o africano, tomando-o por feitiçaria, anda por ali o abismo cultural. Porque Alberto Branquinho, como na montanha russa, traça uma atmosfera de pânico, põe ali todos os traços da brutalidade e finaliza com um toque de facécia. O plausível diverte e comove. O furriel Melo vai tomar banho, avista uma cobra, foge espavorido a tapar as pudendas, não para de gritar e alguém comenta: “Acho que a gaja deu uma dentada na picha do furriel cripto”. O conto “Arroz Especial” é a profundidade do insólito, com nojo toda aquela gente vai descobrir que andou a comer arroz de jagudi, o impensável. O vagomestre e o cozinheiro têm uma enorme densidade que atravessa estes contos, são mal vistos, são detestados e, no entanto, são convocados para o prodígio de alimentar na mais extrema das monotonias, mesmo quando a cozinha é periodicamente escavacada e brio profissional sobrepõe-se à virtude militar: “Algumas vezes, mal atirava o fósforo e a lenha começava a arder, era um repente: PUM!!! Uma bazucada e ia toda a cozinha pelos ares. Logo a seguir, rebentava o tiroteio, de fora e de dentro do aquartelamento, acompanhado do fogo dos morteiros de ambos os lados. Quando acabava, o cozinheiro saía do seu buraco e berrava para além do arame farpado: 
- Cabrões! Filhos da puta! Escangalharam outra vez tudo! Um dia vou aí e fodo-vos a todos!

Era uma raiva muito grande, mas só de dois ou três minutos, porque depois entrava no abrigo privado e desatava a chorar”.

Em todas as circunstâncias, o Alberto Branquinho hílare é plausível e pela graça da escrita desconcerta e diverte fundo, é o caso daquele cabo Abel que nunca tinha estado em Bissau, agora está à espera de embarcar para a metrópole, ainda se sente a viver nos fundos das matas, na convivência das tabancas e é nisto que vai com a sua companhia fazer um cerco a um bairro periférico de Bissau: “Era já manhã. O pessoal que fazia o cerco sentava-se no chão, com a G3 entaladas entre os joelhos ou em cima das coxas, em atitude descontraída, que, em nada, se assemelhava às situações de tensão que, em circunstâncias idênticas tinham sido vividas em emboscadas ou cercos no interior da Guiné. De entre as casas, caminhado por uma vereda que passava ao pé do grupo de militares em que estava o cabo Abel, surgia uma rapariga negra, que vestia uma bata impecavelmente branca, trazendo consigo os livros escolares, agarrados contra o peito. O cabo Abel levantou-se e com a G3 a tiracolo, segurou o cigarro com a mão esquerda e com a direita barrou-lhe o caminho: 
- Bajuda, bô cá pude passa!

A moça que teria catorze ou quinze anos, parou por um momento, encarou o cabo Abel nos olhos e perguntou-lhe: 
- Porquê você não fala comigo português direito! E, contornando-o, continuou o seu caminho para Bissau.

O cabo, apalermado, ficou com o braço levantado, a vê-la passar”.

Momentos há em que o gargalhar acaba por comover tal a dor que provoca o desencontro entre quem está na guerra e espera ternura da retaguarda, escrito num aerograma, aqui o autor excede-se, criativo: “O Fabiano recebeu um aerograma e afastou-se, com o coração aos pulos. Sentou-se contra uma parede e, ao abri-lo quase o rasgou. Começou a ler: «Tu dizes que sais para batidas, patrulhas, operações e emboscadas. Ainda sais, dás uns passeios. Eu para aqui estou sozinha e é só de casa para o trabalho do trabalho para casa. Passear não posso é só missa aos domingos e…» Triste, amarrotou o aerograma e ficou muito tempo a olhar as biqueiras das botas.
Nunca mais escreveu para casa”.

Esgrimindo equívocos, tirando o máximo partido dos imprevistos, alcandorando a nobreza dos princípios e dos valores, posicionando numa grande angular os militares dentro dos destacamentos lá no ermo, Alberto Branquinho deixa um legado assombroso de contos intemporais sobre aquela guerra da Guiné, escritos com mão de mestre, porque a guerra foi aquilo tudo que ele arquitetou, entre as picadas e os rebentamentos, entre os mal-entendidos que a mata favorece, e a memória reaviva, numa explosão de luz, tudo o que por lá passamos.

É melhor ficarmos atentos a tudo o que ele ainda vai escrever, para nosso gáudio e para o (dele) dever de memória.
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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12231: Notas de leitura (530): "Atlântida", por João Augusto da Silva (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12247: Memória dos lugares (248): Em Gampará, sítio desolador, o dia mais feliz era quando chegava a LDG com as 'meninas' de Bissau... (Amílcar Mendes, ex-1º cabo comando, 38ª CCmds, 1972/74)


Guiné > Zona Leste > COP 7 (Bafatá) > Margem esquerda do Rio Corubal > Península de Gampará > Gampará >  1972 > Monumento da CART 3417 (Magalas de Gampará),  assinalando a passagem  por Gampará (e Ganjauará) da 38ª CCmds e de outars tropas especiais. Vê-se que por ali também passaram, ao serviço do COP 7 (Bafatá), vários DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais (4, 8, 13, 21, 22), a CCP 121/BCP 12, a 2ª CCA - Companhia de Comandos Africanos, o 29º Pel Art e o Pel Mil 331.




Guiné > Zona Leste > COP 7 (Bafatá)  > Margem esquerda do Rio Corubal > Península de Gamapará >  Gampará > 38ª Companhia de Comandos > 1972 > O Comando Amílcar Mendes, hoje taxista na praça de Lisboa, e membro sénior da nossa Tabanca Grande.

Fotos: © Amilcar Mendes (2007). Todos os direitos reservados.

1. No nosso blogue, temos 12 referências (ou marcadores) sobre Gampará e 3 sobre Gaujauará. Temos falado pouco sob esta pensínsula de Gampará, correspondente à margem esquerda do Rio Corubal e durante muito tempo um "santuário" do PAIGC. Era "chão beafada"... Já a Ponta do Inglês, com 23 referências, em frente a Gampará, na Foz do Corubal, mas na margem direita do rio,  tem tido mais "tempo de antena", uma vez que fazia parte do subsetor do Xime (Setor L1, Bambadinca)...

Nos últimos anos da da guerra (1972/74) passaram por lá, pela pensínsula de Gampará, de acordo com os nossos registos bloguísticos,  a 38ª CCmds e CCAÇ 4142 (*).  Mas houve mais tropa nossa, ao tempo em que Spínola fez uma grande ofensiva contra as chamadas regiões libertadas do PAIGC (por exemplo, o Cantanhez, embora já no fim do ano de 1972).

Está na altura de revisitar um poste antigo, do Amílcar Mendes, da 38ª CCmds, que conheceu o resort de Gampará (**), antes da malta da CCAÇ 4142. Quem tem trágicas memórias de Gampará e o nosso Victor Tavares e os seus camarasas da CCP 121 / BCP 12 que, uns meses antes, em 4/3/1972, sofreram 6 mortos e 12 feridos, no decurso da Op Pato Azul (***).


2. Memória dos lugares >  Gampará (38ª CCmds, agosto/dezembro de 1972)

por Amílcar Mendes [, foto atual, à esquerda]


(i) A cerveja de marca Mijo

Em Gampará não existe gerador. As noites são mesmo noite e, tirando umas chamas improvisadas nas garrafas de Cristal, nada se vê. No arame farpado duplo, os sentinelas esfregam os olhos para tentar distinguir vultos junto ao arame farpado. Pendem do arame centenas de garrafas de cerveja vazias que são o último grito em tecnologia de alarme. Nesta terra do nada, nada há. Temos uns bidões vazios, fizemos umas caleiras em chapa para apanhar a água da chuva e é dessa água que enchemos os cantis e nos lavamos.

A população beafada, embora seja muito hospitaleira, é muito ciosa das suas coisas e não abre mão dos animais, somos então obrigados a ir ao desenrasca até porque já atingimos a saturação dos petiscos de Gampará: cubos de marmelada com bianda, bacalhau liofilizado com bianda, chouriço intragável com bianda e tudo acompanhado por cerveja com temperatura ao nível do mijo...

Dizia-se então em Gampará,  quando os hélis vinham trazer mantimentos, que vinham entregar cerveja marca Mijo. Assim se vive em Gampará!


(ii) Feliz Natal e um Ano Novo cheio de 'propriedades'...

Todas as noites,  e sempre à mesma hora, na ausência de música, ficamos entretidos a tentar contar as morteiradas que brindam o destacamento do Xime! Ficamos à espera quando acaba lá e os tubos sejam virados para o nosso lado... Nunca na Guiné atingi um estado de magreza igual. Nunca na Guiné as condições de vida foram tão miseráveis.

Entramos no mês de Outubro [de 1972]  e vei o cá uma equipa da Emissora Nacional para gravar as mensagens de Natal para a nossa família. Não foi fácil. Todos íamos para um canto repetir vezes sem conta: Queridos Pais, irmãos e irmãs e restante família, desejamos um Natal feliz e um Ano cheio de 'propriedades'!... Esta ultima palavra era emendada mil vezes, que isto com os nervos e emoção não é fácil !

E como a ladainha era igual para todos, só muito depois é que muitos se lembravam que só tinham irmão ou irmãs, mas isso não era problema. Estavam presentes as Senhoras do Movimento Nacional Feminino. Animavam-nos porque a meio da mensagem muitos desatavam a chorar. Uma das Senhoras era de uma simpatia sem igual.(Só anos mais tarde soube que era a Cilinha!) .

(iii) O dia mais feliz: quando chegava a LDG com as 'meninas' de Bissau...

Em Gampará um dia verdadeiramente feliz para os militares era quando chegava a LDG e vinham as meninas de Bissau, trazidas pelo Patrão, e que tinham por missão aliviar o stress do pessoal.

As meninas chegavam, instalavam-se numa tabanca, o pessoal passava pelo posto de enfermagem (?), recebia o sabão asséptico, o tubo da pomada para meter pelo coiso acima a seguir ao acto... Entretanto formava-se a bicha e trocavam-se larachas para matar o tempo, do tipo Quando chegar a minha vez com tanta gente, 'aquilo' parece o arco da Rua Augusto!.

A seguir era rezar para que o esquenta não aparecesse...

(iv) O nosso regresso a Bissau

19 de Outubro de 1972.  Soubemos hoje que metade da 38ª CCmds regressa amanhã e outra metade irá permanecer aqui a fim de dar o treino operacional à CCAÇ 4142 até 3 de Novembro de 1972. O meu Grupo de Combate será um dos que regressa.

Gampará, com todas as privações, teve o mérito de reforçar ainda mais os laços de amizade e confiança da 38ª CCmds. Aprendemos na privação a dar valor às pequenas coisas que a vida nos dá. A amizade entre os praças, sargentos e oficiais é,  na 38ª CCmds, visível  a quem observa a Companhia de fora. Essa amizade irá refletir-se em diversas ocasiões e irá levar a Companhia a muitos sucessos na actividade operacional.

20 de Outubro de 1972. Pela MSG imediata 3831/c , a 38ª CCmds regressa a Bissau, donde segue para Mansoa [, CAOP1,] para um período de descanço, ficando apenas a realizar segurança imediata ao Aquartelamto. (Esse período de descanso só durou três dias, logo aseguir correram connosco para Teixeira Pinto, de tão má memória para a 38ª CCmds). (****)

Amílcar Mendes
1º Cabo Comando
38ª CCmds
Guiné 72-74

2. Comentários do editor:

A CART 3417  foi mobilizada pelo RAL 3. Partiu para o TO da Guiné em 26/6/1971 e regressou a 24//9/1973. Teve 4 comandantes, sendo o 1º o cap art António Ângelo de Almeida Faria...Esteve Mansabá, Bissau, Ganjauará, Quinhamel, Bissau e Quinhamel

A CCAÇ 4142/72 foi mobilizada pelo RI 1. Partiu para o TO da Guiné em 16/9/1972 e regressou a 25/8/1974. Comandante_ cap mil cav Fernando da Costa Duarte. Esteve sempre sediada em Ganjauará.
_________________

Notas do editor:

Vd. poste de

(*) 3 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12246: O Nosso Livro de Visitas (168): Elisabete Gonçalves, filha do nosso camarada Victor Gonçalves, Sargento-Chefe que pertenceu à CCAÇ 4142 (Ganjauará, 1972/74)

(**) Vd 19 de abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2775: Diários de um Comando: Gampará (Ago-Dez 1972) (A. Mendes) (3): Nem só de guerra vive um militar

Vd. postes anteriores. desta série:

7 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1930: Diários de um Comando: Gampará (Ago-Dez 1972) (A. Mendes) (1): Um sítio desolador

(...) 15 de Agosto de 1972 - Pelas 09H30 do dia 15 de Agosto 1972, a 38ª CCmds segue via fluvial na LDG Alfange com destino a Gampará nos termos da mensagem Confidencial Imediata 3054/c, de 9 de Agosto de 1972, do COMCHEFE (REPOPER). Chega pelas 14h30 deste dia fazendo a sua apresentação e, passando a reforçar o COP-7 [Zona Leste, Bafatá], rendendo a 2ª Companhia de Comandos Africanos. (...)

(...) Gampará à vista! Desolador! O quartel é só tabancas que a tropa divide com a POP, arame farpado a toda a volta e uma dúzia de torreões com sentinelas. É aqui que iremos viver até quando calhe. (...)

16 de julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1956: Diários de um Comando: Gampará (Ago-Dez 1972) (A. Mendes) (2): Passa-se fome, muita fome

 (...) 2ª quinzena de Agosto de 1972

Passa-se fome, mesmo muita fome. Saímos em patrulhamentos ofensivos dia sim dia não, para as regiões de Campana, Nhala, Guebambol, Ganjaurá, Sama, Gambachicha, etc. etc.

Dormimos em colchões pneumáticos mas já há muito que não tenho esse luxo porque as formigas roeram-me o colchão por baixo e estou a dormir no chão. A luz vem de candeeiros improvisados: uma garrafa de cerveja com gásoleo e com corda a servir de pavio.

Come-se muito mal, a não ser algum cabrito roubado ou alguns papagaios que se matam e o resto é bianda com marmelada, bianda com chouriço, bolachas com bianda e assim se vai vivendo. Perdi cerca de 10 kg até agora.

Tivemos problemas sérios com a população. O 1º cabo Simão (que meses mais tarde viria a morrer na estrada Teixeira Pinto -Cacheu) roubou um porco que se matou e assou no forno do padeiro para melhorar um pouco a diete do pessoal. Só que, e sabe-se lá como, o Homem Grande da tabanca descobriu e foi-se queixar ao comandante. Fomos obrigados a pagar o porco e de castigo fomos p'rá mata. (...)

(***) Vd. postes de:


9 de março de 2011 > Guiné 63/74 - P7916: Efemérides (61): 4 de Março de 1972, uma data trágica para a família pára-quedista: 6 mortos e 12 feridos, em Gampará, na margem esquerda do Rio Corubal (Victor Tavares, CCP 121/BCP 12, 1972/74)

21 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1540: Os pará-quedistas também choram: Operação Pato Azul ou a tragédia de Gampará (Victor Tavares, CCP 121)

(...) Desta tragédia para a família pára-quedista, que jamais esquecerá este dia, resultaram seis mortes, Alf Mil Pára-quedista Abreu, Furriel Pára-quedista Cardiga Pinto, PCB/Pára-quedista 47/68 Santos , PCB/Pára-quedista 129/69 Almeida , Sol/Pára-quedista 318/69 Jesus , PCB/Pára-quedista 412/69 Sousa, 2 feridos graves e nove com menos gravidade, Furriel Pára-quedista Casalta (Comandante da 1ª secção do 2º Pelotão) , Sol Pára-quedista Inês (evacuado para a metrópole ), Ferreira, Tavares, Ventura, e 1º Cabo Pára-quedista Figueiredo, todos do 2º Pelotão, e o Sold Pára-quedista Salgado - Estilhaço, de alcunha - do 1º Pelotão, faltando três por identificar pois, passado todos estes anos, já não me recordo, e ficará para sempre uma saudade enorme D’AQUELES EM QUEM PODER NÃO TEVE A MORTE" (...).

domingo, 3 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12246: O Nosso Livro de Visitas (168): Elisabete Gonçalves, filha do nosso camarada Victor Gonçalves, Sargento-Chefe que pertenceu à CCAÇ 4142 (Ganjauará, 1972/74)

1. Mensagem de Elisabete Gonçalves (filha do nosso camarada Victor Gonçalves, Sargento-Chefe de Inf que fez parte da CCAÇ 4142, Ganjauará, 1972/74), com data de 22 de Outubro de 2013:

Caros Senhores,

Tenho vindo a publicar vários textos com memórias do meu pai, tendo sido bem aceites por camaradas e grupos do facebook. Se o achar digno de publicação no seu blogue, disponha.

Um abraço.
Elisabete Gonçalves



Guiné - Região de Quínara - Mapa de Fulacunda (1955) / Escala 1 por 50 mil - Posição relativa da Península Gampará e do destacamento de Ganjauará à guarda da CCAÇ 4142.

Ainda hoje, no desespero com que nos obriga a comer a última folhinha de alface da terrina da salada, eu sei que é verdade que nos 730 dias que passou em Gampará, aturdido em trincheira com o quase permanente arraial dos tiros de canhão sem recuo e mísseis (soviéticos?) dos “turras”, a beber água de um poço profundíssimo que entupia o sorvedouro com rãs e tão pouca que apenas dava para o rancho, em que o banho era tomado debaixo do pingante do telhado de zinco, esperando de sabão e toalha na mão que viesse a chuvada depois do aviso do trovão ao longe... que os parcos legumes frescos que comeu se contam pelos dedos da mão.

Sei-o na raiva com que não deixa ficar nada que seja verde no prato, mesmo que esteja já satisfeito... que é verdade!

Gampará ficava apenas a 60 km de Bissau e facilmente alcançável rio Geba acima, tal como fez o navegador Diogo Gomes no ano de 1456, numa planura que faz sentir à altura de 6 metros as marés do Atlântico. Um dos rios que são dele afluentes, o Corubal, faz no subir de maré alta o estranhíssimo “macaréu”, que ao fazer uma onda de quase três metros rio acima, obriga a saltar das pirogas os navegantes de “água-que-deveria-ser -doce", (...mas é apenas salgada e barrenta!) em verdadeiro pânico. A gigantesca onda varre tudo à sua passagem, galgando margens até se desfazer vencida por uma cota mais alta.

Do outro lado do rio,  mesmo em frente da península de Gampará.  fica Porto Gole, onde em "zebros" foram buscar gatos bravos, que os esfarraparam de arranhadelas na renitência de se verem metidos em sacos de serapilheira que antes estavam cheios de batatas, para debelarem a praga de ratos que assolou a península dos “Herdeiros de Gampará”... e a preciosa despensa da Companhia.

Durante dois anos, apenas interrompidos por uma breve visita à Metrópole que mal deu para afogar as saudades, a Companhia de Caçadores 4142 sobreviveu e resistiu, em surdez colectiva ao tiroteio cerrado, à escassez de alimentos frescos, ao racionamento da água potável, aos mosquitos e ratazanas, ao paludismo, ao calor húmido e abafado dos trópicos, ao macaréu... sucumbindo apenas às intermináveis barrigas de "lutador de Sumô” que lhes fazia a cerveja, mesmo no contragosto de quem nada mais tem de fresco para beber. Nas fotos que enviava, quase sempre em tronco nu, calções e grande bigode, invariavelmente a legenda dizia, depois dos beijos e saudades: “Pareço o Gungunhana!”

O 25 de Abril apanhou-o de surpresa em Bissau enquanto saia do Banco, fardado e de maleta preta com o dinheiro para pagar à Companhia, que preparava o tão ansiado regresso.

Às pauladas que o puseram como Cristo, a “esguichar sangue” cara abaixo, que lhe deu a turba eufórica de Guineenses que festejava a “queda do Império”, reagiu calado e aceitou-as sem se defender em troca de proteger a mala contra o peito... com o único “passaporte” que lhes garantiria o regresso.

Depois de dias a fio com músculos retesados da vigília, noites de sonos interrompidos e nunca silenciosos no medo de ter a garganta cortada à catanada, encontro agora explicação para os saltos de pânico que ainda hoje, volvidos tantos anos, dá em grito de “Que foi isto?!, quando no silêncio de uma casa na hora de almoço... se deixa cair um garfo estridente, na tijoleira da cozinha.

Chama-se a isto, sei-o agora, “Síndrome de Guerra”!
(Com Victor Gonçalves, Sargento Chefe de Infantaria, meu Pai).

Elisabete Gonçalves

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Sobre a CCAÇ 4142/72

Unidade Mobilizadora: RI 1 (Amadora)
CMDT: Cap Mil Cav Fernando da Costa Duarte
Partida: 16SET72
Regresso: 25AGO74


Síntese da actividade operacional:

Após realização da IAO, de 20SET72 a 17OUT72, no CMI, em Cumeré, seguiu em 18OUT72 para Ganjauará, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CART 3417.

Em 15NOV72, assumiu a responsabilidade do subsector de Ganjauará, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 7 e depois do BART 6562/72, tendo orientado a sua actividade para a redução do esforço inimigo na região e coordenação dos trabalhos de reordenamento das populações.

Em 01AGO74, foi rendida no subsector de Ganjauará pela 2.ª Companhia do BCAÇ 4612/72, recolhendo a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

(Pág. 413 da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) - 7.º Volume - Fichas das Unidades-  Tomo II - Guiné)

OBS:- Emblema da colecção do nosso camarada Carlos Coutinho
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11873: O Nosso Livro de Visitas (167): Francisco Maria Magalhães Batista, ex-Alf Mil, integrado na CART 2732 em Setembro de 1971 (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P12245: In Memoriam (167): Manuel Leitão Silvério, ex-alf mil, CART 2412 (Bigene, Binta, Guidaje e Barro, 1968/70), mais tarde despromovido a 2º srgt mil, CCAÇ 2382 ( Bula, Buba, Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70) (Adriano Moreira, ex-fur mil enf, CART 2412)

1. Comentário,  ao poste P12241 (*), por parte do Adriano Moreira [, foto à direita, ao tempo da CART 2412, 1968/70]:  

Caros Camaradas,

O nosso malogrado camarada Manuel Leitão Silvério era o Comandante do 1º Grupo de Combate da CArt 2412 [Bigene, Binta, Guidaje e Barro, 1968/70] e, para que fique bem claro,  eu vou contar o acontecimento que motivou a sua despromoção.

Terá sido em Maio ou Junho de 1969,  estávamos nós em Barro e o Alferes Silvério recebeu a ordem de se deslocar com o seu Grupo de Combate até ao marco 133 ou 134 na fronteira do Senegal. 

Depois de reunido o seu Grupo,  chegou à conclusão que com ele os furrieis e praças somavam 14 ou 15 efectivos, pelo que foi falar com o Comandante da Companhia,  dizendo-lhe que achava um efectivo demasiado exíguo para a missão que lhe estava a ser atribuída.

Como o Comandante da Companhia não foi da mesma opinião, deu-lhe um prazo de uma hora para ele resolver se ia ou não.

Eu acho que todos os Camaradas falaram com ele para o demoverem daquela ideia. Eu falei com ele duas vezes,  chegando a dizer-lhe para ele sair fazendo só metade ou um terço do percurso, mas ele não se deixou influenciar persistindo na sua ideia inicial, pelo que o Comandante participou a ocorrência originando um processo que levou à sua despromoção.

Se se tivesse recusado a tomar parte numa operação,  possivelmente despromoviam-no a 1º Cabo.
Tenho muita pena que tudo isto tenha acontecido, principalmente a sua morte, pois ainda em Setembro passado fiz todos os esforços para ele vir à nossa reunião de graduados da Cart 2412, mas ele tinha sido precisamente internado nessa semana.

Lamento profundamente a sua morte, e à Família, Camaradas e Amigos apresento os meus sentidos pêsames.

Um grande abraço para todos.
Adriano Moreira
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Nota do editor: 


(...) Estava a minha Companhia sediada em Nova Lamego (2.º semestre de 1969), e por onde passava muita gente daquela zona do Gabú. Por lá, entre tantos, havia de passar o Manuel Silvério, provindo não sei donde, com destino a Bissau. Relembro que nos encontrámos na messe de oficiais, vinha fardado o alferes Silvério, e só esperava oportunidade de ter ingresso numa aeronave.

Passados alguns dias, porventura menos de uma semana, estando sentado no quartel à sombra de um poilão, ouço um cumprimento militar. Tentando indagar da sua proveniência, qual o meu espanto ao reconhecer o Silvério, mas na qualidade de 2.º sargento. Procurando tomar conhecimento da trama que lhe acontecera, foi lacónico, só me referindo que fora sujeito a um processo por indisciplina, e que o Comandante-Chefe o punira daquela forma. 


Do seu destino próximo, nunca mais tive qualquer conhecimento. Um dia, nos finais da década de 70, numa das principais ruas da cidade de Coimbra, casualmente encontro o Silvério. Tinha-se radicado nesta cidade, onde exercia as funções de delegado de informação médica.

Poucas vezes mais nos havíamos de reencontrar, e por escusa sua, nunca me deu a conhecer o que então lhe aconteceu na Guiné. Referiu-me já se ter esquecido desses tempos. (...)

Guiné 63/74 - P12244: Convívios (548): Uma festa em cheio, na sessão de lançamento do livro do José Saúde: Lisboa, Casa do Alentejo, 26/10/2013 (Parte II): Eis por que um alentejano nunca canta sozinho...


Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde, "Guiné-Bissau, as minhas memórias de Gabu, 1973/74" (Beja: CCA - Cooperativa Editorial Alentejana, 170 pp. + c. 50 fotos) (Preço de capa: 10 €) > O José Saúde vendeu e autografou dezenas de livros.

Em segundo plano, a filha Rita e o marido. A Rita é fisioterapeuta e é seguramente responsável, em boa parte, pela incrível recuperação  que o pai conseguiu fazer, das sequelas do AVC que sofreu há 7 anos atrás...



Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde > Dois alentejanos e camaradas do nosso blogue, o Fernando Calado (de camisola vermelha) e o Ismael Augusto.(Ambos foram alf mil da CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70).



Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde > Aspeto parcial da assistência. Em primeiro plano, o Fernando Calado e a esposa Rosa Calado, da direção da Casa do Alentejo (pelouro da cultura e património). Em segundo o plano, o Ismael Augusto e a esposa.


Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde >  Da esquerda para a direita, o José Saúde, o Mnauel Joaquim e o Fernando Calado. Infelizmente, não temos fotos de outros camaradas que compareceram à sessão, como o Pedro Neves (e esposa) e o José Vermelho.



Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde > No restaurante, o José Saúde, a dra. Rosa Calado e uma empregada da Casa do Alentejo, guineense, fula do Gabu!... A Casa do Alentejo tem cerca de 50 funcionários. E é um dos sítios de Lisboa onde vale a pena fazer, por exemplo, um convívio a nível de companhia. Tem todas as condições para isso. Fica aqui a sugestão. 





Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde > No restaurante. Da direita para a esquerda, as esposas dos nossos grã-tabanqueiros Fernando Calado, Ismael Augusto e Luís Graça.



Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde > Atuação do grupo musical "Cruzeiro", de Vila Nova de São Bento, concelho de Serpa, e terra natal do nosso camarada Zé. (Infelizmente, não temos nenhum registo em vídeo da atuação deste grupo que se quis também associar à festa do nosso Zé. É possível, no entanto, encontrar, no You Tube, vídeos como este).






Vídeo (3' 22''). Alojado em You Tube > Nhabijoes


 Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde... Depois da sua atuação, o  grupo musical "Os Alentejanos", de Serpa, não conseguiu manter-se calado...  Antes de regressarem a casa, ainda nos brindaram com a lindíssima canção tradicional  "Serpa de Guadalupe", cuja letra se reproduz a seguir... São quatro vozes magníficas do cante alentejano, que merecem ser divulgadas mesmo em condições acústicas más, com muito ruído ambiental... É um privilégio encontrar e comhecer, em Lisboa, gente de Serpa que canta assim... E ainda mais vinda de propósito a Lisboa para abrilhantar a festa de um amigo!... Zé, és um sortudo, apesar das partidas que a vida já te pregou...

Vídeo, fotos e legendas : © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados

Serpa de Guadalupe

Senti assim que cheguei
Apertar-me o coração,
Cantando p'ra ti chorei,
Tal é a minha paixão.

Oh! Serpa de Guadalupe,
Das muralhas, casas brancas,
Dos poetas e pastores,
Dos cantes até às tantas.

Não se cansam as gargantas
Dos teus filhos a cantar,
São preces à santa mãe,
Ao teu encanto sem par.

Senhora de Guadalupe,
Cantando te vou rogar
Esse milagre tão lindo
A Serpa um dia voltar.

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Nota do editor:

Três últimos postes da série >

29 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12219: Convívios (545): Uma festa em cheio, na sessão de lançamento do livro do José Saúde: Lisboa, Casa do Alentejo, 26/10/2013 (Parte I): Atuação do grupo musical "Os Alentejanos", de Serpa, que nos emocionaram, com a moda "Lá vai uma embarcação / Por esses mares fora, / Por aqueles que lá vão / Há muita gente que chora"

31 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12228: Convívios (546): XX Almoço/Convívio de ex-combatentes, promovido pelo Núcleo de Lagoa/Portimão da Liga dos Combatentes, que teve lugar no passado dia 20 (Arménio Estorninho)

Guiné 63/74 - P12243: Parabéns a você (647): Ten-General António Martins de Matos, ex-Tenente Pilav da BA 12 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12230: Parabéns a você (646): José Carlos Gabriel, ex-1.º Cabo Op Cripto do BCAÇ 4513 (Guiné, 1973/74)