Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
Guiné 63/74 - P13525: Unidades Militares mobilizadas nos Açores para a Guerra no Ultramar (1961-1975). Notas para uma investigação (4) (Carlos Cordeiro)
Quarta e ultima parte do trabalho do nosso camarada Carlos Cordeiro (ex-Fur Mil At Inf CIC - Angola - 1969-1971), Professor na Universidade dos Açores, na situação de Reforma, intitulado "Unidades Militares Mobilizadas nos Açores Para a Guerra no Ultramar (1961-1975) - Notas Para Uma Investigação
OBS: - Clicar em cima das imagens (horizontais) dos quadros para as ampliar
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Nota do editor
Postes da série de:
19 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13513: Unidades Militares mobilizadas nos Açores para a Guerra no Ultramar (1961-1975). Notas para uma investigação (1) (Carlos Cordeiro)
20 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13518: Unidades Militares mobilizadas nos Açores para a Guerra no Ultramar (1961-1975). Notas para uma investigação (2) (Carlos Cordeiro)
e
21 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13522: Unidades Militares mobilizadas nos Açores para a Guerra no Ultramar (1961-1975). Notas para uma investigação (3) (Carlos Cordeiro)
Guiné 63/74 - P13524: Notas de leitura (625): “Che Guevara: La clave africana, Memorias de un comandante cubano, mebajador en la Argelia postcolonial”, por Jorge Serguera (Papito) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Fevereiro de 2014:
Queridos amigos,
Não é a primeira vez que falamos da ajuda cubana à luta do PAIGC.
Desde 1962 que Amílcar Cabral insistia junto de Fidel Castro para receber apoio militar e técnico. Não queria guerrilheiros cubanos, queria instrutores, queria médicos, queria mantimentos.
O que este livro nos relata é o papel do embaixador Serguera junto de Sékou Touré e o seu encontro com Cabral. Não há nenhuma minuta do encontro havido entre o Che e Amílcar Cabral, a não ser a confidência do comandante cubano de que Cabral fora o único revolucionário africano vertebrado que encontrou.
A deposição de Ben Bella, depois da sua experiência desconfortável no Congo, matou as ilusões no foco africano, capaz de atormentar o imperialismo.
Seja como for, Cuba apoiará de alma e coração o PAIGC, Fidel, depois se encontrar com Cabral a seguir à Tricontinental de Havana, em 1966, ficou seduzido pela capacidade do líder africano.
Faço o reparo de que há uma lacuna grave em todos os estudos sobre a guerra de África: Cuba é a única potência comunista que tem relações diplomáticas com os governos de Salazar e Caetano, pois não há um ensaio que traga à luz do dia o que foram essas relações, seguramente importantes.
Um abraço do
Mário
Che Guevara, Amílcar Cabral e a quimera africana
Beja Santos
O livro intitula-se “Che Guevara: La clave africana, Memorias de un comandante cubano, mebajador en la Argelia postcolonial”, por Jorge Serguera (Papito), Grupo Editorial Líberman, Colección Memoria Histórica, 2008. São memórias de um comandante cubano que Fidel Castro nomeou embaixador na Argélia em 1963 e que disserta abundantemente sobre a presença de Che Guevara em solo africano e quais os seus sonhos revolucionários, centrados no Congo em chamas. Vem a propósito os seus encontros com Amílcar Cabral e o fornecimento de material cubano anterior à visita que Amílcar Cabral fará a Havana, em janeiro de 1966, e de que resultará um inequívoco apoio militar e logístico que se estenderá até ao fim da guerra. Jorge Serguera irá mover-se em Argel em contactos clandestinos com argentinos adeptos de Perón prontos a conspirar e venezuelanos ávidos de passarem à luta armada. Teremos verdadeiras águas-fortes de Ben Bella, Boumédiènne, Ben Barka, cujo assassinato em 1965, segundo o autor, terá prejudicado os propósitos da Conferência Tricontinental. Para o amante do histórico do Movimento dos Não-Alinhados e para os fervorosos do pensamento guevarista, há aqui muita surpresa, garanto.
Mal pisou solo argelino, no início de 1963, as autoridades pediram ao embaixador cubano para se encontrar com Sékou Touré. Nessas conversações, Touré reclamou um embaixador cubano em Conacri, o embaixador promete transmitir o pedido do presidente guineense. De viagem a Havana, encontra-se com Fidel e relata-lhe a conversa com Sékou Touré. Fidel pede-lhe para comunicar a Sékou Touré se ele estava disposto a que ajudassem o PAIGC, recebera pedido de Amílcar Cabral, a revolução cubana devia ser solidária com estes guerrilheiros. Nessa mesma noite encontra-se com Che Guevara que lhe pergunta o que pensaria Ben Bella se ele acolhesse Perón na Argélia, em seu entender essa viagem poderia melhorar a sua imagem na América Latina. Havia agora que consultar Perón. E o encontro realizou-se, não teve consequências.
Regressado a Argel, Jorge Serguera segue para Conacri, de imediato é recebido por Sékou Touré que lhe pede para ficar uns dias para conhecer melhor a situação do país. E escreve: “No dia seguinte recebi uma visita totalmente inesperada mas muito agradável de Amílcar Cabral. Suponho que esta visita foi promovida pelo presidente. Pela primeira vez tinha diante de mim um dirigente revolucionário, antigo colonialista, subsariano em luta aberta contra Portugal, o líder do PAIGC. Era jovem, possuía uma cultura europeia e pelos seus modos e facilidade de exposição revelava uma formação humanista e incomum. Com uma linguagem coerente e sem propósitos evidentes de impressionar, abordava o tema com tal desenvolvimento e competência que me recordava uma aula na universidade. Falava como um livro. Quando toquei no tema do diferendo sino-soviético, logo meteu a sua interpretação das posições chinesas num ângulo favorável mas lamentando que tudo aquilo, além do dano que resultava para o movimento de libertação continental, iria conduzir fatalmente a um cisma. Através dele, confirmei a informação de que os chineses desenvolviam duas fábricas e outros projetos na Guiné e que a ausência soviética se fazia notar. Solicitou o nosso apoio e ajuda. Segundo ele, a luta na Guiné-Bissau estava bem estruturada e ele concluía que os portugueses não podiam resistir nem suportar aquela guerra durante muito tempo. Mantinha boas relações com Agostinho Neto e os dirigentes da FRELIMO. Avancei a minha opinião de que uma coordenação de ações militares simultâneas nos três países faria insuportável a situação para os portugueses, conduziria ao colapso. Quando nos despedimos, anunciou a sua próxima visita e o nosso encontro em Argel. Assegurei-lhe que informaria Fidalgo sobre o seu pedido".
E depois derrama-se em considerações sobre a Guerra Fria, o problema do socialismo no mundo, descreve detalhadamente a Argélia, a libertação da nação argelina e a posição melindrosa do Partido Comunista Argelino, muito referenciado pelas suas estreitas ligações ao Partido Comunista Francês. Viaja na comitiva de Fidel Castro à URSS e depois Che Guevara chega a Argel. Depois da “crise dos mísseis” de outubro de 1962, Che estava absolutamente convicto que era indispensável abrir uma nova frente de luta contra o imperialismo, teria que ser numa região que perturbasse os interesses dos EUA, não se sabia ainda muito bem para onde pretendia ir Nasser, os dirigentes argelinos pareciam-lhe bem-intencionados e anti-imperialistas. Os não-alinhados estavam a entrar na cena, o Terceiro Mundo pretendia a equidistância face aos blocos, era uma neutralidade que atraia Nasser, Sukarno, Tito e Indhira Gandhi. O Che queria sondar vários dirigentes africanos, conhecer-lhes os propósitos. É um extensíssimo e curioso olhar sobre o guevarismo, nele é patente as reservas que o comandante nutria à ajuda soviética, que ele expressará no seu discurso em fevereiro de 1965 no Seminário Económico de Solidariedade Afro-Asiática, em Argel.
Em janeiro de 1964 surge um foco de unidade africana que se irá revelar como o único bem-sucedido: a união do Tanganica com o Zanzibar, a Tanzânia; os cubanos depositaram alguma esperança no nascimento deste Estado. É neste contexto que Jorge Serguera é também nomeado embaixador no Congo Brazzaville, tinha sido um pedido do presidente Massemba Debat. Che está radiante, já tem uma plataforma para interferir nos conflitos que incendeiam o Congo Kinshasa. Che viaja até Argel e fará seguidamente o périplo africano que tinha sonhado, que o autor descreve, a viagem ao Mali e depois à Guiné Conacri. Aqui Che encontrou-se com Senghor e reuniu amiudadas vezes com Sékou Touré e teve um encontro com Amílcar Cabral que o impressionou positivamente. Che argumentava que era importante e imprescindível que os dirigentes políticos do movimento revolucionário estivessem no território de luta (mais tarde di-lo-á a Agostinho Neto, que não terá apreciado a observação). Che parte para o Congo, infiltra-se na sublevação, irá regressar profundamente dececionado. Há imensa literatura sob a presença do Che em África, terá sido Amílcar Cabral o único dirigente revolucionário que deveras o convenceu.
O autor volta à Guiné-Conacri, o navio El Uvero está a chegar com armamento para o PAIGC, traz Kalashnikov, morteiros 82, granadas obuses, espingardas RPK, metralhadoras BZA, RPG, uniformes, traz também instrutores para o PAIGC. O El Uvero partiria depois para outras águas, para descarregar armamento para o MPLA e para a FRELIMO. Nessa noite o embaixador Serguera janta com Sékou Touré e Amílcar Cabral, discute-se os apoios dos EUA a Portugal, o conflito sino-soviético, a OUA, Nasser, a posição Jugoslava. E o essencial do restante relato é dedicado à crise argelina, ao golpe em que o coronel Boumédiènne depôs Ben Bella, segundo o autor morria assim em definitivo o sonho africano do Che. Em 1966, Fidel apoiará entusiasticamente o PAIGC e só muito mais tarde se porá ao lado de Agostinho Neto e dos confrontos do MPLA com os seus opositores angolanos.
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Nota do editor
Último poste da série de 18 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13511: Notas de leitura (624): De uma exposição com Eduardo Malta a outra exposição com Amílcar Cabral (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Não é a primeira vez que falamos da ajuda cubana à luta do PAIGC.
Desde 1962 que Amílcar Cabral insistia junto de Fidel Castro para receber apoio militar e técnico. Não queria guerrilheiros cubanos, queria instrutores, queria médicos, queria mantimentos.
O que este livro nos relata é o papel do embaixador Serguera junto de Sékou Touré e o seu encontro com Cabral. Não há nenhuma minuta do encontro havido entre o Che e Amílcar Cabral, a não ser a confidência do comandante cubano de que Cabral fora o único revolucionário africano vertebrado que encontrou.
A deposição de Ben Bella, depois da sua experiência desconfortável no Congo, matou as ilusões no foco africano, capaz de atormentar o imperialismo.
Seja como for, Cuba apoiará de alma e coração o PAIGC, Fidel, depois se encontrar com Cabral a seguir à Tricontinental de Havana, em 1966, ficou seduzido pela capacidade do líder africano.
Faço o reparo de que há uma lacuna grave em todos os estudos sobre a guerra de África: Cuba é a única potência comunista que tem relações diplomáticas com os governos de Salazar e Caetano, pois não há um ensaio que traga à luz do dia o que foram essas relações, seguramente importantes.
Um abraço do
Mário
Che Guevara, Amílcar Cabral e a quimera africana
Beja Santos
O livro intitula-se “Che Guevara: La clave africana, Memorias de un comandante cubano, mebajador en la Argelia postcolonial”, por Jorge Serguera (Papito), Grupo Editorial Líberman, Colección Memoria Histórica, 2008. São memórias de um comandante cubano que Fidel Castro nomeou embaixador na Argélia em 1963 e que disserta abundantemente sobre a presença de Che Guevara em solo africano e quais os seus sonhos revolucionários, centrados no Congo em chamas. Vem a propósito os seus encontros com Amílcar Cabral e o fornecimento de material cubano anterior à visita que Amílcar Cabral fará a Havana, em janeiro de 1966, e de que resultará um inequívoco apoio militar e logístico que se estenderá até ao fim da guerra. Jorge Serguera irá mover-se em Argel em contactos clandestinos com argentinos adeptos de Perón prontos a conspirar e venezuelanos ávidos de passarem à luta armada. Teremos verdadeiras águas-fortes de Ben Bella, Boumédiènne, Ben Barka, cujo assassinato em 1965, segundo o autor, terá prejudicado os propósitos da Conferência Tricontinental. Para o amante do histórico do Movimento dos Não-Alinhados e para os fervorosos do pensamento guevarista, há aqui muita surpresa, garanto.
Mal pisou solo argelino, no início de 1963, as autoridades pediram ao embaixador cubano para se encontrar com Sékou Touré. Nessas conversações, Touré reclamou um embaixador cubano em Conacri, o embaixador promete transmitir o pedido do presidente guineense. De viagem a Havana, encontra-se com Fidel e relata-lhe a conversa com Sékou Touré. Fidel pede-lhe para comunicar a Sékou Touré se ele estava disposto a que ajudassem o PAIGC, recebera pedido de Amílcar Cabral, a revolução cubana devia ser solidária com estes guerrilheiros. Nessa mesma noite encontra-se com Che Guevara que lhe pergunta o que pensaria Ben Bella se ele acolhesse Perón na Argélia, em seu entender essa viagem poderia melhorar a sua imagem na América Latina. Havia agora que consultar Perón. E o encontro realizou-se, não teve consequências.
Regressado a Argel, Jorge Serguera segue para Conacri, de imediato é recebido por Sékou Touré que lhe pede para ficar uns dias para conhecer melhor a situação do país. E escreve: “No dia seguinte recebi uma visita totalmente inesperada mas muito agradável de Amílcar Cabral. Suponho que esta visita foi promovida pelo presidente. Pela primeira vez tinha diante de mim um dirigente revolucionário, antigo colonialista, subsariano em luta aberta contra Portugal, o líder do PAIGC. Era jovem, possuía uma cultura europeia e pelos seus modos e facilidade de exposição revelava uma formação humanista e incomum. Com uma linguagem coerente e sem propósitos evidentes de impressionar, abordava o tema com tal desenvolvimento e competência que me recordava uma aula na universidade. Falava como um livro. Quando toquei no tema do diferendo sino-soviético, logo meteu a sua interpretação das posições chinesas num ângulo favorável mas lamentando que tudo aquilo, além do dano que resultava para o movimento de libertação continental, iria conduzir fatalmente a um cisma. Através dele, confirmei a informação de que os chineses desenvolviam duas fábricas e outros projetos na Guiné e que a ausência soviética se fazia notar. Solicitou o nosso apoio e ajuda. Segundo ele, a luta na Guiné-Bissau estava bem estruturada e ele concluía que os portugueses não podiam resistir nem suportar aquela guerra durante muito tempo. Mantinha boas relações com Agostinho Neto e os dirigentes da FRELIMO. Avancei a minha opinião de que uma coordenação de ações militares simultâneas nos três países faria insuportável a situação para os portugueses, conduziria ao colapso. Quando nos despedimos, anunciou a sua próxima visita e o nosso encontro em Argel. Assegurei-lhe que informaria Fidalgo sobre o seu pedido".
E depois derrama-se em considerações sobre a Guerra Fria, o problema do socialismo no mundo, descreve detalhadamente a Argélia, a libertação da nação argelina e a posição melindrosa do Partido Comunista Argelino, muito referenciado pelas suas estreitas ligações ao Partido Comunista Francês. Viaja na comitiva de Fidel Castro à URSS e depois Che Guevara chega a Argel. Depois da “crise dos mísseis” de outubro de 1962, Che estava absolutamente convicto que era indispensável abrir uma nova frente de luta contra o imperialismo, teria que ser numa região que perturbasse os interesses dos EUA, não se sabia ainda muito bem para onde pretendia ir Nasser, os dirigentes argelinos pareciam-lhe bem-intencionados e anti-imperialistas. Os não-alinhados estavam a entrar na cena, o Terceiro Mundo pretendia a equidistância face aos blocos, era uma neutralidade que atraia Nasser, Sukarno, Tito e Indhira Gandhi. O Che queria sondar vários dirigentes africanos, conhecer-lhes os propósitos. É um extensíssimo e curioso olhar sobre o guevarismo, nele é patente as reservas que o comandante nutria à ajuda soviética, que ele expressará no seu discurso em fevereiro de 1965 no Seminário Económico de Solidariedade Afro-Asiática, em Argel.
Em janeiro de 1964 surge um foco de unidade africana que se irá revelar como o único bem-sucedido: a união do Tanganica com o Zanzibar, a Tanzânia; os cubanos depositaram alguma esperança no nascimento deste Estado. É neste contexto que Jorge Serguera é também nomeado embaixador no Congo Brazzaville, tinha sido um pedido do presidente Massemba Debat. Che está radiante, já tem uma plataforma para interferir nos conflitos que incendeiam o Congo Kinshasa. Che viaja até Argel e fará seguidamente o périplo africano que tinha sonhado, que o autor descreve, a viagem ao Mali e depois à Guiné Conacri. Aqui Che encontrou-se com Senghor e reuniu amiudadas vezes com Sékou Touré e teve um encontro com Amílcar Cabral que o impressionou positivamente. Che argumentava que era importante e imprescindível que os dirigentes políticos do movimento revolucionário estivessem no território de luta (mais tarde di-lo-á a Agostinho Neto, que não terá apreciado a observação). Che parte para o Congo, infiltra-se na sublevação, irá regressar profundamente dececionado. Há imensa literatura sob a presença do Che em África, terá sido Amílcar Cabral o único dirigente revolucionário que deveras o convenceu.
O autor volta à Guiné-Conacri, o navio El Uvero está a chegar com armamento para o PAIGC, traz Kalashnikov, morteiros 82, granadas obuses, espingardas RPK, metralhadoras BZA, RPG, uniformes, traz também instrutores para o PAIGC. O El Uvero partiria depois para outras águas, para descarregar armamento para o MPLA e para a FRELIMO. Nessa noite o embaixador Serguera janta com Sékou Touré e Amílcar Cabral, discute-se os apoios dos EUA a Portugal, o conflito sino-soviético, a OUA, Nasser, a posição Jugoslava. E o essencial do restante relato é dedicado à crise argelina, ao golpe em que o coronel Boumédiènne depôs Ben Bella, segundo o autor morria assim em definitivo o sonho africano do Che. Em 1966, Fidel apoiará entusiasticamente o PAIGC e só muito mais tarde se porá ao lado de Agostinho Neto e dos confrontos do MPLA com os seus opositores angolanos.
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Nota do editor
Último poste da série de 18 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13511: Notas de leitura (624): De uma exposição com Eduardo Malta a outra exposição com Amílcar Cabral (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P13523: Parabéns a você (776): Carlos Cordeiro, ex-Fur Mil Inf (Angola) - Grã-Tabanqueiro, Prof. Universitário em Ponta Delgada, e J.L. Vacas de Carvalho, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2206 (Guiné, 1969/71)
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Nota do editor
Último poste da série de 21 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13519: Parabéns a você (775): Vasco Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6 (Guiné, 1972/73)
quinta-feira, 21 de agosto de 2014
Guiné 63/74 - P13522: Unidades Militares mobilizadas nos Açores para a Guerra no Ultramar (1961-1975). Notas para uma investigação (3) (Carlos Cordeiro)
Terceira parte do trabalho do nosso camarada Carlos Cordeiro (ex-Fur Mil At Inf CIC - Angola - 1969-1971), Professor na Universidade dos Açores, na situação de Reforma, intitulado "Unidades Militares Mobilizadas nos Açores Para a Guerra no Ultramar (1961-1975) - Notas Para Uma Investigação
OBS: - Clicar em cima das imagens (horizontais) dos quadros para as ampliar
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13518: Unidades Militares mobilizadas nos Açores para a Guerra no Ultramar (1961-1975). Notas para uma investigação (2) (Carlos Cordeiro)
Guiné 63/74 - P13521: Blogoterapia (259): Mensagem de agradecimento de Rui Alexandrino Ferreira à tertúlia, a propósito do lançemento do seu último livro "Quebo - Nos confins da Guiné" e da passagem do seu 71.º aniversário
1. Mensagem do nosso camarada Rui Alexandrino Ferreira, TCor Reformado (ex-Alf Mil na CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67 e ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72), com data de hoje, 20 de Agosto de 2014:
Meus caros tertulianos
Seja pela mão do próprio comandante em chefe Luís Graça ou pela de qualquer um dos comandantes adjuntos, Carlos Vinhal, Virgínio Briote, Miguel Pessoa e perdoem-me se me esqueci de alguém que enquanto os envolvo no mesmo vigoroso e fraterno abraço, seja transmitido a todos os tertulianos a mensagem que se segue:
RI 14 - Viseu - 21 de Junho de 2014 - Rui Alexandrino Ferreira no uso da palavra, na cerimónia de lançamento do seu livro "Quebo - Nos Confins da Guiné".
Mensagem de agradecimento de Rui A. Ferreira à tertúlia
Meus camarigos
Face a um não previsto nem esperado agravamento do meu sistema visual com praticamente inutilizado a visão do olho direito foi com algum sacrifício que tive de trabalhar para ter pronto "Quebo - nos confins da Guiné" na data prevista para a sua apresentação pública(*).
E se por um lado me dei por muito satisfeito com a grande manifestação de amizade de tantos amigos e antigos companheiros da Guiné na dita apresentação, persistem as mesmas dificuldades para ler ou escrever seja o que for.
Assim, na impossibilidade de pessoalmente agradecer a cada um dos muitos que me rodearam com o seu carinho e a sua amizade como compreensivelmente seria o meu desejo e logicamente meu dever, mas aos quais peço que aceitem desta forma a expressão da minha maior gratidão e da minha amizade.
Incluo no mesmo modo e no mesmo agradecimento todos quanto me fizeram chegar a sua palavra amiga na data em que completei 71 risonhas Primaveras.
Um grande Abraço
Rui Alexandrino Ferreira
____________
Notas do editor
(*) Vd. poste de 24 de Junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13327: Agenda cultural (326): Dia 21 de Junho de 2014, RI 14, Viseu; lançamento de "QUEBO - Nos confins da Guiné", livro de autoria de Rui A. Ferreira, TCor Ref (Carlos Vinhal)
Último poste da série de 11 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13485: Blogoterapia (258): Palavras (Ernesto Duarte, ex-Fur Mil da CCAÇ 1421)
Meus caros tertulianos
Seja pela mão do próprio comandante em chefe Luís Graça ou pela de qualquer um dos comandantes adjuntos, Carlos Vinhal, Virgínio Briote, Miguel Pessoa e perdoem-me se me esqueci de alguém que enquanto os envolvo no mesmo vigoroso e fraterno abraço, seja transmitido a todos os tertulianos a mensagem que se segue:
RI 14 - Viseu - 21 de Junho de 2014 - Rui Alexandrino Ferreira no uso da palavra, na cerimónia de lançamento do seu livro "Quebo - Nos Confins da Guiné".
Mensagem de agradecimento de Rui A. Ferreira à tertúlia
Meus camarigos
Face a um não previsto nem esperado agravamento do meu sistema visual com praticamente inutilizado a visão do olho direito foi com algum sacrifício que tive de trabalhar para ter pronto "Quebo - nos confins da Guiné" na data prevista para a sua apresentação pública(*).
E se por um lado me dei por muito satisfeito com a grande manifestação de amizade de tantos amigos e antigos companheiros da Guiné na dita apresentação, persistem as mesmas dificuldades para ler ou escrever seja o que for.
Assim, na impossibilidade de pessoalmente agradecer a cada um dos muitos que me rodearam com o seu carinho e a sua amizade como compreensivelmente seria o meu desejo e logicamente meu dever, mas aos quais peço que aceitem desta forma a expressão da minha maior gratidão e da minha amizade.
Incluo no mesmo modo e no mesmo agradecimento todos quanto me fizeram chegar a sua palavra amiga na data em que completei 71 risonhas Primaveras.
Um grande Abraço
Rui Alexandrino Ferreira
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Notas do editor
(*) Vd. poste de 24 de Junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13327: Agenda cultural (326): Dia 21 de Junho de 2014, RI 14, Viseu; lançamento de "QUEBO - Nos confins da Guiné", livro de autoria de Rui A. Ferreira, TCor Ref (Carlos Vinhal)
Último poste da série de 11 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13485: Blogoterapia (258): Palavras (Ernesto Duarte, ex-Fur Mil da CCAÇ 1421)
Guiné 63/74 - P13520: "Francisco Caboz", um padre franciscano, natural de Ribamar, Lourinhã, na guerra colonial (Horácio Fernandes, ex-alf mil capelão, BART 1913, Catió, 1967/69): Parte V: (i) uma boleia de Spínola; (ii) rezando o terço com os açorianos; (iii) a tropa, a PIDE e a tortura de prisioneiros; (iv) um guarda-costas chamado Estado; (v) a tropa vai e vem, os administradores ficam...
Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Parada do quartel
Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel > "Vista aérea da Rotunda e Avenida de Catió antes de 1967. O edifício à esquerda na foto era a escola primária que em 1967 já tinha sido modificado".
Fotos (e legendas) de Catió: Victor Condeço (1943/2010) / © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados
1. Continuação da publicação do testemunho do nosso camarada, o grã-tabanqueiro Horácio Fernandes.que foi alf mil capelão no BART 1913 (Catió, 1967/69) (*)
[ Horácio Fernandes: foto à direita tirada pelo nosso saudoso Victor Condeço, 1943-2010, que foi fur mil mec armam, CCS/BART 1913].
Esse tstemunho é um excerto do seu livro autobiográfico, "Francisco Caboz; a construção e a desconstrução de um padre" (Porto: Papiro Editora, 2009, pp. 127-162). O livro já aqui foi objeto de recensão crítica por parte do nosso camarada Beja Santos.
O Horácio Fernandes vive há 4 décadas no Porto. Vestiu o hábito franciscano, tendo sido ordenado padre em 1959. Deixou o sacerdócio no início dos anos 70. É casado, tem 3 filhos. Está reformado da Inspeção Geral de Educação onde trabalhou 25 anos na zona norte. Em 2006 doutorou-se em ciências da educação pela Universidadfe de Salamanca, Espanha.
Francisco Caboz é o "alter ego" do Horácio Fermandes (n. 1935, Ribamar, Lourinhã). O livro começou por ser uma tese de dissertação de mestrado em ciências da educação, pela Univeridade do Porto, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, (1995): Francisco Caboz: de angfélico ao trânsfuga, uma autobiografia (147 pp.) (A tese de dissertação, orientada pelo Prof Doutor Stephen R. Stoer, já falecido, está aqui disponível em formato pdf).
Fotos (e legendas) de Catió: Victor Condeço (1943/2010) / © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados
1. Continuação da publicação do testemunho do nosso camarada, o grã-tabanqueiro Horácio Fernandes.que foi alf mil capelão no BART 1913 (Catió, 1967/69) (*)
[ Horácio Fernandes: foto à direita tirada pelo nosso saudoso Victor Condeço, 1943-2010, que foi fur mil mec armam, CCS/BART 1913].
Esse tstemunho é um excerto do seu livro autobiográfico, "Francisco Caboz; a construção e a desconstrução de um padre" (Porto: Papiro Editora, 2009, pp. 127-162). O livro já aqui foi objeto de recensão crítica por parte do nosso camarada Beja Santos.
O Horácio Fernandes vive há 4 décadas no Porto. Vestiu o hábito franciscano, tendo sido ordenado padre em 1959. Deixou o sacerdócio no início dos anos 70. É casado, tem 3 filhos. Está reformado da Inspeção Geral de Educação onde trabalhou 25 anos na zona norte. Em 2006 doutorou-se em ciências da educação pela Universidadfe de Salamanca, Espanha.
Francisco Caboz é o "alter ego" do Horácio Fermandes (n. 1935, Ribamar, Lourinhã). O livro começou por ser uma tese de dissertação de mestrado em ciências da educação, pela Univeridade do Porto, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, (1995): Francisco Caboz: de angfélico ao trânsfuga, uma autobiografia (147 pp.) (A tese de dissertação, orientada pelo Prof Doutor Stephen R. Stoer, já falecido, está aqui disponível em formato pdf).
Nesta V parte (pp. 148-152), o autor relata-no alguns episódios da guerar no sul da Guiné: (i) uma boleia de Spínola; (ii) rezando o terço com os açorianos; (iii) a tropa, a PIDE e a tortura de prisioneiros; (iv) um guarda-costas chamado estado; (v) a tropa vai e vem, os administradores têm que se amanhar...
Foi o nosso camarada e amigo Alberto Branquinho quem descobriu o paradeiro do seu antigo capelão . Tenho a autorização verbal do autor, dada por altura do nosso reencontro, 50 anos depois da sua missa nova (em 15 de agosto de 1959, em Ribamar, sua terra natal), para reproduzir esta parte do livro, relativa à sua experiênciade como capelão militar na Guiné, muito marcante e decisiva para o seu futuro como homem e como padre. Ele irá abandonar o sacerdócio ainda no início dos anos 70, depois de regressar da Guiné e fazer uma curta experiência como capelão da marinha mercante aos serviço do Clube Stella Maris.
Eu e o Horácio somos parentes, pertencemos ao clã Maçarico, de Ribamar, Lourinhã: a minha bisavó paterna e do seu bisavô paterno, nascidos por volta de 1860, eram irmãos. (LG)
Foi o nosso camarada e amigo Alberto Branquinho quem descobriu o paradeiro do seu antigo capelão . Tenho a autorização verbal do autor, dada por altura do nosso reencontro, 50 anos depois da sua missa nova (em 15 de agosto de 1959, em Ribamar, sua terra natal), para reproduzir esta parte do livro, relativa à sua experiênciade como capelão militar na Guiné, muito marcante e decisiva para o seu futuro como homem e como padre. Ele irá abandonar o sacerdócio ainda no início dos anos 70, depois de regressar da Guiné e fazer uma curta experiência como capelão da marinha mercante aos serviço do Clube Stella Maris.
Eu e o Horácio somos parentes, pertencemos ao clã Maçarico, de Ribamar, Lourinhã: a minha bisavó paterna e do seu bisavô paterno, nascidos por volta de 1860, eram irmãos. (LG)
Episódios da guerra no sul da Guiné em 1967/69...
Nota do editor:
(*) Vd. úlltimo poste da série > 17 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13508: "Francisco Caboz", um padre franciscano, natural de Ribamar, Lourinhã, na guerra colonial (Horácio Fernandes, ex-alf mil capelão, BART 1913, Catió, 1967/69): Parte IV: Nem bem com Deus nem com César, ou a dupla dificuldade de ser-se sacerdoite vestido de camuflado numa terra a ferro e fogo...
(*) Vd. úlltimo poste da série > 17 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13508: "Francisco Caboz", um padre franciscano, natural de Ribamar, Lourinhã, na guerra colonial (Horácio Fernandes, ex-alf mil capelão, BART 1913, Catió, 1967/69): Parte IV: Nem bem com Deus nem com César, ou a dupla dificuldade de ser-se sacerdoite vestido de camuflado numa terra a ferro e fogo...
Guiné 63/74 - P13519: Parabéns a você (775): Vasco Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6 (Guiné, 1972/73)
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13516: Parabéns a você (774): Manuel Amaro, ex-Fur Mil Enf.º da CCAÇ 2615 (Guiné, 1969/71)
Nota do editor
Último poste da série de 20 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13516: Parabéns a você (774): Manuel Amaro, ex-Fur Mil Enf.º da CCAÇ 2615 (Guiné, 1969/71)
quarta-feira, 20 de agosto de 2014
Guiné 63/74 - P13518: Unidades Militares mobilizadas nos Açores para a Guerra no Ultramar (1961-1975). Notas para uma investigação (2) (Carlos Cordeiro)
Segunda parte do trabalho do nosso camarada Carlos Cordeiro (ex-Fur Mil At Inf CIC - Angola - 1969-1971), Professor na Universidade dos Açores, na situação de Reforma, intitulado "Unidades Militares Mobilizadas nos Açores Para a Guerra no Ultramar (1961-1975) - Notas Para Uma Investigação
(Continua)
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Nota do editor
Primeiro poste da série de 19 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13513: Unidades Militares mobilizadas nos Açores para a Guerra no Ultramar (1961-1975). Notas para uma investigação (1) (Carlos Cordeiro)
Guiné 63/74 - P13517: Biblioteca em férias (Mário Beja Santos) (4): "Carta aberta às vítimas da descolonização”, por Jacques Soustelle
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Julho de 2014:
Queridos amigos,
É redundante referir que a descolonização deixou feridas por sarar, em vários países.
Neste livro, Jacques Soustelle profere uma dolorosa litania a pensar fundamentalmente na Argélia que ele tão bem conheceu e tanto amou. Estudou o dossiê português, do lado nacionalista, e faz a sua defesa, ponto por ponto.
É um documento muito bem escrito, não é por acaso que ele foi alçapremado à Academia Francesa. Há quem continue a insistir, no caso português, que outra descolonização era possível. Há nacionalistas corajosos, caso de Jaime Nogueira Pinto, que já veio a público dizer que depois de muito estudar considera que outra via para a descolonização portuguesa não teria andado longe do que aconteceu com a que se praticou e está abundantemente documentada. Ora cá está um bom tema para férias, questionar o passado mais pela razão e menos pelo coração.
Um abraço do
Mário
Biblioteca em férias (4)
Carta aberta às vítimas da descolonização
Beja Santos
“Carta aberta às vítimas da descolonização”, por Jacques Soustelle, Parceria A. M. Pereira, Lda., 1973, foi uma obra que deu brado em França mas também em Portugal, onde recebeu grande aplauso de praticamente todos os adeptos da causa do Ultramar. Acrescia o facto desta carta-libelo sair do punho de uma personalidade eminente: Soustelle (1912-1990) tinha elevadas credenciais no campo da etnologia (os seus estudos na investigação da América Pré-Colombiana ainda hoje são de referência obrigatória), combateu na França Livre e foi ministro por várias vezes de Charles De Gaulle, teve elevadas responsabilidades na Argélia francesa, comprometeu-se com a OAS, o que o levou ao exílio; foi deputado e membro da Academia Francesa.
Esta carta dedicada à descolonização tem sempre a Argélia na mira, é pungente, documentada, elogia o esforço português na guerra em África. Tem um interlocutor, é Ibrahima Gueye, fala saudosamente de um projeto: “Sabíamos que já mais poderiam desaparecer entre os nossos povos as relações entre dominante e dominado, os complexos de superioridade ou de inferioridade, o desprezo racista. Pensávamos que as colónias deviam ser transformadas em províncias, regiões, Estados de uma grande federação multirracial, em redor da República Francesa”. Lê-se hoje e pensa-se no federalismo de Spínola. É uma carta onde se fala de destroços, da África arruinada, comandada por tiranos megalómanos, mas os mortos-mártires da Argélia pesam sempre, tanto ou mais que os franceses expulsos, o que dói mais é a sorte de cinco ou seis mil franceses e francesas desaparecidos para sempre, a morte no meio dos suplícios mais cruéis de cento e cinquenta mil muçulmanos culpados por terem acreditado na Argélia francesa, os muitos chacinados.
Increpa-se contra a denominação de Terceiro Mundo, eufemisticamente tratados como países em vias de desenvolvimento e diz frontalmente: “Os seus recursos insuficientes não conseguem fazer face a uma população que aumenta sem cessar. A esse desequilíbrio fundamental juntam-se, muitas vezes, os erros de uma administração incapaz ou corrompida, a exploração cínica de alguns países por um neocolonialismo que revela todos os defeitos do antigo, o militarismo desencadeado nos Estados sem elites formadas, o gosto pelo dinheiro e pelo luxo entre alguns privilegiados em confronto com a profunda miséria do povo. Com raríssimas exceções, é este o panorama que se revela na maioria dos antigos territórios coloniais: emancipados sob a férula de generais, coronéis e comandantes, com certeza mais ditatoriais e tirânicos – e até menos competentes – do que os piores governadores de outros tempos”.
É a carta de um europeu que se dirige àqueles que foram os seus compatriotas de além-mar. Alude nostalgicamente à vocação euro-africana na França, de que foi grande participante. Todos perderam com as soluções precipitadas daquelas independências: voltou o tribalismo, a mais degradante tirania feudal, enumera as violências de Bokassa, de Sekou Touré, e de tantos outros. É inadmissível, diz, haver um progresso nestes países em comparação ao que vivia no período colonial: “A verdade é que os povos nada ganharam com a nova situação, a não ser o fato de terem conhecido novos patrões”. A descolonização falhou em toda a parte, regrediu-se, esbanjou-se em projetos megalómanos de industrialização descurando as potencialidades que estavam a ser aproveitadas, e de novo fala na Argélia.
Antigo amigo de De Gaulle, refere a conferência de Brazzaville, de 1944, onde alguns dos mentores da França Livre se comprometeram a garantir a unidade política do mundo francês e a respeitar a liberdade local de cada um dos territórios além-mar, e critica profundamente as opções de De Gaulle que levaram ao abandono da Argélia. É neste contexto que elogia a política de Lisboa com a África portuguesa. Faz a ironia com a propaganda do PAIGC: “Amílcar Cabral pretende afirmar a cada passo que libertou dois terços ou quatro quintos da Guiné portuguesa, que assim se revela como um dos países mais extensos do mundo, porque as guerrilhas de Cabral avançam sem cessar desde há perto de dez anos, sem nunca chegarem a ocupar inteiramente esse território”. Recorda igualmente que a escravatura não foi uma invenção dos europeus, os africanos foram espancados, exterminados e escravizados, sem qualquer intervenção exterior, durante muitos séculos e observa: “Os árabes muçulmanos foram durante séculos os mais encarniçados caçadores de homens através dos seus mercados de escravos e de mulheres que alimentassem os haréns, e sabe-se ainda que nas Nações Unidas alguns países, que têm direito a voto e condenam virtuosamente o colonialismo, continuam a praticar a escravatura”.
Procura realçar paradoxos como ninguém se chocar com o império Russo na Ásia com os seus muçulmanos colonizados enquanto a opinião mundial anda permanentemente agitada com os muçulmanos argelinos, os árabes israelitas e palestinianos. Os ditadores africanos dedicam-se a práticas tribais e a um racismo que os revolucionários tenham a ignorar caso de Idi Amin Dada, Bokassa, Mobutu, entre outros. E regressa à África portuguesa, Soustelle considera que os portugueses são um povo isente de racismo, que não há discriminação racial nos territórios portugueses, que a despeito de muito atraso se progrediu muito na saúde e que o governo de Caetano tem implementado reformas corajosas. E questiona quem são os responsáveis da luta desencadeada contra as províncias portuguesas do Ultramar: aponta o dedo para Argel, para o coronel Boumediène, que deu guarida aos partidos terroristas. Fala nos apoios militares soviético e chinês, e também cubano, das armas soviéticas, checas e chinesas. Fala dos perigos do controle soviético nestas paragens, parece um general português da velha escola: “Possuir as ilhas de Cabo Verde, como também Moçambique, é possuir uma enorme vantagem, talvez decisiva, no caso de conflito mundial. Nas mãos de um país neutro, despojado de todo o intento agressivo, mas pró-ocidental, estas ilhas constituem um elemento de segurança da Europa, especialmente porque que cobrem as linhas de comunicação à volta de África. Em poder de um estado imperialista, ameaçariam estas linhas vitais; a experiência da última guerra demostra que o Mediterrânio pode ser parcial ou completamente fechado, e é então que o acesso ao oceano Índico, ao Golfo Pérsico, ao petróleo do Médio Oriente, depende da possibilidade dos navios contornarem o continente africano”.
Jacques Soustelle estudou o dossier português na perfeição, no todo as suas posições confluem para as do governo de Marcello Caetano. E, por último, a carta-libelo regressa aos problemas da francofonia em África, aos demandos governamentais dos adeptos do socialismo africano, alerta para o perigo de se estar a falar cada vez menos francês em África. Ponto por ponto, desmonta o fiasco da descolonização argelina, mas também a cooperação que se envolve em projetos inúteis. Jacques Soustelle é frontal, é hipercrítico e é emotivo. E ao despedir-se questionando o seu interlocutor como será possível fazer frente às pesadas ameaças que cobrem o futuro, escreve; “Ninguém poderá dar uma resposta a esta pergunta, atualmente. Eis a razão, Ibrahima, porque escrevo uma carta tão longa e sem rodeios: já que as minhas inquietações e as minhas queixas são as de um homem que amou o vosso país e o vosso povo e que, por que não confessá-lo, os ama ainda hoje com todo o seu coração”. Pense o que se pensar desta catilinária, foi um documento que fez época e que caiu bem nas hostes já muito desorientadas dos ultranacionalistas portugueses.
Na mesma manhã e no mesmo bricabraque onde comprei o livro de Jacques Soustelle, há muitos anos emprestado e desaparecido, encontrei numa caixa esta estampa, um primor de trabalho daqueles tempos em que qualquer livro que se prezasse trazia gravuras e estampas.
Gostei muito desta Aixa, sultana de Granada, e é com satisfação que a ofereço ao blogue.
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Nota do editor
Último poste da série de 13 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13491: Biblioteca em férias (Mário Beja Santos) (3): A literatura de Mickey Spillane
Queridos amigos,
É redundante referir que a descolonização deixou feridas por sarar, em vários países.
Neste livro, Jacques Soustelle profere uma dolorosa litania a pensar fundamentalmente na Argélia que ele tão bem conheceu e tanto amou. Estudou o dossiê português, do lado nacionalista, e faz a sua defesa, ponto por ponto.
É um documento muito bem escrito, não é por acaso que ele foi alçapremado à Academia Francesa. Há quem continue a insistir, no caso português, que outra descolonização era possível. Há nacionalistas corajosos, caso de Jaime Nogueira Pinto, que já veio a público dizer que depois de muito estudar considera que outra via para a descolonização portuguesa não teria andado longe do que aconteceu com a que se praticou e está abundantemente documentada. Ora cá está um bom tema para férias, questionar o passado mais pela razão e menos pelo coração.
Um abraço do
Mário
Biblioteca em férias (4)
Carta aberta às vítimas da descolonização
Beja Santos
“Carta aberta às vítimas da descolonização”, por Jacques Soustelle, Parceria A. M. Pereira, Lda., 1973, foi uma obra que deu brado em França mas também em Portugal, onde recebeu grande aplauso de praticamente todos os adeptos da causa do Ultramar. Acrescia o facto desta carta-libelo sair do punho de uma personalidade eminente: Soustelle (1912-1990) tinha elevadas credenciais no campo da etnologia (os seus estudos na investigação da América Pré-Colombiana ainda hoje são de referência obrigatória), combateu na França Livre e foi ministro por várias vezes de Charles De Gaulle, teve elevadas responsabilidades na Argélia francesa, comprometeu-se com a OAS, o que o levou ao exílio; foi deputado e membro da Academia Francesa.
Esta carta dedicada à descolonização tem sempre a Argélia na mira, é pungente, documentada, elogia o esforço português na guerra em África. Tem um interlocutor, é Ibrahima Gueye, fala saudosamente de um projeto: “Sabíamos que já mais poderiam desaparecer entre os nossos povos as relações entre dominante e dominado, os complexos de superioridade ou de inferioridade, o desprezo racista. Pensávamos que as colónias deviam ser transformadas em províncias, regiões, Estados de uma grande federação multirracial, em redor da República Francesa”. Lê-se hoje e pensa-se no federalismo de Spínola. É uma carta onde se fala de destroços, da África arruinada, comandada por tiranos megalómanos, mas os mortos-mártires da Argélia pesam sempre, tanto ou mais que os franceses expulsos, o que dói mais é a sorte de cinco ou seis mil franceses e francesas desaparecidos para sempre, a morte no meio dos suplícios mais cruéis de cento e cinquenta mil muçulmanos culpados por terem acreditado na Argélia francesa, os muitos chacinados.
Increpa-se contra a denominação de Terceiro Mundo, eufemisticamente tratados como países em vias de desenvolvimento e diz frontalmente: “Os seus recursos insuficientes não conseguem fazer face a uma população que aumenta sem cessar. A esse desequilíbrio fundamental juntam-se, muitas vezes, os erros de uma administração incapaz ou corrompida, a exploração cínica de alguns países por um neocolonialismo que revela todos os defeitos do antigo, o militarismo desencadeado nos Estados sem elites formadas, o gosto pelo dinheiro e pelo luxo entre alguns privilegiados em confronto com a profunda miséria do povo. Com raríssimas exceções, é este o panorama que se revela na maioria dos antigos territórios coloniais: emancipados sob a férula de generais, coronéis e comandantes, com certeza mais ditatoriais e tirânicos – e até menos competentes – do que os piores governadores de outros tempos”.
É a carta de um europeu que se dirige àqueles que foram os seus compatriotas de além-mar. Alude nostalgicamente à vocação euro-africana na França, de que foi grande participante. Todos perderam com as soluções precipitadas daquelas independências: voltou o tribalismo, a mais degradante tirania feudal, enumera as violências de Bokassa, de Sekou Touré, e de tantos outros. É inadmissível, diz, haver um progresso nestes países em comparação ao que vivia no período colonial: “A verdade é que os povos nada ganharam com a nova situação, a não ser o fato de terem conhecido novos patrões”. A descolonização falhou em toda a parte, regrediu-se, esbanjou-se em projetos megalómanos de industrialização descurando as potencialidades que estavam a ser aproveitadas, e de novo fala na Argélia.
Antigo amigo de De Gaulle, refere a conferência de Brazzaville, de 1944, onde alguns dos mentores da França Livre se comprometeram a garantir a unidade política do mundo francês e a respeitar a liberdade local de cada um dos territórios além-mar, e critica profundamente as opções de De Gaulle que levaram ao abandono da Argélia. É neste contexto que elogia a política de Lisboa com a África portuguesa. Faz a ironia com a propaganda do PAIGC: “Amílcar Cabral pretende afirmar a cada passo que libertou dois terços ou quatro quintos da Guiné portuguesa, que assim se revela como um dos países mais extensos do mundo, porque as guerrilhas de Cabral avançam sem cessar desde há perto de dez anos, sem nunca chegarem a ocupar inteiramente esse território”. Recorda igualmente que a escravatura não foi uma invenção dos europeus, os africanos foram espancados, exterminados e escravizados, sem qualquer intervenção exterior, durante muitos séculos e observa: “Os árabes muçulmanos foram durante séculos os mais encarniçados caçadores de homens através dos seus mercados de escravos e de mulheres que alimentassem os haréns, e sabe-se ainda que nas Nações Unidas alguns países, que têm direito a voto e condenam virtuosamente o colonialismo, continuam a praticar a escravatura”.
Procura realçar paradoxos como ninguém se chocar com o império Russo na Ásia com os seus muçulmanos colonizados enquanto a opinião mundial anda permanentemente agitada com os muçulmanos argelinos, os árabes israelitas e palestinianos. Os ditadores africanos dedicam-se a práticas tribais e a um racismo que os revolucionários tenham a ignorar caso de Idi Amin Dada, Bokassa, Mobutu, entre outros. E regressa à África portuguesa, Soustelle considera que os portugueses são um povo isente de racismo, que não há discriminação racial nos territórios portugueses, que a despeito de muito atraso se progrediu muito na saúde e que o governo de Caetano tem implementado reformas corajosas. E questiona quem são os responsáveis da luta desencadeada contra as províncias portuguesas do Ultramar: aponta o dedo para Argel, para o coronel Boumediène, que deu guarida aos partidos terroristas. Fala nos apoios militares soviético e chinês, e também cubano, das armas soviéticas, checas e chinesas. Fala dos perigos do controle soviético nestas paragens, parece um general português da velha escola: “Possuir as ilhas de Cabo Verde, como também Moçambique, é possuir uma enorme vantagem, talvez decisiva, no caso de conflito mundial. Nas mãos de um país neutro, despojado de todo o intento agressivo, mas pró-ocidental, estas ilhas constituem um elemento de segurança da Europa, especialmente porque que cobrem as linhas de comunicação à volta de África. Em poder de um estado imperialista, ameaçariam estas linhas vitais; a experiência da última guerra demostra que o Mediterrânio pode ser parcial ou completamente fechado, e é então que o acesso ao oceano Índico, ao Golfo Pérsico, ao petróleo do Médio Oriente, depende da possibilidade dos navios contornarem o continente africano”.
Jacques Soustelle estudou o dossier português na perfeição, no todo as suas posições confluem para as do governo de Marcello Caetano. E, por último, a carta-libelo regressa aos problemas da francofonia em África, aos demandos governamentais dos adeptos do socialismo africano, alerta para o perigo de se estar a falar cada vez menos francês em África. Ponto por ponto, desmonta o fiasco da descolonização argelina, mas também a cooperação que se envolve em projetos inúteis. Jacques Soustelle é frontal, é hipercrítico e é emotivo. E ao despedir-se questionando o seu interlocutor como será possível fazer frente às pesadas ameaças que cobrem o futuro, escreve; “Ninguém poderá dar uma resposta a esta pergunta, atualmente. Eis a razão, Ibrahima, porque escrevo uma carta tão longa e sem rodeios: já que as minhas inquietações e as minhas queixas são as de um homem que amou o vosso país e o vosso povo e que, por que não confessá-lo, os ama ainda hoje com todo o seu coração”. Pense o que se pensar desta catilinária, foi um documento que fez época e que caiu bem nas hostes já muito desorientadas dos ultranacionalistas portugueses.
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Na mesma manhã e no mesmo bricabraque onde comprei o livro de Jacques Soustelle, há muitos anos emprestado e desaparecido, encontrei numa caixa esta estampa, um primor de trabalho daqueles tempos em que qualquer livro que se prezasse trazia gravuras e estampas.
Gostei muito desta Aixa, sultana de Granada, e é com satisfação que a ofereço ao blogue.
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Nota do editor
Último poste da série de 13 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13491: Biblioteca em férias (Mário Beja Santos) (3): A literatura de Mickey Spillane
Guiné 63/74 - P13516: Parabéns a você (774): Manuel Amaro, ex-Fur Mil Enf.º da CCAÇ 2615 (Guiné, 1969/71)
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Nota do editor
Último poste da série de 19 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13512: Parabéns a você (773): Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 763 (Guiné, 1965/66)
Nota do editor
Último poste da série de 19 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13512: Parabéns a você (773): Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 763 (Guiné, 1965/66)
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