sábado, 24 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18454: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulos 35 e 36: "Capturaram um turra, trouxeram-no aqui para o quartel. O tipo tem mesmo cara de bandido, se eu pudesse dava-lhe uma rajada de G3 que ele nunca mais nos voltava a atacar.”


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CCAÇ / BART 6520/72 (1972/74) >  O pessoal a preparar-se para mais uma "saída para o mato"...

Foto: © Jorge Pinto  (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


José Claudino da Silva, o pai da ideiado "Bosque
dos Avós".. Gere a respetiva página no Facebook.
A inauguração do bosque é hoje às 10h00,
na serra do Marão. Apoio da
União de Freguesias de Aboadela,
Várzes e Sanche, conceçlho de Amarante

1. Continuação da pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria") do nosso camarada José Claudino Silva [foto atual à direita] (*)

(i) nasceu em Penafiel, em 1950, de pai incógnito" (como se dizia na época e infelizmente se continua a dizer, nos dias de hoje);

(ii) foi criado pela avó materna;

(iii) reside na Lixa, Felgueiras;

(iv) é vizinho do nosso grã-tabanqueiro, o padre Mário da Lixa, ex-capelão em Mansoa (1967/68), com quem, de resto, tem colaborado em iniciativas culturais, no Barracão da Cultura;

(v) tem orgulho na sua profissão: bate-chapas, agora reformado;

(vi) completou o 12.º ano de escolaridade;

(vii) foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção);

(viii) tem página no Facebook; é avô e está a animar o projeto "Bosque dos Avós", na Serra do Marão, em Amarante;

(ix) é membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande.

Hoje, 24 de março, ele e um grupo de avós e netos vão começar a replantar, às 10h00,  a bela serra do Marão, criando assim o "Bosque dos Avós".

Sinopse:

(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;

(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da Via Norte à Rua Escura.

(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1.º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3.ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);

(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré;

(v) no dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau,

(vi) fica mais uns tempos em Bissau para um tirar um curso de especialista em Berliet;

(vii) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas companhia; partida em duas LDM parea Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos', os 'Capicuas", da CART 2772;

(viii) faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos;

(ix) é "promovido" pelo 1.º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o de aprender a datilografar... e a "ter jipe";

(x) a 'herança' dos 'velhinhos' da CART 2772, "Os Capicuas", que deixam Fulacunda; o Dino partilha um quarto de 3 x 2 m, com mais 3 camaradas, "Os Mórmones de Fulacunda";

(xi) Dino, o "cabo de reabastecimentos", o "dono da loja", tem que aprender a lidar com as "diferenças de estatuto", resultantes da hierarquia militar: todos eram clientes da "loja", e todos eram iguais, mas uns mais iguais do que outros, por causa das "divisas"... e dos "galões"...

(xii) faz contas à vida e ao "patacão", de modo a poder casar-se logo que passe à peluda;

(xiii) ao fim de três meses, está a escrever 30/40 cartas e aerogram as por mês; inicialmente eram 80/100; e descobre o sentido (e a importância) da camaradagem em tempo de guerra.

(xiv) como "responsável" pelo reabastecimento não quer que falte a cerveja ao pessoal: em outubro de 1972, o consumo (quinzenal) era já de 6 mil garrafas; ouve dizer, pela primeira vez, na rádio clandestina, que éramos todos colonialistas e que o governo português era fascista; sente-se chocado;

(xv) fica revoltado por o seu camarada responsável pela cantina, e como ele 1º cabo condutor auto, ter apanhado 10 dias de detenção por uma questão de "lana caprina": é o primeiro castigo no mato...; por outro lado, apanha o paludismo, perde 7 quilos, tem 41 graus de febre, conhece a solidariedade dos camaradas e está grato à competência e desvelo do pessoal de saúde da companhia.

(xvi) em 8/11/1972 festejava-se o Ramadão em Fulacunda e no resto do mundo muçulmano; entretanto, a companhia apanha a primeira arma ao IN, uma PPSH, a famosa "costureirinha" (, o seu matraquear fazia lembrar uma máquina de costura);

(xvii) começa a colaborar no jornal da unidade, e é incentivado a prosseguir os seus estudos; surgem as primeiras sobre o amor da sua Mely [Maria Amélia], com quem faz, no entanto, s pazes antes do Natal; confidencia-nos, através das cartas à Mely as pequenas besteiras que ele e os seus amigos (como o Zé Leal de Vila das Aves) vão fazendo...

(xviii) chega ao fim o ano de 1972; mas antes disso houve a festa do Natal (vd. capº 34º, já publicado noutro poste (**):


2. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 35 e 36


[O autor faz questão de não corrigir os excertos que transcreve, das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, quem o criou. ]


35º Capítulo  > A PASSAGEM DE ANO 72/73


Na passagem de ano de 72 para 73 estivemos de prevenção. Foi grave o que eu e mais quatro fizemos. Leiam:

“À meia-noite em ponto eu juntamente com três amigos e um furriel que é um tipo porreiro, viemos desenfiados ao meu quarto e bebemos champanhe, comemos bolos e bolachas. No posto onde estávamos a fazer serviço, ficaram apenas seis colegas, quando deviam estar dez e um furriel. Foi uma coisa rápida, à meia hora já estava outra vez de G3 na mão a olhar para o arame”

Reconheço que cometi muitos erros em toda a minha vida militar; este talvez fosse o pior e devo mencioná-lo pela leviandade, na maneira de proceder. Felizmente, nessa noite, nada aconteceu, mas tenho de admitir que estar de prevenção numa zona de guerra pressupõe que algo de grave possa acontecer o que se viria a verificar em posteriores ocasiões e eu abandonei o meu posto.
Aproveitei o momento para, às zero horas em ponto, escrever para a minha namorada e para as de mais cinco dos meus camaradas.

“1972
0 HORAS.
Nesta Guiné Portuguesa o ano que agora se inicia será vivido a pensar em ti. Amo-te
1973”


É exacta a mensagem como é exacto tudo quanto acentuo a negrito por muito ridículo que possa parecer.

A prevenção terminou às duas da madrugada. Mais tarde descobrimos que foi uma “diversão” do capitão para mostrar quem manda e nada como o demonstrar na primeira noite do ano.

Sendo longa, esta carta onde conto o que atrás descrevi, aproveito para lhes dizer mais duas ou três coisas, nela mencionadas.

Era impreterivelmente no dia 1 de cada mês que tinha de apresentar as contas dos artigos que estavam sob o meu controle, o que me ocupou parte do 1º dia do ano. Há, contudo, um acontecimento que registei e quero partilhar.

“Às 11H30 veio uma avioneta militar buscar um negro que se magoou não trouxe nada mas levou o ferido e correio”

Não sei que logística foi necessária para que esse transporte fosse efectuado. O que sei é que o nosso médico não se importou com a cor do ferido para accionar um meio aéreo de transporte em condições de guerra. Isso ainda hoje é motivo de regozijo para mim. Talvez, por ter vivido em criança com ciganos, nunca lidei muito bem com atitudes xenófobas.

“Fui receber a oferta do Movimento Nacional Feminino. Deram-me oito livros da colecção R.T.P. logo que acabe de os ler vou enviar-tos; embora me pareça que tu não gostas de literatura clássica. Servirão sempre para passares o tempo. Manda-me dizer se queres que os envie ou não.

Meu bem, após ter recebido os livros tocou para o jantar. Aqui jantamos às cinco horas e sabes uma coisa? Estou em Fulacunda há cinco meses e foi a primeira vez que comemos carne de vaca. A notícia tem pouco interesse mas é para saberes a miséria que às vezes aqui anda. Pois bem hoje comi batatas estufadas com carne de vaca. Até soube demais”. 


Mais adiante na mesma carta:

“Desde o dia 26 de Junho até 31 de Dezembro tenho 130 cartas e aerogramas teus, deves ter mais ou menos a mesma coisa. Olha meu amor estava muito bem na caminha a escrever-te mas o capitão mudou de ideias e pronto, lá vamos nós outra vez estar de prevenção. Parece que os “turras” estão a lançar Very Lights.

Que vida tão complicada a nossa, tenho de me levantar, por isso meu bem quando eu vier às duas horas dar-te-ei as últimas notícias por agora tenho de vestir o camuflado e preparar a minha G3. É assim a vida, aqui somos um simples número, por isso estamos sujeitos a tudo. Até mais logo querida.

São três horas da manhã talvez logo venha uma avioneta, e traga correio teu. Recebe o beijo mais apaixonado que eu possa dar-te.”

Foram noites e noites como estas que milhares de nós tiveram de passar. Fazem ideia do tormento que foi? Explicaria melhor se vos falasse dos very-lights: sempre que um verde era lançado, na meia hora seguinte ninguém se mexia e, quando já estávamos novamente despreocupados, lá vinha outro doutra cor. Por vezes passavam-se noites inteiras nisto até algum dos meus colegas enervado dar uma rajada com a G3.


36º Capítulo > UM ANO NA TROPA


No dia 3 de Janeiro de 1973 completei um ano de serviço militar. O aerograma desse dia tem 90 linhas, em cada linha cerca de sete palavras. Escrevi, então, mais ou menos 630 palavras. A Maioria dessas palavras é de amor, paixão, dor e saudade. Tentei sempre brincar com a guerra e até nos momentos mais críticos os meus comentários foram suaves e com um certo patriotismo. Neste dia, porém, está patente uma tremenda revolta, que espero não se venha a acentuar, quando continuar esta leitura a que me propus 45 anos depois.

Começo por me referir o meu amigo Zé Leal. Estava, neste dia 3, convocado por castigo, para participar numa perigosíssima operação no mato e que felizmente não aconteceu. Quero dizer-lhes: os militares adstritos à formação tinham muito pouca experiencia em combate como era o caso, por exemplo, dos condutores. E o Zé era um o que, em minha opinião, em caso de combate, até era um perigo para os outros soldados especialistas.

Escrevi:

“Para que tu vejas como é perigoso o sitio onde os meus camaradas hoje foram fazer uma operação de combate, basta que te diga que para os apoiar vieram, uma avioneta equipada com metralhadoras e bombas e um helicóptero com canhão. Andam por cima deles para os proteger, mesmo assim foram atacados mas não houve nenhum ferido. Capturaram um turra, trouxeram-no aqui para o quartel. O tipo tem mesmo cara de bandido, se eu pudesse dava-lhe uma rajada de G3 que ele nunca mais nos voltava a atacar.”

No mesmo aerograma:

“Talvez não fosse má ideia pegar na minha arma, e obrigar o piloto da avioneta a levar-me até ti. Fazia como aqueles que desviam os aviões para Cuba. O pior eram as consequências.”

Honestamente, não sei a que consequências me referia. Pior que os castigos que tínhamos eram difíceis de imaginar.

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 19 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18433: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulos 32 e 33: E as besteiras que a gente fazia ?!

(**) Vd. poste de 24 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18133: O meu Natal no mato (44): Naquele Natal de 1972, aprendi que os homens não são iguais, apenas porque uma toalha e um guardanapo os separam... (José Claudino da Silva, ex-1º cabo cond auto, 3ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)

Guiné 61/74 - P18453: Parabéns a você (1407): Braima Djaura, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 19 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 22 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18445: Parabéns a você (1406): José Lino Oliveira, ex-Fur Mil Amanuense do BCAÇ 4612/74 (Guiné, 1974)

sexta-feira, 23 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18452: Convívios (846): Esteve magnífica a Tabanca da Linha: na 5ª feira, dia 22, no restaurante "Caravela de Ouro", em Algés, com a presença de 63 convivas, entre amigos/as e camaradas, uns periquitos, outros maçaricos e, a maior parte, vê-cê-cês... (Fotos de Manuel Resende) - Parte I


Foto nº 1 > Oeiras >Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 36º Convívio da Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 > O Jorge Araújo, a última aquisição para a equipa editorial do  blogue...Também novato nas andanças da Magnífica  Tabanca da Linha... Mora em Almada, na "outra banda", mas trabalha em Portimão... Por sorte, conseguimos apanhá-lo desta vez...


Foto nº 2 > Oeiras >Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 36.º Convívio da Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 > O  Jorge Araújo e o nosso editor Luís Graça, que apareceu com um "trunfa", não  conforme com o atavio e o aprumo militares...


Foto nº 3 > Oeiras >Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 36º Convívio da Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 > Um casalinho ques se estreou nas lides da  Tabanca da Linha: vieram da Lourinhã de propósito... Ela  é a Dina, ele o Jaime (Bonifácio Marques da Silva), nosso grã-tabanqueiro, um dos poucos que não andou no CTIG... Foi alf mil paraquedista, do BCP 21 (Angola, 1970/72).  Tem sido um camarada incansável na preservação e divulgação da memória dos antigos combatentes da guerra do ultramar, independentemente do teatro de operações  onde atuaram... Vive na Lourinhã, depois de quase quatro décadas a viver e a trabalhar em Fafe, onde também foi autarca.


Foto nº 4 > Oeiras >Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 36º Convívio da Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 >  A  mesa do pessoal da Tabanca de Porto Dinheiro (, faltou o régulo, Eduardo Jorge Ferreira): da esquerda para a direita, a esposa do Joaquim de Carvalho,  Maria do Céu; a Dina e  o Jaime (Seixal, Lourinhã)


Foto nº 5 > Oeiras >Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 36º Convívio da Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 >  A  mesa do pessoal da Tabanca de Porto Dinheiro: da esquerda para a direita, o Joaquim de Carvalho e a esposa, Maria do Céu (que são do Cadaval, embora também tenham casa em Carnaxide, Oeiras); o Luís Graça e a Alice (Lourinhã e Alfragide /Amadora, conforme os dias da semana). A Maria do Céu, sempre faladora e bem disposta, deve estar a falar de Goa donde acaba de chegar, depois de umas férias deliciosas.


Foto nº 6 > Oeiras >Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 36º Convívio da Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 >  O "bedandense"  Joaquim Pinto de Carvalho e o Carlos Silvério (Ribamar, Lourinhã).


Foto nº 7 > Oeiras >Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 36º Convívio da Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 >   O Carlos Silvério (Ribamar, Louruinhã)  e o Juvenal Amado (que é de Alcobaça, mas mora agora na Reboleira, Amadora). Andamos atrás do Silvério, há anos (!), para ele dar os dados necessários para entrar na Tabanca Grande sem ser pela "porta do cavalo"... Veio de propósito da Lourinhã para estar connosco. 



Foto nº 8 > Oeiras >Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 36º Convívio da Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 >  O Francisco Silva e a esposa Elisabeth (, que moram em Porto Salvo, Oeiras). É sempre uma prazer vê-los e revê-los.


Foto nº 9 > Oeiras >Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 36º Convívio da Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 >  Os gondomarenses Carlos Silva e Germana, duas presenças habituais nestes encontros. Através do Carlos, soube que o outro Carlos, o Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga, está em Bissau, em mais uma missão humanitária. Boa saúde e bom trabalho, para ele!


Foto nº 10 > Oeiras >Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 36º Convívio da Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 >  Um casal que raramente falha estes convívios da Magnífica: o Luís R. Moreira e a Irene. O nosso editor, Luís Graça, estava de piquete, em Bambadinca, quando a viatura, Unimog 411, um "burrinho", em que ia o alf mil sapador (!) Luís R. Moreira caiu numa mina A/C... Uma mina que mudou a sua vida...E duas depois era a vez do "piquete" (uma viatura GMC, com duas secções, em que ia o nosso editor e o António Fernando Marques), cair numa segunda mina, que os picadores não detetaram... Um trágico dia 13 de janeiro que ainda hoje nos persegue!



Foto nº 11 > Oeiras >Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 36º Convívio da Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 >  Quem diria ? Juntos, o tio (o comandante da TAP,  reformado, João Sacôto) e o sobrinho (João Martins)... Estiveram os dois na Guiné, como alferes milicianos e sítios e épocas diferentes. O tio. o ex-Alf Mil da CCAÇ 617 / BCAÇ 619, esteve sempre na Região de Tombali: Catió, Ilha do Como e Cachil, em 1964/66. O sobrinho João Martins foi alf mil art, BAC1, tendo passado por Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, em 1967/69, com as suas peças de artilharia 11.4 e obuses 14.



Foto nº 12 > Oeiras >Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 36º Convívio da Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 > O António Fernando Marques e a esposa Gina (que faz anos no dia 1 de abril, não se esqueçam).


Foto nº 13 > Oeiras >Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 36º Convívio da Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 > O Jorge Pinto e o António Fernando Marques, dois bons amigos e camaradas.


Foto nº 14 > Oeiras >Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 36.º Convívio da Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 >  Giselda e Miguel Pessoa.


Foto nº 15 > Oeiras >Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 36º Convívio da Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 > O Zé Carioca fez questão de mandar esta foto ao seu antigo comandante de companhia, o Abílio Delgado, que mora na Ericeira, Mafra... O Carioca aqui com o Miguel Pessoa e o Luís Graça....  Conhecemo-nos na Guiné, em março de 2008, por ocasião do  Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de março de 2008).  Ainda não foi desta que o Abílio Delgado veio "partir mantenhas" ao pessoal.


Foto nº 16 > Oeiras >Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 36º Convívio da Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 > Da esquerda para a direita: Jorge Rosales (a contas com uns problemas de visão, e a quem desejamos rápidas melhoras), o José Botelho Colaça, o Armando Pires e o "periquito" Jorge Araújo... E a propósto de periquitos, alguém contou (um dos nossos "velhinhos"...) que na Guiné havia 3 espécies de militares, em função da antiguidade: (i) periquitos (até 6 meses); (ii) maçaricos (de 6 a 12 meses); e (iii) VCC (velhinhos como o c...).


Foto nº 17 > Oeiras >Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 36º Convívio da Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 >  O Zé Rodrigues, de Belas (Sintra), pensativo.


Foto nº 19 > Oeiras >Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 36º Convívio da Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 >  O nosso fotógrafo e o organizador destes convívios... É o adjunto do régulo Jorge Rosales. Merece as nossas palmas, pela sua dedicação, generosidade e "low profile".


Foto nº 20 > Oeiras >Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 36º Convívio da Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 > Aspeto parcial da sala (1)


Foto nº 21 > Oeiras >Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 36º Convívio da Tabanca da Linha > 22 de março de 2018 >  Aspeto parcial da sala (2).

Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Fotos acabadas de enviar pelo Manuel Resende:

"Amigos e camaradas, mais um convívio se realizou hoje em Algés, no restaurante Caravela de Ouro, com a presença de 63 Magníficos. Salienta-se a presença de caras novas, como tem vindo a acontecer ultimamente. Desta vez foram o José Mendonça, o Jorge Araújo, o João Rebelo e o Jaime Bonifácio com a esposa Dina."

Abraço.

Manuel Resende
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


17 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18429: Convívios (843): 36º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, 5ª feira, dia 22... Há já 42 inscrições, o prazo termina 3ª feira, 20, de manhã... Recorda-se a ementa: cabrito (, certificado...não, não é o "cabrito-pé-rocha" dos tascos do Pilão!)

Guiné 61/74 - P18451: Notas de leitura (1051): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (27) (Mário Beja Santos)

Uma das plantas para o futuro edifício do BNU Bissau, concebida pelo arquiteto Fernando Schiappa de Campos em Março de 1973 mas que não chegou a ser construído.


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Novembro de 2017:

Queridos amigos,
Estamos no auge da guerra, convém não esquecer, é compreensível que os relatos insistam nos entraves económicos postos pelos ingleses às colónias francesas, pontualmente território inimigo dos britânicos.
O gerente de Bissau não perde oportunidade para expender os seus pontos de vista sobre as potencialidades agrícolas da colónia, deplora a falta de arroz e as importações de milho, tudo produto da desorganização de uma terra tão rica.
Está a chegar muito ouro à Guiné graças aos negócios com estes territórios da África Ocidental francesa de resto a vida da praça não sai da rotina, veja-se a informação sobre o comércio local: "Abriram dois pequenos estabelecimentos de quinquilharias sem valor que mereça especial referência. Um do empregado da Casa Gouveia e outro de Carlos Machado, comerciante de pouco valor que se transferiu de Bolama para aqui".
É por esta altura que se dá uma importante migração de Balantas para a região de Catió, vão para a cultura do arroz. Foram e ficaram, laboriosos, estes Balantas contribuíram para mudar o rosto do Sul da colónia.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (27)

Beja Santos

São merecedores da melhor atenção todos estes relatórios elaborados em plena Segunda Guerra Mundial, todos juntos dão-nos um quadro da vida económica social e financeira da colónia. Logo o relatório da agência de Bissau de 1942, no seu primeiro semestre, começa por dizer que a situação da praça é pouco mais ou menos a que já se registava no fim do último semestre de 1941. Há especulação:  
“O comércio nacional tem mostrado uma actividade interessante, animado, talvez, pelos preços exorbitantes que está conseguindo mercê de uma acção fiscalizadora de fraca intensidade, por parte do competente organismo regulador de preços. Daqui resulta o registo de um aumento de custo de vida pouco compatível com os vencimentos do funcionalismo e da classe comercial”.
Aborda o comércio sírio:
“Pela natureza especial dos seus componentes e até pela sua localização por essa colónia toda, são os comerciantes sírios quem está em condições de melhor trabalhar às claras ou em regime de contrabando com as vizinhas colónias francesas”.
Estas vendas de mercadorias feitas pelos comerciantes portugueses e sírios saldam-se em bom dinheiro, o relatório refere quase 9 mil contos em entradas de euro. E deixa uma observação: “Atingiria este comércio proporções dignas de registo não fora o entrave feroz que lhe opõe o consulado inglês. O comerciante português ou sírio que viva apenas da compra dentro da colónia e não importe directamente, não era até há pouco grandemente afectado pelas acções dos ingleses. Porém, a rede de espionagem destes é grande em toda a colónia e vai apanhando todos os que vendem para o chão francês e apanhados ficam pouco menos que liquidados pois que é imposta ao comerciante grande fornecedor daquele, que não lhe forneça mais e este, seja português ou sírio, tem que se subordinar prontamente. Não se subordinando, nem obtém licenças de importação nem de exportação e vê os seus negócios locais paralisarem também, visto que os outros comerciantes querem fugir à mesma direcção do consulado britânico contra si. E se algum dos renitentes precisa de embarcar para fora da colónia, mesmo que seja português e mesmo que tenha todas as licenças do nosso governo para embarque, este é terminantemente proibido pelo consulado britânico”.

O relatório aponta agora, e uma vez mais, para os problemas da agricultura, o gerente não escusa as suas considerações pessoais:
“Como sempre, a colónia vive da sua agricultura. Mas vive da colheita do que o indígena semeia e não da cultura que resulta de trabalho de europeus, nem da orientação que estes dêem àquele. Assim, o indígena vai suprindo com o viático que lhe fornece a experiência e a rotina aquilo que o europeu não lhe fornece em ciência, e este vai-se limitando à função única de comprador do que aquele lhe vende. Cultura organizada é coisa que não existe na colónia. Em nosso modesto entender, esta falta pode resultar, talvez e pelo menos pelos seguintes factores:
- Nada há estudado sobre climas e sobre terra para melhor se ver o que mais convém aos produtos e aos sistemas de produção e mesmo quando a defesa das culturas contra os seus principais inimigos. Se há, não conhecemos, nem vemos que se pratica;
- Não há mão-de-obra fácil, na educação do preto, por meio de uma sábia política indígena, para este a fornecer no sentido de uma maior valorização económica da colónia que automaticamente lhe traria a ele próprio um enriquecimento de que poderia resultar até, como consequência imediata, a elevação do seu nível de vida;
- Não aparece capital a fomentar qualquer empreendimento que surja, já pelas duas razões atrás indicadas, já pelos insucessos de experiências anteriores em que o arrojo sobrelevou as outras características desses insucessos.

Remediando-se este males, e não vemos que seja impossível dar-lhe remédio, tanto mais que, o maior deles, em nosso modesto entender, é o disciplinar o indígena quanto a sistema de trabalho orientado por europeus, e o indígena é o factor supremo, poderia Guiné vir a ser uma das mais ricas colónias de Portugal.
Fala-se em civilizar o indígena e está bem. Mas civilizá-lo fora do seu conceito de civilização sem lhe dar a necessária riqueza e esta só ele a poder tirar do seu trabalho, não será apenas uma ideia vaga, imprecisa de que não resultarão finalidades práticas?
Não carecemos exemplos de ninguém. Não nos precisa interessar o sistema inglês de passagem da função colonizadora à função administrativa dos povos que submeteu.
Menos nos pode interessar o sistema alemão que faz arrancar em poucos anos 5 mil toneladas de cacau aos Camarões ou 20 mil toneladas de fibras ao Este Africano (é provável que o relator estivesse a pensar no império alemão da África Oriental constituído pelo Tanganica, Ruanda e Burundi, que se extinguiu com o Tratado de Versalhes).

Temos os nossos próprios métodos que servem de sobejo para o caso em questão e temos aqui ao lado uma colónia onde se morre de fome de vez em quando e cujo excesso populacional talvez visse até com agrado a sua transferência para aqui, onde a terra lhe daria tudo e onde eles criariam riqueza que não existem agora (…) 
Temos tido sempre em mira o fito de criar riquezas melhorando a condição de tantos milhares de homens que nos estão sujeitos, livrando-os daquela inferioridade económica que fatalmente arrasta a inferioridade moral.
Com esta autoridade, que é preciso reforçar na Guiné, trabalhando mais e melhor, temos fé em merecer o respeito alheio, no apuro final a que vai dar lugar o fim da guerra quando chegar”.

E postas estas cogitações sobre o modelo de colonização que se deve instituir na Guiné, o relator passa aos aspetos práticos:
“A cultura do arroz, intensificada, é certo de alguns anos a esta parte, mostrou-se este ano insuficiente e Bissau tem assistido ao espectáculo degradante de ver massas de indígenas, até de baixo de chuvas torrenciais, dias e dias à espera de comprarem um quilo de arroz, base essencial da sua alimentação. E, a maior parte, não o obtém.
Registou-se fome. Teve de se recorrer a Angola para mandar milho que cobrisse um pouco esta miséria.
Dois factos positivamente anormais e filhos de uma desorganização de coisas que se repetirá todos os anos se não se lhe acudir.
A falta de arroz atribui-se à falta de chuvas. Mas atribui-se sem elementos sérios.
Diz-se que foi falta de chuvas e tudo fica bem.
Mas, porque não se diz que não se semeou mais para mais se colher?
Mas, porque não se diz que há terrenos e terrenos bons para a cultura do arroz e não são encaminhadas para eles as populações indígenas que os podem cultivar?
Vir milho de Angola para a Guiné!!!

Outra irrisão. A Guiné pode dar todo o milho que se queira. Quando se reconheceu que viria a haver fome por falta de arroz, era altura boa de se fazer semear milho.
Porque assim não se fez?
Porque não se cultiva a mandioca em larga escala se ela fornece uma excelente alimentação ao indígena e pode ser, devidamente seca, um produto importante de exportação?
Tudo interrogações sem fácil resposta e que deixam de estar em equação no dia em que, na colónia, apareçam homens cujo valor real, zelo, senso e boa vontade ofereçam as suas aptidões para a realização que urge fazer da valorização económica da colónia.
Existem serviços agrícolas, dir-se-á.
Existem mas é preciso reorganiza-los para lhes dar eficiência precisa para valorizarem a colónia”.

Retirado do livro “Bijagós: Património Arquitetónico”, por Duarte Pape e Rodrigo Rebelo de Andrade, Tinta-da-China, 2016, com a devida vénia

Esta imagem situada na ilha de Canhabaque, foi retirada do livro “Bijagós: Património Arquitetónico”, por Duarte Pape e Rodrigo Rebelo de Andrade, Tinta-da-China, 2016, com a devida vénia

No relatório completo de 1942 retomam-se matérias do primeiro semestre e adiantam-se novas informações.
Não se esquecem os entraves postos pelas autoridades consulares inglesas e dá-se um esclarecimento:
“Todos os que trabalham com o Senegal estão na lista negra inglesa porque os agentes consulares britânicos enquanto não entraram as tropas americanas no continente africano tinham a convicção – não sabemos se com fundamento ou sem ele – de que alguma parte dos nossos tecidos ia beneficiar as tropas germano-italianas. Mas se não era assim, iam com certeza beneficiar as colónias francesas, ao tempo em regime de franca hostilidade aos ingleses e esta agravada depois do ataque a Dakar.
Apesar de tudo isto, o negócio não parou.
Directa ou indirectamente, o ex-guarda-livros da Sociedade Comercial Ultramarina, Henrique de Oliveira, a quem a inclusão na lista negra não produziu abalo nenhum, passou a ser como que o agente directo dos negócios para o território francês, ganhando, ao que se diz, uns 3 a 4 mil contos, em comissões, transportes, etc.

Presentemente, o governo francês deve ao comércio local cerca de 18 mil contos e procura fazer o pagamento em francos, por nosso intermédio, o que não temos aceitado por ser inconveniente aos nossos interesses, aos interesses dos comerciantes e aos da própria colónia”.

Relata que está a entrar muito ouro em barra, argolas e mesmo em pó. “Particularmente, sabemos que algum desse ouro em pó já foi vendido em Lisboa a cerca de 30 escudos por grama de ouro bruto. Se o ouro que temos comprado por peso de ouro fino, a preço até mais baixo que a cotação que a sede nos dá, pudesse ver vendido àquele preço e por peso bruto, importantíssimo seria o lucro que esta filial teria obtido a favor dos interesses gerais do banco”.

(Continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 16 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18423: Notas de leitura (1049): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (26) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 19 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18434: Notas de leitura (1050): “Guiné-Bolama, História e Memórias”, por Fernando Tabanez Ribeiro; Âncora Editora, 2018 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18450: O nosso blogue em números (52): 90 mil visualizações de página / visitas nos últimos 30 dias, 3 mil por dia...



Às 21h50 de ontem, o Blogger, o nosso servidor, dava-nos esta informação (estatística) sobre o movimento do blogue, nos últimos 30 dias  (de 21/2/2018 a 22/3/2018:

(i) tivemos um total de 90158 visualizações / visitas (o que dá uma média diária de 3 mil);

(ii) os valores diários variaram, nesse período,  entre 2222 (mínimo), em 3 de março, e 5379 (máximo),  em 21 de março de 2018;

(iii) 72,5% das visualizações vieram de 5 países: Portugal (28,3%), Reino Unido (16,5%), França (15,2) e EUA (12,5%);

(iv) atingimos ontem os 8,5 milhões de visualizações de página, de acordo com o contador do Blogger (que está ativo desde julho de 2010);

(v) a este valor temos que  acrescentar o "saldo histórico" de 1,8 milhões de visualizações, registadas outro contador (entre abril de 2004,  início do blogue,  e julho de 2010);

(vi) o total de visualizações de página é, pois, de 10,3 milhões, desde o início do blogue;

(vii) com um total de 269 postes publicados, desde o início do ano de 2018 até hoje, a média diária é de 3,3 postes;

(viii) desde o início deste ano, foram feitos cerca de 1150 comentários, o que dá uma média 4,4 comentários por poste... Total (histórico) de comentários: 71 843;

(ix) temos 609 seguidores do nosso blogue;

(x) o número total de membros registados na Tabanca Grande, aqui no blogue, é de 766 (dos quais 61 já faleceram).

Estes números só dizem respeito ao blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, não incluem a página do Facebook, Tabanca Grande Luís Graça (os "amigos facebook...eiros" são 2740).

Recorde-se que temos um "livro de estilo", um conjunto de regras que não se aplicam ao Facebook. Ser "amigo do Facebook" não significa ser membro, automaticamente, da Tabanca Grande.

Guiné 61/74 - P18449: Os nossos seres, saberes e lazeres (258): Uma viagem a Veneza (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)



1. Em mensagem do dia 19 de Março de 2018, o nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), enviou-nos um relato da sua viagem à Veneza.


VIAGEM A VENEZA

As grandes cidades com as suas paisagens arquitectónicas grandiosas formadas por praças, ruas, avenidas e ruelas típicas, os seus monumentos, jardins, palácios e igrejas catedrais, provocam-me uma grande emoção estética sobretudo ao primeiro impacto. Era ainda adolescente, um dia em que percorri a Baixa do Porto pela primeira vez, e senti uma exaltação, a par de um grande entusiasmo, que nunca esqueci.

Foi assim em Veneza, essa cidade monumental italiana, cidade anfíbia que parece ter nascido das águas do Adriático. Saímos cedo, eram sete horas, da estação central de Munique, manhã muito nublada, algo fria, com chuva intermitente, aborrecida, esparsa que nos irá acompanhar em toda a viagem de comboio, pela Baviera, Áustria e Itália para desembarcarmos, cerca das 14 horas, na estação de caminhos de ferro de Santa Lúcia em Veneza. Estamos em Itália, terra de muita música popular e clássica, de muitas canções que alegram o espírito, tal como a canção napolitana que parece ecoar nos meus ouvidos por ter o mesmo nome desta Estação de Comboios.

A poucos metros da estação, entramos num cais para apanhar um barco no Grande Canal, dessa grande baía do mar Adriático povoada de pequenas ilhas percorridas por muitos canais, onde foi construída esta cidade fluída, ao nível do mar e que com ele se mistura, se confunde e nele se reflecte. Depois de algumas paragens, desembarcamos no cais da Praça de S.Marcos, no centro histórico da cidade. Durante três dias iremos percorrer e admirar, já com bastante sol, estas ruas de água que ondulam suavemente, ruas e vielas de pedra dura perdidas numa emaranhado de pontes e canais. E a música de Vivaldi, que cai do céu como neve branca e suave ou nasce do bailar das águas inunda de luz a Praça de S. Marcos, a Basílica e o Palácio dos Doges. Hoje ao recordar essa viagem quase irreal, eu que amo a literatura e a música, mais do que as outras artes, sinto o "Adágio" in G Minor de Albinoni entrar-me nos ouvidos em toadas lentas, tal como alguns acordes das "Quatro Estações" de Vivaldi, um e outro compositores da cidade, ao ritmo das pequenas ondas que as marés criam nos canais de Veneza enquanto a nostalgia se instala no meu espírito com a melancolia deste dia húmido e nublado. A melancolia que se deixa misturar com sentimentos, memórias, sensações, é um estado de alma a que nos habituamos, que nos deixa suspensos entre a felicidade e a tristeza.

A Praça de S.Marcos é enorme e ampla, ladeada por edifícios nobres e clássicos onde se distingue pela beleza e elegância da sua arquitectura e escultura a Basílica de S. Marcos que tem algumas semelhanças com outras igrejas da antiga cidade de Constantinopla hoje Istambul. Toda a arquitectura da cidade parece sofrer duma forte influência do Levante que aliás lhe dá outra graça e leveza.



No Palácio dos Doges, o outro grande monumento que encima a Praça de S. Marcos, está personificado todo o poder e riqueza dessa República de comerciantes nobres e burgueses, que abre o seu interior em grandes salas que deslumbram o viajante pela beleza das suas tapeçarias, esculturas e pinturas. Nas salas, salões e gabinetes do Palácio dos Doges, estava concentrado todo o poder executivo, legislativo, judicial e não faltava sequer uma cadeia que funcionava na cave.

É sabido que Veneza dominou durante séculos o comércio entre o Oriente e o Ocidente e o seu poder e riqueza tiveram essa origem. Só os Portugueses a partir dos séculos XV e XVI com a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama, conseguiram alterar essa rota comercial para Lisboa, tendo Portugal beneficiado de algumas décadas de riqueza enquanto a República de Veneza definhava. Os Venezianos ao tempo chegaram a armar uma esquadra do mameluco do Egipto para combater a esquadra de Afonso de Albuquerque na Índia. Nessa batalha Afonso de Albuquerque derrotou os egípcios. O comércio com a Arábia, a Mongólia, China e a Índia, antes das grandes navegações era feito por terra, seguindo a rota da seda nas suas variantes, e o escritor, comerciante e aventureiro veneziano Marco Polo, dos séculos XIII e XIV, que durante longos anos por lá andou descreveu essas rotas e esse intercâmbio nas suas Viagens, num livro que teve um enorme êxito em toda a Europa. Os Portugueses ao dobrarem o Cabo da Boa Esperança, encurtaram as distâncias entre esses mundos e ajudaram a aproximar os continentes. Antes da exploração do espaço no século anterior pelos americanos e russos, os grandes exploradores da Terra foram eles, os nossos antepassados.

No Palácio dos Doges tivemos oportunidade de apreciar uma grande exposição de jóias e pedras preciosas raras, de uma beleza límpida e cintilante "Tesouros dos Mongóis e dos Marajás", que nos transportava ao tempo em que a cidade comerciava com esses nababos do Oriente.

Em terra firme, onde não há trânsito automóvel, nem de motociclos se bem me lembro, as ruas no geral são pouco largas, predominando as ruas estreitas, as vielas e chega a haver ruelas onde dois homens dificilmente se podem cruzar. Em certas zonas forma-se um tal labirinto de ruas, ruelas, canais e pontes que o viajante se sente perdido se não tiver como nós uma guia e interprete para nos levar a todas as partes com os seus conhecimentos e com a ajuda dos astros.

De cima do Campanário de S. Marcos, toda a cidade se mostra, plana, ao nível do mar, os edifícios no geral têm uma altura modesta de cidade antiga, com um ar decadente também pela acção erosiva da brisa marítima, onde se multiplicam e sobressaem pela sua altura os campanários e torres das igrejas. É uma visão magnífica e repousante que a cidade nos oferece para todos os horizontes e nos leva a reflectir sobre a beleza do seu conjunto e sobre os seus mais de mil anos de História.

Nós como os milhares de turistas que diariamente a visitam, fomos lá chamados pela fama dessa beleza única, porque Veneza encerrada na neblina do mar, na neblina da História e dos seus mitos, só revela a sua magia quando navegamos as suas águas e percorremos as suas calçadas.

Há as gondolas que singram pelos canais com a elegância de aves marítimas que dão um toque romântico a essa terra onde nasceu e se criou, talvez o homem mais romântico e amado pelas mulheres. Giacomo Casanova, o autor da "História da Minha Vida", escritor, aventureiro, libertino, culto, matemático, ficou sobretudo conhecido em toda a Europa como um grande sedutor, maior do que todas os D. Juans de que fala a literatura, que não existiram pois foram criados pela imaginação de escritores.
Foi um homem que no seu tempo, pela sua presença, pelas suas palavras e pelas suas qualidades intelectuais, exerceu uma grande atracção sobre as damas nobres e outras mais pobres de Veneza e outras cidades. Poderia ser padre, ainda andou a estudar para tal mas descobriu que a sua vocação era outra. Dizem, ele escreveu, que terá sido intimo de muitas mulheres e que terá sido fiel a todas pois nunca terá feito promessas que não pudesse cumprir.

Por causa das suas aventuras, a Sereníssima República de Veneza terá tido alguns tempos agitados. A sua vida. sem lei nem regras, de jogo, e de conquistas, perturbava os nobres e cardeais da cidade pelo que acabou por ser julgado e preso nos calabouços do Palácio dos Doges, donde conseguiu fugir, tendo ido para Paris, onde viveu alguns anos e também noutras cidades da Europa.

Os grandes sedutores, poucos e raros, são homens que apreciam muito as mulheres, as conhecem, adivinham os seus desejos e conhecem as leis do amor. As mulheres gostam deles mesmo quando os recusam porque elas sabem que não há outro homem que lhes dê tanto valor, que saiba olhar para elas com discrição, respeito e admiração e que lhes saiba falar mesmo sem falar de amor.

Veneza na nossa imaginação está também associada ao Carnaval e aos seus cortejos com trajes e máscaras elegantes que procuram retratar as festas carnavalescas da sua a nobreza antiga e rica. Há muitas lojas na cidade a vender esses adereços que fazem parte da indústria turística.

Por toda a Terra é quase inevitável que os portugueses em turismo ou trabalho se cruzem com outros e quando isso acontece há sempre alguma conversa em que identificamos as origens e quando nos despedimos e já com emoção e saudades da Pátria. Portugueses eram dois, uma jovem senhora e um homem ainda mais jovem, técnicos dum serviço social, ao serviço da Comunidade Europeia, jantavam com dois jovens, ele italiano e ela polaca, do mesmo serviço. Sentamo-nos, por acaso, em mesas contíguas e nós ou eles ouvimos falar a nossa língua e estabeleceu-se logo um diálogo animado que terá durado quase uma hora.
Como bons portugueses, sentimentais, o adeus foi com beijos e abraços.



Procuro partilhar convosco meus amigos mais uma viagem da minha vida que me despertou os sentidos e as melhores emoções e ficará no álbum das minhas recordações para sempre.
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Notas do editor

Último poste de Francisco Baptista de 7 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18294: Brunhoso há 50 anos (13): Viagens de comboio ao Porto (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)

Último poste da série de 17 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18428: Os nossos seres, saberes e lazeres (257): Em Bruxelas, para comemorar 40 anos de uma amizade (7) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 22 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18448: (D)outro lado do combate (23): "Plano de operações na Frente Sul" (Out-dez 1969) > Ataque a Bolama em 3 de novembro de 1969 - II (e última) Parte (Jorge Araújo)



PAIGC - Combatentes cambando um rio, de canoa

Citação: (1963-1973), "[dez?] Combatentes do PAIGC atravessando um rio de canoa", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_44127 (2018-3-10), com a devida vénia.


Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 

(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue desde março de 2018




GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE >"PLANO DE OPERAÇÕES NA FRENTE SUL" [OUT-DEZ 1969] - ATAQUE A BOLAMA EM 3 DE NOVEMBRO DE 1969 (AO TEMPO DA CCAÇ 13 E CCAÇ 14)

(II e última parte)


1. INTRODUÇÃO

Com este segundo e último fragmento relacionado com o ataque a Bolama, em 3 de Novembro de 1969, 2.ª feira, damos por concluída a análise à terceira missão do "plano de acções militares", de um conjunto de nove flagelações a diferentes aquartelamentos das NT, situados nas regiões de Quinara e de Tombali, todas agendadas para o último trimestre desse ano.

No caso particular da flagelação à cidade de Bolama, as forças mobilizadas pelo PAIGC eram constituídas por cerca de cento e vinte elementos, correspondentes a um grupo de artilharia com duas peças "GRAD", cada uma delas preparada para projectar dois foguetes de 122 mm, e três bigrupos de infantaria, para segurança aos artilheiros, todos agindo sob as ordens do comandante Umaru Djaló (1940-2014) que, como foi referido na parte I deste trabalho [P18439], viria a morrer a 29 de Maio de 2014, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, com 74 anos.

Este efectivo mais reduzido, quando comparado com os anteriores, é justificado pelos seus objectivos específicos e, também, pelo facto de estarem programados outros ataques para os dias imediatos, como eram os casos de Cacine e Cabedú, por esta ordem, conforme pode ser confirmado no quadro abaixo.






Para a concretização desta missão, os efectivos referidos tiveram que percorrer a pé cerca de setenta quilómetros, correspondente à distância entre a base de saída [Botché Chance] e o local escolhido para a posição de fogo [Ponta Bambaiã]. Este percurso demorou cinco dias, com a partida a acontecer às 17 horas do dia 29 de Outubro, 4.ª feira, e a chegada à Ponta Bambaiã às 16 horas do dia 3 de Novembro de 1969, 2.ª feira, o que equivale a uma caminhada média/dia de quinze quilómetros.

O percurso foi o seguinte: saída de Botché Chance pelas 17 horas do dia 29 de Outubro de 1969, 4.ª feira. Cambança do rio em Botché Col até às imediações de Gândua (dia 30). Nova cambança do rio Tombali em Iangue com chegada à Bolanha Longe (dia 1). Travessia de novo plano de água até atingir Paiunco de manhã (dia 3), com chegada a Ponta Bambaiã pelas 16 horas, onde iniciaram os preparativos do ataque.

Cumpridos os objectivos da missão, que durou dez minutos, os elementos desta força regressaram às suas origens, utilizando o mesmo itinerário mas, agora, em sentido inverso.

Referimos, uma vez mais, que para a elaboração desta narrativa, como para todas as outras que fazem parte deste dossiê específico, já publicadas ou a publicar, foi utilizado o relatório "das operações militares na Frente Sul" [http://hdl.handle.net/11002/fms _dc_40082 (2018-1-20)], documento dactilografado em formato A/4, sem capa e sem referência ao seu autor, localizado no Arquivo Amílcar Cabral, existente na Casa Comum – Fundação Mário Soares.





2. DESTINATÁRIOS DO ATAQUE A BOLAMA EM 3NOV1969 - A CCAÇ 13 (CCAÇ 2591), A CCAÇ 14 (CCAÇ 2592) E O CIM

Recordam-se, com vista aérea de Bolama e respectiva legenda, os espaços mais frequentados pelos militares durante a sua premanência naquela cidade. Imagem postada pelo camarada grã-tabanqueiro ex-Alf Mil Rui G. Santos, Bedanda e Bolama da 4.ª CCAÇ (1963/1965) – in: http://riodosbonssinais.blogspot.pt/search/label/bolama ou "Bolama… no meu tempo – Guerra do Ultramar", com a devida vénia.

No CIM (Centro de Instrução Militar) de Bolama, em finais de Outubro de 1969, estavam em fase de conclusão de instrução/formação mais duas Companhias de Caçadores designadas por CCAÇ 13 e CCAÇ 14, saídas da união entre praças africanas do Recrutamento Local e oficiais, sargentos e praças especialistas oriundos da Metrópole. Os quadros metropolitanos destas novas Unidades Independentes, mobilizados pelo Regimento de Infantaria 16, de Portalegre, pretenciam à CCAÇ 2591, que deu origem à CCAÇ 13, e a CCAÇ 2592 à CCAÇ 14, respectivamente.

No caso deste ataque a Bolama, ele foi presenciado pelos colectivos das duas Unidades acima, uma vez que se encontravam no cais da cidade preparando-se para o embarque em LDG, rumo a Bissorã e a Cuntima, locais onde passariam a desempenhar as suas missões operacionais.



Guiné > Região do Óio > Bissorã (1969/70) – A porta de armas do quartel por onde entrou a CCAÇ 13, substituindo a CCAÇ 2444 (1968/70 - companhia açoreana) na sua missão. Foto do camarada Armando Pires (ex-fur mil enf.º da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70), com a devida vénia. (P12023).

De entre aqueles que viveram a emoção/tensão de ouvirem e sentirem o rebentamento dos foguetes 122 mm, recupero os testemunhos dos camaradas ex-furriéis Carlos Fortunato (CCAÇ 13/CCAÇ 2591) e Eduardo Estrela (CCAÇ 14/CCAÇ 2592), ambos membros da nossa «Tabanca».

Carlos Fortunato refere que "no dia 3/11/1969 quando a CCAÇ 13 [CCAÇ 2591 - "Os Leões Negros"] estava no cais de Bolama, preparando-se para embarcar numa LDG [rumo a BISSORÃ], ouviu-se um longínquo 'pof' vindo da parte continental (zona de Tite). Um dos africanos disse 'saída' sorrindo, mas logo a seguir passaram sobre as nossas cabeças 3 [no relatório constam quatro] foguetões de 122 mm. Um acertou numa das pequenas vivendas que corriam ao lado da rua principal [imagem abaixo], que ligava o porto ao largo principal da cidade, apenas a uns escassos 30m do local onde estávamos. Outro caiu no largo principal um pouco mais acima, e o terceiro mais longe, já fora da zona habitacional. Corremos de imediato para o local dos impactos para prestar assistência às eventuais vítimas, mas felizmente apenas houve ferimentos muito ligeiros entre a população". […] "Os morteiros 107 mm existentes no quartel de Bolama responderam ao fogo". […] [sítio: CCAÇ 13 – Os leões Negros: Memórias da Guerra na Guiné (1969/71)]. [P9337].



Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Bolama > Rua principal de Bolama, onde caiu o primeiro foguete 122 mm. Imagem postada pelo camarada grã-tabanqueiro ex-Alf Mil Rui G. Santos, Bedanda e Bolama da 4.ª CCAÇ (1963/65) – in "Bolama… no meu tempo – Guerra do Ultramar", com a devida vénia.

Por outro lado, Eduardo Estrela, da CCAÇ 14 [CCAÇ 2592], acrescenta que "partimos em 3 de Novembro de 1969 para a zona operacional que nos tinha sido destinada, CUNTIMA, junto à linha de fronteira do Senegal. Ainda em Bolama (…) sofremos, à hora da saída da LDG, um ataque onde o PAIGC utilizou pela primeira vez foguetões terra-terra. Ninguém sabia que tipo de armamento o PAIGC utilizara e só em Bissau, no dia seguinte, nos foi comunicado o tipo de arma". [P11365].



Guiné > Região do Óio > Cuntima (1970) – 4.º Pelotão da CCAÇ 14, do ex-fur António Bartolomeu, o 1.º da direita. [P9456], com a devida vénia.

Para concluir esta narrativa histórica resta-nos referir, no ponto seguinte, alguns aspectos técnicos relacionados com o uso da peça "GRAD", arma utilizada neste ataque a Bolama, assim como dos resultados obtidos que constam no relatório.

Encerraremos o trabalho apresentando os quadros das baixas [mortes] de cada uma das Unidades, desde a sua criação [1969] até ao final do conflito [1974].


3. O ATAQUE A BOLAMA EM 3NOV1969… COM FOGUETES 122 MM "GRAD" LANÇADOS DA PONTA BAMBAIÃ

Objectivos da acção:


O objectivo definido para esta acção previa o bombardeamento de Bolama, através da utilização de quatro foguetes 122 mm lançados de duas peças "GRAD" colocadas na orla costeira da zona sudoeste da região de Quinara, mais precisamente na Ponta Bambaiã [ver imagem de satélite abaixo].

Porém, a escolha deste local está ligado a muitos outros antecedentes históricos. O primeiro de todos, a 23 de Janeiro de 1963, teve por cenário o ataque ao quartel de Tite, aquele que ficaria gravado como o do início do conflito armado, e que faz parte da mesma região, Quinara.

De acordo com a obra do historiador africano Leopoldo [Victor
Teixeira] Amado, nascido em Catió em 1960, e que em 2010 concluiu o seu doutoramento em História Contemporânea pela Universidade de Lisboa [, e j+a na altura membro da nossa Tabanac Grande], nela é referido que "a partir do dia 12 de Março de 1963 o PAIGC aumentou substancialmente a sua actividade. Assim, destruíram vários pontões nas áreas de Tite e de Buba; flagelaram Dar-es-Salam, na península de Empada; cortaram as estradas de acesso a esta povoação e os locais de embarque para Bolama; incendiaram o barco a motor da carreira Bolama-Ponta Bambaiã; impediram o carregamento de mancarra e arroz num barco atracado em Dana, a nordeste de Fulacunda, no rio Corubal; atacaram a tabanca fula de Priame, junto a Catió; flagelaram Cufar e Fulacunda… […] Finalmente, em 25 [Março'63], capturaram no porto de Cafine (rio Cumbijã) os barcos a motor «Mirandela», da Casa Gouveia, e «Arouca», da Casa Brandão, tendo-os levado para a República da Guiné-Conacri com a conivência de parte da tripulação". In: "Guineidade & Africanidade: Estudos, Crónicas, Ensaios e Outros Textos", Lisboa, Edições Vieira da Silva, 2013, pp 117-118.

A 30 de Março de 1963, cinco dias depois desta ocorência, Amílcar Cabral (1924-1973) dirige uma carta a "Nino" Vieira [MARGA, pseudónimo de guerra] elogiando o seu desempenho na captura dos barcos, nos seguintes termos:

"Em particular quero felicitar-te pela operação que terminou pelo envio para aqui dos motores «Mirandela» e «Arouca». Esta operação, pela sua importância no quadro da nossa luta, do género de luta que o nosso Partido adoptou, pelo sucesso total de que foi coroado, vem provar-nos que somos capazes de realizar tudo o que o nosso Partido projectou fazer para a conquista da liberdade, e para a construção da felicidade do nosso povo". […] 



Citação: (1963), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/ 11002/fms_dc_36648 (2018-3-10)



Trabalho técnico da artilharia na posição de fogo [peças "GRAD"]

1. Localização exacta da posição de fogo no mapa.

2. Medição, pelo mapa, da distância entre a posição de fogo e o centro da cidade – 9.800 metros.

3. Localização no terreno e no mapa de um ponto de referência bem determinado (observatório do porto de Bolama).

4. Medição, pelo mapa, do desvio angular entre a direcção do ponto de referência escolhido e a direcção de fogo – o-35, à esquerda.

5. Determinação aproximada das correcções a introduzir em virtude da pressão atmosférica e temperatura – (-100 metros).

6. Determinação da alça pela tabela de tiro.

7. Determinação da deriva a partir do ponto de referência. Como há que introduzir sempre uma correcção de (0-35, à direita) resultou que a deriva foi de 30-00 apontando para o ponto de referência.

8. Instalação das peças, introdução dos dados obtidos e fogo.




Reacção das tropas colonialistas que abriram fogo de várias armas – metralhadoras, morteiros, canhões (de barco), sem no entanto terem localizado o local donde tinham partido os foguetes.

Retirada sem problemas pelo mesmo itinerário do acesso ao lugar.

Resultados

Segundo informações [pouco ou nada] fidedignas, na manhã do dia 4 de Novembro, 3.ª feira, ainda havia incêndio em Bolama. Todos os obuses caíram dentro da cidade e provocaram grandes destruições.






Na impossibilidade da elaboração de uma infogravura referente ao itinerário percorrido pelas forças mobilizadas para este ataque, já referido na introdução, optei por utilizar a imagem de satélite abaixo, indicando a vermelho a Ponta Bambaiã, local escolhido para o disparo dos foguetes 122 mm sobre Bolama.



4. BAIXAS

- CCAÇ 13 (ex-CCAÇ 2591)

Desde a sua criação [Nov'1969], a CCAÇ 13 contabilizou 9 (nove) baixas, sendo 2 (duas) do Contigente Metropolitano e 7 (sete) do Recrutamento Local.






- CCAÇ 14 (ex-CCAÇ 2592)

Desde a sua criação [Nov'1969], a CCAÇ 14 contabilizou 8 (oito) baixas, sendo 2 (duas) do Contigente Metropolitano e 6 (seis) do Recrutamento Local.




Continua…

Obrigado pela atenção.

Com forte abraço de amizade,

Jorge Araújo.

21MAR2018.
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Nota do editor:

Ultimo poste da série > 20 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18439: (D)outro lado do combate (22): "Plano de operações na Frente Sul" (Out-dez 1969) > Ataque a Bolama em 3 de novembro de 1969 - Parte I (Jorge Araújo)