Foto: © J. Mexia Alves (2009). Todos os direitos reservados
Viseu> 15 de Junho de 2007> Encontro do BART 3873 ( Bambadinca 71/74)> Da esquerda para a direita e de cima para baixo: Casimiro Barata, António Silva, Álvaro Basto, António Barroso; Silva, Eduardinho, Lima Rodrigues, António Azevedo (assinalado com rectângulo a amarelo); Maçães, Mourão, Ceia, Artur Soares e Carlos Nunes.
Foto (e legenda) : © Álvaro Basto (2007). Todos os direitos reservados.
1. Mensagem do Joaquim Mexia Alves, aproveitando este pequeno e feliz macaréu que foi a chegada, à nossa Tabanca Grande, mais um camarada doutor, o ex-Alf Mil Med José Pardete Ferreira (*):
De: Joaquim Alves [joquim.alves@gmail.com]
Enviado: quarta-feira, 29 de Junho de 2011 11:07
Assunto: Falando de médicos
Meus caros editores: Como estamos a falar de médicos (*), envio-vos uma pequena história, que não sei se já contei aqui na Tabanca Grande.
O António Azevedo, não me leva a mal, tenho a certeza, por eu contar esta história, que foi ele próprio que a contou. O António Azevedo, médico, que o foi durante uns meses no Xitole, é uma pessoa excelente, que deixou saudades em todos nós e, por isso mesmo, é um amigo que todos muito prezamos.
A história conta algo que, se calhar, alguns de nós vivemos assim mais ou menos parecida!
Lembro-me, como já uma vez contei aqui na Tabanca Grande, que no primeiro ataque na Ponte dos Fulas, salvo o erro, o meu pensamento ser qualquer coisa como:
- Aqueles gajos são doidos! Ainda matam alguém a disparar para aqui!
Enfim, a noção de guerra ainda era um "sonho"!
A fotografia [, acima,] mostra empenagens de granadas de canhão sem recuo, julgo que recolhidas no quartel do Xitole após a flagelação de 4 de Abril de 1972. Ao fundo, a chamada vala da "messe de oficiais", da qual se vê uma ponta do alpendre de entrada.
Um abraço bem camarigo e sorridente do
Joaquim Mexia Alves
2. Onde é o arraial ???
De: Joaquim Alves [joquim.alves@gmail.com]
Enviado: quarta-feira, 29 de Junho de 2011 11:07
Assunto: Falando de médicos
Meus caros editores: Como estamos a falar de médicos (*), envio-vos uma pequena história, que não sei se já contei aqui na Tabanca Grande.
O António Azevedo, não me leva a mal, tenho a certeza, por eu contar esta história, que foi ele próprio que a contou. O António Azevedo, médico, que o foi durante uns meses no Xitole, é uma pessoa excelente, que deixou saudades em todos nós e, por isso mesmo, é um amigo que todos muito prezamos.
A história conta algo que, se calhar, alguns de nós vivemos assim mais ou menos parecida!
Lembro-me, como já uma vez contei aqui na Tabanca Grande, que no primeiro ataque na Ponte dos Fulas, salvo o erro, o meu pensamento ser qualquer coisa como:
- Aqueles gajos são doidos! Ainda matam alguém a disparar para aqui!
Enfim, a noção de guerra ainda era um "sonho"!
A fotografia [, acima,] mostra empenagens de granadas de canhão sem recuo, julgo que recolhidas no quartel do Xitole após a flagelação de 4 de Abril de 1972. Ao fundo, a chamada vala da "messe de oficiais", da qual se vê uma ponta do alpendre de entrada.
Um abraço bem camarigo e sorridente do
Joaquim Mexia Alves
2. Onde é o arraial ???
por Joaquim Mexia Alves
Num almoço que a CART 3492 teve em Monte Real, há dois anos, talvez, o António Azevedo, nosso médico, (que deixou saudades) (**), durante uns tempos no Xitole, contou-me a seguinte história que tenho a certeza não levará a mal que aqui a reproduza.
(*) Último poste da série > 28 de Junho de 2011 >Guiné 63/74 - P8482: Os nossos médicos (28): Diamantino Lopes, cirurgião do HM241, praxista coimbrão, com grande sentido de humor (António Paiva / J. Pardete Ferreira)
(**) De seu nome completo, António Alfredo Viana Pinheiro Azevedo, natural do Porto, ou a viver e a trabalhar no Porto, neurologista do Hospital Stº António. É conhecido profissionalmente pelo apelido de família, Pinheiro Azevedo.
A informação é do Álvaro Basto, que foi Fur Mil Enf da CART 3942 (Xitole). No nosso blogue também aparece como António Alfredo Azevedo ou Alfredo Pinheiro Azevedo:
17 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4200: Ainda e sempre a tragédia do Quirafo. Sortes distintas para António Batista e António Ferreira (Mário Migueis / Paulo Santiago)
(...) [Comentário a este poste] Mensagem do Álvaro Basto, nosso prezado camarada, que é trambém um dos animadores da Tabanca de Matosinhos, e que foi Fur Mil Enf, na CART 3492 (Xitole e Ponte dos Fulas, 1971/74)
Luis: Excelente texto, este do Mário Miguéis a quem na passada quarta-feira tive o prazer de conhecer pessoalmente embora não o relacionando nem de perto nem de longe com este assunto. O esforço pela síntese da verdade na amálgama de tanta informação, alguma até contraditória, é merecedora do nosso mais vivo respeito e daqui quero expressar-lhe desde já os meus parabéns.
Muito do que tenho procurado transmitir tem sido ventilado com o Dr. Pinheiro Azevedo com quem continuo a ter excelentes relações e que por diversas vezes tenho tentado trazer à liça com as suas informações obviamente credíveis e esclarecedoras.
Adianto que irei uma vez mais insistir para que, também ele, dê o seu contributo esclarecendo e confirmando alguns dos aspectos mais relevantes desta tragédia especialmente no que concerne à identificação dos corpos.
O horror dessa tarefa teve em mim duas acções contraditórias no tempo, por um lado nunca mais esqueci as suas imagens mais gerais e por outro (se calhar ditado pelo meu inconsciente), o de ter esquecido muitos dos pormenores.
Ficou-me com especial nitidez a imagem do [Alf] Armandino que jazia inanimado em cima de um unimog e os corpos mutilados e carbonizados nas casas de banho. Recordo-me da dificuldade que reinava em reconhecer muitos deles. Recordo-me que dois deles estavam especialmente mal tratados e que não haveria concenso quanto a saber-se quem era quem. Acho que o Dr. Alfredo Pinheiro Azevedo se recusou mesmo a assinar as respectivas certidões de óbito desses dois tendo-me contado que, mais tarde, em Bissau de partida para férias, foi confrontado com a insistência do Capitão Lourenço e tanto quanto sei do primeiro sargento da companhia que queriam.... arrumar aquela papelada... tendo-se no entanto este mantido firme e não tendo assinado...
Mas para evitar mais especulações estou a mandar cópia deste mail ao Dr. Alfredo Viana Pinheiro Azevedo com um pedido solene aqui expresso de se pronunciar.... Esperemos que ele se decida a faze-lo depois de ler a síntese do Miguéis no Post 4194 e no Post 4200.Um grande Alfa Bravo. Álvaro Basto (...)
Em 2008, o Dr. Pinheiro Azevedo estava também registado como investigador do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) da Universidade do Porto (UP).
Fica uma dúvida:
(i) o Joaquim Mexia Alves diz que ele, Dr. António Azevedo, ou Pinheiro Azevedo [, foto da época, à esquerda], pertencia ao BART 3873 (Bambadinca, 1971/74), que tinha companhias sediadas em Xitole (CART 3492), Mansambo (CART 3493) e Xime (CART 3494);
(ii) o Álvaro Basto garante-me que o médico em causa (Dr. Pinheiro Azevedo) pertencia ao BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74), com companhias em Cancolim (CCAÇ 3489), Saltinho (CCAÇ 3490) e Dulombi e Galomaro (CCAÇ 3491)...
22 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1985: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (2) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)
Num almoço que a CART 3492 teve em Monte Real, há dois anos, talvez, o António Azevedo, nosso médico, (que deixou saudades) (**), durante uns tempos no Xitole, contou-me a seguinte história que tenho a certeza não levará a mal que aqui a reproduza.
Conta ele que quando foi o primeiro ataque ao Xitole estava no exterior da "messe" de oficiais, e ao ouvir os sons das saídas de morteiro e canhão sem recuo, começou a olhar para o ar para ver onde era o "arraial", pensando estar em Viana do Castelo, nas festas ou coisa parecida.
Conta ainda que se sentiu projectado no ar e caiu dentro da vala, comigo por cima!
Tinha sido eu que o tinha "atirado" para a vala, ao dar-me conta que ele não percebia o que se estava a passar!
Se fosse hoje, com o meu peso,... esmagava-o!!!!
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Notas do editor:
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 28 de Junho de 2011 >Guiné 63/74 - P8482: Os nossos médicos (28): Diamantino Lopes, cirurgião do HM241, praxista coimbrão, com grande sentido de humor (António Paiva / J. Pardete Ferreira)
(**) De seu nome completo, António Alfredo Viana Pinheiro Azevedo, natural do Porto, ou a viver e a trabalhar no Porto, neurologista do Hospital Stº António. É conhecido profissionalmente pelo apelido de família, Pinheiro Azevedo.
A informação é do Álvaro Basto, que foi Fur Mil Enf da CART 3942 (Xitole). No nosso blogue também aparece como António Alfredo Azevedo ou Alfredo Pinheiro Azevedo:
17 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4200: Ainda e sempre a tragédia do Quirafo. Sortes distintas para António Batista e António Ferreira (Mário Migueis / Paulo Santiago)
(...) Ora, esta alegada constatação do Álvaro Basto, cuja presença no Saltinho, bem como a do Alf Médico Alfredo Pinheiro de Azevedo, me passou despercebida no meio daquela verdadeira barafunda – pelo menos, não me lembro de os ter visto -, leva (ou pode levar) os leitores a concluírem que nenhum dos mortos terá sido identificado e os familiares a interrogarem-se mesmo sobre a realidade (o quê ou quem?) escondida naquelas urnas seladas, chumbadas, que um dia lhes remeteram para casa. (...)
(...) P1985 (22/07/2007: “… O Álvaro Basto tem uma questão pertinente. No dia da emboscada, ele e o Alf Médico Azevedo, que prestava assistência no Xitole e no Saltinho, foram a este último quartel, a fim de passarem as respectivas certidões de óbito. O Dr Azevedo, apesar da insistência do Lourenço (capitão da CCaç 3490) recusou-se a passar certidões daqueles corpos carbonizados e desmembrados…”.(...)
(...) Não corresponde, pois, à realidade a ideia de que não terá sido possível a identificação dos corpos, conforme poderia inferir-se do teor do P4117. Na verdade, o Fur Álvaro Basto e o Alf Médico Alfredo Azevedo poderão não o ter conseguido fazer (e, se calhar, é justamente isso que o Álvaro pretende dizer), justificando-se perfeitamente a eventual recusa de emissão das certidões de óbito (não conhecendo pessoalmente as vítimas e perante corpos tão maltratados, mais não se lhes poderia exigir, mesmo disponibilizando-lhes os documentos de identificação, com foto, da totalidade das vítimas). Mas, outros puderam fazê-lo com segurança: traços fisionómicos e/ou outros característicos permitiram, felizmente, esse reconhecimento, pelo que não havia razões para inventar nada, como terá sido o caso em situações análogas (constava, não sei se de facto existiram) verificadas nos três teatros de operações. De qualquer modo, acredito que, na Guiné, durante o consulado de António de Spínola, isso seria absolutamente desaconselhável de tentar, dado o pendor patriarcal do General e a sua reputação de Comandante-Chefe implacável para com os incompetentes e irresponsáveis. (...).
(...) P1985 (22/07/2007: “… O Álvaro Basto tem uma questão pertinente. No dia da emboscada, ele e o Alf Médico Azevedo, que prestava assistência no Xitole e no Saltinho, foram a este último quartel, a fim de passarem as respectivas certidões de óbito. O Dr Azevedo, apesar da insistência do Lourenço (capitão da CCaç 3490) recusou-se a passar certidões daqueles corpos carbonizados e desmembrados…”.(...)
(...) Não corresponde, pois, à realidade a ideia de que não terá sido possível a identificação dos corpos, conforme poderia inferir-se do teor do P4117. Na verdade, o Fur Álvaro Basto e o Alf Médico Alfredo Azevedo poderão não o ter conseguido fazer (e, se calhar, é justamente isso que o Álvaro pretende dizer), justificando-se perfeitamente a eventual recusa de emissão das certidões de óbito (não conhecendo pessoalmente as vítimas e perante corpos tão maltratados, mais não se lhes poderia exigir, mesmo disponibilizando-lhes os documentos de identificação, com foto, da totalidade das vítimas). Mas, outros puderam fazê-lo com segurança: traços fisionómicos e/ou outros característicos permitiram, felizmente, esse reconhecimento, pelo que não havia razões para inventar nada, como terá sido o caso em situações análogas (constava, não sei se de facto existiram) verificadas nos três teatros de operações. De qualquer modo, acredito que, na Guiné, durante o consulado de António de Spínola, isso seria absolutamente desaconselhável de tentar, dado o pendor patriarcal do General e a sua reputação de Comandante-Chefe implacável para com os incompetentes e irresponsáveis. (...).
Em 2008, o Dr. Pinheiro Azevedo estava também registado como investigador do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) da Universidade do Porto (UP).
Fica uma dúvida:
(i) o Joaquim Mexia Alves diz que ele, Dr. António Azevedo, ou Pinheiro Azevedo [, foto da época, à esquerda], pertencia ao BART 3873 (Bambadinca, 1971/74), que tinha companhias sediadas em Xitole (CART 3492), Mansambo (CART 3493) e Xime (CART 3494);
(ii) o Álvaro Basto garante-me que o médico em causa (Dr. Pinheiro Azevedo) pertencia ao BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74), com companhias em Cancolim (CCAÇ 3489), Saltinho (CCAÇ 3490) e Dulombi e Galomaro (CCAÇ 3491)...
22 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1985: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (2) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)
(...) O Álvaro Basto tem uma questão pertinente. No dia da emboscada, ele e o Alf Mil Médico Azevedo [, foto actual à direita], que prestava assistência no Xitole e no Saltinho, foram a este último quartel, afim de passarem as respectivas Certidões de Óbito. O Dr Azevedo, apesar das insistências do Lourenço [, capitão da CCAÇ 3490], recusou-se a passar certidões daqueles corpos carbonizados e desmembrados.
Pergunta o Álvaro e agora também eu [, Paulo Santiago,] pergunto :
- Quem assinou as ditas certidões? (...)