quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17951: Os nossos passatempos de verão (21): Cantigas de escárnio e mal-dizer, à desgarrada... Parte VI: Glosando o mote "Sois os últimos moicanos, / Os do Como e do Cachil, / Se a guerra vos tirou anos, / O bom irã dá-vos mil! (Luís Graça / Francisco Santos / José Colaço)


Ponte de Sor > 5 de novembro de 2016 > Convívio anual do pessoal da CCAÇ 557 (1963/65) > O  Zé Colaço, à esquerda; o Chico Santos, à direita.

Foto (e legenda): © José Colaço (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Troca de 'mimos poéticos' entre o nosso editor, Luís Graça, e o poeta popular Chico Santos, o bardo do Como e do Cachil, ao tempo da CCAÇ 557 (1963/65)... Como o Chico, mesmo sendo nosso grã-tabanqueiro com todo o mérito, não tem email, é o Zé Colaço que serve de pombo correio...





Mote (Luís Graça)



Sois os últimos moicanos,
Os do Como e do Cachil,
Se a guerra vos tirou anos,
O bom irã dá-vos mil!



Glosa(Chico Santos)

Fomos os últimos moicanos,
No Como cheios de sebo,
O bom irã dá-nos mil anos,
De seres do além não percebo.

Errar resposta não quero,
Por isso à box me encosto,
A minha educação é zero
E, como nada sei, até gosto.

A escola para mim foi pouca,
Só respondo à m'nha maneira,
É que ás vezes eu abro a boca,
Entra mosca ou sai asneira.




Mote (Chico Santos)




A escola p’ra mim foi pouca,
Só respondo à m’nha maneira, 
É que ás vezes eu abro a boca,
Entra mosca ou sai asneira.



Glosa(Luís Graça)



A escola p’ra ti foi pouca,
Mas és poeta popular,
Fizeste uma guerra louca,
E estás cá para a contar.

Só respondes à tua maneira,
És forte na desgarrada,
Tens sempre uma na algibeira,
E outra melhor artilhada.

Ainda bem que abres a boca,
P’ra fazeres prova de vida,
Não és dos de orelha mouca,
Dás a resposta devida.

Entra mosca e sai asneira
Na boca de alguns senhores,
Que até falam de cadeira,
Armados em professores!

... Com um alfabravo fraterno para os dois bravos da CCAÇ 557, o Francisco Santos e o José Colaço. (**)



Guiné > Região de Tombali > Ilha do Como > Cachil > Março de 1964 > CCAÇ 557 (1963/65) Construção do aquartelamento de Cachil na sequência Op Tridente (de 14 de Janeiro a 24 de Março de 1964) > À boa maneira do faroeste americano...  uma paliçada, neste caso feita de troncos de cibe!

Foto: © José Colaço (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P17950: Parabéns a você (1337): António da Costa Maria, ex-Fur Mil Cav do Esq Rec Fox 2640 (Guiné, 1969/71); António João Sampaio, Ex-Alf Mil da CCAÇ 15 e ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 4942/72 (Guiné, 1973/74); Ernesto Ribeiro, ex-1.º Cabo At Art da CART 2339 (Guiné, 1968/69) e João José A. Martins, ex-Alf Mil Art do BAC 1 (Guiné, 1967/70)



 João José Alves Martins


Nota do editor:

ÚLtimo poste da série >  6 de novembro de 2017 >  Guiné 61/74 - P17938: Parabéns a você (1336): Jorge Cabral, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 63 (Guiné, 1969/71)

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17949: Notas de leitura (1012): "A Antepenúltima Caravela", de Emanuel Filipe, inserido na obra “Os Anos da Guerra, 1961/1975, Os portugueses em África, Crónica, Ficção e História”, organização de João de Melo, colaboração de Joaquim Vieira, Círculo de Leitores e Publicações Dom Quixote, 1988 (Abel Santos)



1. Em mensagem do dia 2 de Novembro de 2017, o nosso camarada Abel Santos, (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), enviou-nos o texto, que se publica com a devida vénia, da autoria de Emanuel Filipe, que faz parte da obra “Os Anos da Guerra, 1961/1975, Os portugueses em África, Crónica, Ficção e História”, organização de João de Melo, colaboração de Joaquim Vieira, Círculo de Leitores e Publicações Dom Quixote, 1988.[1]


A ANTEPENÚLTIMA CARAVELA 

pp. 205-212) (excerto)

por Emanuel Filipe

Há treze anos de guerra, e ainda se julgam inocentes, limpos, sem nódoas de sangue na roupa, nem indícios de pólvora nos poros minúsculos das mãos. Deixara apenas de poder suportá-los, tanto quanto ao homenzinho que, lá dentro aos microfones de bordo, entre uma música e a seguinte, aproveitava para contar uma anedota sem graça. Esgotara-se há muito o reportório das suas mulheres maliciosas e cínicas. Não havia pachorra para ouvi-lo imitar os improvisos do general Spínola. E a ninguém ocorria que o general Kaúlza pudesse ser comparado a um treinador de futebol.

Quem poderá compreendê-los, a esses homens, quando daqui a algum tempo, estando nós longe deles, pudermos acusá-los de tudo o que nos aconteceu em África? Vê-los-emos baixar os olhos e cerrar os punhos, apenas. Seremos infinitamente piores do que eles. Somos a geração do ódio, da vingança desnecessária e do discurso fácil. Cometeremos não os seus crimes sórdidos, mas crimes de palavra, delitos ociosos. Quem poderá então compreender-nos também a nós?


Homens geralmente brunidos, em cujas fisionomias avançavam já os primeiros sinais de velhice, mas os subalternos jamais perdoariam o toucinho dos seus ventres, o princípio da calvície, as suíças ruivas ou malhadas e sobretudo os dentes postiços. Começavam a cheirar a treze anos de guerra, em comissões sucessivas, e ao sacerdócio político das armas. Não poderia haver compaixão para esses homens proscritos?


Passaram os anos, mas nunca mais seremos os mesmos. Vivos e mortos por dentro, e não mais aqueles rapazinhos especializados à pressa, para fazer uma guerrazinha menor, onde nunca nada de importante aconteceria. Passaram os anos, e o país continua heroicamente de cócaras, mas se o puserem a falar do seu remorso de guerra, só um arrepio conseguirá atravessar-lhe a voz. (...)


Vd. aqui o índice da obra, na qual colaboraram alguns escritores consagrados.
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Notas do editor

[1] - Vd postes de:

23 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16124: Nota de leitura (841): “Os Anos da Guerra, 1961/1975, Os portugueses em África, Crónica, Ficção e História”, organização de João de Melo, colaboração de Joaquim Vieira, Círculo de Leitores e Publicações Dom Quixote, 1988 (1) (Mário Beja Santos)
e
27 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16140: Nota de leitura (842): “Os Anos da Guerra, 1961/1975, Os portugueses em África, Crónica, Ficção e História”, organização de João de Melo, colaboração de Joaquim Vieira, Círculo de Leitores e Publicações Dom Quixote, 1988 (2) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 6 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17940: Notas de leitura (1011): “A PIDE no Xadrez Africano, Conversas com o Inspetor Fragoso Allas”, por María José Tíscar; Edições Colibri, 2017 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17948: Agenda cultural (603): Tertúlia de antigos Combatentes, subordinada ao tema "Histórias Com Rosto", a realizar no dia 17 de Novembro próximo, às 21,30 horas, no Auditório Municipal de Esposende (Fernando Cepa, ex-Fur Mil Art da CART 1689)



Mensagem do nosso camarada Fernando Cepa, (ex-Fur Mil Art da CART 1689/BART 1913, Catió, Cabedú, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), dando-nos notícia de uma tertúlia de antigos Combatentes, subordinada ao tema "Histórias Com Rosto", a levar a efeito no próximo dia 17, às 21,30 horas, no Auditório Municipal de Esposende.

Caro Amigo Carlos Vinhal. 
Logo que possível, agradeço que estudes a possibilidade de inserir no nosso blogue, TABANCA GRANDE, o cartaz anexo, referente a uma tertúlia sobre Ex-Combatentes que se realizará no dia 17 de Novembro de 2017 no Auditório Municipal de Esposende. 

Grato pela atenção. 
Um grande abraço 
Fernando Cepa 
Ex-Furriel Miliciano 
Cart 1689 - Bart 1913 
Guiné
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17946: Agenda cultural (602): Hoje, às 18h30, no Porto, FNAC Santa Catarina: lançamento do último livro do escritor Carlos Vale Ferraz (e nosso camarada de armas, Carlos Matos Gomes),"A Última Viúva de África". Apresentação por David Martelo

Guiné 61/74 - P17947: Os nossos seres, saberes e lazeres (239): Lesmahagow, adeus a Moffat, primeiro dia em Manchester (8) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 9 de Agosto de 2017:

Queridos amigos,
Já estamos no fim da festa, o viandante parte no dia seguinte de Moffat para Manchester. Vibrou com a campanha eleitoral e há muitos anos que não passava a noite acordado, a ver o resultado e os comentários das eleições britânicas. Apanhou a campanha eleitoral do princípio ao fim, por pura coincidência, via diariamente os noticiários e estava atento à reação dos eleitores, aos apontamentos da propaganda, ao teor das mensagens. O fenómeno mais surpreendente a partir da segunda semana da campanha foi a ascensão meteórica de Jeremy Corbyn, enchia estádios e grandes espaços, trazia ideias novas, prometia um Brexit diferente, o aprofundamento do diálogo europeu.
Quanto à Escócia, ela é inesquecível, propositadamente não se foi a Glasgow nem Edimburgo, o viandante agora anda a cismar num passeio até ao Norte e apanhar um barco até à Islândia, ou escolher um porto da costa ocidental e passar para a Irlanda. A seu tempo se verá, por ora saboreiam-se gratas recordações.

Um abraço do
Mário


Lesmahagow, adeus a Moffat, primeiro dia em Manchester (8)[1]

Beja Santos

Acreditem que o viandante viveu aqui, na noite das eleições legislativas da Grã-Bretanha, tempos emocionantes. Acompanhou diariamente a evolução da campanha, deu para perceber que a senhora primeira-ministra da Escócia estava a meter-se em trabalhos escusados quando propunha um segundo referendo para a independência do país, como é evidente tratava-se de assunto subalterno num período crucial em que era preciso dizer em que tipo de Brexit se pretendia votar, o partido nacionalista escocês perdeu para os conservadores e trabalhistas. Theresa May pedia tudo: maioria absoluta com esmagamento dos trabalhistas, um governo credível para negociar em força o Brexit, passou a ser visível nos ecrãs que tudo era enfadonho, as passeatas não tinham povo e as que tinha era com gente com pouco ânimo; os liberais democratas ainda não estavam refeitos da queda depois da governação conjunta com David Cameron, exigiam um novo referendo, continuam europeístas, ganharam alguns deputados. E desde os primeiros dias da campanha que se notava um fôlego crescente nas movimentações dos trabalhistas, Jeremey Corbyn, o seu dirigente, fazia passar mensagens substantivas, eloquentes e acessíveis, mostrava-se motivado e ardoroso, enchendo estádios e praças. Naquela noite, pelas 22 horas prefixas, anunciaram-se as previsões: os conservadores ganhariam sem maioria, haveria uma subida espetacular dos trabalhistas e um afundamento total da extrema-direita, o partido de Nigel Farage pulverizava-se. Tudo isso se viu e comentou numa noite fervilhante, inesquecível. No dia seguinte apanhei este desenho de humor que para o viandante só comprova que é a dimensão do desenho onde o génio é mais rasgado, para captar as ironias do quotidiano: as farroncas de Theresa May engoliram-na à dimensão microscópica. E o Reino Unido ficou ainda mais dividido, mais confuso e com um Brexit mais conflituoso.



O viandante acordou tardíssimo, já a companha andava agitada a discutir os resultados das eleições. Tinha-se acordado que era dia de folga, cada um amanhava-se, depois de comido o viandante foi para as estações dos autocarros, era muito tarde para ir até Glasgow, pediu um bilhete para a estação seguinte, Lesmahagow, acabou por não se arrepender, viu colinas verdejantes, ribeiros serpentantes, florestas densas, muito verde e rochas. Desembarcou, apeteceu-lhe um café e ainda hoje tem remorsos de não ter pedido licença para tirar uma fotografia a um canto cheio de dvd’s, cd’s e livros, tudo a uma libra, para as crianças de um hospital. São coisas que embevecem, este tipo de solidariedade de entregar o que já não nos faz falta e neste caso dar algumas alegrias a crianças hospitalizadas. Tomou-se o café e começou a deambulação.


É frequente ver-se edifícios exclusivamente dedicados ao culto maçónico, na Grã-Bretanha. O viandante impressionou-se com a sobriedade do templo e tomou nota. Mais tarde, procurou explicação para a premência do culto maçónico, alguém justificou que os maçons intervêm em muita filantropia local, o que lhes dá credibilidade, ninguém lhes atribui conotações sinistras.


Esta digressão não tem história, é turismo à carta e de proximidade, nada havia de retumbante mas o viandante entrega-se a pormenores, realça-os e argumenta consigo próprio que mesmo em sensaboria urbanística há sempre um dado que se impõe, peculiar, se não original. É o caso desta fonte, uma boa peça da arquitetura do ferro, felizmente que não há razão a pretexto de por ali qualquer outro equipamento urbano. Feliz da vida, regressa-se à base, está um dia chocho, nada como andar a bisbilhotar pelas ruas de Moffat, a fazer horas. Amanhã começa o regresso, é preciso registar as últimas impressões, Moffat é um local inesquecível.


A próxima etapa é Manchester, para fazer economias é melhor ir dormir num quase arrabalde, escolheu-se Chorley, pelo bom preço e por estar a 20 minutos da grande cidade. Chorley não tem 40 mil habitantes foi até aos anos 1970 um dos muitos polos algodoeiros do país, não se via à vista desarmada monumentos significativos. O viandante encontrou um templo anglicano em horário de ofício, aproveitou para fazer as suas orações. E depois lançou-se à procura de espaços verdes, entardecia. Pois foi precisamente aqui que se encontrou um monumento tocante. Vejam com atenção. É tudo simples, feito de madeira, uma veneração àqueles que tombaram na guerra, em cada um dos capacetes uma papoila, símbolo das gotas do sangue derramado sobretudo na Flandres. O que mais impressionou o viandante é dar-se a dignidade ao dever de memória com materiais tão simples, tão diretos à reflexão.


Manchester é a segunda cidade da Grã-Bretanha, é uma típica cidade do Norte da Europa, sente-se a pujança dos negócios, há a lembrança do que foi nos tempos do império. Tudo compacto, mas não deixa de ser chocante o contraste entre uma certa sumptuosidade da arquitetura e o caos das lojas, cada cor o seu paladar, a visão da sumptuosidade sai sempre menorizada.


Ao atravessar a rua, viandante e companha são confrontados com uma manif em Piccadilly Gardens Manchester, unidos contra o racismo e o ódio, uma constelação de grupos vem protestar contra organizações da direita radical, havia bancas dos comunistas, dos trotskistas, dos LGBT. O viandante entrou certamente no momento aceso de discursos, os manifestantes contra o racismo e o ódio procuravam cercar a área onde estavam os manifestantes da direita radical. Uma chuva de ovos passou rente, viandante e companha, por prudência, mudaram de local, mas com a excitação de terem participado numa manif em direto.


O principal museu de Manchester é Manchester Art Gallery, riquíssima em arte ocidental, o peso da coleção começa com os mestres holandeses, segue para o século XVIII e os românticos, os britânicos novecentistas estão ali praticamente todos, a começar pelos pré-rafaelitas, os grandes pintores do século XX têm ali acento, é o caso de Francis Bacon e Lucian Freud.


O viandante sempre venerou este senhor Bacon que torce e retorce até tornar nítido a vertigem dos movimentos. Há ali algo de animalesco, a fúria do que se torce e contorce, o sombreado das cores e o vórtice do sangue, tudo em espaços fechados. Podem supor-se inúmeras metáforas, para o viandante o impacto é a construção do homem, o que o acompanha toda a vida entre quedas e levantamentos. Não sei como lhe agradecer, meu caro Bacon, estes momentos tão felizes na sua companhia!


Freud é outra representação, o predomínio dos tons cerúleos e acinzentados, a preocupação pelos enquadramentos onde só cabem certos volumes, é uma fuga ao retrato convencional. Trata-se de um quadro seguramente da juventude, Freud irá evoluindo para a exibição carnal, nunca perdendo o sentido figurativo, a sua genialidade nunca foi contestada, o seu retrato de Isabel II já faz parte da lenda da pintura.


Está a chegar ao fim o primeiro dia em Manchester, estes casarões vitorianos, eduardianos, estas réplicas muito tardias de um medievalismo que ainda excita as imaginações, espalham-se por esta cidade onde houve um grande orgulho cívico, aqui foi um centro irradiante do dinheiro das minas, de grandes fábricas, do capitalismo próspero dos séculos XIX e XX. Só para olhar toda esta monumentalidade vale a pena calcorrear Manchester.



Em caso algum o viandante fica indiferente ao reconhecimento que se faz a quem deu a vida pela pátria. Num jardim, encontraram-se estas duas modestas lápidas, têm um profundo significado, lembrar os outros que combaterem ao nosso lado e que as gerações seguintes puramente ignoram e lembrar os filhos da terra que se associaram ao mais sublime dos deveres cívicos. Eu sei que é assim por todo o Reino Unido, e aqui já se deixaram imagens eloquentes, lápides em colégios de Oxford e Cambridge, monumentos singelos em aldeias, vilas e cidades, testemunhos de um desmedido compromisso para assegurar a independência do país e dos aliados. E o que mais assombra é que este orgulho no testemunho está embebido na cultura, faz parte do entendimento humano, é um aporte histórico irrecusável. O que nos faz pensar quanto ao nosso desmazelo e indiferença.

(Continua)
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Notas do editor

[1] - Poste anterior de 1 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17922: Os nossos seres, saberes e lazeres (237): Em Drumlanrig Castle, o esplendor dos jardins escoceses (7) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 2 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17924: Os nossos seres, saberes e lazeres (238): Mais uma vez os velhinhos (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547)

Guiné 61/74 - P17946: Agenda cultural (602): Hoje, às 18h30, no Porto, FNAC Santa Catarina: lançamento do último livro de Carlos Vale Ferraz (nosso camarada de armas, Carlos Matos Gomes), "A Última Viúva de África". Apresentação a cargo do Coronel Ref David Martelo



Convite da Porto Editora e do autor para a sessão de lançamento do livro do escritor Carlos Vale Ferraz (e nosso camarada de armas, Carlos Matos Gomes),!A Última Viúva de África", no Porto, FNAC Santa Catarina, às 18h30.

(Vê aqui a "nota de leitura" do nosso crítico literário, Mário Beja Santos:

(... ) "Carlos Vale Ferraz é autor de uma das obras-primas da literatura de guerra, "Nó Cego". Ao longo dos anos tem dividido a sua atividade literária pela ficção e pela historiografia contemporânea. O seu novo romance leva-nos até às sanguinárias guerras do Congo, pós-independência, a articulação nos grupos catangueses e mercenários de muitas origens com o que se passava no Leste de Angola.

A enigmática Madame X é uma minhota que chegou ao Congo nos anos 1950 e que vai avisando Luanda e os serviços de informação portugueses do que se está a passar, Miguel Barros é o português que viverá toda a trama deste período tumultuoso e que mais tarde deixará uma gravação que funciona como o fio de Ariadne no labirinto dos acontecimentos, um desfecho espantoso de um mausoléu de Madame X num templo algures no Alto Minho - dali partiu alguém para viver os dramas do império e ali regressou como último parágrafo da descolonização." (...) 

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Nota do editor:

Último poste da série > 4 de novembro de  2017 > Guiné 61/74 - P17933: Agenda cultural (601): Hoje, na Casa do Alentejo, em Lisboa, às 15h00: O poeta Silvais (Évora) e seus convidados, confrades da poesia popular + Grupo Coral Fora D'Oras (Montemor-o-Novo)

Guiné 61/74 - P17945: Manuscrito(s) (Luís Graça) (128): O Dia de Fiéis Defuntos na Tabanca de Candoz: aqui a tradição ainda é o que era... Parte II - Fotos


Foto nº 1 > Cemitério de Paredes de Viadores, Marco de Canaveses > 1 de novembro de 2017 >  Inscrição no belo portão, em ferro forjado > "1894"


Foto nº 2 > Cemitério de Paredes de Viadores,  Marco de Canaveses > 1 de novembro de 2017 > O mais sumptuoso jazigo, da família da "Casa da Igreja", em estilo revivalista, neogótico > Inscrição em latim:  "Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris" (Lembra-te, ó homem, que és pó e que em pó te hás-de tornar)....

Até na morte os homens tentam reproduzir as desigualdades sociais que existiam em vida: esta capela, dos "fildalgos" da Casa da Igreja é a única que existe, para além da de outra família, neste pequeno cemitério rural, cuja construção remonta a 1894... Logo nos finais do séc. XIX,  os ricos e poderosos procuraram contornar a aplicação lei liberal do enterramentio público (que proibia o enterramento em espaço privado: palácios, conventos, igrejas, ermidas, capelas...) erigindo no espaço  do cemitério público uma "jazigo capela", uma  espécie de minicasa de Deus, reservada aos seus mortos queridos...

Há algo de patético neste encarniçamento em manter, na morte,  a segregação socioespacial que existia em vida... Como eu já aqui escrevi em tempos (, há 9 anos atrás),  os cemitérios públicos são (ou deviam ser) verdadeiros "campos da igualdade", já que "metaforicamente falando, a gadanha da morte ceifa tudo e todos, ceifa rente a vida, e não poupa tanto a espiga de trigo como a erva do campo, o rico e o pobre, o herói e o cobarde, o novo e o velho, o são e o doente, o amigo e o inimigo"...


Foto nº 3 > Recinto da capela de Nª Sra. do Socorro, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses > 1 de novembro de 2017 >   Duas velas, que acendi, na última fila no lado direito,  em homenagem aos nossos queridos mortos, incluindo os soldados desconhecidos de todas as guerras da nossa Pátria...


Foto nº 4 > Cemitério de Paredes de Viadores,  Marco de Canaveses > 1 de novembro de 2017 > Campa, em granito preto, da família Carneiro, e onde repousam os restos mortais dos pais da Maria Alice Ferreira Carneiro, o José Carneiro e a Maria Ferreira.


Foto nº 5 > Cemitério de Paredes de Viadores,  Marco de Canaveses > 1 de novembro de 2017 > A nossa amiga Maria Alice Carneiro,  régula da Tabanca de Candoz, junto à campa onde respousam os restos mortais dos seus pais, José Carneiro (1911-1996) e Maria Ferreira (1912-1995).


Foto nº 6 > Capela de Nª. Sra. do Socorro, Paredes de Viadores,  Marco de Canaveses > 1 de novembro de 2017 > Aspeto (parcial) da assistência à missa (I)



Foto nº 7 > Capela de Nª. Sra. do Socorro, Paredes de Viadores,  Marco de Canaveses > 1 de novembro de 2017 > Aspeto (parcial) da assistência à missa (II)


Foto nº 8 > Cemitério de Paredes de Viadores,  Marco de Canaveses > 1 de novembro de 2017 > Aspeto parcial do cemitério. Ao fundo, do lado direito, a capela da família da Casa da Igreja.


Foto nº 9 > Parque da capela de Nª Sra. do Socorrro,  Paredes de Viadores, Marco de Canaveses > 1 de novembro de 2017 >  As cores outonais


Foto nº 9 > Quinta de Candoz, Candoz,  Paredes de Viadores,  Marco de Canaveses > 1 de novembro de 2017 >  O nosso bosque... "mediterrânico"



Foto nº 10 > Quinta de Candoz, Candoz, Paredes de Viadores,  Marco de Canaveses > 1 de novembro de 2017 >  O famoso  "anho assado com arroz de forno", especialidade gastronómica da casa...



Marco de Canaveses > União das Freguesias de Paredes de Viadores e Manhuncelos > Candoz > Quinta de Candoz  / Tabanca de Candoz > 1 de novembro de 2017 >  Dia de Finados > Quando a tradição ainda é o que era...  (*)


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P17944: O cancioneiro da nossa guerra (2): três letras do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71): (i) Os Morcegos; (ii) Estou farto deles, tirem-me daqui; (iii) Fado da Metralha


CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71) > A bordo do T/T Uíge que levou o pessoal até Bissau, em maio de 1969, : o Edmundo Santos, à esquerda, e o Mário Pinto, à direita.  Foto do álbum do Mário Pinto, reproduzido aqui com a devida vénia.

Foto: © Mário Pinto (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuamos a reunir as peças, dispersas pelo blogue, do "cancioneiro da nossa guerra"... De facto,  são já algumas dezenas, entre quadras ao gosto popular,  sonetos, versos decassílabos parodiando os "Lusíadas", textos poéticos livres, poemas, hinos, letras de canções, baladas, fados, etc. (*)

No essencial,  são letras produzidas ao longo da guerra (1961/74), mas também no pós-guerra... e nalguns casos, muito depois do nosso regresso.  Nem todas têm autoria, mas em quase todas elas há um "sentido coletivo", ou procuram interpretar um "sentir coletivo", centrando-se o seu conteúdo nas peripécias da tropa e na guerra, e tendo por cenário a Guiné.

Nem todos estes textos poéticos eram canções (como o "Cancioneiro do Niassa", por exemplo). Uns tinham (ou poderiam ter tido) suporte musical, outros não. Preocupámo-nos sobretudo com a recolha das letras que corriam o risco, isso, sim, de se perderem para sempre... Num caso ou noutro, conseguimos identificar a música que lhe estava associada (, em geral, era parodiada, como acontecia com o "Cancioneiro do Niassa").

Este material poética, independentemente da sua qualidade literária, tem interesse documental, tem um matriz socioantropológica, fala de nós, das nossas vidas na Guiné, fala de uma geração anónima, esquecida, mal tratada, fala de lugares perdidos e achados,  de topónimos estranhos, fala inevitavelmente da trilogia "sangue, suor e lágrimas", fala inevitavelmente da fome e da sede que passámos, mas também fala de coragem, de camaradagem, de saudade, etc.

Continuamos a apelar aos nossos leitores para continuarem a alimentar esta série. Acreditamos que há ainda muitas "canções e outros poemas de guerra" esquecidos no "baú da memória" dos ex-combatentes que fizeram a guerra da Guiné (1961/74)... É trabalho para nós, mas também para os nosso filhos e netos... que, com o gravador de som do telemóvel podem registar letras e músicas que os seus pais e avós ainda se lembram dos tempos da Guiné.

As referências a este tópico já são muitas, no nosso blogue, para cima mesmo de uma centena.


2. Hoje temos o gosto de vos apresentar, pela mão do nosso grã-tabanqueiro Mário Pinto, alguns letras do Edmundo Santos que ficarão para sempre associadas ao "cancioneiro de Mampatá"... 

O Edmundo irá abrir o caminho a outros camaradas, com engenho, jeito, arte e talento para a escrita poética como será o caso do nosso Zé Manuel Lopes, mais conhecido pelo seu pseudónimo literário, Josema.  [O José Manuel de Melo Alves Lopes, ex-fur mil, CART 6250/72, "Os Unidos de Mampatá, Mampatá, 1972/74, é natural da Régua.]

O Mário Pinto e o Edmundo Santos, por sua vez,  eram ambos furriéis da CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71).

Sobre o poeta, e seu camarada, Edmundo Santos escreveu, em 1 de agosto de 2009,  o Mário [Gaulter Rodrigues] Pinto, na página que ele próprio criou, "CART 2519, Os Morcegos de Mampatá"

(...) "Gostaria de falar do nosso camarada e amigo fu mil  Edmundo [Santos],  do 2.º Grupo de Combate, figura controversa da nossa Companhia.

O Edmundo era natural de Lisboa, do antigo bairro da Picheleira,  oriundo de uma família operária e trabalhadora, pois seu Pai era da CARRIS. Cresceu e aprendeu a contestar o regime vigente, como talvez nenhum de nós o pensasse, fruto da sua educação familiar. Por isso era contestatário permanente mas de uma alma grandiosa (, do tipo despir a camisa para dar ao seu amigo). Por o Edmundo ser o único furriel desponível do 2.º Gr Comb, eu algumas vezes nele fui integrado e vi muitas vezes o seu estado de espírito quanto ao conflito.

O Edmundo tinha sido meu contemporanio na EPA [, Escola Prática de Artilharia,]  e por isso convivímos assiduamente. Quem não se lembra dos seus versos e fados que todos nós,  bem ou mal cantarolávamos nos nossos momentos de ócio:  "De pica na mão lá vai a maralha", o fado da "Metralha" ou o "Adeus, Aldeia", versos e fados da sua autoria, são pecúlios que ficarão sempre na nossa memória." (...)



Cuiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 2519 (1969/71) > Resultado da explosão de uma mina A/C... Apesar da má qualidade da imagem, vê-se do lado direito a viatura sinistrada, uma GMC, e do lado esquerdo um corpo no chão.



Cuiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 2519 (1969/71) > O pesadelo dos fornilhos e das minas anticarro (A/C) e anti-pessoal (A/P), colocadas nas picadas, nos trilhos, nas bermas da estrada... Daí a importância  (e o stresse) da "picagem" do terreno, que era efetuada por uma secção de "picadores" ou "picas" (vocábulo, subs. masc.,  que ainda não vem grafado nos nossos dicionários, com esta aceção, sinómimo de picador, tal como não vem agrafado o vocábulo "pica", subs. fem, que designava a vara que terminava, com um prego ou ponta de aço, e que servia justamente para "picar" o terreno e detetar minas e fornilhos)


Fotos: © Mário Pinto (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



3. Segundo a ficha da unidade, a CART 2519 era uma companhia independente, mobilizada pelo RAL 3, partiu para o CTIG em 7 de maio de 1969 e regressou em 17 de março de 1971. Esteve sediada em Mampatá, e o seu único comandante foi o cap art Jacinto Manuel Barrelas.

Recorde-se por outro lado o que o Mário Pinto,o cronista da CART 2519, escreveu sobre a missão da sua companhia, em Mampatá: 

"A CArt 2519 a que eu pertencia quando se instalou em Mampatá , por volta do fim de agosto de 1969, depois da construção da estrada Buba-Aldeia Formosa, de má memória, recebeu como missão interceptar as colunas do PAIGC no corredor de Missirá que se deslocavam de sul para norte via Nhacobá-Uane-Xitole. Para cumprimento desta missão todos os dias um Grupo de Combate reforçado fazia emboscada no dito corredor em quanto outro Gr Comb patrulhava as imediações perto do corredor."(...).

As companhias do "mato", independentes, metropolitanas ou africanas, adidas aos batalhões ou aos comandos de agrupamento operacional (CAOP, COP), erm "usadas e abusadas" por "eles",  os "senhores da guerra", os oficiais superiores... E muitas eram "sobrecarregadas", em termos de atividade operacional, por compração com as unidades de quadrícula que faziam parte dos batalhões... Em suma, havia filhos e enteados...

Np CTIG, no "mato", o ambiente operacional era de de grande tensão, levando ao fim de meses, à exaustão física e emocional,  e isso está bem retratado nestas três etras do Edmundo Santos que o Mário Pinto recolheu e publicou na sua página e, depois, foram reproduzidos, com a devida vénia no nosso blogue (**).

Espero que ainda haja mais letras destas no "baú" do Edmundo, Santos que, para surpresa minha, se revela um poeta talentoso, com recursos estlílisticos acima da média, sabendo fazer bom uso do humor, da ironia, do sarcasmo... Constou-me que ele continua a fazer poesia, vou ver se lhe telefono e o convido, pessoalmente, para integrar a nossa Tabanca Grande, dando-nos assim a honra de sentar  à sombra do nosso simbólico e sagrado poilão!

Seria interessante também saber, junto do Mário Pinto, que músicas (de canções, baladas ou fados da época) acompanhavam estas letras... Como ele recorda, "eram versos e fados que todos nós, bem ou mal,  cantarolávamos nos nossos momentos de ócio"... O cantar, em grupo, e geralmente de copo na mão, na caserna dos soldados ou nos bar de sargentos (, locais que em geral os oficiais, mesmos os milicianos, não frequentavam fora das "horas de serviço"), ajudava a exorcizar os nossos fantasmas, a "desopilar", a aliviar a tensão...Como diz o povo, "quem canta, seu mal espanta"...

Os ventos (da contestação, da revolta e de esperança) que começavam a soprar na metrópole, com a chamada "primavera marcelista", também chegam à Guiné...a avaliar pela forma e conteúdo destas letras do Edmundo Santos. (LG)

PS - Já falei com o Edmundo Santos, que vive em Lisboa, e que aceitou o meu convite para integrar a nossa Tabanca Grande, Ficou de me dizer, por mail, que músicas de fado eram cantadas com estes versos (em geral, em festas de anos da rapaziada...). Vai-me mandar também mais algumas letras que escreveu mais recentemente, sobre os tempos de Guiné, e que não chegaram a  ser cantadas, com acompanhamento de guitarra e viola, como estava previsto, num dos últimos encontros do pessoal da CART 2519, em 2013,  em Benavente. 


OS MORCEGOS

por Edmundo Santos



Aqui não temos parança,
andamos sempre a alinhar,
uns a fazer segurança
e outros a patrulhar.
Só nos resta a esperança
de um dia poder voltar.

Ai!, uma vida pior
do que esta não há,
chamamo-nos os 
Morcegos,
mas ai, vejam lá,
a malta só nos conhece
pelos 
Coirões de Mampatá.

Todos os dias há saídas,
com o perigo sempre a rondar,
são poucas as alegrias
e muito para contar,
não há lugar p'ra sossego,
é a vida de um 
Morcego.

Fonte: CART 2518 Os Morcegos de Mampatá > 29/9/2011


ESTOU FARTO DELES, TIREM-ME DAQUI!

por Edmundo Santos


Tenho corrido 
manga de estradas,
que em tão má hora eu conheci,
tenho caído em emboscadas,
estou farto deles, tirem-me daqui!

Noites no mato,  debaixo de água,
são realidades que eu já vivi,
tenho a alma cheia de mágoa,
estou farto deles, tirem-me daqui!

Muita fominha tenho passado,
por causa dela me ressenti,
tenho o corpito todo enfezado,
estou farto deles, tirem-me daqui!


Fonte: CART 2518 Os Morcegos de Mampatá >  28/9/2009


FADO DA METRALHA

por Edmundo Santos



De pica na mão,
lá ia a maralha
com toda a metralha,
de olhos no chão;
para não haver falha,
piquem bem o trilho,
tomem atenção;
sou de opinião
que, se houver fornilho,
ai que Deus nos valha!

E, naquela estrada,
junto ao cruzamento,
as dores que me deste,
mais uma emboscada,
no meu pensamento,
nessa mata agreste
e os bombardeiros,
fiéis companheiros,
em qualquer momento
iam atacando
e 
turras matando,
sem dó nem lamento.

Adeus, Mampatá,
quero-te esquecer,
fizeste sofrer
quem andou por cá,
pronto a combater,
ó maldita terra
onde nada há,
e digo-te já
que toda esta guerra
foi dura a valer.


Fonte: CART 2518 Os Morcegos de Mampatá > 25/9/2009

[ Revisão / fixação de texto: L.G.]

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17943: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XV: Pago Pago, capital da Samoa Americana, Polinésia, 15/10/2016



Pago Pago, Samoa Americana, Polinésia, 15 de outubro de 2016


Texto, fotos e legendas: © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Parte XV (Segundo volume, pp. 16-19)

1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias", do nosso camarada António Graça de Abreu, escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil SGE, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com cerca de 200 referências.

É casado com a médica chinesa Hai Yuan e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais. 
Neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016. Três semanas depois o navio italiano "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento,  sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017).

Na II etapa da "viagem de volta ao mundo em 100 dias", com um mês de cruzeiro (a primeira parte terá sido "a menos interessante", diz-nos o escritor), o "Costa Luminosa" chega aos EUA, à costa da Califórnia: San Diego e San Pedro (30/9/2016), Long Beach (1/10/2016), Los Angeles (30/9/2016) e São Francisco (3/4/10/2017). No dia 9, está em Honolulu, Hawai, território norte-americano. Navega agora em pleno Oceano Pacífico, a caminho da Polinésia, onde há algumas das mais belas ilhas do mundo.

Um mês e meio do início do cruzeiro, em Barcelona, o "Costa Luminosa" atraca no porto de Pago Pago, capital da Samoa Americana, ilha de Tutuila, Polinésia, em 15/10/2016.


Pago Pago, Samoa Americana, Polinésia


Festa rija na chegada ao porto de Pago Pago, o centro político, a capital da Samoa Americana, na ilha de Tutuila, na Polinésia. Há eleições neste pequeno território constituído por cinco ilhas vulcânicas e dois atóis. Hoje temos comício e grandes manifestações de apoio aos dois senhores, Lolo e Lemanu, que pretendem ascender aos cargos de governador e vice-governador da Samoa. Centenas e centenas de militantes da causa dos candidatos estendem-se pelos passeios e por ambas as bermas da avenida principal, ao longo de mais de um quilómetro, junto aos edifícios públicos, às agências bancárias, aos restaurantes, ao mar, com trajes garridos, camisas e saias – uma espécie de sarong que os homens também usam –,  em azul vivo, vermelhão, verde forte, castanho e amarelo canário. Muitos empunham cartazes, ou usam t-shirts com o nome e fotografia dos homens a eleger para governar a ilha, e têm uma boa palavra de ordem “people first”. Carros com aparelhagens montadas nos porta-bagagens, de porta traseira levantada, mais duas instalações fixas nos jardins ao longo da avenida, debitam monumentais decibéis com música da terra e palavras de apoio aos candidatos. Uma grande festa, com as pessoas gordinhas e bem dispostas, saudando os carros que passam lentamente devido ao engarrafamento provocado pela curiosidade de quem conduz e pelo estreitar da avenida, cheia de gente.

Noventa e seis por cento da população da ilha são autóctones, com o seu idioma próprio, aparentado com outros dialectos polinésios. A Samoa depende politicamente dos Estados Unidos da América desde finais do século XIX, quando os norte-americanos estenderam o seu domínio a estas longínquas paragens, dado o interesse estratégico das ilhas. Aqui em Tutuila, construíram uma série de instalações militares de extrema utilidade durante a II Guerra Mundial no apoio às esquadras do Pacífico, na luta anti-japonesa.

Na outra Samoa independente, aqui ao lado, viveu, entre 1890 e 1894, o escocês Robert Louis Stevenson, o autor da “Ilha do Tesouro”, livro que encantou a meninice de muitas gerações de rapazes, como eu, que se imaginavam sulcando as águas do Pacífico com um misterioso mapa na mão, buscando um fabuloso tesouro escondido numa estranha ilha perdida no mar.

Apanhei um autocarro público e parti, não à procura de um tesouro – já estarão todos descobertos!–, mas de uma praia acolhedora e limpa. Curiosos estes jipões, já quase todos velhíssimos, transformados em autocarros que circulam pela ilha. Têm a caixa atrás adaptada com um habitáculo em madeira, onde foram montados dez ou doze lugares. Circundando a baía de Pago Pago, viajei até ao fim da linha com descida numa aldeia chamada Ana. Quinhentos metros mais à frente havia uma praia pequenina, meia escondida, vazia de gente, sombreada por uns tantos coqueiros (cuidado que pode sempre cair um coco, bem pesado, em cima das nossas cabeças), mais o mar azul, uma leve ondulação e um calor tropical. Vamos ao banho. Água quentíssima como só me recordo de ter encontrado há anos atrás num verão com um mar quase a ferver na ilha de Djerba, Tunísia.

Mas nem tudo é perfeito neste lugar. Há vidros de garrafas espalhados pela areia da praia. Uns quaisquer energúmenos devem ter vindo para aqui beber umas cervejolas e, já toldados pelos perfumes do malte, pelas espirais do álcool, ter-se-ão entretido a partir as garrafas vazias e a deixar os vidros na praia. 

O mar também tem um problema. Entramos, avançamos uns dez metros pela areia fina, logo depois começam as pedras e os corais, submersos, quase à tona da água. Não dá para nadar muito e alguns corais podem cortar os pés e ser venenosos. E existe a possibilidade de encontrarmos mosquitos, não os vemos, não parecem ser muitos, mas quem nos garante que não apareça por aí uma mosca travestida de zika capaz de nos espetar, tropicalmente, o ferrão na pele fofa e de nos injectar o vírus que nos deixará abananados durante meses? Também podemos ser atacados por tubarões. Não será mais seguro, e mais barato, trocar o paradisíaco destas enseadas em ilhas no meio do Oceano Pacífico, por uma bonita praia fluvial nos nossos Zêzere ou Mondego, ou por uma praia atlântica a sério, em Porto Covo ou na Fuzeta? Estou a comparar o quê? A Polinésia tem algumas das ilhas mais bonitas do mundo.

Regressei a Pago Pago. A festa da campanha eleitoral continuava. Um cidadão integrado no cortejo eleitoral diz-me: Thank you for coming!... As pessoas destas ilhas vivem tão sozinhas, tão longe de tudo que saúdam com simpatia o estrangeiro que as visita. São Francisco, a pátria americana, fica a 7.700 kms de distância, o Hawai, habitado também por polinésios aparentados com os samoanos, situa-se a 4.700 kms, a Austrália, a 4.000 kms, a Nova Zelândia, a 2.900, as ilhas Fiji, a 1.200, o Tahiti a 2.400. Portugal está quase nos antípodas, a cerca de 20.000 quilómetros.

(Continua)

Guiné 61/74 - P17942: In Memoriam (308): Nelson Batalha (1948-2017), um dos 15 "ilustres TSF" do meu curso, meu padrinho de casamento, meu grande amigo e camarada... Natural de Setúbal, ferido em Catió, e depois de 10 anos a lutar contra o Alzheimer, acaba de cambar o Rio Caronte... A título póstumo, passa a integrar a nossa Tabanca Grande, sob o lugar nº 759 (Hélder Sousa, régulo da Tabanca de Setúbal)



Foto nº 1 > Setúbal > Encontro dos "Ilustres TSF" > 2009 > Nelson Batalha (à direita) , com José Fanha (, à esquerda)


Foto nº 2 > Nelson Batalha (à direita): em Bissau, no Pelicano, provavelmente em finais de 1971, em que estou com ele e com o Fernando Roque (ao centro)...


Foto nº 3 > Nelson Batalha: no Hospital de Setúbal, num dos últimos internamentos. [Registe-se o gesto de grande ternura da  esposa  Maria José.  O casal tem dois filhos, um rapaz e uma rapariga.]

Fotos (e legendas): © Hélder Sousa (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do nosso colaborador permanente, amigo e camarada Hélder Valério de Sousa (ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72; régulo da Tabanca de Setúbal):


Data: 6 de novembro de 2017 às 18:38

Assunto: Falecimento do nosso "camarada da Guiné" Nelson Batalha


Caros amigos e camaradas:

Caso entendam que este mail 'tem cabimento', façam o favor de o utilizar.

Sei que o "nosso Blogue" não pode, nem deve, ser um repositório de aniversários e obituários. Também não sou um "datista", daqueles que vivem obsecados pelas datas das efemérides e dos seus acontecimentos pessoais.

Mas, e há sempre um "mas", por estas alturas "elas", as datas, vêm ter comigo e nessa ocasião vêm as recordações.

Em 26 de Outubro passado ocorreu a data "oficial" da minha partida para a Guiné. Por razões que já por aqui contei, o barco, o cargueiro Ambrizete, nesse dia dos 'adeuses' às famílias,  fez-se ao largo da baía de Cascais para, segundo a terminologia que ouvi e recordo, "fazer agulhas" e regressou a Lisboa para reparações.

Por tal motivo a real data da partida foi a 3 de Novembro, depois das 22:00. A chegada a Bissau foi no dia 9 de Novembro, manhã cedo. A partida definitiva da Guiné foi a 10 de Novembro, dois anos depois.

Mesmo que não queira, estas datas estão tão próximas que quando uma delas surge as outras vêm por arrasto.

Mas este ano há um novo elemento a registar. Exactamente uma semana antes, a 19 de Outubro, faleceu um dos meus camaradas de Curso de TSF, a cujo conjunto de elementos costumamos auto-designarmos por "Ilustres TSF".

Trata-se do Fur Mil TSF Nelson Batalha, meu companheiro, conjuntamente com o Manuel Martinho, dessa viagem que costumamos também por designar "o cruzeiro das nossas vidas".

O Batalha, portanto também "nosso camarada da Guiné",  esteve em Catió, para onde foi depois de jogar às moedas comigo para ver quem ia para Catió ou para Piche. Em Catió foi ferido [, com um estilhaço de canhão s/r] num ataque que ocorreu em 14 de Abril de 1971 e evacuado para o HM de Bissau. Depois disso foi para a "Escuta" para onde também fui um mês mais tarde, conjuntamente com outros "Ilustres" e onde desempenhámos as nossas funções até ao final da comissão.

O Batalha é meu padrinho de casamento [e a esposa, Maria José, a madrinha].

Desde já há bastante tempo que a sua saúde e o 'discernimento' se vinham a deteriorar.

Ainda o levei a um dos nosso primeiros Encontros [Pombal, 28 de abril de 2007]a ver se o animava e se o "estar com malta daquele tempo" o ajudava, mas a verdade é que o seu estado se foi agravando,  sendo que nos últimos dois anos já os passou internado num Lar da Santa Casa da Misericórdia, em Setúbal, com intermitentes passagens pelo Hospital.

Finalmente encontrou descanso.

Cada vez que o ia visitar ao Lar vinha de lá cada vez mais constrangido.  Em grande parte pela impotência para poder fazer o que quer que fosse para tentar reverter aquela situação e também por verificar a inevitabilidade dum desfecho que acabou por ocorrer em sofrimento.

Dos 15 jovens que em finais de Setembro, depois das respectivas recrutas na 3ª incorporação no 1º Ciclo do CSM, se apresentaram no então BT em Lisboa para fazer o 2º Ciclo do CSM na especialidade de TSF, 3 deles já 'fizeram a travessia de Caronte': 

(i) foi o Luís Dutra, na sequência de problemas pulmonares, ao que parece motivado pelo tabaco;

(ii) foi o António Calmeiro (*), após várias 'batalhas' com uns bichinhos que às vezes lhes chamam de metástases;

(iii) foi agora o Nelson Batalha na sequência de um processo degenerativo e de "Alhzeimer".


O curioso é que todos eles estiveram na Guiné. E tendo em conta que dos tais 15 do Curso ficaram por cá 2 e foram mobilizados 13, sendo que 7, portanto mais de 50%, foram para a Guiné, isso dá que pensar.... 

Meus amigos, façam o favor de viver com alegria os tempos que nos restam pois bem sabemos que a 'nossa vez' está para chegar.e cada vez mais próxima.

Hélder Sousa

PS - Envio três fotos de grupo com o Nelson Batalha: (i)  no Encontro em Setúbal, em 2009, com José Fanha; (ii) em Bissau, no Pelicano, provavelmente em finais de 1971, em que estou com ele e com Fernando Roque;  (iii) no Hospital de Setúbal, num dos últimos internamentos.


Pombal > Restaurante "O Manjar do Marquês" > 28 de abril de 2007 > II Encontro Nacional da Tabanca Grande > Nesta foto (parcial, do Grupo), o nosso camarada Nelson Batalha está assinalado com a elipse encarnada. (A amarelo e a verde, respetivamente, aparecem dois representantes da CCAÇ 2402/ BCAÇ 2851 (1968/70), o Raul Albino e o Maurício Esparteiro)... Outros grã-tabanqueiros são facilmente reconhecidos. Fo o único encontro da Tabanca Grande em que compareceu o Nelson Batalha (1948-2017), e já com os primeiros indícios da doença que o há-de vitimar.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Viseu > VII Encontro dos "Ilustres TSF" > 20 de abril de 2016 (**) > O Nelson Batalha terá ido aos dois primeiros encontros da... Tabanca de Setúbal.


Viseu  > VII Encontro dos "Ilustres TSF" >  20 de Abril de 2016 > No "Bar de Gelo", por ser talvez mais difícil reconhecer as personagens, temos, da esquerda para a direita. M. Martins, E. Pinto, J. Reis, H. Sousa, M. Rodrigues, C. Lã, F. Cruz, J. Fanha e F. Marques. (O Nelson Batalha também já não pôde comparecer, por razões de saúde). (**)

 

Porto > Ribeira > 27 de maio de 2015 > VI Encontro dos "Ilustres TAF" > Em baixo o C. Lã. De pé, da esquerda para a direita: A. Calmeiro (já entretanto falecido), M. Rodrigues, E. Pinto, J. Reis, H. Sousa, M. Martins, F. Cruz, e F. Marques. (O Nelson Batalha  já não compareceu por razões de saúde...). (**)


Foto (e legenda): © Hélder Sousa (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

2. Comentário do editor:

Meu caro Hélder, a estatística da morte é (e sempre foi) para nós muito pesada, ontem, no teatro de operações da Guiné, e hoje, já  aos km 60/70/80 da picada da vida...

No caso dos 15 "ilustres TSF" do teu curso do 2º Ciclo do CSM, três "baixas mortais" representam 20% do total... Depois do Dutra e do Calmeiro, chega agora a triste notícia da morte do Nelson Batalha, depois de mais de uma dezena de anos de doença crónica degenerativa (*).

Vejo a tua impotência, a tua desolação, a tua dor que, desde há muito, partilhavas connosco, sempre que falavas do Nelson Batalha(*)... Finalmemnte, ele fez a cambança do Rio Caronte... que os vivos não podem atravessar nos dois sentidos (para a mitologia grega, só os heróis, "mais do que homens, menos que deuses", tinham o privilégio de poder "cambar", para lá e para cá...)-

Estamos contigo, com a família (, a esposa Maria José, os dois filhos, um dos quais, o rapaz, a viver na Holanda) , os amigos e os camaradas do Nelson. E o Nelson  não vai ficar na "vala comum do esquecimento", vai ficar connosco, sob o simbólico e sagrado poilão da nossa Tabanca Grande. Temos um lugar para ele,o nº 759.

Ele e tu e os "ilustres TSF" que ainda estão vivos bem o mereceis. E o Nelson, que foi ferido na Guiné, em Catió. e lutou na fase final  da sua vida contra o Alzheimer, bem o merece: não é o Panteão Nacional, bem sabes, é bem melhor, muito melhor, é a nossa Tabanca Grande, acolhedora, quente e fraterna, onde estão os amigos e camaradas da Guiné e o repositório das suas memórias. (***)

____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 5 de agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3112: História de vida (13): O meu amigo Nelson Batalha (Helder Sousa)

(...) Acontece que este meu amigo não tem passado muito bem (acho que é vulgar dizer-se isso sobre quem esteve em teatro de guerra...), tem problemas de alzheimer (ainda não muito desenvolvidos) e nunca recuperou bem depois de ter acabado a sua profissão (era Despachante Alfandegário), sendo que da guerra da Guiné ainda guarda no corpo alguns estilhaços que foram absorvidos pela massa muscular, estilhaços esses adquiridos em Catió aquando do ataque a esse aquartelamento/povoação em Abril de 1971 (salvo erro a 13 ou 14).

Isto vem a propósito do seu aniversário, que foi no passado dia 15 de Junho, e que mais uma vez me deixou um pouco deprimido pela impotência que sinto em não o poder ajudar mais. (...)


(**) Vd. poste de 7 de maio de  2016 > Guiné 63/74 - P16062: Convívios (740): VII Encontro de Os Ilustres TSF, ocorrido no passado dia 20 de Abril em Viseu (Hélder V. Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF)

(...) Não sei dizer como, quando e quem começou a chamar "Ilustres TSF" aos jovens a quem,  depois de fazerem o 1.º Ciclo do CSM no 3.º Turno de incorporação em 1969, lhes calhou em sorte essa especialidade (TSF), tirada a partir do final de Setembro desse ano no então BT à Graça/Sapadores, em Lisboa.

Isso agora não importa, o que para o caso deve ser notado é que esse grupo foi constituído por 15 'jovens mancebos', de locais muito dispersos do País e que hoje ainda persistem em manter os laços, fortes e indestrutíveis, que então os uniu e que os motiva a procurar materializar estes Encontros.

Acontece que os problemas de saúde também vêm atormentando os seus membros. Dos 15, tanto no 6.º Encontro no ano passado, no Porto, como no 7.º Encontro, este ano recentemente ocorrido em Viseu, foram 9 os presentes.

Um já faleceu (vítima de doença 'incurável'...), um outro anda travando batalhas sucessivas com uns 'bichinhos' desse tipo, outro (meu padrinho) está incapaz de se juntar a nós com problemas originados pelo "senhor alemão", outros têm outros tipos de problemas, pelo que a consciência que temos vindo a tomar de que é imprescindível manter esta chama (da amizade, do convívio) viva tem conseguido vencer obstáculos.

No Porto, o ano passado em 27 de Maio, conseguiu-se com que, ao fim de décadas, nos reencontrássemos nessa cidade. Foi bastante bom, o dia estava quente, o 'Porto turístico' lá estava para nos mostrar o que evoluiu (com os ganhos e perdas que isso acarreta).  (...)

Como tudo correu bem e como nos apercebemos de que este tipo de Encontros nos fazem bem, nos 'rejuvenescem', decidimos logo ali não deixar passar muito tempo para que novo Encontro ocorresse e desse modo ficou aprazado que este ano de 2016 seria em Viseu.

E assim foi. Lá estivemos novamente 9, sendo que esta ano o A. Calmeiro não teve possibilidade de participar por motivo dos tratamentos que anda a fazer mas no lugar da sua falta apareceu o J. Fanha, o que muito nos alegrou. (...)


(***) Último poste da série > 24 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17899: In Memoriam (307): Ivo da Silva Correia (Fajonquito, c. 1974 - Bissau, 21/10/2017)... Era filho de um camarada nosso, da CCAÇ 3549 (Fajonquito, 1972/74). Morreu sem conhecer o pai português... É tarde, mas ainda vamos a tempo de lançar uma petição pública para que estes pobres "filhos do vento" vejam reconhecido o seu direito a serem também portugueses, além de guineenses... O "Ibu" passa a ser, a título póstumo, o membro nº 758 da nossa Tabanca Grande!