sábado, 27 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3671: Estórias do Zé Teixeira (34): O meu conto de Natal (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)

1. Mensagem de José Teixeira (*), ex-1.º Cabo Auxiliar Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70, com data de 24 de Dezembro de 2008, dirigida ao nosso editor-chefe.

Obrigado, Luís.

Talvez amanhã passe por aí de tarde para o fraternal abraço.

Junto o conto de natal que acabo de escrever.

Neste Natal quer na vossa casa haja felicidade, paz e amor. Assim será mais natal.

Beijo especial para Alice





O meu conto de Natal

Naquele tempo em que eu era pequenino e o Pai Natal ainda não tinha sido inventado, havia um menino que estranhamente nascia todos os anos no mesmo dia e à mesma hora. Esse menino chamava-se Menino Jesus e nascia no dia vinte e quatro de Dezembro à meia-noite.

Segundo dizia a minha avó, que Deus tem, esse simpático Menino, que nascia todos os anos à mesma hora e no mesmo dia, mal acabava de nascer entrava em todas as casas para deixar um prendinha aos meninos e meninas que se portassem bem. Na casa dos ricos entrava pela chaminé e na casa dos pobres entrava pelo buraco da fechadura ou pelos buracos existentes nas paredes, que deixavam passar muito frio, depositando as suas prendinhas, junto à lareira nos sapatinhos ou tamanquinhos que os meninos e meninas lá deixavam na noite anterior, depois da Ceia de Natal em que estranhamente até os meus tios iam do Porto, de lá tão longe, para comer connosco e era uma festa muito grande, com bacalhau, rabanadas docinhas, formigos, sarrabulho doce e tudo mais.

Claro que eu teimosamente deitava-me no preguiceiro, junto à lareira à espera do tal Menino Jesus que me ia trazer uma prendinha, pois eu tinha-me portado bem, nos últimos dias, só que o soninho aparecia muito antes e eu só acordava no dia seguinte, na minha cama, depois da chegada da minha avó, que se levantava muito cedo para ir à missa das sete. A essa hora, já o Menino se tinha ido embora, pois tinha muito que fazer naquela noite e eu ficava triste por não conseguir conhecê-Lo.

Num ano em que eu já era crescidote, resolvi pregar uma partida à minha avó e ao Menino Jesus. Na véspera do tal dia de Natal, quis ir para a cama mais cedo, por mais que minha avó estranhasse. Até pensou que eu estaria doente. Talvez as rabanadas ou os formigos tivessem levado açúcar em demasia. Ou o sarrabulho doce, petisco que eu adorava, tenha levado um pouco mais de vinho fino.

Assim, no dia de Natal, mal a minha avó, saiu para ir à missa das sete, eu, descalço e de mansinho para não acordar os meus irmãos, abri a porta, atravessei o quinteiro, ainda húmido da geada e fui à cozinha espreitar o meu tamanquinho rapelho, que deixara junto à lareira na noite anterior. O tamanquinho estava lá, mas prenda, nem vê-la. Fiquei muito triste e aflito, afinal o Menino Jesus não viera a nossa casa, mas eu tinha-me portado bem! Lá isso é que tinha! já não fazia chichi na cama e comia o caldo todo.

Quando minha avó chegou da missa, saí-lhe ao caminho, dizendo com voz triste:
- O Vó, o Menino Jesus não veio esta noite. Não há prendas para ninguém.

Responde-me ela, com um brilho maroto nos olhos:
- Atrasou-se um bocadinho, mas cruzou-se comigo ali no caminho, ao fundo da leira da figueira. Aqui está a tua prendinha.

... Uma regueifa bem quentinha. A prenda de todos os anos da minha avó e madrinha.

Bom Natal para todos

Zé Teixeira
____________

Notas de CV:

Texto de José Teixeira.

Foto: © José Martins (2008). Direitos reservados.

Vd. último poste da série de poste de 20 de dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3655: Estórias do Zé Teixeira (33): Histórias de Natal (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)

(*) Vd. último trabalho de 22 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3661: Blogoterapia (84): Vai-te embora, tuga dum carago! (José Teixeira)

5 comentários:

Luís Graça disse...

Zé:

Ainda tive o privilégio de, ao fim da tarde de 25 de Dezembro, estar contigo na Madalena, Vila Nova de Gaia, e dar-te um abraço festivo e fraternal... Obrigado pela tua visita à casa dos meus cunhados onde costumo passar o Natal há muitos anos...

Agora, no Funchal, com um vista magnífica sobre a cidade-presépio e a sua baía, acabo de ler, encantando, no blogue, ou de reler, o teu conto de Natal, escrito especialmente para nós, teus amigos e camaradas da Guiné.

Conhecendo agora um pouco melhor a tua dura infância, e a relação tão linda que tinhas com a tua avó, que te criou, estou em condições de te dizer que o teu conto de Natal é uma pequena obra-prima...

É importante que os nossos filhos e netos saibam como que é que uma simples regueifa (pão fino, branco, em forma de pequena roda, produzido no Norte) era uma prenda do menino Jesus que podia fazer tão feliz uma pobre criança da Lousada... Era um pequeno luxo permitido aos pobres na noite de Natal, tal como o café de cevada ou as rabanadas... Estamos a falar de há cinquenta e picos anos atrás, quando a maioria dos portugueses eram pobres e vivam em pequenas aldeias e vilas sem luz eléctrica, sem água potável, sem saneamento básico, sem médicos, sem livros, sem computadores, sem televisão, sem dinheiro... sem leite, sem pão fresco... comendo caldo e pouco mais... Indo para a escola,d e pé descalço, em alguns casos, sem bons agasalhos contra o frio e a chuva... Em contrapartida, havia magia e emoção em épocas tão especiais como o Natal, alimentadas pelas grandes mulheres que eram as nossas mães e avós, sempre presentes nas nossas pequenas vidas...

Que fantástica e inteligente mulher foi a tua avó que 'salvou' o Menino Jesus, numa situação de risco em que ele estava na iminência de 'perder a face' perante um menino bem comportado e crente como tu...

Boas saídas (do 2008) e melhores entradas no Novo Ano, para ti e para todos os amigos que nos lêem.

Luís

Anónimo disse...

Gostei muito.
E gostei também de ler "vinho fino" em vez de vinho do Porto, "caldo" e não sopa e da...regueifa.
Um abraço do
Alberto Branquinho
(nado e criado no Alto Douro)

Luís Graça disse...

Amigos e camaradas: Permitam-me partilhar convosco o mail que o Zé me mandou:

Obrigado, Luís, pelas tuas palavras. Tu consegues ler para além do que está escrito. Ajudaste-me e de que maneira a re(viver) a minha avó, ou maezinha, como eu lhe chamava.

Foi todo este passado vivido que construiu o meu SER e ESTAR presente, continuando a ser a base da construção do meu futuro.

Acreditemos ou não, para mim são os valores que apanhamos na meninice e na juventude que nos marcam todo um viver.

Mesmo quando perdemos a Fé neste ou naquele Deus, as marcas positivas que nos ficaram vão nortear toda a nossa vida.
O mal está quando as marcas são negativas, por isso é que "a casa dos pais é a verdadeira Universidade dos filhos"

Gostei muito de poder dar-te um abraço e cominicar um pouco, o possível, contigo. És para mim um exemplo.

Também gostei de vonviver com a tua cunhada.

Aproveito para te pedir que lhe agradeças a amabilidade que teve em receber-me, mais uma vez, em sua casa. Desejo-lhe para ela e toda a família um ano novo à medida dos seus desejos.

Um beijo para a Alice. Para vós, queridos amigos, e vossos filhos, tudo o que de melhor houver em 2009. José Teixeira

Anónimo disse...

Zé,

Fizeste-me voltar à grande lareira que dava para muita gente, e ao Menino Jesus descendo pela chaminé, para deixar um cigarrinho de chocolate. Havia só uma diferença, é que não eram rabanadas, lá em baixo eram fatias paridas. Não me perguntes poquê pois não te saberei responder.
Agora é diferente, há quarenta anos com uma Transmontana, rendime às rabanadas, mas com vinho fino como diz o Alberto Branquinho.

Um bom ano para ti e toda a tua família.

o velho abraço do tamanho da nossa Tabanca.

Mário Fitas

Anónimo disse...

http://achatcialisgenerique.lo.gs/ cialis sans ordonnance
http://commandercialisfer.lo.gs/ prix cialis
http://prezzocialisgenericoit.net/ cialis senza ricetta
http://preciocialisgenericoespana.net/ cialis