segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3663: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (14): Jubi, bô tem dos ôbo na mão?


FEITIÇO

No pátio junto às instalações dos alferes, estava sentado um garoto de sete ou oito anos, com um ovo em cada mão.

Passou o furriel Pinto, viu o garoto, reparou nos ovos e lembrou-se da bola de pingue-pongue que tinha no bolso dos calções. Perguntou-lhe:
- Jubi, bô têm dos ôbo na mão?
- É. É p’ra noss’ alfero Silva. Num ‘stá lá.

O furriel Pinto retirou do bolso, com a mão direita, a bola de pingue-pongue, deixando entrever grande parte da bola entre o indicador e o polegar. Perguntou ao garoto:
- Esso é ôbo?
- Sim.
- Suma esso?
- Sim.

Então, arremessou a bola contra o chão de cimento, voltando a agarrá-la. O rapaz levantou-se num repente, olhando o furriel com grande espanto.
- Ué!!!!
- Jubi, bô faz cum ôbo suma esso! – e atirou a bola ao chão repetidas vezes, agarrando-a a seguir.
- Nega! Nega! – gritou o rapaz, entre espanto e medo.
- Bô faz suma esso! Bô faz suma esso! – repetia o furriel, batendo a bola no chão .
- Nega! Nega! Nega! – berrava o rapaz, desesperado, mantendo os ovos bem agarrados nas mãos. Ao mesmo tempo, dizia “não” com o corpo todo – abanando a cabeça, batendo (repetidas vezes) com os cotovelos contra o tronco e com um joelho contra o outro joelho.
- Bô faz suma esso! Bô faz suma esso! – repetia o furriel.
- NEGA! NEGA! NEGA! – berrava o garoto, enquanto fugia.

Já longe, passou por uma mulher, que o interpelou. Parou, apontou para o furriel e, assustado, berrou:
- Feitiço!!! Tem feitiço!!!

E refugiou-se na tabanca.
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Nota de vb:


Último artigo da série em

11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3603: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (13): Quatro actos para um ponto de vista...

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