1. Mensagem de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), com data de 29 de Dezembro de 2009:
Caro Carlos:
Desejo que tenhas tido umas Boas Festas com toda a tua família, estendendo-se estes votos a todos os tertulianos.
Desta vez, apesar de enquadrada na série “A Guerra Vista de Bafatá”, não se trata de uma estória propriamente dita, mas antes um convite para uma exposição de fotografias, que fatalmente teria que acontecer.
A exposição abre no dia 04 de Janeiro e eu estarei lá presente nesse dia a partir das 17 horas.
Mais informo, que apesar de inicialmente não haver intenção de vender as fotos, estou a considerar isso (com um preço simbólico), e nesse caso o correspondente aos meus direitos de autor irão integralmente para as crianças da Guiné–Bissau por intermédio da ONGD “Ajuda Amiga”.
Um abraço
Fernando Gouveia
A GUERRA VISTA DE BAFATÁ
20 – Memórias paralelas
Vista da parte principal de Bafatá. No quarteirão, em primeiro plano situava-se a sede do Batalhão
Foto e legenda: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados
Já em estórias anteriores referi que tive muita sorte na Guiné. Aliás em todo o tempo de tropa, como em estória futura relatarei. Dos cinco alferes, de Reconhecimento e Informações, que fomos mobilizados na mesma altura, dois com destino ao Q.G. e os outros, aos três Comandos de Agrupamento, considero que Bafatá foi o melhor que me podia ter calhado. Depois de ter ouvido os quatro camaradas que ficaram colocados nos outros locais, mais reforçada ficou essa minha ideia.
Bafatá, como todos sabem, era em 1968-70 uma zona de paz. Tive no entanto a minha pequena dose de guerra. Já aqui contei essa história*: Quinze dias em Madina Xaquili com condições inacreditáveis no que diz respeito a armamento e munições, o que me levou a conceber um plano de fuga caso houvesse um ataque e se acabassem as 16 granadas de Morteiro 60, de que dispunha. Esse ataque, com mortos e feridos, deu-se, como já contei, um mês depois de ter saído desse buraco. E por falar em buraco, sempre considerei o buraco da ponte do Rio Udunduma, por onde passei em Abril – 70, bem melhor que o de Madina Xaquili.
Podem crer camaradas, que se não tivesse vivido essa experiência de Madina Xaquili talvez nunca tivesse escrito texto algum para o Blog, apesar de considerar que a minha quota parte de ajuda no Agrupamento foi tão importante como a dos camaradas que todos os dias andavam de G3 nas unhas. Muita ajuda dei ao Coronel Hélio Felgas para delinear as suas Operações. Recordo o trabalho que deu o planeamento da “Lança Afiada” e só lamento a minha falta de coragem, naquela altura, para dizer ao Coronel que a Operação não ia dar em nada pois todo o pessoal IN iria atravessar o Rio Corubal, pondo-se a salvo. Dias depois sobrevoei a zona e o que se via lá em baixo era um frenesim na reconstrução de palhotas…
As minhas memórias de guerra foram deste tipo, mas paralelamente tenho outras que se reportam à minha estadia em Bafatá e mais concretamente à vivência extra quartel.
Por força de trabalhar no Agrupamento todo o dia até às oito da noite, praticamente só aos Domingos, é que me era possível passear a pé ou de jeep pelas tabancas, quer de Bafatá, quer as que ficavam próximas.
Morei cerca de um ano numa casa da tabanca da Rocha o que me ajudou a melhor contactar com a realidade civil africana. Como já anteriormente referi, “muitas fotos tirei (e gravações fiz) mas muitas mais ficaram por tirar”.
São estas últimas memórias, que face às de guerra propriamente dita, considero “Memórias Paralelas”. Assim e depois de um convite para expor algumas dessas fotos surge a concretização da exposição:
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MEMÓRIAS PARALELAS DA GUERRA COLONIAL
GUINÉ 1968 – 70
Com um até para a semana camaradas, segue-se o convite para a exposição que vai estar patente, de 04 de Janeiro a 26 de Fevereiro próximos, no espaço “Vivacidade”, Rua Alves Redol, n.º 364 – B (traseiras do edifício), no Porto.
Fernando Gouveia
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Notas de CV:
(*) Postes de:
28 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4256: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia (2): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (I Parte)
8 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4305: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (3): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (II Parte)
21 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4395: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (4): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (III Parte)
28 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4429: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (5): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (IV Parte)
6 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4470: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (6): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (V Parte)
e
26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4585: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (7): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro (VI Parte)
Vd. último poste da série de 21 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5513: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (19): Referências a lugares
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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7 comentários:
Caro Fernando
Ainda bem que resolveste partilhar com o grande público as tuas belíssimas fotografias sobre Bafatá.
Além de recriarem a paisagem sempre espectacular de África, mostram também o quotidiano de um povo tão marcado pelas suas tradições, usos e costumes.
A tua exposição vai ser um êxito, tenho a certeza.
Não prometo estar presente no dia da abertura, mas irei ver concerteza algumas das fotos que aqui publiquei com tanto prazer.
Um abraço
Carlos Vinhal
Vou quase tdos os meses ao Porto. Acabo de regressar de lá, das minhas miniférias natalícias. Espero ainda poder, no próximo mês, ver a tua exposição, para a qual espero o maior sucesso. Pede ao Carlos Vinhal para mandar notícia para a malta da Tabanca de Matosinhos.
PS - A minha filha, Joana Graça, psicólogo, coach e ilustradora, também tem três peças expostas na Livraria "Index", no Porto:
Imagens por entre palavras, de 19/12/2009 a 9/1/2010
http://livrariaindex.blogspot.com/2009/12/imagens-por-entre-palavras-19-dez-2009.html
Happy New Year, para ti e a tua Regina
Caro Gouveia
venho mais uma vez felicitá-lo pela sua narrativa e pelas fotografias mostradas MAS! sobretudo pela sensatez que denota.
Acrescento agora também (para o ajudar a identificar-me), depois de ler toda a 'epopeia', que estive 11 dias asilado em Madina Xaquili, em Jul69; todos os dias saía de manhã 'para ir à caça' e voltava ao cair do dia. Não me lembro dos resultados que consegui mas lembro-me de ter deparado, logo à chegada, com uma 'arma secreta'. Era constituída por um tambor de 200 litros, deitado e ao qual tinha sido arrancada tampa, do lado voltado para fora; do lado de dentro exibia uma abertura central no fundo, com uns 20 ou 30cm de diâmetro; estava instalada a um canto do arame e era um 'dispositivo' um tanto enigmático. Nunca tinha visto uma coisa assim! Perguntei a um madeirense pra que era 'aquilo'. Resposta: é pa fazer mais barulho...
NOTÁVEL!
Tal como aconteceu consigo, não me lembro do regresso a Galomaro
(curioso, não é?); como 'os manos' comeram nas trombas lembro-me de estar muito apreensivo com as minas A/C; era o que lhes restava, não era? Agora qu'a gente se ia embora...
Mas não aconteceu nada; o regresso foi turismo à custa do erário público.
Estava lá, em Julho?
SNogueira
CARO FERNANDO,
OLHANDO PARA A FOTOGRAFIA DE BAFATÁ,REFEJO QUALQUER VILAZECA CONTINENTAL DA ALTURA.
PARA QUM COMO EU ANDOU PERDIDO DA CIVILIZAÇÃO POR BISSUM E PELO CANTANHEZ,FICARIA DE OLHOS ESBUGALHADOS ANTE O ASPECTO DA CIDADE(?),VILA(?) ONDE FIZESTE A TUA GUERRA.
"ELE HÁ GENTE COM SORTE"...
MAS,APESAR DE TUDO,A MINHA GUERRA TINHA UMA COISA BOA.
NÃO CORRÍAMOS O RISCO DE NOS CRUZARMOS COM AQUELA GENTE COM ICTERÍCIA QUE SE MANIFESTAVA NOS OMBROS E NUNS TIQUES DE PREPOTÊNCIA.
UM ABRAÇO.
MANUEL MAIA
Caro Manuel Maia:
Espero ainda ir a tempo de leres esta mensagem:
Bafatá era assim, mas se repares bem, em primeiro plano e um pouco à direita, verás um abrigo de morteiro, coisa que não havia nas vilas da metrópole.
Um abraço
Fernando Gouveia
Caro SNogueira:
Registei a da arma secreta.
Saí de Madina Xaquili em 24JUN69.
Um abraço.
Fernando Gouveia
CARO FERNANDO,
ESPERO NÃO TER SIDO MAL INTERPRETADO.
A MINHA COMPARAÇÃO FOI TÃO SÓ POR COMPARAÇÃO COM OS LOCAIS ONDE ESTIVE.
BAFATÁ TINHA DE FACTO,A AVALIAR PELA FOTOGRAFIA,UM CERTO AR CIVILIZACIONAL,COISA QUE NÃO PODERIA ENCONTRAR-SE EM BISSUM E MUITO MENOS NO CANTANHEZ.
NÃO QUIZ MINIMIZAR,DE FORMA NENHUMA,O VOSSO SOFRIMENTO ENQUANTO MORADORES DA VILA.
CLARO QUE AS VILAS CONTINENTAIS NÃO TINHAM ABRIGOS DE CANHÕES,NEM A SEMELHANÇA FOI POSTA POR MIM A ESSE NÍVEL DE IMPORTÂNCIA.
UM ABRAÇO
MANUEL MAIA
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