terça-feira, 3 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8206: A reportagem que faltava fazer - Associação de ex-militares das Forças Armadas Portuguesas na cidade de Taunton - EUA (José da Câmara)

1. Mensagem de José da Câmara* (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73), com data de 1 de Maio de 2011:

Meu bom e caro amigo Carlos Vinhal, camaradas, amigos,
Quando aconteceu a revolução do 25 de Abril de 1974, a chamada revolução dos cravos, eu já estava nos Estados Unidos da América. A carga emocional que me atingiu nesse dia não foi menor que a vossa, certamente diferente. Porque já então saboreara a vivência de um país livre e responsável como é esta grande nação americana, um país com cultura e vivências democráticas.

Essas vivências, num Portugal saído de uma revolução, não seriam possíveis de um dia para o outro. Haveria que dar tempo ao tempo para que as coisas pudessem atingir os seus desígnios.

Mas quanto tempo?

Eu responderia, o tempo suficiente para reconhecermos que nem tudo era mau antes da revolução e que é irracional continuar a pensar-se que tudo deveria ser bom e perfeito depois da mesma.

A revolução trouxe ideais puros e razoáveis. Mas também trouxe dor, incompreensão e muita intolerância. Tudo isso foi evidente a partir do dia 26 de Abril. Os factos estão à vista, infelizmente indesmentíveis.

Portugal, o meu e o vosso país, atravessa momentos menos bons. Importa que a esperança de melhores dias não morra em nenhum de nós.

Martin Luther King um dia disse que preocupante na sociedade era o calar das pessoas de bem. Por aqui tentamos fazer com que isso não aconteça. Essa é a razão do meu trabalho de hoje.

E aí que se faz?

Com um abraço amigo,
José Câmara


A reportagem que faltava fazer

(Foto da Associação) – Hastear da Bandeira Portuguesa na Câmra Municipal de Fall River. Eduino Faria (ex-1.º Cabo Enfermeirto em Angola), Presidente da Associação, lidera o Corpo de Elite em continência

Hoje não venho falar do 25 de Abril, nem do que essa data representa na história de Portugal. Nem das esperanças de liberdade, de democracia e de justiça para todos. Nem dos cravos que foram murchando com o tempo, nem dos sonhos que se foram perdendo. Nem do estatuto de banalidade que o povo português e os políticos que o representam foram outorgando a essa data.

Hoje, agora e aqui, venho falar-vos de uma Associação de ex-militares das Forças Armadas Portuguesas que combateram nas províncias ultramarinas e que, nos Estados Unidos da América, mais propriamente na cidade de Taunton, Massachusetts, teima em ser diferente, teima em manter bem vivos os ideais mais puros da revolução dos cravos.

Esta Associação, devidamente incorporada no estado de Massachusetts, foi constituída como instituição sem fins lucrativos, por conseguinte de Utilidade Pública. Os seus associados, cerca de 100 (cem), estão espalhados um pouco por todos os estados da Nova Inglaterra e da Florida.

A maioria dos associados já atingiu os 60 anos de idade. A esses é-lhes facultativo a incorporação no Grupo de Elite, uniformizado, e ao qual pertence, conjuntamente com a direcção, a representatividade da Associação nos diferentes eventos para que é convidada ou se oferece.

(Foto da Associação) – O grupo de Elie, uniformizado. José Câmara, ultimo à direita na fila de trás)

Para além de várias reuniões anuais de trabalho, a Associação está voltada para as várias actividades socioculturais da Comunidade. Nessas actividades sobressaem os diversos desfiles, as procissões religiosas nas nossas comunidades e as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades.

Nas actividades da Associarão directamente viradas para os associados há dois eventos que vale a pena destacar seja pelo seu simbolismo na história da patria mãe ou pela carga emocional da condição de emigrantes e ex-combatentes da chamada Guerra do ultramar.

A comemoração do 25 de Abril tem um carinho especial da organização pois que, para além da efeméride, oferece um momento exclusivo de convívio familiar e amigo, para além de uma pequena exposição de livros, fotos, artigos, postais e outra memorabilia dos tempos da Guerra e não só.

Foto de José Câmara, Abril 30, 2011 – Exposição de memorabilia falante

O outro evento, não menos importante na vida desta instituição, é o pequeno-almoço oferecido pela Associação, no dia de Natal, aos seus associados e familiares.

A Associação tem pouca actividade política. Em contrapartida tem uma actividade filantrópica razoável contribuindo, dentro das suas possibilidades, com donativos para instituições carenciadas.

José Câmara devidamente uniformizado, peito para dentro e barriga para fora, como mandam as regras de agora, acompanhado da sua outrora madrinha de Guerra.

Orgulho-me de pertencer a essa Associação, exclusivamente organizada e dirigida por ex-praças, nossos camaradas no Exército português, imigrantes como eu em terras da América.

A todos os que se dedicam a esta Associação um grande bem-haja.
José Câmara
____________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7936: Os açorianos também migraram para o Ultramar (José da Câmara)

8 comentários:

Anónimo disse...

Caro Camarada. Estando também há muitas décadas longe, bem compreendo o teu "sentir" para com o nosso querido Portugal.Há um provérbio escandinavo que diz:"Para sentir a falta de uma coisa é necessário primeiro...perdê-la"! Será por isso que os que vivem longe "sentiräo"mais o seu país? Um grande abraco.

Jorge Fontinha disse...

Conforme terminas o teu Post, também eu digo um bem hajam a todos vocês, pelo exemplo e o orgulho de serem Portugueses, e demonstrado-o de facto.Não seria de esperar outra coisa de homens de bem, que tão bem como ontem, sempre sentiram Portugal, quando nas matas do ex-Ultramar português,sentiram na própria pele e agora sentem no peito,o orgulho de o terem feito.Novamente um bem hajam.Para ti, meu caro e bom amigo, aquele abraço do tamanho do Atlântico que nos separa.Ainda bem que o "Bin Laden", não está sepultado neste Atlântico e está lá para os infernos...

Até sempre.

Jorge Fontinha

Joaquim Mexia Alves disse...

Tão longe e no entanto tão perto!

Grande abraço

Torcato Mendonca disse...

José Câmara

Um abraço forte.
Parece-me que o José Belo tem razão.

Olha Amigo abraço os dois. T.

Anónimo disse...

Camarigo José Câmara

Grande lição daqueles a quem a Pátria nada deu, obrigando-os a procurar solução noutras Terras e entre outras Gentes, mas que mostram o seu patriotismo desta forma.

Grande abraço
Jorge Picado

Anónimo disse...

Como é bonito José!

Assim, sim. Uma associação que merece a maior fraternidade.

Um abração.

Mário Fitas

Anónimo disse...

José da Câmara

Como uma vez e já há uns tempos aqui disse (e tu confirmaste), é mais um exemplo do associativismo (aqui resultante de "contágio") americano - associa-te com os teus congéneres e afins para sobreviveres e teres mais força.
Alberto Branquinho

Luis Faria disse...

Amigo José Câmara

Um belo retrato de muitas das Comunidades lusas espalhadas pelos cantos do Mundo,que sentem e vivem o seu País e dele se orgulham e que o País perdeu e não o contrário,como julgo cita o josé Belo ("...necessrio primeiro...perde-la(coisa=Patria,País)!"

E continua a perder!!

Um abraço
Luis Faria