segunda-feira, 2 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8201: As Nossas Mães (15): Carta à Minha Mãe (José Eduardo Oliveira)

1. Mensagem do nosso camarada José Eduardo Oliveira (JERO), ex-Fur Mil da CCAÇ 675, Binta, 1964/66, com data de 2 de Maio de 2011.

Meu caro Luís
Apreciei muito o teu desafio que me deu umas boas horas de trabalho. Lembrei-me de uma carta que tinha escrito à minha Mãe em 8 de Dezembro de 1964. Era então no dia de N.S. da Conceição que se comemorava o Dia da Mãe. Foram precisas algumas horas para a encontrar. Depois disso uma longa avaria no computador inviabilizou o seu envio. Julgo que só agora é que vai. Atrasada ou não, publicada ou não, fico com a minha obrigação cumprida. Agradeci à minha querida e saudosa Mãe e correspondi ao pedido do meu amigo Luís Graça.


2. Carta à Minha Mãe

Binta, 8 de Dezembro de 1964

Minha Querida Mãe
Será difícil exprimir-lhe por palavras tudo o que sinto por si.

Cada ano que passa, que significa para mim mais experiência de vida, é gratificante constatar que a minha Querida Mãe continua a ser a personificação da bondade, da perfeição, dum amor filial único e sem par.

E esse sentimento para quem, por circunstâncias diversas da vida, teve que sair cedo do lar paterno (primeiro para trabalhar e depois para cumprir o serviço militar), vai tendo cada vez mais valor e sentido.

Nas circunstâncias actuais da minha vida – que é dura e difícil – mais valorizo a formação que me deu. Sei que todos os dias me escreve, que todos os dias reza por mim. Nas cartas que recebo, além das notícias que me manda, sinto a mensagem de coragem que me transmite com a sua resignação cristã, dando-me forças para superar as dificuldades da separação.

Na numerosa família, que são os militares da minha Companhia, não há segredos e damos conta do que significa para cada um de nós a sua MÃE.

Nos momentos mais difíceis, no perigo, na dor, na doença, todos apelamos a quem nos deu a vida.

Quando o Soldado fala da sua Mãe dá uma entoação diferente às suas palavras, que naturalmente são mais doces, mais ternas. Ele fala da sua "velhota", com muitos dizem, com uma ternura diferente.

É por isso que hoje todos recordam com mais emoção, com mais saudade as suas Mães.

Graças a si, minha Querida Mãe, ao Pai, ao maravilhoso ambiente do nosso lar cristão, posso dizer, com uma ponta de orgulho, que nas horas mais difíceis tenho conseguido sempre honrar o nome que me deram.

Acho que nada poderá dar mais alegria a uma Mãe e a um Pai de ter um filho que os tem sempre presentes.

Tudo o que sou, o melhor que tenho em carácter, em honestidade, em integridade, devo-a à minha Querida Mãe. Tenho por si uma verdadeira adoração.

Pela vida fora tentarei sempre que o seu exemplo possa nortear a minha conduta no meu lar, se Deus permitir que eu o chegue a formar. Procurarei ser tão bom Pai como me acostumei desde menino a ter por perto. Na casa dos meus Pais e Avós.

Recuando no tempo recordo a Mãe em todas as circunstâncias como uma pessoa admirável. Na vida, que não lhe tem sido nada fácil, vejo-a sempre a dedicar mais tempo aos outros do que a si própria. Deus permita que continue assim por muitos anos a tornar felizes todos os que vivem perto de si. Transmita à minha Querida Avó os parabéns por ter dado ao mundo tal filha.

Receba um beijo muito amigo do seu
Filho
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8196: As Nossas Mães (14): O Dia da Mãe (Manuel Maia)

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro José Eduardo

É muito gratificante, reconhecer em cada um de nós, a importância que as nossas mães tiveram nas nossas vidas.

Esta sua carta, escrita há tantos anos, revela já um grande amadurecimento, "ou não seja a guerra, uma escola para valorizar os momentos de PAZ, de Alegria, de ternura e de saudade do lar e por conseguinte, da família".

Obrigada por nos dar a conhecer, o seu reconhecimento à família, que tanto honra e sobretudo à Sra. sua Mãe

Um abraço

Felismina Costa

Anónimo disse...

Bonito Jero!

Gostei porque era e é assim mesmo.

Um abraço,

Mário Fitas