Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > Visita dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje > 2 de Março de 2008 >
Filhas do vento, filhas de amores de guerra (*)...
Estas duas mulheres, de olhar triste, irmãs, vieram de longe procurar-nos, uma delas com um filho às costas... Estariam na casa dos 30 e muitos anos...
Queriam saber notícias de um tal Furriel Mil Mecânico Auto, de apelido Barros, que terá estado em Cacine em 1971/72... e que seria de origem madeirense ou açoriana. Por essa altura, entre 20 de Maio de 1970 até 15 de Fevereiro de 1972, sabe-se que passou por Cacine a CCaç 2726... Não fixei os seus nomes, nem sei ao certo onde vivem, mas prometi divulgar as suas fotos...
Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.
Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.
1. Comentário. ao poste P8798 (**), assinado pelo nosso querido e bom amigo Cherno Baldé [, aqui na foto, à direita, com os seus filhos, num cerimónia religiosa muçulmana ]:
Caro José Saúde,
Pessoalmente, conheci muitos casos de "Filhos do vento", nascidos de "pais cabeças de vento" que nunca quiseram saber ou se responsabilizar dos seus irrefletidos atos, salvo rarissimas exceções, marcando assim, de forma indelével, o início das suas vidas que, na verdade, não tinham o valor a eles devido ou que é devido a cada ser humano.
No caso do chão Fula, que conheço melhor, a maior parte desses filhos abandonados foi integrada e educada no seio das famílias, mas não teve nem o afeto nem o respeito que merecia, pois tratava-se de filhos nascidos de um erro, uma falha impossível de camuflar e uma vergonha ou da sua falta, ainda mais difícil de explicar.
Mais tarde e já adultos, muitos imigraram para as cidades, onde são conhecidos pelo nome de "Brancu Mpelélé" ou seja, branco pobre como o resto da população, uma anormalidade social.
Muitos conseguiram passar a muralha da Europa e estão por ai, mais perto do que poderão supor, provavelmente à procura das suas raízes violadas ou, quem sabe, dos seus direitos negados.
Um grande abraço a todos,
Cherno Baldé (***)
[ Revisão / fixação de texto , em conformidade com a Novo Acordo Ortográfico: L.G.]
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 20 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4710: Blogoterapia (119): As Fantas, as Marias, as Natachas, ou o amor em tempo de guerra e de diáspora (Cherno Baldé)
(*) Vd. poste de 20 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4710: Blogoterapia (119): As Fantas, as Marias, as Natachas, ou o amor em tempo de guerra e de diáspora (Cherno Baldé)
31 comentários:
Um tema tabu... Os "filhos do vento", para usar uma expressão que nada tem de poético... Quantos filhos nasceram dos "amores de guerra" ? Quantos terão sido mortos à nascença ? Quantos sobreveviveram depois dos 5 anos ? Quantos estarão ainda vivos ? A embaixada portuguesa tem algum dossiê sobre este tema ? ... Não acredito... O exército, muito menos...
Não devia escrever sobre este assunto.
Devido a ser um assunto melindroso deve, como tal ser tratado.
Não se devem imputar responsabilidades de forma ligeira.
A colonização portuguesa tem inúmeros casos destes.
Hoje pode ser fácil criticar quem teve relações sexuais com africanas. Eu tive. Que queriam que eu fizesse?
Solução para alguma gravidez que se não desejava? Talvez, talvez. Qual? É assunto do foro intimo e não revelo. Volto a dizer ser assunto melindroso e como tal deve ser tratado. Acresce ainda o respeito que todos, pais (pai e mãe - por vezes não me explico bem...)e filhos dessas ligações nos merecem.
Tenho familiares de cor. Qual o problema? Eu descendo de quantos Povos?
Alonguei-me e desviei-me do cerne da questão. Mas fica escrito com o voto de que todos os Homens se sintam cada vez mais iguais em tudo.
AB T (por um Mundo melhor)
Caros amigos, um tema de extradionária importãncia, ou eu não tivesse sido uma criança de "pai incógnito". Não entendo o assunto como tabu.
Obrigado pela apresentação da questão. Porém tenho sérias dúvidas que passe daqui, salvo, talvez, honrosas excepções.
Cumprimentos p/ todos.
Carlos Filipe
ex- CCS BCAÇ3872 Galomaro/71
Não é resposta ao Luís Graça.
O que escrevi não se dirige a ninguém em particular. Dirige-se sim a todos os que facilmente criticam...haverá aqui pessoas dessas? Creio que não. T
Tema tabu... À letra, proibido, interdito...Algo que não se pode ou deve proferir ou de que não se pode ou não se deve falar, evocar, discutir, debater...
Em rigor, não temos temas tabu... no nosso blogue. Ou até temos: por exemplo, é "proibido"... "criticar o comportamento operacional e até humano de qualquer camarada"... E o camarada, no meu entendimento, vai até ao comandante operacional (leia-se, capitão)...
Infelizmente, não conseguimos respeitar e fazer respeitar esse princípio... Já fizemos a (ingénua) experiência de criar, aqui, um "confessionário"...Não dá: a gente só se confessa ao padre, ao médico, ao psiquiatra, à mulher e aos filhos na morte da morte... Ninguém se confessa na "caserna", na "praça pública", na "blogosfera"... E nomeadamente por receio de perda de autoestima, de consideração dos pares, etc...
Tema tabu, não é, os "filhos do vento"... Mas tem de ser tratado com tato, delicadeza, bom senso, bom gosto, sem "voyeurismo"...
... Atenção: não estamos a falar de "violência", "violações" de guerra... Como diz, e muito bem, o Torcato, estes ditos "filhos do vento" nasceram de relações "consentidas"... e sobretudo "desprevenidas"...
Para complicar ainda mais o problema (cuja dimensão desconhecemos...), há que ter em linha de conta a tradição e a prática do infanticídio na Guiné (e no passado também em Portugal)...
Caros amigos e Luís Graça, já escrevi uma vez que reconhecia o teu importante esforço como responsável do blogue e consequente sensibilidade da tua posição, como tal.
Mas permite-me que comente o seguinte.
'Filhos do Vento' as crianças geradas, de uma simpatia apaixonada quiça uma paixão, um momento influenciado pelo calor de áfrica, uma troca de comida e/ou patacão pelo prazer, ou por uma falsa promessa de um mundo melhor.
Sim, terão sido elementos de vária ordem que geraram os 'filhos do vento'.
Porém interrogo.
Porque excluir desta panóplia de causas os outros 'filhos do vento' gerados pela violência nas suas variadas facetas ??
Não foram gerados na mesma época de guerra colonial ??
Será que só se pretende falar dos 'filhos do vento' esquecendo então os 'Filhos da Tempestade' ??
Estes, então, não serão tão reais como os outros ??.
Com abraços p/ todos e cada um
Carlos Filipe
ex- CCS BCAÇ3872 Galomaro/71
"Filhos do Vento" e "Filhos da Tempestade".Interessantes denominacöes."Historicamente",na colónia do Brasil,esses ventos variáveis teräo sido constantes.Num clima de guerra,e nas situacöes sociais opressivas por ela provocadas,o número de "Filhos da Tempestade" será,talvez, muito mais vasto.Quantos os que (por NÓS)querem ser convenientemente olhados como "só vento", e em verdade,muitas vezes mais näo seriam que "tempestades nuanceadas".O que será importante,(e isto quanto aos täo elevados valores morais täo defendos pelos senhores de entäo),seria a impunidade perante as autoridades ,tanto militares,como civis,que faz meditar quanto aos referidos "Filhos da Tempestade".Quantos autos em Departamentos de Justica Militar existiräo?E,dos poucos,quantos os...arquivados? Um abraco.
Relações sexuais consentidas não consubstanciam a prática de um Crime.
Deixámos muitos Filhos? Penso que não.Conheci um e não era discriminado,nem sequer pelo marido da Mãe.
Sei do que falo,pois tive mais fama do que proveito..Fama que me acompanhou até hoje,pois às vezes ainda sou procurado por candidatos a Cabrais..Tratei do Tema na minha Estória(25)-29 de Julho de 2007.
Abraço.
J.Cabral
Caro Camarada. Como creio näo estarmos a referir-nos a consentimentos obtidos à saída de "boite" em Cascais;muitas das condicöes em que os tais "consentimentos" teräo sido obtidos chegariam para umas boas horas de argumentacäo em qualquer tribunal de um Estado de Direito.Alguns esqueciam-se de deixar a G-3 à entrada. O que para mais,e certamente de acordo com o Regulamento de Disciplina Militar ,(quanto ao näo abandonar a arma), estaria correto.E se,por absurdo,tivermos em conta as idades da maioria das envolvidas nestes consentimentos,teríamos que aceitar que as leis da Nacäo, nestes casos específicos,seriam diferentes de acordo com as províncias.Para a jovem Minhota uma "idade de consentimento",e para a jovem Guineense...outra.Por certo por mais perto da natureza.Houve ,certamente, todos os "nuanceamentos".Até mesmo,muitos e grandes amores de juventude.Em outros casos, trocas comerciais de...mais valias.E ainda bem! Um Abraco.
Só posso falar falar do que vi...Quer em Fá Mandinga,quer em Missirá..Do resto ouvi contar...depoimentos indirectos como sabes, não fazem prova..
Abraço.
J.Cabral
Caro Filipe:
Claro que não excluo, do espaço do nosso blogue, o relato de situações de violência sobre a população da Guiné, a montante ou a jusante da guerra... Agora o que sempre defendi e continuo a defender firmemente é que o nosso blogue não é nenhum tribunal da opinião pública, é um sítio de partilha de memórias, de experiências vividas na 1º pessoa do singular ou na 1ª pessoa do plural... Só isso. Um abraço. Luis
PS - Espero que a tua saúde vá melhorzinha.
Assim falam os Doutos Juristas e têm, sobre a matéria saber e todos nós ficamos gratos.Além disso são dois adoráveis amigos que têm vasto conhecimento do assunto em questão.
Mas dizei-me: um jovensito, de vinte e pouquitos anos, cheio de tesão ia fazer o acto á mão?...dizia o Poeta Maior e soldado que foi do reino: mais vale...do que...mas julgue... quem não.......isto em quinhentos.
Foram séculos a amar quem devia ser amado, a ajudar a criar gente linda fruto desses amores. Não gostais de deambular pelo, Brasil, Angola e etc...ver belezas de mulher, sons musicais de mistura de culturas...os deuses deram essa missão a este Povo, Senhores.
Teria havido algum demando? Algum pérfido idiota fez asneira? Claro que sim,onde? No Minho, Madeira, S.Tomé...Timor... castigaram-no certamente ou se o não foi, disso se encarregou o Senhor.
O Mundo certamente agradece, os hipócritas, racista, eunucos e outros que tais, raivosamente protestam destilando ódios. Babam-se contudo á passagem da beleza gerada, anos antes, em encontro de amor...não compreendem, a sua impotência ou ódios barrou-lhes o cérebro e nunca foram jovens.
Estou atrasado e vou caminhar até á Lusa- Atenas...lá certamente me lembrarei desta temática...em passagem, para delicia de olhares aos encontros de belas visões,só visões.
Abraços T.
Caro Amigo e Camarada Luís. Já há semanas que comecou a nevar por aqui.As temperaturas nocturnas já estäo nos seis graus negativos.A escuridäo vai aumentando.Enfim,uma boa receita para os tais..."apanhados do clima" d'antanho.Daí,e se me for desculpado um humor mais Lapäo que Lusitano ao usar um termo (integrado nos parämetros do blog por usado na guerra da Guiné)quanto aos "Tribunais de Opiniäo Pública":Já chegámos à Madeira.... de hoje?Um grande abraco.
Caros amigos,
Caro José Saude,
Em conversa com colegas de Gabu (Nova-Lamego), tive informacoes, ainda por confirmar, em como o nome provavel da crianca, hoje adulta, é Cristina, cuja a mae é Maria Umba.
O pai da Cristina, um ex-combatente originario do Porto, teria voltado, apos a independencia, para o reconhecimento legal e tratar de a levar consigo.
Se a historia da Cristina coincidir com a da crianca da fotografia, entao, devera ser procurada algures na zona do Porto ou, na pior das hipoteses, em Portugal de Shengen.
Este mesmo colega adiantou-me que a familia do ex-combatente ficou maravilhada com a crianca que teria herdado os tracos fisicos caracteristicos da familia.
Trata-se de um caso excepcional e de um Homem e Portugues excepcional a quem deixamos aqui, também, o nosso maior reconhecimento.
Na minha opiniao, o problema nao se coloca em termos de ter ou nao ter relacoes sexuais com quem quer que seja, mas depois ha que fazer frente a situacao voluntaria ou involuntariamente criada a partir destas relacoes, partindo do principio que o pai sabia da existencia do(s) filho(s). Com isso, ninguém pretende ser mais papa que o proprio. Todos somos faliveis.
Vou continuar a pesquisa.
Um abraco e bem hajam.
Cherno Baldé
Caríssimo Torcato. E entäo os VOTOS DE CASTIDADE dos cruzados?"Assim" näo admira que os Impérios acabem por cair. Um grande abraco.
O tema é tão tabu como os "filhos dos franceses", as crianças nascidas em Portugal por ocasião das invasões napoleónicas (1807-1810), fruto de amores consentidos ou, e sobretudo, de violações... Mas isso é matéria para a investigação historiográfica...
Nas guerras coloniais, e em particular na nossa, na Guiné, é difícil estimar o número de crianças nascidas durante a guerra, em resultado de violações ou de relações consentidas... tanto no lado das NT como no campo do PAIGC (nas chamadas regiões libertadas). A testosterona tanto faz aumentar a agressividade como a líbido. E nesse aspeto nós, como os nossos soldados fulas, ou os guerrilheiros balantas, cabioverdianos e cubanos do PAIGC, éramos todos feitos da mesma massa... (Recorde-se que já em Cassacá, no 1º Congresso do PAIGC, em 1964, alguns "senhores da guerra", foram objecto da "justiça revolucionária", acusados de abusos de poder, assassinatos e violações).
O que podia variar era a formação cívica e militar dos nossos oficiais, sargentos e praças (ou a formação "revolucionária" dos homens de Amílcar Cabral e de 'Nino' Vieira), a disciplina militar, o controlo e a punição de comportamentos ética, disciplinar e humanamente reprováveis, a efetividade do respeito pelas populações imposto pela política spinolista (ou, do outro lado, pela ideologia do PAIGC)...
No meu tempo, entre Maio de 1969 e Março de 1971, como militar da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, não fui testemunha de nenhum caso de violência sexual exercida contra bajudas e mulheres, por parte dos nossos quadros metropolitanos ou ou dos nossos soldados fulas... E eu andei por bastantes sítios, dentro do Sector L1 (e não só), tendo permanecido semanas em algumas tabancas fulas em autodefesa...Como graduado, nunca recebi queixa de nenhum civil, homem,mulher ou bajuda... E de crianças ditas mulatas em Bambadinca, nascidas fora do "casamento", não tenho ideia de haver meia dúzia... Lembro-me que a mãe da minha lavadeira, ela própria lavadeira, tinha uma criança, filha de um branco (da tropa...). Estou a falar de Bambadinca que era uma povoação importante, posto administrativo, sede de batalhão, com duas importantes tabancas, e várias casas comerciais, com igreja e escola, com estrada alcatroada até Bafatá, eixo rodoviário fundamental da zona leste, porto fluvial, diversão noturna (uma extensão do Bataclã de Bafatá), muitas bajudas giras, centenas de homens europeus e africanos em armas, deslocados, na flor da idade...
Em Bissau, no seio de uma população mais "urbanizada" e "destribalizada", é possível que houvesse maior número de casos por comparação com a população e com a tropa lá instalada... (Refiro-me a casos de crianças, filhas dos tais "amores de guerra", sem pai, tanto podendo este ser um civil como um militar, um europeu ou um africano...).
Portanto, nada de fazer generalizações abusivas, nada de fazer sociologia espontânea... Façamos antes a seguinte pergunta: quantos mestiços tinha a Guiné Bissau, em 1958 ? Quantos seriam em 1974, por altura da nossa saída ?
PS - Claro, não podemos ficar indiferentes à situação de todas as crianças, órfãos de guerra, que existiam, em 1974, no fim da guerra, independentemente da sua cor de pele ou origem étnica (brancas, mestiças, negras, fulas, balantas, etc.)....
Apelo que circulou hoje, internamente, pela Tabanca Grande, e que fazemos chegar, por esta via, a todos os nossos leitores:
Camaradas:
Quantas crianças mestiças, cuja paternidade era imputada a militares, "tugas", vocês conheceram, nos anos e nos sítios por onde andaram na Guiné, entre 1959 e 1974 ?...
Em Bambadinca, Bafatá, Nova Lamego, Teixeira Pinto, Mansoa, Bolama, Bissau, Buba, Bedanda, e por aí fora... Precisam-se histórias e testemunhos...
Em meio milhar de membros da Tabanca Grande, vamos arranjar material para meia dúzia de postes ?
Eu sei que o tema é delicado, devendo nós ter o cuidado de preservar/proteger a identidade de pais e crianças... Em caso algum o nosso blogue pode ser usado para fazer "investigações de paternidade"...
Um abraço. Luis Graça
Estimados e ilustres camaradas
Uma guerra é sempre uma guerra e deixa as suas mais diversas marcas e consequências gravadas no tempo e na memória dos que a viveram!
Estou de acordo com todos os comentários das vossas doutas opiniões, escritos no poste Tema “Filhos do Vento”…. a ninguém consigo tirar razão… É uma miscigenação de sensibilidades a opinar sobre uma matéria tão delicada intrincada e pessoal, que poucos terão moral para a abordar desapaixonada e imparcialmente porque cada um a sentirá segundo as suas preferências, conveniências e aptidões! Como se sabe nesta área há uma miríade de comportamentos e alguns desviantes, de resto como já foi estudado há mais de meio século, nos célebres relatórios de Alfred Kinsey e no de Masters & Johnson
Isto de matéria de sexo é um tema muito complexo, em que há desvios do racional em que os instintos de alguns humanos se aproximam dos animais irracionais…É difícil de domar e refrear determinadas pulsões! Parece estranho, mas o homem sente vaidade, orgulho e aumenta o grau de auto-estima, quanto maior for a dispersão que possa fazer com o seu esperma… Isto incentiva-o a continuar!! Será a lei da selecção natural em acção??? Será a continuidade da espécie??? Mas logo, constantemente, assistimos as desvios de tal ordem, que nos deixam mergulhados em reflexão!!! Assiste-se diariamente a relatos de seres humanos, que violam a sua própria prole, acção que muitos animais, dos ditos irracionais, rejeitam fazer! Será por respeitar a lei da selecção natural (mistura de genes variados, fortalece as vantagens de determinadas características)!!!?? Será que é a Natureza a culpada por ter colocado no corpo da mulher o maior desejo do homem e colocou no corpo do homem o melhor consolo da mulher???...
Um abraço
José Corceiro
Caros amigos
Ainda sobre o tema “Filhos do Vento”, em Nova Lamego conheci duas crianças que eram apontadas como sendo filhos de militares, que já tinham regressado à metrópole.
Em Canjadude, havia pelo menos duas crianças, filhas de militares metropolitanos, eu até já publiquei, aqui no Blogue, a foto de uma das crianças. No tempo em que eu permaneci em Canjadude, que eu tenha assistido, houve dois casos de paixão entre militares e nativas, de consequências imprevisíveis… um foi um militar de transmissões que se apaixonou por uma “Bajuda”, das mais belas, ou a mais linda, de Canjadude, que tinha 13 ou 14 anos. Só que já tinha sido comprada aos pais, e estava a viver com o sapateiro de Canjadude, que por acaso até era coxo e já tinha mais de 50 anos. Foi descoberta a paixão e o sapateiro foi entregar a “Bajuda” aos pais desta…Ia dando um grande sarilho!
Outro caso de Canjadude foi o do militar que se apaixonou por uma “Bajuda” de Nova Lamego. Durante uma coluna de reabastecimento, a Nova Lamego, o militar tentou levar na coluna a “Bajuda” para Canjadude, foi-lhe recusado e ele recusou-se a ir na coluna. No dia seguinte de manhã cedo, já o militar estava na Tabanca de Canjadude com a sua “Bajuda”, tendo percorrido os dois durante a noite, cerca de 25km. Ainda houve complicações…
Um abraço
José Corceiro
"Quantas crianças mestiças, cuja paternidade era imputada a militares, "tugas", vocês conheceram, nos anos e nos sítios por onde andaram na Guiné, entre 1959 e 1974 ?... "-li algures num dos comentarios.
Da minha trajectoria estudantil na Guine, do ensino basico ao liceal, tive alguns colegas nestas circunstancias, que curiosamente ganhavam sempre a alcunha ou o apelido... de "tuga"...
Por conseguinte com Betos, Luises Salah...(aqui referencias feticias) "Tugas'...pude conviver e partilho ainda hoje, com um e outro, afectos que resistiram a distancia e ao rumo das nossas vidas !!
Durante a guerra civil em Angola e no ambito de uma deslocacao a martirizada provincia do Bie, no planalto central, fui abordado por um jovem mestico ( de mae ovimbundo que cheguei a conhecer na Sanzala, por insistencia do jovem ) que fazia a questao de me confiar uma foto, tipo passe de um militar portugues devidamente fardado e identificado (as tais fotos de apresentacao do tipo requerido pelo blogue), alegadamente legado, na hora da debandada... por aquele que considerava ser seu progenitor !!!
Encarecidamente, dado ao isolamento a que determinadas regioes de Angola se encontravam, foi-me solicitado que fizesse a foto chegar, na altura a producao de um programa..de uma TV portuguesa, creio ser o programa "Perdidos e Achados" da SIC ... que de resto desconhecia !!!
Confesso que feito a minha parte, ainda hoje desconheco o desfecho desse caso !
Mantenhas
Nelson Herbert
USA
Caros camarigos
Parece que em boa hora o nosso amigo José Saúde resolveu presentear-nos com uma foto da 'menina do Gabú', e referiu-se elegantemente aos 'filhos do vento'.
Imediatamente se desencadearam comentários vários que, quanto a mim, se pautam por tratarem do assunto com seriedade. O receio que tal assunto pudesse ser 'abandalhado' parece não ter fundamento, pelo menos até ver.
As preocupações e 'orientações' que o Luís colocou parece terem resultado.
É claro que temos também 'os filhos das tempestades' e até vindas de várias épocas, de vários 'quadrantes'.
Quem não se lembra das encenações dos "casamentos na Parada?" Que serviam para colocar os mancebos na ordem? Motivados por casos reais ou fabricados? Eram casos passados cá, na 'Metrópole', com brancos....
Por exemplo, quem comigo fez a '3ª de 69' em Santarém pode-se lembrar do dia em que juntaram todos os instruendos do Anexo aos que estavam no 2º Ciclo na própria EPC e o Oficial de Segurança, o então Capitão Mário Tomé, referiu-se ao facto de uma pobre mãe lamentar o que sucedeu à sua filhinha e aí o Oficial disse qualquer coisa semelhante a isto: "se vocês acham que a instrução não é suficientemente dura para não importunarem as filhas de cada um, garanto-vos que a partir de agora vão ver como é e tenho a certeza que não irão ter força para levantar o 'piçalho' durante muito tempo e preparem-se para celebrar o casamento na Parada".
Isto vem de longe...
E fala-se das invasões francesas. E as incursões de piratas nas zonas costeiras? Enfim, 'pano para mangas'.
Para terminar este comentário quero salientar que caso o nosso amigo Cherno esteja certo não há dúvida que estamos perante mais um caso com 'final feliz', pelo menos segundo os nossos padrões de entendimento.
Abraços
Hélder S.
Ena o que para aqui vai
Bonito
Este tema dava para muitos doutoramentos.
Só não tolero os hipócritas e os pseudo-moralistas.
Sabem como é designada a vagina por muitas mulheres não só em meios rurais como até urbanos..não, não é "boca do corpo" mas "SERVENTIA".
Sabe sr.dr. quando o meu homem se serve de mim.. pois para muitas mulheres os MARIDOS servem-se delas.
Para reflexionarem...
Adeus até ao meu regresso e um novo ano cheio de "propridades", perdão um alfa bravo.
C.Martins
A 12 de Julho de 1972, com apenas quinze dias de Guiné, em Teixeira Pinto, eu escrevia no meu Diário:
"As raparigas negras também dormem com a tropa branca, não com a frequência e facilidade com que o soldado português desejaria. Mas muitas raças, uma só nação. Contaram-me que quando acontece darem à luz um filho de homem branco, o bebé mestiço é morto à nascença. Não se pode generalizar, mas é um facto que os mulatos são aqui raríssimos. Também me dizem, mas talvez não seja verdade, que preta que fode com branco é ostracizada pelos negros para sempre, ninguém mais a quer."
Não sabia muito sobre a matéria, mas já botava opinião, de ouvir dizer.
Abraço,
António Graça de Abreu
Meus Caros Camaradas e Amigos. Um sincero obrigado a todos os que ajudaram este velho "exigrado" a recordar um dos fados marialvas favoritos da sua distante(?) juventude :"Eu cá p'ra mim näo há ai näo prazer maior q'u celim e c'a mulher"! Em ritmo de "allegro com gusto". Bem hajam! E,um:Aquele abraco!
Pois é José Belo, e continua:
«rédeas na mão,
sorrir, amar,
trotar, esquecer,
e digam lá se isto descer»
É o muito antigo e conhecido Fado Marialva, que eu cantei muitas vezes nas noites de "estudo" em Lisboa, preparando exames que nunca fiz!!!
Aqui fica toda a letra:
Portugal desde menino
Foi cavaleiro e campino
Deu cartas como calção
A cavalo venceu mouros,
A cavalo picou toiros
Foi destemido e pimpão.
A nossa história
É toda de lés a lés
Uma vitoria do ginete português
[REFRÃO]
Eu cá para mim
Não há ou não maior prazer que o selim e a mulher...
Rédeas na mão, sorrir amar, trotar esquecer,
E digam la se isto é descer!
Rapaziada de agora,
Voltem à bota e à espora
Com orgulho e altivez
Deixem as coisas modernas
Arranjem força nas pernas
Trotar é que é português
Quem anda a trote em cima de um bom alter
Leva no bote a mais difícil mulher...
Um abraço
Caros camaradas
Em Canjadude, além dos casos que já citei nos comentários anteriores, lembrei-me de mais dois, envolvendo vivência amorosa de militares metropolitanos com mulheres nativas: Foi o caso de um dos criptos, da C. CAC. 5, natural da zona do Porto, que constituiu família na Guiné com uma mulher nativa, e tinham dois filhos. Outro caso, dum militar alguns meses mais velho do que eu, na Guiné, quando passou à disponibilidade, por ter terminado a comissão de serviço militar, ficou a viver em Nova Lamego, com uma “bajuda”. Quando eu regressei à Metrópole, em 1971, quer um quer o outro viviam em Nova Lamego.
Um abraço
José Corceiro
SEXO
Querem falar de sexo..é.
Quando cheguei à Guiné, via muitos rapazes e até adultos passear de "mão dada"...querem ver que aqui há muita "paneleiragem",(ignorância de piriquito)... afinal era só sinal de amizade.
Um dia em Cacine assisti a um arraial de pancadaria, porque encontram uma bajuda nalu a dar uma "queca" com um fula.
Em 98 em Gabu o Sr. Presidente da Câmara resolveu passear de mão dada comigo..disfarcei o incomodo que me causava..sabia que só queria demonstrar a sua amizade.
Ontem vi uma reposição de uma entrevista a Aristides Pereira (faleceu ontem), em que dizia que a maioria dos Cabo-verdianos são mulatos.
São mulatos..porquê ?
Camarigos..fazer amor,foder,curtir,comer..etc..etc é tão antigo como o mundo, assim como ser hetero...bi..ou homossexual, para já não falar de todas as variantes sado-maso,fetiches, swings,ménages à..pedofilia...etc..etc..que sei eu.
Amor em tempo de guerra..bem também..mas na maioria dos casos era só para foder, porque tínhamos muita libido,perdão tesão ..e quê..
A única coisa para mim altamente condenável era e é se não houver consentimento e a isso chama-se VIOLAÇÃO...ah.. e o que está consignado na lei como crime sexual.. tudo o resto...puf..cada um come do que gosta.
Sexo..pratiquem..faz bem à saúde..os que ainda poderem..ah..ah, porque a porra da próstata..a diabetes...hta.. etc mais os medicamentos que os médicos têm a mania de receitar, não ajudam nada.
C.Martins
Caros amigos
Falar de sexo é um tema inesgotável, pois há centenas e centenas de tratados, já escritos, por grandes sumidades especialistas na matéria. Mas, muitos mais se escreverão ao longo dos anos… Embora seja um assunto delicado, é muito interessante e atrai a generalidade do ser humano, que o vive com mais ou menos variantes e tabus. Quase todo o ser humano recorda, com intensidade, como aconteceu a “sua primeira vez”. Convivida com mais ou menos fantasia, prazer, desejo, medo, surpresa, dor, alívio, arrependimento, orgulho, ou até, traumatismo…! Eu ainda me lembro, numa livraria em Fátima, onde comprei o primeiro livro que falava sobre questões sexuais, cujo título é, A Vida Sexual dos Solteiros e Casados, escrito por um Padre brasileiro, João Mohana, tinha eu 15 ou 16 anos.
O sexo interfere, determina e comanda, muitas das decisões que tomamos ao longo da nossa vida…
Óptimo, para aqueles que temos o dom de viver a vida sexual, duma maneira sadia, sem tabus, sem atropelos que prejudiquem o próximo, aceitando e respeitando outras variantes no nosso semelhante, logo que não sejam aberrantes e condenadas socialmente…Uma vida sexual intensa e bem vivida é o melhor elixir, para nos mantermos jovens, dinâmicos e com força na verga. O fazer sexo é por vezes mais vigorante e eficaz do que algumas medidas profilácticas ou medicamentosas, para tratar problemas do foro psíquico ou físico. Na nossa idade (60 e mais) escasseiam as hormonas na circulação sanguínea, responsáveis pela libido, mas predominam as boas e fantasiosas lembranças, se as tivermos vivido, que funcionam como motor de arranque, porque o sexo é essencialmente psicológico.
Na minha aldeia, Vale de Espinho, Sabugal, devido á sua localização geográfica, fizeram-se sentir os efeitos do sexo durante as invasões francesas, aliás constatando o fenómeno, assim o escreveu, o meu conterrâneo, amigo e padrinho, Joaquim José Tenreira, no livro “Sabugal e as Invasões Francesas”.
Uma pequena história, que se diz ser verdadeira, que eu ouvi na minha terra:
Certa noite, de Inverno, estando um grupo de conterrâneos a petiscar e a beber uns copos, na tasca, um mais libidinoso e atrevido, sabendo que a chave da porta, dum dos companheiros presentes, estava debaixo da porta, ao alcance da mão através da abertura gateira, e que a mulher estava na cama, ousou e foi à casa do companheiro. Meteu-se na cama com a mulher (ainda não havia energia eléctrica). Fez o serviço, saiu de casa e foi novamente para a tasca… O marido regressa a casa, deitou-se na cama e é surpreendido com esta observação da mulher: Aih! Homem, ainda há tão pouco tu te “serviste” de mim, já te estás a “servir” novamente…
Um abraço
José Corceiro
Felizmente que vivemos num país livre onde, por enquanto, as palavras não custam dinheiro, daí também por vezes o comemtário demasiado fácil e completamente fora do contexto. Lamento sinceramente que alguns camaradas (poucos) não tenham entendido a mensagem do Luís Graça. "OS HOMENS SÃO COMO AS PALAVRAS. SE NÃO SE PÕEM NO DEVIDO LUGAR, PERDEM O SEU VALOR".
Um Abraço
Augusto Silva Santos
Caros camaradas
Posso estar a ser inconveniente! Pela responsabilidade que me toca, tenho a consciência livre, que entre os comentários que escrevi, neste poste, não os acho descontextualizados, para mim, em função da sugestão proposta pelo Luís Graça e da mensagem que eu quis transmitir. Como todos sabemos, ficaram alguns (muitos?) “Filhos do Vento” na Guiné, porque o sexo é uma necessidade primária, que não se restringe somente à procriação. Na nossa juventude as gónodas cumprem o seu dever e libertam as suas cargas hormonais, que nos impulsionam a agir, por vezes com irresponsabilidade e em circunstâncias de momentos onde se punha em risco a própria vida, como eu testemunhei. (Eu já assisti, aqui há anos, na nossa Assembleia da República, a uma discussão, da falecida Deputada, Natália Correia, com um Deputado, que não me ocorre o nome, em que este argumentava que o acto sexual, tinha por finalidade única a procriação.)
Se alguém ficou com a ideia, que houve a mais leve intenção da minha parte para desvirtualizar ou galhofar com este tema, está redondamente enganado…
Eu estou ao lado dos “Filhos do Vento” e das suas dedicadas mães, mas não consigo ajuizar no sentido de sentenciar ou purificar os mancebos, que tiveram a desventura que isto lhes acontecesse na vida, porque só um irresponsável o desejaria (só opino sobre relações consentidas). E sejamos castos e puros…infelizmente, na época, ainda não havia conhecimento que aferisse quem era o pai, só havia conhecimento científico que o podia excluir…
A minha intenção foi somente para dar mais amplitude às nuances do sexo, para reflexão, para deixar a ideia que é um tema muito complexo! Quando se é, sobretudo jovem, os acontecimentos sexuais, mais das vezes, são desencadeados por desejos descontrolados, instinto libidinoso e hormonas a fervilhar! A juntar a tudo isto, tínhamos o meio hostil em que viviamos!!!
Eu falo despudoradamente de sexo. Com respeito, sem tabus e preconceitos. Aceito, sem admirar, não por julgar que sejam anti-naturas, orientações sexuais diferentes da minha.
Fere-me e custa-me a tolerar, os falsos puritanismos, as hipocrisias e os moralistas de conveniência.
Em Bissau, em Junho de 1969, com dois dias de Guiné, escrevia eu:
( - …. Assim se inicia mais um despertar em mim! Por um lado a intuição, por outro o raciocínio, começo a ficar sobressaltado e a entender que aqui há outra cultura, outra forma de ser e estar na vida, eles os nativos estão no seu habitat. Temos o dever de os respeitar pois nós estamos desintegrados, eu sou invasor....)
Um abraço e boa saúde a todos.
José Corceiro
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