Capa do relatório da 2ª Rep / CTIG
Nota dizendo que "o relatório que se segue abrange o período de 1JAN73 a 15Ou74"...
1ª parte do índice do relatório (pág. 1)
2ª parte do índice do relatório (pág. 1)
3ª parte do índice do relatório (pág. 2)
[Leitura: Nos 4 primeiros meses de 1974 - em relação ao mesmo período do ano anterior - houve (i) um aumento de cerca de 30% das ações de fogo do IN sobre os nossos destacamentos, e das emboscadas ofensivas; (ii) triplicaram os ataques a embarcações; (iii) houve 2,3 vezes mais minas e armadilhas e outras ações de interdição de itinerários; (iv) houve um aumento de 60% das ações de terrorismo].
1. Em cima: Algumas das páginas, digitalizadas, do relatório da 2ª rep/CTIG, que nos foram foi gentilmente enviadas pelo Luís Gonçalves Vaz, a partir de um exemplar pertencente ao arquivo pessoal de seu pai, cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz, último chefe do estado-maior do CTIG (1973/74), entretanto falecido em 2001 (*).
Recorde-se que o nosso amigo Luís Gonçalvez Vaz, hoje professor do ensino básico, no distrito de Braga, vivia em Bissau e frequentava o Liceu Honório Barreto quando se deu o 25 de abril de 1974.
O Luís também nos enviou, para publicação, uma resenha biográfica do seu pai, profusamente ilustrada, incluindo fotos das suas comissões de serviço em Angola (1963/65) e na Guiné (1973/74). No CTIG, o cor cav Henrique Gonçalves Vaz serviu como chefe do estado maior, sob as ordens do gen Spínola, do gen Bettencourt Rodrigues e, a seguir ao 25 de Abril, do comodoro Almeida Brandão (, com-chefe interino, sendo governador o brigadeiro graduado Carlos Fabião). Não pertenceu ao MFA, como nos esclareceu o filho.
(...) "Envio-vos algumas imagens do Relatório da 2ª Rep/CTIG, conforme o Luís [Graça] me pediu.
"O Relatório tem 74 páginas, é datado de 28 de Fevereiro de 1975 (data da sua publicação), não está numerado (exemplar para o CEM?), mas é um original pelo aspecto, e está assinado pelo Major de Infantaria, Tito José Barroso Capela. E como podem ver, o carimbo de 'SECRETO', está a vermelho, logo deve ser um exemplar original". (...).
O nome do chefe da 2ª Rep /CTIG já aqui tinha sido citado em poste anterior, de 11 de novembro último, referente à troca dos últimos prisioneiros do PAIGG e das NT, ocorrida em 14 de setembro de 1974, em Aldeia Formosa (hoje, Quebo):
(...) "Estiveram presentes nesse ato, pelas nossas tropas, o Major de Infantaria, Tito José Barroso Capela (Chefe da 2ª Rep. do QG), o Major de Artilharia Aragão, o Capitão-tenente Patrício, o capitão de Infantaria Manarte e o Furriel miliciano Elias (da 2ª Rep./QG/CTIG)". (...)
De acordo com as normas editoriais do nosso blogue, a publicação destes documentos (oficiais ou oficiosos, quer das NT, quer do PAIGC, ou de outra origem), não implica qualquer tomada de posição dos editores a favor ou contra o seu conteúdo, importância documental, relevância historiográfica ou outros critérios. O propósito da sua publicação é, pois, meramente informativo. Compete aos nossos leitores fazer a sua avalição crítica.
Imagens: © Luís Gonçalves Vaz (2011). Todos os direitos reservados.
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Nota do editor:
(*) Vd. poste anterior da série > 18 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9368: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte I)
8 comentários:
...
quanto aos excertos supra digitalizados, de um "Relatório Secreto" - assinado em 28Fev75 (?!) -, crê-se de interesse que os estudiosos destes assuntos e outros habituais comentaristas deste blogue, aqui publiquem as suas reflexões, relativamente ao seguinte "enquadramento ideológico", resultante daquela "fruta de época":
- «[...] agudização do problema colonial [sic] português especialmente no plano internacional. Os movimentos emancipalistas [sic], [...].»
Cpts,
Abreu dos Santos
Uma mini-avaliação crítica.
Pois, o relatório é de Fevereiro de 1975, com CPCON, Suvs,PREC, eu sei lá, a loucura e confusão revolucionária em curso.
Estão à espera de seriedade e rigor num texto elaborado à luz da fruta podre dessa época?
O meu entendimento quanto à fase final da guerra, mão mudou. Hoje penso exactamente o mesmo que pensava em Aril de 1974 e que escrevi em 2 de Agosto de 1972, em Teixeira Pinto:
"Em termos militares (os guerrilheiros do PAIGC) não têm força para ganhar a guerra, isto é um conflito prolongado, com uma solução militar tão a longo prazo que o mais valente -- IN ou NT -- desanima. Em "Diário da Guiné",Lisboa, Guerra e Paz Editores, 2007, pag. 36.
Prometi não fazer mais comentários.
Esta é apenas uma mini-avaliação crítica, entendam-me.
Neste relatório, recordo que "Assim se fazem as cousas", como escreveu Gil Vicente, não o do futebol e do galo de Barcelos, mas o do teatro.
Abraço,
António Graça de Abreu
Caro Camarada e Amigo Graça de Abreu. Como já não comentas,também eu não irei comentar.Simplesmente farei uma das tais..."mini-avaliacöes críticas". Confusão revolucionária? Abres uma verdadeira janela-dialéctica quanto à palavra revolucäo.Revolucöes "ordenadas"?Nem quando os Nacionais-Socialistas tomaram o poder no Berlim dos anos 30.Quanto à "fruticultura" muitos de nós concordarão em absoluto.Na época referida havia alguma fruta bem podre.Mesmo em demasia.Mas seria assim tão fresca a fruta da época anterior?(Nem mesmo bavaroises de ananás).Se não te conhecesse pessoalmente,e não tivesse lido o teu interessante livro,(e poemas),teria ficado surpreendido com a feliz substituicäo do termo "comentário" pelas tais "mini-avaliacöes críticas".Se me desculpares o pessoalismo...essa nem de Lapão! Um abraço.
Meus Caros Camarigos;
Camarigo Luís Vaz;
No teu (o tu cá tu lá faz parte das NEP do Blogue) anterior post, no último comentário que lá deixei, disse na resposta ao Camarigo C. Martins, que invariavelmente trajava à civil, mas isto era lá no Sul e lá no tal aquartelamento, digo buraco, onde ninguém ia, nem o correio como disse lá nos iam levar e muito menos os géneros alimentares, os morfes, o que valeu foi que havia trinca de arroz em reserva e muita raçãozita de combate. Não posso deixar de corrigir o seguinte: no meu anterior comentário ou teu outro post, referi que na mata tínhamos detido 2 elementos do IN, mas recordando melhor a situação, rectifico o que disse, na verdade mantivemos contacto visual com dois, mas de facto só detivemos um deles que depois entreguei em Cacine.
Bom, mas quando de lá regressámos, viemos para a zona de Bissau, para o Cumuré, aconteceu que eu recebi uma carta da então já, e ainda agora minha mulher, comunicando-me que um Camarada Alf. se encontrava em Évora em gozo das merecidas e que regressaria no dia não sei quantos de Junho, e que ele me levaria uma caixa com uns paios e chouriços caseiros, queijos, mais um bacalhau seco para poder elaborar as tão saborosas punhetas, enfim, uns mimos. De modo que, ficaram o dia e a hora aprazados, no sentido de eu me apresentar pela hora de jantar, na messe de oficiais, em Bissau, a fim de recolher o avio. Nunca tinha estado na cidade de Bissau, nem sequer sabia onde se localizava a messe de oficiais, como é que haveria então de conhecer os costumes que por lá se praticavam ?
No Cumuré, pedi um jeep e arregimentei um camarada condutor que conhecia o caminho e conhecia Bissau, para lá me levar, eu jantaria e jantei na messe, enquanto ele se desenrascou por outro lado. Confesso que nesse dia utilizei bens públicos em benefício próprio, mas qualquer ilicitude disciplinar ou criminal já se encontrará prescritas.
Apesar de tudo e de já ter ocorrido o 25 de Abril, acautelámo-nos devidamente e metemos no Jeep, as nossas G-3, uns carregadores, uma Walter 9mm e mais umas granadas, para alguma eventualidade, que digo, não seria de esperar acontecer. Mas à cautela, o melhor foi mesmo não confiar.
Saí do Jeep mesmo em frente ao bar anexo à messe, fui procurar o camarada com que servou de correio à encomenda e por lá jantei e estive até o que o condutor resolveu ir-me buscar, ainda demos umas voltas por Bissau com paragem nos pontos obrigatórios e cerca da uma hora da manhã, do dia seguinte, quando nos aprestávamos para sair à porta do arame que rodeava a cidade, um camarada furriel, que se encontrava de sargento da guarda ao COMBIS, não nos permitiu sair porque tinha ordens para me deter.
Levou-me ao gabinete do Oficial de dia em serviço ao COMBIS, que se encontrava acompanhado do Camarada Alf que estava de prevenção. Ambos estavam tomando uns uísques, para ajudar a passar a noite. O oficial de dia era o Cap. de Cav. Bicho, alentejano de Ponte-de-Sôr ou de Niza, já não me recordo, que eu conhecia de Estremoz, quando ele estivera no RC3 e da tasquinha do Ti Zé de Alter onde nos encontrámos muitas vezes a petiscos, daí que, quando entrei no gabinete ele me ter, de imediato, reconhecido, pelo que requisitou logo mais um copo para eu também beber daquela garrafa. Ainda veio pelo menos mais outra garrafa e aí pelas 3 horas da manhã, perguntou-me então o que é que estava ali a fazer ?, respondi-lhe que estava com base no Cumuré e quando ia para sair de Bissau, tal não me tinha sido permitido pela guarda.
(continua)
Foi aí que ele me questionou: eh pá, então foste tu que estivestes na messe a jantar fardado com o camuflado ?, fui, respondi-lhe e expliquei-lhe ao que tinha ido e se queria já ali provar alguma coisa.
Respondeu-me que àquela hora não, além do mais eu é que estava metido numa grande alhada, porque o nosso Coronel CEM do CTIG Henrique Vaz (creio que ele até me terá dito: o nosso Cor. Afonso Henriques – seria que alguns oficiais, pelo menos de Cav. usariam tratar o Sr. teu Pai pelo nome do nosso Conquistador ?) viu-te na messe com essa fatiota e como tal não é permitido, não gostou nada, porque ao jantar todos têm que ir ou à civil ou pelo menos com a farda n.º 2, além do mais, estão lá também as Senhoras a jantar e não é permitido o uso de camuflado isso é só para a guerra. Vais apanhar uma porrada, tás tramado.
Não esmoreci logo e pedi-lhe para ver o que poderia fazer por mim, telefonou para vários locais procurando pelo Sr. teu Pai, mas já deveria estar a descansar não sendo possível contactá-lo, então lembrou-se de telefonar para o Comandante do COMBIS, ou seja, o Sr. Cor. comandante dele, cujo nome não me recordo. Este já se encontraria deitado, mas ainda assim atendeu-lhe o telefone e após ter ouvido a explicação do caso e que se tratava de um gajo conhecido dele Cap., disse-lhe para tomar nota do meu número mecanográfico, a que Comp.ª eu pertencia, onde me encontrava, matrícula do Jeep, e que me mandasse regressar ao Cumuré. No entanto, sempre sob a condição de que, se no dia seguinte ou num outro dia que o nosso Cor. Henrique Vaz se lembre de perguntar por ele, sabemo-lo informar e vamos lá buscá-lo.
Assim ficou o assunto.
Felizmente para mim, o Sr. teu Pai não mais se lembrou de mim nem daquela situação, seguramente porque tinha muito mais que fazer pois outras situações de maior gravidade surgiam-lhe diariamente. Depois quando vim mesmo para Bissau, ainda com ele contactei pessoalmente por umas duas ou três vezes, enquanto estive na guarda ao palácio do Gov. Mas sempre que o via o Sr. Cor. na messe, eu metia o rabinho entre pernas e circulava para longe dele, de imediato. Isto porque nada estava definido e ninguém sabia quando regressaria e eu não queria lá ficar para dar ao interruptor e apagar a luz e muito menos poder vir a ser recambiado para Angola, conforme ainda por lá correram rumores nessa tão atribulada fase.
Foi apenas esta situação, mas com a qual então fiquei bastante apreensivo e muito à rasca.
Abraços do Camarigo
Joaquim Sabido
Évora
Caros Editores,
O eventual interesse do relatório em epígrafe, carece de uma publicação integral, para avaliação sistémica e conjuntural, na medida das possibilidades de cada um.
A não ser assim, apenas ficamos a saber da existência de um relatório,mas aos costumes nada se acrescenta.
A manter-se nas trevas, será uma oportunidade perdida.
Abraços fraternos
JD
Olá Joaquim Sabido:
Gostei muito da "Estória" que partilhou aqui connosco e que envolve o Sr meu pai!Achei-a muito interessante, e típica dele, chamava a atenção... não era importante...era para esquecer e centrava-se então nos problemas mais graves! No entanto a minha memória, bem como as fotografias da época, lembram-no quase sempre de camuflado... o que era natural, pois se deslocava periodicamente à linha de frente e quando rebentou a bomba no QG em 22 de Fevereiro de 74 e ficou apenas com algumas escoriações, estava de camuflado!..... a não ser quando se sentava à mesa para jantar com a família (quando podia é claro!),à mesa não devia haver "clima de guerra", sempre me disse que é um lugar Sagrado!!! que azar meu caro Joaquim Sabido!!!!!
Forte Abraço:
Luís Gonçalves Vaz
AHHH....AHHHH
Imaginem que houve um alfa foxtrot mil. que após uma banhoca no tanque perdão piscina do QG, entrou na messe em cuecas, perdão pseudo calções de banho, e sentou-se para almoçar.Numa mesa ao fundo da sala encontrava-se SEXA COM-CHEFE,que olhou espantado para tanto desplante, chamou um soldado servente no refeitório, vestido com casaca branca, e disse-lhe qualquer coisa, após o qual este se dirige ao "quase encarrapato", indagando quem era.Transmitida a resposta..tudo continou na mesma..bem na mesma não, porque entretanto entraram umas Senhoras que olharam para o "provocador" com ar de reprovação e de consternação.
Levantou-se SEXA,o "encarrapato" ainda não tinha comido nada,e dirige-se a este, que se levantou e pôs-se em sentido,estando em "cuecas", e contrariamente às altas patentes que o acompanhavam com ar carrancudo, SEXA com um sorriso maroto disse; "para a próxima vista-se decentemente".
Ainda ouviu.."coitado deve estar apanhado".
O "encarrapato" almoçou muito bem..pudera, para o que estava habituado a comer.
C.Martins
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