Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Subsetor de Mansambo > Camdamã > 1969 > Fotos Falantes III > Aspectos da tabanca em autodefesa de Candamã. O 2º Gr Comb, comandado pelo alf mil Torcato Mendonça, vindo de Mansambo, foi destacado em Julho/Agosto de 1969, para o reforço do subsector de Galomaro, incluindo as tabancas em autodefesa de Cansamba e Candamã. O Gr Comb do Torcato Mendonça voltaria a Candamã, já no final da Comissão, em Outubro de 1969, no mês em que se realizaram as eleições para a Assembleia Nacional...
Fotos: © Torcato Mendonça (2012). Todos os direitos reservados [Edição: LG]
1. Comentário de Torcato Mendonça ao poste P11888 (*)
Ainda não estou ON...estou a sair do OFF. Foi quase um mês fora do "circuito". Ontem já falei com o Carlos Vinhal e tento arrumar, além dos obrigatórios, os "postes" do Blogue, comentários e e-mails. Os do Blogue são uma resma e os restantes estão seleccionados...por alto. Vai com calma e não esqueci a tal Lança Afiada.
Quanto *a foto do Daniel Rodrigues, já falei nela com o Luìs Dias, se me não engano, ou com outro "Dulombi". Além disso tenho o Blogue do Daniel na minha "Pasta Fotografia". Acho a ideia gira, como giro seria fotografar os meninos de Candamâ e outros das Fotos Falantes e outras que nem sei aonde estão (disco externo? Talvez.), São do Blogue, claro, e tiradas por mim.
Escrevi porque estas fotos do Dolombi me impressionaram e trouxeram-me, com emoção, outras aqui saídas e a questão é: quantos meninos a que demos aulas, alguma comida, ensinamentos etc., estarão vivos ? Agora vou fechar isto e tentarei ver da varanda as estrelas...Abraço, Camarada T. .....Ainda doi, não é?...Vidas!!!
2. Nós da memória > Os putos de Candamã (**)
por Torcato Mendonça
Parecem bandos de pardais os Putos… os Putos…Não, estes não eram esses putos. Estes viviam nas Tabancas de Candamã e Afiá, como em muitas outras por essa Guiné fora. Alegres, brincalhões, bem dispostos, sorrisos francos e abertos os destes putos. Felizes? Penso que sim, dentro das limitações impostas.
Tinham pouco, tão pouco e, mesmo assim, nada pediam talvez pela sua timidez e educação. Os olhos, esses, tudo diziam, olhares iguais a de outros miúdos, aos dos putos do fado ou dos putos de nossas vilas e aldeias que nesse tempo, a maioria, pouco mais tinham que esses putos de Candamã ou das Tabancas.
Aos poucos fomos conquistando a sua confiança. Dava-se algo, tratava-se de uma ferida infectada, pedia-se para executarem uma simples tarefa. A sua curiosidade, a alegria espontânea, levava-os a de pronto ajudar. Para eles éramos pessoas diferentes, não só na cor, mas no vestir, nos hábitos, na comida. As armas eram o poder da força que parecíamos ter.
Andavam à nossa volta timidamente e sem incomodar, aproximando-se mais na hora das refeições mas sem nada pedir. Fomos nós a oferecer do pouco que tínhamos. Talvez pareça estranho mas não abundava a nossa comida e, de quando em vez, havia “rotura de stock”.
Acabamos, não recordo de quem foi a ideia, por fazer uma Escola para os putos. Não privilegiámos o ensino do 1, 2, 3…ou do a, e, i, o, u. Procurámos, dentro das nossas possibilidades, transmitir conhecimentos diversos como regras de higiene, tratar dos pequenos problemas de saúde e outros, onde também se inseriam o ensino das letras e números e, talvez mais importante, fazendo deles os elos de ligação entre nós e a comunidade onde nos inseríamos. Seria fundamental esta interligação entre as duas culturas. Já tínhamos algum tempo de Guiné e sabíamos quanto isso era importante. A Escola foi o local onde eles iam aprendendo e apreendendo muito bem tudo o que lhes ensinado e, ao mesmo tempo, o local de integração mutuo.
Eram outros saberes e procurávamos nunca violentar os deles antes apreende-los e assim melhor entender como ali se devia viver. Desse modo creio, mesmo hoje, que todos beneficiaram. Pouco podíamos fazer pela melhoria da saúde ou higiene deles. Os nossos recursos e conhecimentos eram muito limitados. Pedíamos à sede da Companhia e geralmente apareciam. A sarna era debelada com Thiosan, a pele era melhorada com sabonetes Lifeboy (seriam estes os nomes?) e as pomadas e líquidos LM . [, Laboratório Militar,] para tudo davam.
Depois das “aulas”, pouco tempo sentados para não aborrecer, tínhamos a ginástica, o jogo com a bola de trapos e outros jogos simples. Tudo a passar-se no largo das moranças do Régulo e com a bandeira de Portugal no mastro. Era diariamente hasteada e arreada pelos homens das Tabancas. Muitas vezes assistíamos. Afazeres diversos, que se prendiam com a nossa vida militar, não permitiam a assiduidade que devíamos ter. Era uma vida em que as horas, e muito mais, eram limitativas dessa e de outras disponibilidades. Eram sempre os homens da tabanca a tratar daquela sua bandeira. O Régulo, quando estava, assistia sempre. Um homem extraordinário o António Bonco Baldé.
Voltando aos putos, depois das aulas e dos jogos vinha o banho, os saltos para a água, a lavagem com o sabão e sabonete. Ressalvo um ponto: nas Tabancas era praticada a higiene. As famílias tinham instalações próprias. Não falamos dela pois sairíamos do tema: - os putos.
Os risos deles, a alegria eram contagiantes para nós, talvez, porque não, sentíssemos, nesses curtos momentos, estar num mundo diferente. Depois cada um ia à sua vida. À hora do almoço, muitos deles apareciam e da parte da tarde iam para a bolanha tentar apanhar uns pequenos peixes que nós comíamos depois de fritos e polvilhados com piri-piri. Esta troca, - este “partir” – estes peixes minúsculos por comida e outros géneros, eram o gesto da troca, da não dádiva, da dignidade da permuta. Dou e recebo.
Eram felizes os putos? Eram!
Além disso faziam de nós mais humanos, mais despreocupados e a guerra naqueles momentos devia parar. Os putos parecíamos nós. Por pouco tempo, é certo. Não eram permitidos descuidos ou desatenções, imperdoáveis quaisquer desatenções.
Desdramatizemos e pensemos antes que todos, nós e os putos eram, naqueles momentos, bandos de pardais à solta… como os do fado… A guerra, essa besta, estava logo ali. Mesmo hoje, ao escrever isto, sinto-a ao alcance da mão.
Esqueçamo-la e desaparece.
O que será feito dos putos? Cinquentões hoje ou a caminho disso.
Sinto saudades daquela gente. Das gentes das Tabancas, dos que comigo andavam no mato, dos que connosco combatiam ou, como dizia alguém, talvez tenha também saudades da juventude que passou…
De tudo e tanto há para recordar.
Dou-vos as fotos. Elas dizem mais do que as palavras de um velho e ex-soldado. Recordem. Vidas… lá ou cá… Adeus!
Torcato Mendonça
Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Subsetor de Mansambo > Mansambo (sede da CART 2339, 1968/69) e Candamã, tabanca fula em autodefesa do regulado do Corubal > Carta do Xime (1961) > Escala 1/50 mil. Pormenor > A distância em linha reta entre Mansambo e Candamã era de 10 km... pela picada seria 15 km.
(*) vd. poste de 30 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11888: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (13): Fotojornalista famoso, Daniel Rodrigues, prémio 'World Press Photo 2013', quer fotografar alguns de nós, antigos combatentes, nos sítios originais onde tirámos as nossas melhores fotos no tempo da guerra
(**) Vd. poste de 6 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9451: Nós da memória (Torcato Mendonça) (9): Os Putos de Candamã - Fotos falantes IV
Parecem bandos de pardais os Putos… os Putos…Não, estes não eram esses putos. Estes viviam nas Tabancas de Candamã e Afiá, como em muitas outras por essa Guiné fora. Alegres, brincalhões, bem dispostos, sorrisos francos e abertos os destes putos. Felizes? Penso que sim, dentro das limitações impostas.
Tinham pouco, tão pouco e, mesmo assim, nada pediam talvez pela sua timidez e educação. Os olhos, esses, tudo diziam, olhares iguais a de outros miúdos, aos dos putos do fado ou dos putos de nossas vilas e aldeias que nesse tempo, a maioria, pouco mais tinham que esses putos de Candamã ou das Tabancas.
Aos poucos fomos conquistando a sua confiança. Dava-se algo, tratava-se de uma ferida infectada, pedia-se para executarem uma simples tarefa. A sua curiosidade, a alegria espontânea, levava-os a de pronto ajudar. Para eles éramos pessoas diferentes, não só na cor, mas no vestir, nos hábitos, na comida. As armas eram o poder da força que parecíamos ter.
Andavam à nossa volta timidamente e sem incomodar, aproximando-se mais na hora das refeições mas sem nada pedir. Fomos nós a oferecer do pouco que tínhamos. Talvez pareça estranho mas não abundava a nossa comida e, de quando em vez, havia “rotura de stock”.
Acabamos, não recordo de quem foi a ideia, por fazer uma Escola para os putos. Não privilegiámos o ensino do 1, 2, 3…ou do a, e, i, o, u. Procurámos, dentro das nossas possibilidades, transmitir conhecimentos diversos como regras de higiene, tratar dos pequenos problemas de saúde e outros, onde também se inseriam o ensino das letras e números e, talvez mais importante, fazendo deles os elos de ligação entre nós e a comunidade onde nos inseríamos. Seria fundamental esta interligação entre as duas culturas. Já tínhamos algum tempo de Guiné e sabíamos quanto isso era importante. A Escola foi o local onde eles iam aprendendo e apreendendo muito bem tudo o que lhes ensinado e, ao mesmo tempo, o local de integração mutuo.
Eram outros saberes e procurávamos nunca violentar os deles antes apreende-los e assim melhor entender como ali se devia viver. Desse modo creio, mesmo hoje, que todos beneficiaram. Pouco podíamos fazer pela melhoria da saúde ou higiene deles. Os nossos recursos e conhecimentos eram muito limitados. Pedíamos à sede da Companhia e geralmente apareciam. A sarna era debelada com Thiosan, a pele era melhorada com sabonetes Lifeboy (seriam estes os nomes?) e as pomadas e líquidos LM . [, Laboratório Militar,] para tudo davam.
Depois das “aulas”, pouco tempo sentados para não aborrecer, tínhamos a ginástica, o jogo com a bola de trapos e outros jogos simples. Tudo a passar-se no largo das moranças do Régulo e com a bandeira de Portugal no mastro. Era diariamente hasteada e arreada pelos homens das Tabancas. Muitas vezes assistíamos. Afazeres diversos, que se prendiam com a nossa vida militar, não permitiam a assiduidade que devíamos ter. Era uma vida em que as horas, e muito mais, eram limitativas dessa e de outras disponibilidades. Eram sempre os homens da tabanca a tratar daquela sua bandeira. O Régulo, quando estava, assistia sempre. Um homem extraordinário o António Bonco Baldé.
Voltando aos putos, depois das aulas e dos jogos vinha o banho, os saltos para a água, a lavagem com o sabão e sabonete. Ressalvo um ponto: nas Tabancas era praticada a higiene. As famílias tinham instalações próprias. Não falamos dela pois sairíamos do tema: - os putos.
Os risos deles, a alegria eram contagiantes para nós, talvez, porque não, sentíssemos, nesses curtos momentos, estar num mundo diferente. Depois cada um ia à sua vida. À hora do almoço, muitos deles apareciam e da parte da tarde iam para a bolanha tentar apanhar uns pequenos peixes que nós comíamos depois de fritos e polvilhados com piri-piri. Esta troca, - este “partir” – estes peixes minúsculos por comida e outros géneros, eram o gesto da troca, da não dádiva, da dignidade da permuta. Dou e recebo.
Eram felizes os putos? Eram!
Além disso faziam de nós mais humanos, mais despreocupados e a guerra naqueles momentos devia parar. Os putos parecíamos nós. Por pouco tempo, é certo. Não eram permitidos descuidos ou desatenções, imperdoáveis quaisquer desatenções.
Desdramatizemos e pensemos antes que todos, nós e os putos eram, naqueles momentos, bandos de pardais à solta… como os do fado… A guerra, essa besta, estava logo ali. Mesmo hoje, ao escrever isto, sinto-a ao alcance da mão.
Esqueçamo-la e desaparece.
O que será feito dos putos? Cinquentões hoje ou a caminho disso.
Sinto saudades daquela gente. Das gentes das Tabancas, dos que comigo andavam no mato, dos que connosco combatiam ou, como dizia alguém, talvez tenha também saudades da juventude que passou…
De tudo e tanto há para recordar.
Dou-vos as fotos. Elas dizem mais do que as palavras de um velho e ex-soldado. Recordem. Vidas… lá ou cá… Adeus!
Torcato Mendonça
Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Subsetor de Mansambo > Mansambo (sede da CART 2339, 1968/69) e Candamã, tabanca fula em autodefesa do regulado do Corubal > Carta do Xime (1961) > Escala 1/50 mil. Pormenor > A distância em linha reta entre Mansambo e Candamã era de 10 km... pela picada seria 15 km.
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)
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Notas do editor:
(**) Vd. poste de 6 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9451: Nós da memória (Torcato Mendonça) (9): Os Putos de Candamã - Fotos falantes IV
17 comentários:
Camarada Tê... Já estava a estranhar este teu longo silêncio... Logo imaginei que estivesse no "estaleiro"... Ah!, esse coraçoãzozinho que de tempos a tempos precisa de miminhos... Ainda bem que agora estás mais "on" do que "off"... De qualquer modo, a vida é uma roleta russa...
E reapareceste com o teu jeito, único, pessoal, instransmissível... O nosso blogue sem ti não é a mesma coisa... Repara, que fiz logo uma nova série, a partir do teu comentário e da tua sugestão... Lembrei-te das tuas famosas fotos falantes, fui lá desencantar os teus "putos de Canmdamã"...
Perguntas bem: o que será feito deles ? Sei que não queres nem podes voltar à tua/nossa Guiné, aos sítios que palmilhámos juntos, incluindo Candamã e Afiá... Mas fica aqui a sugestão para o nosso fotógrafo Daniel Rodrigues...
De resto, Candamã não é longe de Dulonmbi e Galomaro... Mas será que a tabanca, fula, ainda existe ?
Reproduzi o teu texto, que é das coisas mais lindas que temos publicado... Por detrás do fero guerreiro há(havia) sempre um poeta, um Luís de Camões, em cada tuga...
As tuas mnelhores. Vou estar mais pela Lourinhã, e as suas praias, do que pelo blogue, a partir de hoje... Volto a Lisboa, em trabalho, 6ª feira de manhã, ainda tenho uma prova académica, de mestrado, para acabar o ano letivo...
Camarada Tê...
Já que invocaste os "Putos", conhecida intreprtação do Carlos do Carmo (que tive o privilégio de ouvir, ao vivo, há dias, no claustro do Mosteiro dos Jerónimos, por ocasião da comeomoração dos 50 anos de carreira do fadista)...
Os putos... Letra do poeta Ary dos Santos, música de Paulo Carvalho e interpretação de Carlos do Carmo (1978)
Os Putos
Uma bola de pano, num charco
Um sorriso traquina, um chuto
Na ladeira a correr, um arco
O céu no olhar, dum puto.
Uma fisga que atira ,a esperança
Um pardal de calções, astuto
E a força de ser, criança
Contra a força dum chui, que é bruto.
Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo do pai
É a ternura que volta
E ouvem-no a falar do homem novo
São os putos deste povo
A aprenderem a ser homens.
As caricas brilhando ,na mão
A vontade que salta ,ao eixo
Um puto que diz ,que não
Se a porrada vier, não deixo
Um berlinde abafado ,na escola
Um pião na algibeira ,sem cor
Um puto que pede ,esmola
Porque a fome lhe abafa ,a dor.
Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo do pai
É a ternura que volta
E ouvem-no a falar do homem novo
São os putos deste povo
A aprenderem a ser homens
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo do pai
É a ternura que volta
E ouvem-no a falar do homem novo
São os putos deste povo
A aprenderem a ser homens
http://letras.mus.br/carlos-do-carmo/483802/
... As minhas recordações, da passagem pelas tabancas fulas em autodefesa, serão mais próximas do poeta e músico angolano Rui Mingas... Lembro-me bem dos putos, à volta da fogueira, na escola corânica... LG
Os Meninos de Huambo
Rui Mingas
Com fios feitos de lágrimas passadas
Os meninos de huambo fazem alegria
Do ceu puxando as cadentes mais bonitas
Com lábios de dizer nova poesia
Soletram as estrelas como letras
E vão juntando no céu como pedrinhas
Estrelas letras para fazer novas palavras
E vão juntando no céu como pedrinhas
Estrelas letras para fazer novas palavras
Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade
Com os nomes mais lindos do planalto
Fazem continhas engraçadas de somar
Juntam fapula com flores e com suor
E subtraem manhã cedo por luar
Divide a chuva miudinha por o milho
Multiplicam o vento pelo poder popular
Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade
Palavras sempre novas, sempre novas
Palavras deste tempo sempre novo
Porque os meninos inventaram coisas novas
Que até já dizem que as estrelas são do povo
Porque meninos inventaram coisas novas
Que até já dizem que as estrelas são do povo
Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade
Assim contentes à voltinha da fogueira
Soltam ao ceu as estrelas ja escritas
Novas palavras para fazer redaçoes
Escapando ao se esvadeio ao machado
Para os meninos tambem sao constelações
Constelações que brilham sempre sem parar
Palavras deste tempo sempre novo
Multiplicam o vento pelo poder popular
Porque meninos inventaram coisas novas
Que até já dizem que as estrelas são do povo
Porque meninos inventaram coisas novas
Que até já dizem que as estrelas são do povo
Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade
http://letras.mus.br/rui-mingas/1969654/
Conheci Candamã, em condições dramáticas, em 30 de julho de 1969... Ainda era periquitíssimo, mal tinha chegado a Bambadinca...
A 30 e julho de 1969, o 3º e 4º Gr Comb da CCAÇ 12 seguiram para Candamã a fim de levar a efeito um patrulhamento ofensivo na região de Camará, juntamente com forças da tua CART 2339, a subunidade de quadrícula de Mansambo (Op Guita).
Ao chegar-se a Afiá, pelas 7.30, soube-se que Candamã tinha sido atacada durante mais de duas horas até ao amanhecer. Em Candamã, os dois Gr Comb da CCAÇ 12 procederam imediatamente ao reconhecimento das posições de fogo do IN, tendo estimado os seus efectivos em 60/100 elementos [2 bigrupos], armados de 2 Canhões s/r, Mort 82, 3 Mort 60, LGFog, Metralhadora pesada 12.7, Granadas de Mão e Armas ligeiras automáticas, numa imnpressionante manifestação de força. valeu a coragem e a valentia do Pelotão da CART 2339 que guarnecia na altura Candamã...
Havia abrigos individuais junto ao arame farpado que fora cortado em vários pontos, tendo o grupo de assalto utilizado granadas de mão.
Em consequência da reacção das NT e da população organizada em autodefesa, o IN terá sofrido várias baixas, a avaliar por duas poças de sangue e sinais de arrastamento de dois corpos, além de dólmen ensanguentado que foi encontrado já num dos trilhos de retirada. Foram recolhidas várias granadas de Canhão s/r e de RPG-2.
Do lado das NT houve 5 feridos (1 dos quais grave) e da população dois mortos e vários feridos graves, além de consideráveis danos materiais (moranças queimadas, etc.).
O facto do IN ter retirado ao amanhecer indicava que deveria ter um ou mais acampamentos a escassas horas de Candamã. A corroborar esta hipótese, o aquartelamento de Mansambo seria flagelado na tarde desse mesmo dia.
Era comandante desta força inimiga o famigerado Mamadu Indjai, mais tarde implicado no complô contra Amílcar Cabarl e fuzilado, em 1973...
.... Aliás, pergunto-me como é que os teus putos viveram este ataque com esta violência... Impressionou-me, na altura periquito, a visão matinal dos restos dessa batalha...
Sei que nessa noite não estavss em Candamã... Por outro lado, interroguei-me na altura sobre o sentido da violência do PAIGC contra as tabancas fulas... Amílcar Cabral tinha conhecimento e aprovava a ação do seu futuro carrasco, o mandinga Mamadu Indjai, que pôs o sul da zona leste a ferro e fogo, depois da retirada de Madina do Boé...
...A violência contra Candamã e outras tabancas (povoações civis em autodefesa)era a resposta, 4 meses depois,à violência usada por nós, no decurso da Op Lança Afiada, contra o Fiofioli, Mina, Poindon e outras tabancas, da margem direita do Rio Corubal, controladas pelo PAIGC...
Não há um violentómetro para medir o nível da violência da guerra... Ou até há! Havia, por exemplo, quem advogasse, "a posteriori", o uso da estratégia do terror: política de terra queimada, napalm, destruição das bolanhas cultivadas... O homem que comandou as tropas portuguesas, no meu tempo, felizmente que não quis ir por aí...
Camarada Tê, o teu depoimento sobre a Op Lança Afiada é precioso: é dos poucos, de nós, que pode dizer: "Lança Afiada ? Eu estive lá!"... Portanto, eu não desisto do meu pedido, que já é uma súplica...
Um Alfa Bravo. Luis Graça
Torcato
Agora, que estás a ouvir porque o texto do poste é TEU (ou não estás?), quero dizer-te, em primeiro lugar, que me enterneço ao ler-te o enternecimento quando escreves sobre crianças.
Em segundo lugar, porque o teu mail constante da minha lista me devolve o correio, quero pedir-te me envies o teu endereço para te poder enviar um ex. do meu livro "Cambança final".
Abraço
Alberto Branquinho
...o famigerado Mamadu Indjai, mais tarde implicado no complô contra Amílcar Cabarl e fuzilado, em 1973...
As coisas que este blog sabe e aviva.
Cuidado não apadrinhemos heróis impensáveis...
Tal como o Brasil, os guineenses sofrem por não terem nenhum Bolívar genuino.
Tanto que em Bissau ainda hoje se procura algum guineenses na história que resolva.
Olá Alberto Branquinho
Tentei enviar mail's pelo gmail e outlook e falham. Não sei e tentarei mais tarde.Fiz o envio pelo enenderço da listagem do blogue - aaa.....
Depois escrevo ao LG e terei que dizer algo ao Rosinha. tenho algo a ver com esse Mamadu...
Endereço Postal:
Torcato Mendonça
Apartado 43
6230 909 Fundão
Grato pela tua atenção. Um Abração do T.
Rosinha, um mês depois do ataque a Candamã, o Mamadu Indjai foi gravemente ferido pelas NT, de regresso a uma das suas 'barracas' (acampamentos temporários) no subsetor de Mansamno, mais concretamente foi apanhado numa emboscada montada pelos Viriatos da CART 2339, do Torcato Mendonça...
O fulano teve sorte, escapou, embora ferido com gravidade... Não tenjho a certeza, mas terá sido inclusive evacuado para URSS...Se tivesse morrido, em agosto de 1969, ao atravessar a estrada Bambadinca-Mansambo, isso teria alterado o curso da história ? Pelo menos, não ficaria na história como "carrasco de Cabral"...
Olá Luís Graça
Estive quase um mês no meu “país”, no meu Sul, brincando na areia e mergulhando no mar. Felizmente a “bomba” e as cicatrizes portaram-se bem…são bem acarinhadas.
Serei breve.
- Irei fazer o resumo, do muito que escrevi, sobre a Lança…
- Muito boa a colocação dos Putos do Ary e dos meninos do Rui Mingas,
- Participei em demasiadas operações (a Lança nada de especial), viemos de Galomaro procurar o M.Indjai. Encontrado as NT fizeram, (tu participaste) no fim da pouca-vergonha desse fulano e o 3 G. C. (M.santos) da 2339 feriram-no gravemente…
- Os militares em Galomaro (1º GC) tiveram comportamento exemplar (1 Cruz de Guerra e etc)
-A guerra é a guerra.Queria ser recordado pelos meus descendentes, filhos e netos, como um homem de paz e nunca como combatente. Assim género militar de parada…Ah,ah…
BOAS FÉRIAS,BOAS FÉRIAS e Paz para ti tua Alice Família e Amigos,
Abraços, T.
O Rosinha sabe de África mas não de guerra e, menos ainda da violência da da Guiné
Amigo Torcato, aqui entre nós, nenhum de nós sabe nada de nada sobre africa e africanos se não soubermos um ou mais idiomas africanos.
E eu não entendo qualquer idioma.
Logo de África não sei nada.
Conheço sim, os inúmeros "bonés" e fracassos que enfiámos, tu, eu, Spínola, Amílcar Cabral e até recentemente quem vai para lá.
Mas a experiência pior que tive da guerra, foi as paradas intermináveis em sentido nos 10 de Junho e 15 de Agosto devidamente fardado na marginal de Luanda.
Mas como eu, houve milhares e milhares, muitos milhares de antigos militares que souberam ainda menos que eu do que foi a guerra.
Eu ainda fui ver na Guiné retirar restos de vossas viaturas da beira da picada, para ficar com uma pálida ideia, do que foi a guerra que me passou ao lado durante 13 anos.
É por acções como estas ..ensinar os "putos" que ainda hoje "gramam" os tugas...
M.Indjai..
era um individuo com uma ambição desmedida..maquiavélico.. foi um dos autores materiais do assassinato de Amílcar Cabral pela simples razão de se sentir injustiçado ..não foi promovido à posição que julgava merecer..oportunamente aproveitada pelos autores morais...
C.Martins
C. Martins, desculpa, mas ..ensinar os "putos"?
Penso que não deves ser lagarto, se fosses não falarias assim.
Olha o Bruma como fintou o Sporting.
Ainda me hei-de informar sobre a ua etnia.
Caro "colon" Rosinha
INFO...não sou lagarto,mas sim "lampião e carroceiro"...a minha etnia "tuga" é Beirão, sou como o granito, bem rijo e mais ou menos moreno..na Guiné (fui) sou multi-étnico...
Um grande alfa bravo
C.Martins
Bruma, de seu nome completo, Armindo Tue Na Bangna, parece ser de etnia balanta.
Nasceu em Bissau, em 1994.
Já tem entrada na Wikipedia...
http://en.wikipedia.org/wiki/Armindo_Tu%C3%A9_Na_Bangna
Já o Eusébio escapou ao Sporting, agora de um Balanta não esperava uma coisa destas.
Mas o Tué, que talvez seja o habitual Té, que ainda está na idade de furtar vaca, fazer uma coisa destas só mesmo levado por um Catió Baldé, já me informei usando os processos do LG, fui à Internet.
Não é tanto uma atitude habitualmente franca de Balanta, mas mais de um reservado Papel.
Enfim, os lagartos nunca se entenderam muito bem com o Ultramar.
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