segunda-feira, 29 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11881: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (10): A caminho de Varela, chão felupe, passando por João Landim, Antonina, Ingoré, S, Domingos e Susana



Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ingoré > 7 de maio de 2013 > Aspeto exterior do Jardim de Infância Flor de Arroz em Ingoré (1)



Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ingoré > 7 de maio de 2013 > Aspeto exterior do Jardim de Infância Flor de Arroz em Ingoré (2)



 Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ingoré > 7 de maio de 2013 >  Aspeto imterior do Jardim de Infância Flor de Arroz em Ingoré (1)


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ingoré > 7 de maio de 2013 >  Aspeto imterior do Jardim de Infância Flor de Arroz em Ingoré (2)


 Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ingoré > 7 de maio de 2013 >  Aspeto imterior do Jardim de Infância Flor de Arroz em Ingoré. (3)

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]


1. Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (30 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte X

por José Teixeira

O José Teixeira é membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013; companheiros de viagem: a esposa Armanda; o Francisco Silva, e esposa, Elisabete.

No dia seguinte, 1 de maio, o grupo seguiu bem cedo para o sul, com pernoita no Saltinho e tendo Iemberém como destino final, aonde chegaram no dia 2, 5ª feira. Ba 1ª parte da viagem passaram por Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane Buba e Quebo.

No dia 3 de maio, 6ª feira, visitam Iemberém, a mata di Cantanhez e Farim do Cantanhez; no dia 4, sábado, estão em Cabedú, Cauntchinqué e Catesse; 5, domingo, vão de Iemberém, onde estavam hospedados, visitar o Núcleo Museológico de Guileje, e partem depois para o Xitole, convidados para um casamento ] (*)... 

É desse evento que trata a 8ª crónica: os nossos viajantes regressam a Bissau, depois de uma tarde passada no Xitole para participar na festa de casamento de uma filha de um fula que, em jovem, era empregado na messe de sargentos e que tinha reconhecido o Silva, no seu regresso ao Xitole. A crónica nº 7 foi justamente dedicada ao emocionante reencontro [, em 1 de maio, ] com o passado, por parte do ex-alf mil Franscisco Silva, que esteve no Xitole, ao tempo da CART 3942 / BART 3873 (1971/73), antes de ir comandar oPel Caç Nat 51, Jumbembem, em meados de 1973,

A crónica anterior a nº 9, corresponde ao dia 6 de maio: os nossos viajantes foram até Farim e regressaram a Bissau. já que o Francisco Silva, mesmo de férias, teve de fazer uma intervenção cirúrgica, a uma criança que esperava um milagroso ortopedista há mais de um ano! Na crónia nº 10, descreve-se a viagem até Varela, em 7 de maio.

Próximas crónicas: 8 maio – visita a Elalab; 9 maio- Visita a Djufunko e um cheirinho de praia em Varela; 10 maio – Descanso em Varela; 11 maio – Regresso a Bissau e embarque de madrugada, de regresso a casa.

2. Parte X > 7 de maio de 2013: de Bissau a Varela...

Eis-nos de novo na estrada a caminho de Varela, nesta tarde de fim da época seca. O aspeto dourado da planície lembra-nos que o fim da época de verão se aproxima. Os mangueiros vergam-se com o peso dos seus frutos. Em conjunto com cajueiros pintalgados de botões vermelhos dão vida e cor às planícies que bordejam as picadas afastando de vez o fantasma de um hipotético inimigo à espreita, que por vezes insiste em permanecer na nossa mente.

As pessoas caminham num vai e vem permanente, alheias à nossa passagem, ou então miram-nos com um olhar, por vezes interrogativo, por vezes sorridente,  como que a dizer-nos: bem-vindo. Começam a surgir no ambiente os primeiros sinais de que a chuva está a chegar. Algumas nuvens, calor seco e sufocante, e, as pequenas moscas, teimosas e incomodativa.

As secas bolanhas, algumas, já queimadas e prontas para receber a semente que irá produzir em cêntuplo o arroz, assim o esperam as gentes da Guiné. Outras a servir de pasto, onde os bovinos se alimentam, em grandes manadas, sem pastor por perto.

Lá fomos fazendo caminho, passando a ponte em João Landim e um pouco mais a norte a ponte de S. Vicente, exatamente no local onde em Maio de 1968 este vosso amigo escrivão desembarcou a caminho de Ingoré, tal como hoje, só que agora, como voluntário em gozo de todas as suas liberdades, o que não aconteceu naquele tempo. Na realidade, a farda que me obrigaram a vestir por ser um mancebo,  filho de Portugal,  condicionou a minha liberdade e atirou-me para uma guerra que eu não queria fazer.

Ao passar de novo naquele lugar, vieram-me à memória os momentos da chegada, sem ninguém à nossa espera e o barco (LDM) a partir de imediato por causa das marés. Depois, uma ou duas horas atrasada chegou a Maciel, carro de combate, uma Daimler,  que eu nunca tinha visto, na frente da coluna, ao longe na picada deixando atrás de si uma nuvem de terra que nos impediu de ver numa primeira fase, as viaturas que vinham na retaguarda. Um susto para alguns logo a começar, no primeiro dia em que pisamos a terra da Guiné.

Recordei, só para mim, o espanto sentido quando vi logo à frente os primeiros africanos, balantas, semi-nus a trabalhar na bolanha e perguntei na minha ingenuidade se aqueles é que erem os turras. O resto do caminho, nem viva alma havia para nos desejar boa sorte. Mas ao chegar a Ingoré, para nosso espanto e arregalo doa olhos, logo um grupo de bajudas de “mama firma” espreitavam sorridentes esperançosas em encontrar forma de ganhar mais uns patacões na lavagem da roupa dos periquitos.



Guiné > Região de Cacheu > Ingoré > CCAÇ 2381 (1968/70) > A famosa Daimler Massiel





Guiné > Região de Cacheu > Ingoré > CCAÇ 2381 (1968/70) > O 1º cabo aux enf Teixeira, convivendo com duas crianças da Mocidade Portuguesa em Ingoré em 1968, no início da sua comissã. Foram dias, em geral, alegres e descontraídos, os dias de Ingoré, com o pessoal da CCAÇ 2381 em treino operacional antes de ser colocado no sul (Buba, Empada, região de Quínara)..



Guiné > Região de Cacheu > Ingoré > CCAÇ 2381 (1968/70) > Antotinha > Recordando os tempos de enfermagem na tabanca em construção de Antotinha

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]


A tabanca de Antotinha, uma aposta na altura para juntar os povos perdidos no mato e que tanto sofrimento provocou nas pessoas que eram obrigadas a deixar as suas raízes, as suas moranças, campos e sonhos para à força das armas para se juntarem nesta tabanca que o exército estava a construir. Esta tabanca é hoje um mundo de gente, perdida pela estrada fora.

Ingoré cresceu. Desenvolveu a agricultura e o comércio. Talvez tenha uns milhares de habitantes. Tem escolas, dois infantários, um dos quais da responsabilidade pedagógica da AD - Acção para o Desenvolvimento, que a Tabanca Pequena tem apoiado com livros, brinquedos mesas e cadeiras. Tem uma feira semanal bem apetrechada com produtos da terra e bem concorrida de clientela, incluindo do Senegal, ali ao lado.

Foi em Ingoré que fizemos a nossa primeira paragem para visitar o infantário “Flor de Arroz” e conviver com o pessoal que o serve e alguma população que logo apareceu, incluindo um velho combatente do Exército Português, curvado pelo peso dos anos, de uma magreza impressionante, agarrado ao seu arco e flecha com os quais se serve para obter alguma caça para sobreviver. Como em todo o lado, desfiam-se as contas da saudade do tempo que foi tempo de guerra e dor. A guerra acabou, mas a dor, essa ficou, se não outra, a da saudade, mas muito maior é a sensação, lá como cá, do abandono da pátria, para este velhinho que se diz português, com o corpo cheio de maleitas.

Sem grande tempo para paragens, seguimos em direção a S. Domingos, onde chegamos ao cair da noite. Ainda a tempo de visitar o CENFOR – Centro de Formação de S. Domingos e jantar, já acompanhados pelo “Velho” Kissimá,  da etnia saracolé,  que escolheu para esposa um bela felupe e foi viver para Varela.

Depois de passarmos Susana e quando já estávamos às portas de Varela, já a noite ia alta, deparamos com uma cena no mínimo caricata. Uma barreira na estrada que não era mais que uma corda feita de farrapos velhos impedia-nos a passagem. Ao lado, a casa onde deviam estar os militares encarregados de controlar o que se chama pomposamente a barreira de controlo de fronteira. Se estavam, dormiam a sono solto, talvez agitado pelos vapores do álcool que lhe tapou os ouvidos de tal maneira que não houve meio de os acordar, para nosso prazer em viver estes cenas e desespero do motorista que se farou de chamar e bater, bater… sem resposta.

Tal como no tempo da guerra, este homem, soldado português de outros tempos, também ele esquecido, há que desenrascar. Inversão de marcha rápida, murmurando- Se não há estrada (picada) há o caminho da mata.

Demos uma grande volta, internados na mata de Varela. Parece que até a viatura sabia o caminho, por caminhos nunca dantes percorridos. Só o “faro” do condutor e do Kissimá nos permitiu chegar a Varela em tempo para descansar, depois desta pequena aventura que nos transportou a outros tempos bem mais difíceis.

Zé Teixeira

(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11845: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (9): Uma visita ao cais do Pidjiguiti e à baixa de Bissau da nossa tristeza, enquanto o Franscisco Silva operava na clínica de Bor uma menina que esperava este milagre há mais de um ano

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