segunda-feira, 25 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16332: Inquérito on line (61): A lâmina da faca de mata do fur mil MA Manuel Joaquim Mesquita Isidro dos Santos, natural de Benavente, CART 1692 / BART 1914 (Cacine, Cameconde, Sangonhá e Cacoca, 1967/69), era de bom aço temperado, foi partida ao meio por uma mina russa A/P PMD-6 (António J. Pereira da Costa, cor art ref)



Guiné > Zona Leste > Xitole > 1970  > Mina antipessoal PMD-6,  de origem russa, reforçada com uma carga de trotil de 9 kg (as barras do lado direito). detectada e levantada na estrada Bambadinca-Xitole pelo furriel de minas e armadilhas David Guimarães da CART 2716 (Xitole, 1970/72). "Bem, ia uma GMC ao ar, isso sim!...".

Foto (e legenda): © David J. Guimarães (2005). Todos os direitos reservado



Guiné > Região de Tombali > Cacine >  CART 1692/BART 1914 (Cacine, Cameconde, Sangonhá e Cacoca, 1967/69) > Coluna ao limite do sector de Cacine, na estrada Cameconde-Sangonhá, quando fomos levantar três abatizes que o IN ali colocou. Em 26 de outubro de 1968 realizámos uma coluna pela estrada Cameconde - Ganturé para retirar três abatizes que o IN tinha colocado (um mangueiro e dois bissilões) e oito minas PMD - 6. Uma rebentou na roda traseira de um Unimog 404, a penúltima viatura da coluna. O João Almeida (o "Alce") levanta uma mina PMD-6 que estava logo ali.

Foto (e legenda): © António J. Pereira da Costa (2013). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do António José Pereira da Costa ao poste P16324 (*):

[Foto à esquerda: António José Pereira da Costa, cor art ref  (ex-alf art da CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-cap art e cmdt  das CART 3494/BART 3873, XimeMansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74],

Volto à antena para recordar a faca de mato do fur MA Isidro,  da CArt 1692, falecido no HM 241.

Na estradeca para Porto Cantede surgiu um campo de PMD-6 com algumas estavam à vista em consequência da chuva (setembro de 1968). No final da operação eram 65 + 1 (detonada) em 12 metros de estrada e 2 metros para cada lado do respetivo leito.

O Furriel de Minas e Armadilhas avançou e começou o seu trabalho, porém agachado em vez de joelhado e em posição estável.

Foi, como se diria hoje, um erro humano.

A dado momento desequilibrou-se e apoiou a mão que tinha a faca no chão. A explosão da mina não se deu de modo a decepar-lhe a mão, levando-lhe 2 ou 3 dedos e cegou-o do olho do mesmo lado. Evacuação perto do local!

Mas o falecimento, em outubro  ou novembro de 1968 foi em consequência de uma "úlcera fulminante", doença descoberta na II Guerra Mundial, de origem nervosa e da qual o paciente não se apercebe. Quando se manifesta não há (ou não havia) hipóteses.

Recordo a faca do Isidro com a lâmina partida e pude constatar que era um bom pedaço de lâmina de aço bem temperado.


As facas de mato eram um utensílio de boa qualidade. Ainda gostava de saber onde eram feitas. Não sei se as OGFE [Oficinas Gerais de Fardamento do Exército] ou alguma fábrica de armamento as produzisse. Ou então algum cuteleiro da área de Guimarães (capital da cutelaria, naquele tempo...). (*)

PS - Creio que as últimas unidades recebiam uma faca de mato por homem. Não fazia parte do equipamento individual.


2. Comentário do editor:

Tó Zé, o fur mil MA Isidro, de seu nome completo Manuel Joaquim Mesquita Isidro dos Santos, é dado como tendo morrido em combate, em 17/11/1968. Pertencia à tua CART 1692, subunidade de quadrícula do BART 1914 (e não BCAÇ 2834,  como vem indicado, certamente por lapso).  Os seus restos mortais repousam no cemitério da sua terra, Benavente.

Fonte: Portal Ultramar Terraweb > Mortos do Ultramar > Concelho de Benavente 
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(**) Dois últimos postes da série

25 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16328: Inquérito 'on line' (59) A minha faca de mato ficará associada para sempre a um acontecimento doloroso: a morte do soldado da minha secção, Aladje Silá, em 20/7/1970 (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)

25 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16330: Inquérito 'on line' (60) Para quie servia a faca de mato ? Num total (provisóro) de 55 respostas, um terço diz que nunca teve nenhuma; era sobretudo: (i) um objeto multiuso (38%); (ii) ferramenta de sapador (M/A) (29%); e (iii) abre-latas (29%)... Mais respostas precisam-se até 5ª feira, dia 28... José Colaço mandou.nos uma foto da sua faca de mato que sobreviveu ao incêndio do paiol em Camamude

9 comentários:

António J. P. Costa disse...

OK Camarada
Vamos fazer uma rectificação: a CArt 1692 pertenceu, de facto ao 1914, mas só até ao desembarque no TO daquela PU, pois foi desmembrado naquele momento. A CCS e o Comando foram para Tite,as outras comp. acho que foram para Geba e um outro quartel do NE que não me ocorre. O desembarque foi feito para um daquele batelões "de braço dado" e todos alegremente desarmados, excepto o capitão e o fur. milº mec. que tinham caçadeiras. Chegados a Gadamael ficaram integrado no BArt.1896, e depois de algum tempo em treino operacional do Carreiro de Guileje ficaram em Sangonhá e Cacoca. Depois é que desceram para Cacine/Cameconde.

Um Ab.
António J. P. Costa

António J. P. Costa disse...

O fur. mil. MA Isidro, está dado como tendo morrido em combate, em 17/11/1968, uma vez que o ferimento de que padecia tinha sido provocado por uma mina In. Era eu que estava a fazer o auto respectivo e fiquei surpreendido, uma vez que até já tinha sido visitado pelo Cap. Veiga da Fonseca (Cmdt) e parecia animado. O médico da unidade é que nos explicou o que se tinha passado, em face da certidão de óbito que recebi para juntar aos autos.
Não há lapso nas publicações da CECA, se foram essas que consultaste. O Bart 1896 foi substituído pelo BCAÇ 2834 (Buba). O BART 1914 só começou a ser reconstituído, em Bissau, em JAN69 e regressou em 11 de Março.
Naquele tempo não havia a preocupação de injectar em acção os batalhões, mas sim as companhias. Foi depois do Brig. Spínol que passou a ser assim.
Um Ab.
TZ

António J. P. Costa disse...

O emblema de braço da CArt 1692 não era este.
A banda que circundava o brasão era verde.
Vou enviar-to. Julgo que aqui não o posso inserir.
Um Ab.
TZ

Davida Guimarães disse...

Olá amigos

Ora eu francamente só queria, depois de ler estes post's, rectificar a legenda da Mina em cima e que foi da minha responsabilidade o levantamento colocar o nome correcto à mina - é efectivamente uma PMD 6 e não PDM como lá esta referenciado e mal.
Também fico contente em ver escrito aqui novas coisas sobre a "nossa" Guiné - digo nossa porque afinal todos nós temos lá uma terra, uma picada etc etc - curiosamente é isso mesmo que em memória surge. Falamos e bem especialmente do que se passou na "NOSSA" companhia, pelotão ou até secção e feitos que passaram por cada um. É muito bom que assim seja pois falamos então do que vivemos e não fazemos uma análise do que poderia ter acontecido se a guerra fosse assim ou assado. Se nenhum de nós lá tivesse ido só andaríamos no diz que disse e nunca perceberíamos o que o combatente diz. É bom ler estes pormenores e neles aparecerem rectificações de outros que viveram com cada um de nós o momento. Somado o blogue já daria um livro autêntico e bem longo - a história da Guiné durante a guerra - em que todos estivemos do mesmo lado como soldados e mais nada.

Um afectuoso abraço a todos que como eu, um dia receberam uma G3, umas granadas e fomos para os meios dos terrenos pantanosos para uma guerra "tramada" e que não poderemos disfarçar mediante os nossos filhos os nossos netos - foi a nossa vida jovem que passou e foi a verdade que tivemos na realidade... Tivemos sorte nós aqui que escrevemos - estamos vivos

Abraço, David

Anónimo disse...

José Colaço

Escreveu o camarada António J. Pereuira da Costa: "As facas de mato eram um utensílio de boa qualidade. Ainda gostava de saber onde eram feitas. Não sei se as OGFE [Oficinas Gerais de Fardamento do Exército] ou alguma fábrica de armamento as produzisse. Ou então algum cuteleiro da área de Guimarães (capital da cutelaria, naquele tempo...)" [poste P16332}.

Pequena dica por curiosidade, estive a fazer uma pequena limpeza à minha faca de mato e notei a sua origem que se pode comprovar na foto que envio aos nossos editores:
SOLIGEN STAINLESS GERMANY... Por este motivo, além das dos artesãos, a sua maioria teria origem na importação da Alemanha, Solingen Stadt Messer, tal como por cá Guimarães cidade das facas.

Um abraço Colaço.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Que miséria!... Com uma tradição de cutelaria como a nossa, tinham que ir logo importar as facas de mato da Alemanha [, na altura, República Federal Alemã]... Porra, já chegava a G-3!... Há uma incrível falta de nacionalismo nos portugueses!...Há gajos que pecam por chauvinismo, os franceses, por exemplo... Os portugueses, esses, nunca deram valor aos seus e às suas coisas... É um karma danado!...

Até as facas de mato usadas hoje pelas nossas forças especiais são espanholas, da marca Aitor!... Quem foi o sacrista do general que encomendou o negócio ?...


http://www.germanysolingen.com/germany-solingen-knives/outdoor-knives.php

José Botelho Colaço disse...

De facto a politica do Estado novo também sofria dos males da ditadura: Não sei se notaram nós tinha-mos em Portugal uma industria topo de gama fabrico nacional de quadros para motorizadas para motores até 49 cm3 principalmente em Águeda! Algum de vocês viu essa motorizadas comercializadas ou circular na avenida em Bissau?
O que eu vi em Bissau eram as motorizadas marca onda com montagem tudo nipónico.
Luís eis um pequeno exemplo do sistema que contemplava a importação das facas de mato Solingen.
Tal como hoje os interesses económicos de uma pequena minoria abafam o que devia ser os interesse de um povo que vive e continua a viver subjugado.
Um alfa bravo Colaço.

Unknown disse...

Agradeço ao meu amigo António J. Pereira da Costa por se ter lembrado do nosso camarada Isidro. Cheguei a Cameconde em Abril de 1968 e passados escassos meses acontece esta fatalidade. Lembro-me do Isidro, um moço calmo estava no fim da comissão e do Alberto soldado da milícia que faleceu vítima de uma emboscada mais ou menos na mesma altura. Foi o meu baptismo da Desgraça. Um grande abraço para todos em especial para o Tózé.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé Colaço, é verdade, eram as contradições que o império tecia... A economia mandava mais (e continua a mandar) do que a política. Não conheço nem produtores nem consumidores patriotas... Tu compras "made in Portugal" quando vais ao supermercado ?... Eu, quando lá vou, gosto sempre de olhar para a etiqueta, mas muitas das vezes, infelizmente, sou obrigado a pensar em termos de benefício preço/qualidade... Penso com o coração, decido com a razão...

De boas intenções está, de resto, o inferno cheio... Fizeram-se grandes negócios com a guerra colonial, infelizmente esse é um tema virgem no nosso blogue... Ninguém trabalhava nos Goldman Saque Saque Saque da época... Ou se trabalhava, era tudo arraia miúda... Aliás, sempre se fizeram grandes negócios com as guerras, com todas as guerras...