Foto de José Colaço (2016) |
"PARA QUE SERVIA A FACA DE MATO ?"
(PODES DAR MAIS DO QUE UMA RESPOSTA)...
RESULTADOS PRELIMINARES (n=80)
10. Nunca tive faca de mato > 25 (31%)
Foto (e legenda): © Joaquim Mexia Alves (2006). Todos os direitos reservados.
7. Outros usos (mato/quartel) > 33 (41%)
3. Abre-latas > 27 (33%)
10. Nunca tive faca de mato > 25 (31%)
5. Ferramenta de sapador (MA) > 20 (25%)
4. Talher 3 em 1 (faca, garfo, colher) > 14 (17%)
9. Objeto completamente inútil > 0 (0%)
11. Não sei / não me lembro > 0 (0%)
1. Arma de defesa > 13 (16%)
6. Adereço / ronco > 11 (13%)
8. "A minha amiga inseparável" > 7 (8%)
2. Limpar o sebo ao IN > 2 (2%)9. Objeto completamente inútil > 0 (0%)
11. Não sei / não me lembro > 0 (0%)
Votos apurados às 00h00 de 27/7/2016 > 80
Dias que restam para votar: até 28/7/2016, às 20h38
Dias que restam para votar: até 28/7/2016, às 20h38
Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bolama > Bolama > 1972 > CART 3492 > "Eu e o Furriel Nunes, do 4º pelotão, se não me engano"
[, A faca de mato podia ser usada com a baínha presa ao cinturão ou presa na farda ou camuflada, abaixo do ombro esquerdo, à "ranger", como documenta etsa foto com o nosso grtã-tabanqueiro Joaquim Mexia Alves, ex-alf mil op esp CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73].
Foto (e legenda): © Joaquim Mexia Alves (2006). Todos os direitos reservados.
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25 de julho 2016 > Guiné 63/74 - P16332: Inquérito on line (61): A lâmina da faca de mata do fur mil MA Manuel Joaquim Mesquita Isidro dos Santos, natural de Benavente, CART 1692 / BART 1914 (Cacine, Cameconde, Sangonhá e Cacoca, 1967/69), era de bom aço temperado, foi partida ao meio por uma mina russa A/P PMD-6 (António J. Pereira da Costa, cor art ref)
Nota do editor:
Últimos postes da série >
25 de julho 2016 > Guiné 63/74 - P16332: Inquérito on line (61): A lâmina da faca de mata do fur mil MA Manuel Joaquim Mesquita Isidro dos Santos, natural de Benavente, CART 1692 / BART 1914 (Cacine, Cameconde, Sangonhá e Cacoca, 1967/69), era de bom aço temperado, foi partida ao meio por uma mina russa A/P PMD-6 (António J. Pereira da Costa, cor art ref)
16 comentários:
Olá Camaradas
Como vemos, as tais meias-platinas no lado esquerdo existiam e o Mexia traz a faca aí.
Através deste inquérito ficou provado que a "faca-de-mato" era essencialmente uma ferramenta multiusos, com as mais diversa aplicações: desde atirar ao alvo para diminuir o "stress", até ferramenta de sapador. Era estimada pelo pessoal, em geral, daí que alguns a tenham comprado ou "conservado" após o "espólitro".
Era material de boa qualidade, mas que nem todas as unidades forneciam a toda a gente. Estrangeiro,o que terá sido bom. Se assim não fosse poderia ter começado a ser "embaratecido", a partir de certa altura, com as consequências que se adivinham...
Assim sucedeu com o tecido dos camuflados, por exemplo. Ainda me lembro de uns sapatos que o DBI de Bissau fornecia e que eram horríveis, quer no "design" - como hoje se diria - quer na qualidade. E as boinas? Dependia das fornadas de produção, mas algumas pareciam caricas, outras "discos avoadores" ou chapéus-de-sol...
Um Ab.
António J. P. Costa
Olá Luís
Se te aprouver, faz um inquérito sobre o equipamento, fardamento ou calçado, mas com uma perguntas "lógicas". Aquela do "Não sei/não me lembro, bem...
Olha, um Ab.
Sei, por conversas "off record" (daquelas, algumas, poucas, que ao longo destes anos tenho mantido com camaradas nossos, que me pediram sigilo, e que eu nunca poderei publicar aqui, no nosso blogue, por se tratar de matéria altamente sensível), que a nossa amiga "faca de mato" também teve outros usos "menos dignos", em casos muitos pontuais, é certo...
Refiro-me à tortura e até eliminação de prisioneiros (e guias-prisioneiros que, no mato, nos atraiçoavam, levando-nos à boca do lobo, e eu sei do que falo porque fiz operações com uns 4 ou 5 desses guias-prisioneiros...), e nomeadamente antes da "era Spínola"...
A faca de mato não dava muito jeito para cortar cabeças, ou até braços e orelhas, mas houve casos pontuais, não executados por camaradas nossos, metropolitanos, mas presenciados por alguns de nós... Nesse caso, a catana (africana) era imbatível...
Não vale a pena, "sob pena de hipocrisia e cinismo" (!), ignorar ou escamotear esses "casos pontuais" (sic) de barbárie, que temos tendência a levar à conta dos "excessos de guerra"... Aconteceram, ponto final!... É não foi apenas em Angola, ou Moçambique, aconteceram também no TO da Guiné, onde afinal se travou uma guerra, surda, dura e também "suja", de parte a parte, de 12/13 anos (já é altura de pormos o início da guerra muito antes do "oficioso" dia 23 de janeiro de 1963, o dia, ao que parece, não programado do ataque a Tite!)...
Mas, no geral, todos ou quase todos vemos na "faca de mato" uma verdadeira ferramenta de escoteiro, e só depois um arma de guerra (que também era)... Com o eu costume dizer, quando fomos para a Guiné éramos quase todos "meninos de coro"...
Camaradas, façam o favor de responder ao nosso inquérito... Não voltaremos tão cedo ao assunto, porque infelizmente o cronómetro já está há muito a correr contra nós... Se não falarmos verdade hoje, outros dirão amanhã mentiras sobre nós... No céu ou no inferno, não há rede, o blogue não chega lá... LG
É de todos conhecido o miserável massacre do chão manjaco que ceifou a vida, de modo sádico, bárbaro e traiçoeiro, a homens nossos, desarmados, 3 majores e um alferes, metropolitanos, e seus acompanhantes (motoristas, intérpretes)... Mortos "à boa maneira africana", ou seja, à catanada...
Não sei se os homens do Amílcar Cabral usavam faca de mato... provavelmente não, a catana era mais "maneirinha" e afinal era uma "ferramenta de trabalho", "famniliar", "polivalente!, tanto para o balanta como para o beafada ou o mandinga. Ou o fula...
Uma das histórias que me contaram... (não vou citar nomes nem lugares)... tem a ver com isto. E o camarada que ma contou, membro da nossa Tabanca Grande, foi há dois anos atrás, em Monte Real, por ocasião do nosso IX Encontro nacional, era um graduado, pessoa idónea, hoje pai e avô, com sólida formação humana e cristã, com muitos anos de seminário...
Algures, na região de Quínara, nos "primeiros anos" da guerra, um pelotão de milícia sai para o mato e no regresso o comandante da força faz o relato do ocorrido:
- Tantos mortos dos "homens do mato", meu capitão... (O capitão era o comandante, "tuga", da companhia, sediada num dada localidade da região de Quínara).
Noutra ocasião, sai o mesmo pelotão e, zás, "manga de ronco" outra vez!... O inimigo sofrera mais umas tantas baixas... Tudo trinta e um de boca, que a milícia não sabia ler nem escrever nem muito menos fazer relatórios para enganar o homem grande de Bissau (que, na altura, já era o Schulz)...
O capitão começa a desconfiar e a querer pôr em causa a boa fé, honestidade e lealdade do alferes de 2ª linha, comandante da milícia local... Este fica melindrado com a desconfiança do pessoal branco... Numa terceira saída, no regresso, o meu informante contou-me depois o insólito:
- Começo a avistar ao longe os nossos milícias mas desta vez transportando embrulhos envoltos em folhas de bananeira... Chegados ao pé do capitão, que estava ao meu lado, o comandante da mílicia diz, seca mas respeitosamente: "Capitão, aqui tem o relatório"... E deposita no chão uma série de membros (braços) decepados de alegados "homens do mato", embrulhados em folhas, largas, de bananeira...
Nenhum de nós estava preparado, convenhamos, para "presenciar" e "aceitar" este tipo de "violência tribal", praticada pelos guineenses (, de um lado e do outro, acrescente-se). Mas alguns de nós, milicianos, apesar da nossa boa formação humana e cristã, tivemos que ver e calar cenas como estas (que terão sido raras, diga-se em abono da verdade e da honra de todos nós, combatentes no TO da Guiné, antes e depois de Spínola).
Caro amigo Luis,
Muitas vezes, os tais 'Guias" nem precisavam de trair para serem eliminados. Atente-se aos depoimentos de um antigo combatente, extraido do Blogue, P3542, de 25 de Novembro de 2008:
"Blogue Podium Scriptae, de José Manuel de Aguiar. Em entrevista ao Correio da Manhã, Revista Domingo, de 9 de Março de 2008, Cristóvão de Aguiar faz declarações perturbadoras e eventualmente polémicas:
(...) O episódio do espancamento e morte do guia é real? [Pergunta o jornalista, Isabel Ramos]
Sim. Em cada operação havia sempre um guia indígena que normalmente não sobrevivia. Na minha companhia o capitão matava o guia no fim da operação. E mandava dizer para o Quartel Geral que o guia tinha tentado fugir.
Mas no livro são três soldados que matam o guia, um dos quais lhe chama, a si, terrorista...
Eu dei-lhe uma bofetada e ele chamou-me terrorista e olhe que chamar terrorista [a um oficial] num teatro de guerra como a Guiné podia ser muito grave. Ele, realmente, depois de ter morto o guia, disse-me que era a maneira de pagar-me a bofetada que lhe tinha dado.
E o episódio das crianças ?
É verdadeiro, mas eu não assisti. Dois guerrilheiros foram capturados com a família. Mataram o homem e a mulher. Os filhos ficaram a aguardar novas ordens. Não mataram as crianças a frio. Trataram-nas bem, como se, realmente, quisessem adoptá-las, trazê-las para a Metrópole, e no fim degolaram-nas".
Com um abraco amigo,
Cherno AB
Nova fase do Blogue- Atrocidades. Felizmente que agora sou,como a maioria dos Tertulianos, um elemento, não praticante.Não recebi instrução de degolador. E degolar não é fácil, como aprendi na Cadeira de Medicina Legal onde assisti a autópsias de degolados.Até para matar alguém à facada é necessário,perícia...Abraço J.Cabral
Olá Camaradas
Como dizem os ingleses: get to the point!
Em português: Porra! Não é disso que estamos a falar!
Estamos a falar de um utensílio que pode ter muitas aplicações. Lembro que uma caneta é um objecto muito simpático, mas que também serve para tirar olhos e até matar como se ensina o Krav Maga. A percentagem de camaradas nossos que queriam matar o inimigo à facada, como se vê, é residual e os que o praticaram ainda menor, certamente.
Esta troca de "mimos" entre o PAIGC e as NT, poderá ser analisada como sub-produto de actividades guerreiras e muito mais numa terra onde o racismo, o tribalismo e o desejo de vingança (em espiral) estavam presentes. Não creio que tenham tido resultados muito positivos, senão deitar gasolina (aditivada, da mais cara) na fogueira e impossibilitar qualquer espécie de entendimento, como ainda hoje se constata. A propósito: quantos(as) cidadãos(ãs) da Guiné ainda hoje terão memória de o terem praticado ou que um seu familiar ou amigo tenha sido sido alvo de procedimentos como os que descreves?
O terrorismo daquele tempo tinha como finalidade aterrorizar as populações para que colaborassem com as NT ou com a guerrilha. Era o que se ensinava nas universidades guerreiras dos países de Leste e da URSS. Os resultados foram contraproducentes. A população cindiu-se e produziram-se clivagens que a sociedade local, como sabemos, hoje não sabe como sarar. Nunca descobri quem foi o imbecil pensador que pariu semelhante aberração psicológica, mas não desisto. Tal vez algum seguidor do Estaline burro e duro como ele.
Claro que os povos têm memória curta, especialmente em África, e por isso pode ser que daqui por uma geração já ninguém se lembre. Enfim, coisas giras...
Duvido da vantagem táctica dos "guias da corda" que nunca usei e depois de Spínola não creio que alguém usasse. Não creio que por humanismo, mas porque para além de uma vingança étnico-tribal pequenina e indigna de um combatente inteligente, não trouxe nada de novo.
Mas outros terão tido bons resultados. Pelos vistos...
Um Ab.
António J. P. Costa
Cherno:
Acho que foste buscar um exemplo que não pode ser tomado como norma... Estive no TO da Guiné, quatro anos depois, como sabes, numa companhia de base guineense, etnicamente homogénea (fulas dos regulados de Badora e do Cossé), a CCAÇ 12, fiz/fizemos diversas operações com guias prisioneiros e nunca "limpámos o sebo" a nenhum...
As afirmações do autor, Cristóvão de Aguiar, são publicadas num tablóide, o "Correio da Manhã", que tem fama de explorar o escabroso e o patológico para atrair audiências: sexo,. crime, violência...
O açoriano Cristóvão de Aguiar, de resto membro da nossa Tabanca Grande, foi alferes mil, em 1965/67... O seu livro, "Braço tatuado - Retalhos da Guerra colonial" (Lisboa, Dom Quixote, 2008) é uma "obra ficcional" e deve ser lida como tal...
No romance, os militares pertencem a uma CCAÇ 666, que nunca existiu, no TO da Guiné. O nosso camarada e colaborador permanente do nosso blogue José Marcelino Martins conseguiu, com o seu olho clínico, identificar, a partir da leitura do livro (e da consulta do 8º Volume, Tomo II da CECA, Fichas História das Unidades, Guiné, pag. 342), a subunidade a que pertenceu o nosso camarada Luís Cristóvão Dias de Aguiar.
Essa subunidade era a CCAÇ 800 (Contuboel, 1965/67)... Como tu sabes, e eu já aqui escrevi diversas vezes, Contuboel sempre foi um "oásis de paz" (ou era naquela época)... Passei lá os meses de junho e julho de 1969 e tenho as melhores recordações desse tempo em que "brincávamos à guerra"... Ia-se a Sonaco (a norte) e a Bafatá (a sul), em passeio, mais ou menos turístico...Andava de piroga no Rio Geba, completamente desarmado...
A CCAÇ 800 foi mobilizada pelo RI 15 (Tomar). Destinava-se, inicialmente, ao arquipélago de Cabo Verde, com partida prevista para 13 de abril de 1965. Comandante: capitão inf Carlos Alberto Gonçalves da Costa, substituído em setembro de 1965 pelo capitão mil cav António Tavares Martins (que tinha vindo da CCav 489/Bcav 490).
Constituíam o quadro de oficiais subalternos os alferes milicianos João Belchurrinho Baptista, Luís Cristóvão Dias Aguiar, João Faria Cortesão Casimiro e João Baptista Alves.
Partida: Embarque para Guiné em 17 de abril de 1965, com desembarque a 23; regresso a casa: 20 de janeiro de 1967...
A CCAÇ 800 actuou sobretudo no subsector de Contuboel, a nordeste de Bafatá. Mas eu não conheço de todo a sua atividade operacional...
Temos que ter sempre muito cuidado com as generalizações abusivas... e com o tratamento "jornalístico" dado, em certa imprensa, às "memórias de guerra" dos ex-combatentes portugueses da Guiné...
À história que citas, retirada da "entrevista" ao Correia da Manha" pelo Critóvão de Aguiar, podia contrapor-te outras tantas em que resgatámos e trouxemos connosco "crianças turras" que viviam no mato, em areas "controladas" pelo PAIGC...
O Zé Manel Sarrico Cunté é um bom exemplo: foi adoptado por nós, crecseu no quartel, não foi degolado, vei para Portugal e foi criado pela família do Manuel Joaquim, um bravo combatente, um grande português e cidadão do mundo... O Zé Manel está felizmente vivo, tal como a sua família biológica (que ele depois conhecerá na Guiné-Bissau, passados uns largos anos), casou com uma angolana, é pai de filhos e é membro da nossa Tabanca Grande tal como tu és... Vê aqui:
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/Jos%C3%A9%20Manuel%20Sarrico%20Cunt%C3%A9
Nestas situações, ou as pessoas assistiram e assumem a responsabilidade das suas afirmações,ou não vale a pena falarem "por ouvir dizer".Em Tribunal tal tipo de depoimentos,nem sequer pode ser valorado. Abraço J.Cabral
Fala, e muito bem, o nosso "alfero Cabral" que noutra encarnação foi um grande especialista em direito penal e nunca teve faca de mato nem para abrir latas de conserva!...
Pode ter vendido os códigos na Feira da Ladra, mas o saber, o bom senso, o fino humor, o cavalheirismo e a grande camaradagem ninguém lhos tira.
Um alfrabravo, alfero!
Temos uma série "O segredo de..." para quem quiser, em consciência, confessar "pecadilhos" como o eventual mau uso da faca de mato.
É o nosso confessionário. E o que se confessa a um camarada, que "não tem olhos, nem ouvidos nem boca", nunca chegará à praça pública...
Essa é grande vantagem do nosso blogue: uma das nossas regras de ouro é... (é bom lembrá-lo mais uma vez)
(vi) recusa da responsabilidade colectiva (dos portugueses, dos guineenses, dos fulas, dos balantas, etc.), mas também recusa da tentação de julgar (e muito menos de criminalizar) os comportamentos dos combatentes, de um lado e de outro; (...)
Em suma: não somos nem nunca seremos tribunal de ninguém. A história nos julgará.
Caros amigos,
Longe de mim querer polemicar sobre assuntos de Guerra onde fui vitima e nao protagonista, os chefes de Guerra estarao melhor colocados para debater e tecer as consideracoes que se impoem. Limitei-me a transcrever uma parte da entrevista de um ex-combatente e soldado metropolitano para mostrar o que pode ser um contraste entre as palavras e os actos, entre o ideario e a realidade.
O que nao posso aceitar, como homem e como Guineense, sao as consideracoes tendenciosas de tentar incriminar uns (os nativos na sua violencia etnica e tribal...e catanadas a Africana) e branquear outros (metropolitanos com formacao humana e crista). Tudo eh relativo e circunstancial.
As regras de ouro do Blogue devem ser aplicadas de forma justa e equitavel senao arriscamo-nos a cair no que, em ciencias sociais, se chama "deriva da missao", neste caso concreto da missao que o Blogue se impos.
Com um abraco amigo,
Cherno AB
Há portugueses que estiveram na Guerra Colonial, outros estiveram na Guerra do Ultramar e os nossos opositores estiveram na Guerra de Libertação. Estas terminologias dependem do ângulo de visão de cada um. Temos vários escritores, entre eles o António Lobo Antunes, por exemplo, que, a coberto da ficção, exageram nos números e nas acções deles (In) e nossas (NT). Será que o ângulo de visão determina ficções exageradas, culpabilizando quem esteve na Guerra do Ultramar? Será que foram os que tiveram na Guerra Colonial que praticaram esses exageros?
O Cherno tem razão na sua apreciação. Ele sabe que os portugueses, quando não queriam "sujar as mãos", mandavam os naturais para determinadas operações, por saberem da rivalidade ancestral entre etnias. Também sabe que para a guerra iam portugueses de toda a índole, potenciais criminosos, por que não, que se prestariam a todos os serviços sujos, maltratando e matando prisioneiros. Contudo na guerra não vale tudo, muito menos as ficções que podem induzir ideias erradas a quem não esteve lá.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira
Cherno, é acertada e oportuna a tua crítica. Nenhum caso, aqui relatado, em primeira ou segunda mão, pode ser generalizado, sob pena de abrirmos a "caixinha de Pandora" e criarmos anticorpos...
A maior das atrocidades que cometemos, uns e outros, foi aquela guerra estúpida e inutil. Somos todos sensíveis à evocação da violência, gratuita, sádica, irracional, em contexto de guerra ou de paz... E últimamente temos, na "aldeia global", assistido, quase em direto, a cenas horríveis de violência, ditadas pelo fanatismo e pelo desespero... Não está em causa a religião, a cor da pele, a nacionalidade... O papa Francisco, que é hoje referência moral para muitos os homens e mulheres de boa vontade, crentes e não crentes, rm todo o mundo, bem como outros dirigentes de outros religiões (nomeadamente do IslãO), têm procurado trilhar os caminhos do ecumenismo...
Cherno, sem sombra de dúvida, que tu, a tua família e os teus parentes e toda a tua geração, foram vítimas daquela guerra.... Tal como nós, portugueses, da nossa geração. Todos fomos obrigados a pegar em armas, jovens metropolitanos e guineenses... Sei do que falo, porque ajudei a formar uma companhia africana, a CCAÇ 12.
Tenho a certeza que todos ou quase todos nós atuamos na paz e na guerra, de acordo com a nossa consciência e dentro dos valores (humanos, independentemente das nossas crenças religiosas) que são timbre dos nossos povos... Excessos, danos colateraism, casos patológicos pontuais ? Não vale a pena negar que os houve...em 13 anos de guerra. De um lado e do outro. Mas precisamos de os evocar, descrever, contar, analisar para evitar que se caia no erro (crasso) de generalizar...
Tomei boa nota do teu recado, algo magoado: devemos ter muito cuidado com o que aqui escrevemos, por causa das eventuais reações etnocêntricas... Há muito sabemos que há assuntos que têm que ser tratados com "pinças", continuam a ser fracrturantes e despertam reações muito emocionais... Mas isso também não podem ser motivo para censura editorial. Temos é que saber cumprir e fazer cumprir as nossas regras bloguísticas...
Um bom resto de dia para ti, meu amigo e irmãozinho Luís Graça
"Não vale a pena negar que NÃO os houve"...
Peço desculpa pela gralha... O excesso de calor faz mal aos neurónios, ontem como hoje... Aos homens e restante bicharada...
Caros amigos Luis e Carlos,
Obrigado por estas ultimas observacoes que sao importantes para dissipar eventuais mal-entendidos.
Pessoalmente, nao tenho qualquer motivacao para (vos) indispor ou contrariar velhos combatentes que, antes de tudo o mais, precisam de palavras amigas e de sossego espiritual, pelo contrario, todos voces merecem a minha consideracao e respeito, e penso que isso voces sabem, facto que, todavia, nao me impede de manifestar a minha opiniao, sempre que posso e sempre que nao estiver de acordo com o que se diz ou se escreve, sem por isso me considerar melhor que os demais.
E, mais importante ainda, sempre que foi necessario, defendi a honra, a dignidade e o bom nome dos portugueses, as vezes, em condicoes politicas e sociais bem adversas como eh o caso da Guine, fortemente minada pelo obscurantismo politico e religioso e pela nescia propaganda dos falsos "libertadores".
Com um abraco amigo,
Cherno
O que por aqui vai motivado por DUAS respostas (entre 80) a um inquérito sobre facas de mato!!!
Eu sei de, eu conheci, dois ou três casos que se podem enquadrar na expressão "limpar o sebo ao IN" (que raio de expressão!) com faca ou objecto similar. Mas sempre os senti desenquadrados do comportamento global da "minha tropa" em relação aos prisioneiros inimigos que fazia ou de que se servia. No limite, sou levado a considerá-los "acidentes".
Apanhando a referência que o meu estimado Luís Graça faz, acima, sobre o meu "filho" Zé Manel que eu trouxe da Guiné, quero dizer o seguinte:
Se o facto de eu ter protegido uma criança - pelas circunstâncias e para todos os efeitos ela era naquela altura órfã de guerra - foi um acto de solidariedade e de humanismo elogiado no meu meio ambiente militar, também neste mesmo meio se cometeu um assassinato sem deste facto ter resultado qualquer atitude visível de reprovação ou de castigo para o executor.
Num dia de janeiro/1966, um elemento da população local foi apanhado numa emboscada feita por tropa recém-chegada a Bissorã e trazido para o quartel como prisioneiro. Levado à entidade própria para tomar conta do caso e agir conforme, verificou-se que a personagem era nem mais nem menos que um pontual informador nosso. Assustado, ou não, o que é certo é que o homem começou logo a "desbobinar" sobre o que andava a fazer. Quando estava a começar a falar sobre um novo caminho de reabastecimento do PAIGC que dizia ter descoberto, entra súbita e violentamente no local um soldado que de imediato lhe deu uma facada, de tal modo que lhe provocou a morte.(*)
A minha ideia é a de que tanto o meu acto, tão humanamente solidário, como o do soldado, tão humanamente descontrolado, e outros do mesmo teor praticados por outros soldados se podem (devem) colocar na área de "comportamentos acidentais". Por isso não se lhes deve dar mais do que uma importância residual na caracterização do comportamento global das nossas tropas durante a guerra colonial na Guiné. Comportamento este que, pelas reacções da população guineense durante todos este tempo do pós-guerra, me dá a certeza de ter sido muito digno, independentemente de ter havido um ou outro caso reprovável.
(*) Na altura deste acontecimento, a CCaç. 1419 fazia luto pela recente perda em combate de quatro dos seus soldados. Eram os seus primeiros mortos, após cinco meses de Guiné. Talvez por isso, o soldado referido não conseguiu conter as suas emoções ao ver chegar ao quartel um prisioneiro IN.
Sabe-se lá o que lhe passou pela cabeça e que o levou a fazer tal coisa.
O executor não sofreu qualquer sanção, quase posso garantir. Se sofreu, nunca tive conhecimento de tal mas também eu, que condenava fortemente a violência sobre prisioneiros, me deixei levar pela compaixão e, se tivesse sido preciso, teria feito todos os esforços para ele não ser castigado.
Resta-me dizer que as últimas notícias que dele tive, já bem antigas, o davam como um sem abrigo com alguns problemas mentais a viver num automóvel abandonado, na área da sua naturalidade.
Manuel Joaquim
PS: Ando em "pulgas", já não vem muito longe o dia em que serei "bisavô"! O "nha mininu" da Guiné vai ser avô de um rapaz!
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