Francisco Geoge. Foto da Direção-Geral de Saúde (Com a devida vénia...) |
1. Francisco George é uma figura pública. Durante anos a sua figura carismática entrou pela casa dentro do portugueses, através da televisão, transmitindo segurança, sabedoria, empatia, confiança...
Foi diretor-geral da Saúde entre 2005 e 2017. Jubilou-se em 31 de outubro de 2017, aos 70 anos, por ter atingido o limite de idade, legal, para exercer funções na administração pública.
É pois da mesma colheita do que eu, ambos nascemos em 1947. Foi meu colega, professor convidado na Escola Nacional de Saúde Pública da NOVA, e colaborador da revista que eu dirigi durante anos, a Revista Portuguesa de Saúde Pública. Na mesma escola, em 1977, fez o Curso de Saúde Pública , tornando-se especialista em saúde pública. A partir de 1976, foi delegado de saúde, primeiro no concelho da Cuba e depois no concelho de Beja. Foi, de resto, aí que eu o conheci, em finais dos anos 70. A sua casa em Beja era uma verdadeira tertúlia. Tinha (e tem) o gosto de bem receber e era (e é) um notável conversador e contador de histórias.
Do seu vasto currículo, destaca-se o seu papel, entre 1980 e 1991, como funcionário da Organização Mundial da Saúde (OMS). Para além de Bissau e Harare, foi consultor em missões da OMS nos mais diversos pontos do globo (Pequim, Xangai, Brazzaville, Genebra, Rio de Janeiro, Maputo, Praia, São Tomé, Luanda, Bamako, Antananarivo, Maseru e Lusaka). E é aqui que se passa, na Guiné-Bissau, em 1983, uma das histórias, deliciosas, que ele nos conta na sua página pessoal, "Dossier de Lutas".
Na qualidade de funcionário da OMS, ele fora designado, em 1980, como chefe do projeto Desenvolvimento dos Serviços de Saúde, na República da Guiné-Bissau. E em 1986 é nomeado representante da OMS neste país lusófono. Falou sempre da Guiné-Bissau como um grande amigo. É um poço de energia, incapaz de parar. Está hoje à frente da Cruz Vermelha Internacional, desde novembro de 2017.
Aqui fica, com a devida vénia, uma das suas pequenas grandes aventuras, passadas em África: Dossier de lutas > Memórias de África > O avião que pegou de empurrão – Quinta Aventura. A história tem a particularidade se passar, em Catió, em 1983, e de envolver também um conhecido nosso, o saudoso comandante Pombo, membro da nossa Tabanca Grande.
Aproveito paa desejar ao dr. Francisco George muita saúde e longa vida porque ele merece tudo. Cada um de nós foi à sua vida e eu, lamentavelmente, não o pude homenagear, em devido tempo, quer na Direção-Geral de Saúde quer na Escola Nacional de Saúde Pública da NOVA. Aqui fica também esta pequena manifestação do nosso apreço e amizade, na qualidade de editores do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
2. Memórias de África > O avião que pegou de empurrão: quinta aventura
por Francisco George
Em 1983 as dificuldades nas ligações entre as várias regiões da Guiné-Bissau eram, ainda, imensas. Ir de uma localidade a outra impunha, quase sempre, cuidadosa e justificada preparação. O clima ditava escolhas e condicionava a programação, sobretudo no que se referia à estimativa de horas necessárias para as viagens.
Ora, como no início da estação das chuvas daquele ano, estavam previstas iniciativas de avaliação do Programa de Vacinação que decorria no Sul, era preciso planear meticulosamente o trabalho de campo e escolher os transportes mais apropriados.
Na Guiné Independente, o primeiro Governo do PAIGC tinha criado uma pista em Catió para os aviões da companhia aérea guineense poderem aterrar em regime de escala, nos voos regulares entre Bissau e Conacry. A construção do “aeroporto” tinha sido uma espécie de homenagem às populações das tabancas de Tombali que tinham participado na Luta. Era considerada uma medida para reduzir os efeitos do isolamento. A pista, rudimentar, sem torre nem comunicações, não dispunha mesmo de qualquer abrigo a imitar uma aerogare.
O espectáculo era sempre constante: o avião Dakota aterrava depois de sobrevoar a pista para afastar o gado. Logo a seguir uns passageiros saíam, enquanto outros esperavam junto a uma balança colocada à entrada do porão a fim de pesarem as respetivas bagagens. Mais à frente, alinhava-se a fila de espera para o embarque na aeronave.
Quando acabou a visita de avaliação, acompanhado pela minha Colega pediatra, Clotilde Silva, no final de uma semana fora de casa, fomos ao encontro do voo que em meia-hora ligava Catió a Bissau. Os nossos bilhetes tinham sido previamente adquiridos e os lugares estavam garantidos. Já no local reservado ao embarque, surgiu, à hora prevista, o avião que viria a aterrar sem animais na pista.
Passados os habituais procedimentos, entrei no avião pela escada da frente que dava acesso ao
corredor central. Ao todo seriam cerca de 50 passageiros que completavam a lotação. Ocupei o meu lugar ao lado da minha Colega, ansioso por voltar a casa. Já com a porta fechada, o Comandante Pombo e o co-piloto tentavam, sem sucesso, ligar o motor do Dakota As hélices permaneciam teimosamente paradas. A ignição não funcionava. É então que o Comandante se levanta e pede a alguns passageiros para saírem e empurrarem o avião (tal como se faz aos automóveis quando a bateria falha). Lá fui com mais cinco. Imediatamente depois dos primeiros metros do empurrão, o motor pegou sem outros aparentes problemas.
Voltamos a entrar e já de novo com a porta fechada, a minha Colega vira-se para mim e com assinalável espanto perguntou-me:
– Francisco, tu vais? Viajas para Bissau num avião que pegou de empurrão?
– Eu cá não, respondeu ela com firmeza.
Sem a demover, expliquei que eu iria ver a família, uma vez que estavam à minha espera e que uma semana longe de casa era muito tempo. Disse-lhe, também, que por terra a viagem era muito longa e ainda mais arriscada, mesmo em jeep.
Imediatamente depois das minhas palavras, Clotilde saiu do avião. Quando cheguei a casa, relatei, com emoção, a aventura à família. Nessa mesma noite, durante um convívio de cooperantes Portugueses, voltei à mesma história que provocou rasgados risos. Mas, para meu espanto, ninguém acreditou…
Francisco George
Verão, 2013
_____________
Nota do Editor:
Último poste da série > 19 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18937: Blogues da nossa blogosfera (100): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (19): Palavras e poesia
por Francisco George
Em 1983 as dificuldades nas ligações entre as várias regiões da Guiné-Bissau eram, ainda, imensas. Ir de uma localidade a outra impunha, quase sempre, cuidadosa e justificada preparação. O clima ditava escolhas e condicionava a programação, sobretudo no que se referia à estimativa de horas necessárias para as viagens.
Ora, como no início da estação das chuvas daquele ano, estavam previstas iniciativas de avaliação do Programa de Vacinação que decorria no Sul, era preciso planear meticulosamente o trabalho de campo e escolher os transportes mais apropriados.
Na Guiné Independente, o primeiro Governo do PAIGC tinha criado uma pista em Catió para os aviões da companhia aérea guineense poderem aterrar em regime de escala, nos voos regulares entre Bissau e Conacry. A construção do “aeroporto” tinha sido uma espécie de homenagem às populações das tabancas de Tombali que tinham participado na Luta. Era considerada uma medida para reduzir os efeitos do isolamento. A pista, rudimentar, sem torre nem comunicações, não dispunha mesmo de qualquer abrigo a imitar uma aerogare.
O espectáculo era sempre constante: o avião Dakota aterrava depois de sobrevoar a pista para afastar o gado. Logo a seguir uns passageiros saíam, enquanto outros esperavam junto a uma balança colocada à entrada do porão a fim de pesarem as respetivas bagagens. Mais à frente, alinhava-se a fila de espera para o embarque na aeronave.
Quando acabou a visita de avaliação, acompanhado pela minha Colega pediatra, Clotilde Silva, no final de uma semana fora de casa, fomos ao encontro do voo que em meia-hora ligava Catió a Bissau. Os nossos bilhetes tinham sido previamente adquiridos e os lugares estavam garantidos. Já no local reservado ao embarque, surgiu, à hora prevista, o avião que viria a aterrar sem animais na pista.
aos comandos do seu Cessna dos TAGP, c. 1972/74
(Foto de Álvaro Basto, 2008)
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corredor central. Ao todo seriam cerca de 50 passageiros que completavam a lotação. Ocupei o meu lugar ao lado da minha Colega, ansioso por voltar a casa. Já com a porta fechada, o Comandante Pombo e o co-piloto tentavam, sem sucesso, ligar o motor do Dakota As hélices permaneciam teimosamente paradas. A ignição não funcionava. É então que o Comandante se levanta e pede a alguns passageiros para saírem e empurrarem o avião (tal como se faz aos automóveis quando a bateria falha). Lá fui com mais cinco. Imediatamente depois dos primeiros metros do empurrão, o motor pegou sem outros aparentes problemas.
Voltamos a entrar e já de novo com a porta fechada, a minha Colega vira-se para mim e com assinalável espanto perguntou-me:
– Francisco, tu vais? Viajas para Bissau num avião que pegou de empurrão?
– Eu cá não, respondeu ela com firmeza.
Sem a demover, expliquei que eu iria ver a família, uma vez que estavam à minha espera e que uma semana longe de casa era muito tempo. Disse-lhe, também, que por terra a viagem era muito longa e ainda mais arriscada, mesmo em jeep.
Imediatamente depois das minhas palavras, Clotilde saiu do avião. Quando cheguei a casa, relatei, com emoção, a aventura à família. Nessa mesma noite, durante um convívio de cooperantes Portugueses, voltei à mesma história que provocou rasgados risos. Mas, para meu espanto, ninguém acreditou…
Francisco George
Verão, 2013
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Nota do Editor:
Último poste da série > 19 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18937: Blogues da nossa blogosfera (100): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (19): Palavras e poesia
22 comentários:
Mais um elogio ao nosso amigo comandante Pombo que a muitos perigos se expôs tanto na guerra da Guiné como após a guerra, este amigo ainda tive o prazer de conhecer pessoalmente nos almoços de convívio na Tabanca da Linha.Obrigado Dr. Francisco George por esta linda história.
Que bela história.
Comigo aconteceu em pleno voo e, evidentemente, que ninguém saiu para empurrar.
Foi num Dakota, numa viagem entre nova Lamego e Bissau, ter parado o motor da asa
direita, depois começou a deitar lume, pegou outra vez e lá seguimos sem mais problemas.
Valdemar Queiroz
(autêntico, ouvi no Aeroporto de Lisboa: é pá o avião parece que vem com atraso, se calhar teve que parar pelo caminho)
Olá Camaradas.
Lamento mas não posso deixar de escrever o seguinte comentário:
É IMPOSSÍVEL POR O MOTOR DE UM AVIÃO (seja ele qual for) a trabalhar, empurrando-o.
Quando o Dr. Francisco Jorge contou a aventura a amigos, para seu espanto, ninguém acreditou. Eu também não.
Um abraço
Dr. Francisco George: Eu vou acreditar que se trata de uma história com H, e não uma estória, e sendo assim é mesmo uma bela História. Realmente custa a acreditar que meia dúzia de pessoas consigam fazer deslocar um avião daquele porte, que tantas viagens fiz, de Nova Lamego e São Domingos para Bissau e retorno. Se para empurrar um carro são precisas 3 pessoas numa estrada de alcatrão, como é então? As pessoas que não conhecem a Guiné, não lhes passa pela cabeça o monte de problemas e dificuldades que é preciso enfrentar naquela terra, por isso não devem ter acreditado.
A mim nunca aconteceu nada de especial com qualquer avião na Guiné. Apenas uma vez ao aterrar na pista cheia de buracos das chuvas e cheias de água, uma roda calcou um daqueles buracos e levei com um pedaço de lama na cara à velocidade da aterragem, pois as portas como sabem, mal fechavam, quase não estancavam nada, foi uma risota, dos outros, mas não minha...
Com 50 pessoas a bordo já devia ter cadeiras como os aviões normais, os Dakota em que andei tinham uns assentos de lona, mais para uso de paraquedistas, e depois todo o espaço era ocupado por mercadorias, material, mantimentos etc.... No máximo acho que nunca viajei com mais de 5 a 6 pessoas. Conhecia bem os Pilotos e co pilotos, eram quase sempre os mesmos, mas não me lembro do nome.
Quando nas três vezes em que lá estive em 1984/1985, fui várias vezes ao aeroporto de Amílcar Cabral - ex Bissalanca -, e nunca reparei em nenhum Dakota, estes devem ter sido oferecidos pelo nosso Estado, ou seja por nós todos, à Guiné Bissau.
A analogia que queria fazer, e é por isso que aqui estou, foi comparar essa cena, a outra passada comigo no aeroporto militar de Figo Maduro. Estava lá aquele monstro do DC8, de 4 motores a hélice, pintado de verde camuflado, e ia um grupo avançado do meu batalhão - BCAÇ1933 - entre o Comandante, Oficial de Operações, Oficial e Chefe do Conselho Administrativo - era eu - 2 alferes milicianos e 2 sargentos de 2 companhias do batalhão, para render o BCAV 1915 em Nova Lamego.
Em 19Set67 entramos no bicharoco, carregado até cima de armas mantimentos, munições, medicamentos etc... Sentamo-nos em cadeiras de Lona de Paraquedistas e as rações de combate. Os pilotos lá começam a carregar nos botões de cada motor, mas nada, tal e qual a história já contada não vale a pena repetir, e nunca pegou nenhum deles. Como seria tarefa difícil 'empurrar' um monstro daqueles, ao fim de uma hora saímos e fomos passar o resto do dia a Lisboa e no dia seguinte à mesma hora, 8h da manhã, lá estava, entramos, carregaram nos botões e aquilo pegou tudo.
A viagem foi boa sem nenhum facto a comentar, a não ser o barulho ensurdecedor dos motores, pois, na mesma como os Dakota, as portas não estancavam bem. Aterramos 24 horas depois em Bissau a 21Set67, sem problemas.
Obrigado pela bela História de Catió.
O que foi feito da Clotilde? Foi a pé ou esperou pelo próximo voo?
Virgilio Teixeira
Ó Virgilio Teixeira, não seria um DC-6? É que o DC-8 é a jacto e, portanto não tem 4 hélices, mas sim 4 reactores.
Um abraço
Amigos e camaradas.
Considero que o que muito que por aqui está escrito serão apenas estórias para puro divertimento.
Sou Engenheiro reformado, fui Mecânico de Aviões da FAP (1967)
Aviões a pegarem de empurrão...são boas para contarem aos netinhos!
Estive com o Pombo em Bissalanca, mas não me consta que ele alguma vez tenha voado os Dakotas!
Mas convenhamos que eu por esses tempos era muito distraído…
Enfim, estórias...cada um conta a que quer!!!!
Um abraço a todos.
Mário Santos
Caros amigos,
Que eu saiba, em Catio a unica pista de avioes que existe eh a de Cufar, mas que ja existia antes da independencia como todos sabem.
Eu sei que eram feitos voos regulares de avionetas para o Sul (Catio e Cacine), utilizando as antigas pistas de aterragem da tropa colonial.
Porque eh que iam construir novas pistas se podiam utilizar as existentes e em bom estado na altura?
Ha um proverbio africano que diz: Mesmo se a tua terra eh longe, nunca fale de coisas que la nao existem".
Um abraco amigo,
Cherno AB.
Antes da guerra já existiam pistas de aviação, tanto em Catió, como em Cufar, não sei desde quando, mas, certamente construídas na Administração civil.
Mais um abraço,
JS
Antes de 1961 já havia pistas de aviação em Catió e em Cufar.
Grandes 'modernices' para a Guiné, já que por cá só na Portela, em Lisboa, Pedras Rubras, no Porto, e em Bases da FA havia pistas de aviação.
Valdemar Queiroz
A pista de catio tem um deposito de agua que abastece a cidade e algumas casas.fica no caminho para o porto. A de cofar as veses esta fechada por uns ramos de cajueiros ou algumas vacas a pastar. Patricio Ribeiro
Obrigado Gabriel Sacôto, realmente é um DC6 da Douglas, ando sempre a confundir com o DC8. Desculpem o engano.
Afinal aquilo do Dakota era mesmo uma estória, mas com graça, diga-se a verdade e já deu para alguns comentários, ao contrário de tantos Postes que ninguém comenta.
Um abraço,
Virgilio Teixeira
Esta mnão é menos "insólita" e só podia acontecer na "nossa" terra, Guiné-Bissau:
África 1980 – Segunda Aventura
por Francisco George
Em 1980 fui colocado em Bissau, no âmbito do recrutamento como novo membro do staff da OMS, depois de terminados os procedimentos administrativos e de informação técnica na Sede Regional em Brazzaville.
A chegada à Guiné-Bissau foi tranquila. O Escritório da OMS tinha como Representante o médico de nacionalidade espanhola Garcia Morilla. A correspondência quer com Genebra quer com Brazzaville era assegurada pelo serviço semanal de Mala Diplomática. Para além disso, só telegramas através dos Correios garantiam ligações rápidas, uma vez que, na altura, não se podia contar com telefones.
Garcia Morilla estava muito perto de atingir a idade da aposentação que era de 62 anos. O calendário de folhas soltas em cima da sua secretária tinha a enumeração decrescente até ao seu último dia de trabalho. Quando o encontrei pela primeira vez faltavam 421 dias, no dia a seguir diminuiu para 420, depois 419 e assim por diante. Invariavelmente, todos os dias pela manhã, mostrava-me a folha correspondente com assinalável satisfação ao verificar que a distância ia ficando cada vez mais encurtada. Ausentava-se com frequência para se deslocar a Cabo Verde, visto que a Representação assegurava a cobertura dos dois Estados, politicamente ligados desde o tempo da Luta de Libertação conduzida pelo PAIGC.
O dia 14 de Novembro de 1980 foi igual aos anteriores até à hora do jantar. Depois, foi bem diferente como se verá. Julgo que Morilla estaria em Cabo Verde.
Como habitualmente, jantei no “Hotel 24 de Setembro” (antiga messe de oficiais do Quartel General do tempo colonial). Muitos cooperantes, mesmo os que não ficavam nem jantavam no Hotel, concentravam-se na magnífica esplanada a fim de tomarem café ao ar livre e, sobretudo para a conversa. Discutiam-se temas sobre o desenvolvimento, sobre política Africana e, naturalmente, sobre Portugal da AD de Sá Carneiro.
Ora, pelas nove da noite, repentinamente, ouvem-se uns ruídos, percebem-se correrias, pessoas espantadas, muito assustadas e, de forma inesperada, surgem grupos de militares rebeldes que montam uma metralhadora pesada no centro da esplanada. Logo de seguida, o Comandante dá ordem para todos levantarem as mãos. Momentos depois estavam todos os guineenses e cooperantes, incluindo eu, com mãos ao alto, surpreendidos, sem sabermos o que se seguia. Todos nós compreendemos, rapidamente, que eram manobras integradas num golpe para derrubar o Presidente Luís Cabral. No meio deste cenário, surge o gerente do hotel a pedir ao chefe dos revoltosos para os clientes pagarem as respectivas contas. É então que é dada nova ordem: “Todos pagam primeiro as dívidas do café e logo depois voltam a levantar as mãos”…
A situação, apesar de caricata, foi apagada pelo medo generalizado. Medo misturado com a esperança de um futuro melhor.
Era o Movimento de Nino Vieira. Afinal, o grande herói da Luta que todos admiravam e respeitavam. A confiança era imensa. Julgavam que a pobreza podia ser combatida como Nino fizera contra o exército de Spínola. Era agora que o País iria para a frente, pensaram muitos.
(...)
Vejam o desfecho aqui:
http://www.dossierdelutas.pt/category/memorias-de-africa/
O último a rir é sempre o que tu melhor... o Pombo deve a rebolar se a rir da partida que pregou aos "doutores"... Lá no Olimpo dos Malucos das Máquinas Voadoras. Ab, LG
Nunca comentei esta "estória" com o meu amigo e colega Francisco George, um grande "africanista"... Mas ela é, antes de mais, uma homenagem ao nosso camarada, o comandante Pombo...
Não está em causa a competência e honestidade do coamdante Pomobo: ele podia ser um dos "nossos gloriosos malucos das máquinas voadoras", mas não era um caso "patolóico", um "assassimo" e um "suicida"... O seu currículo atesta-o e não é por acaso que a FAP lhe incumbe da missão (prestigiante) de ser o piloto privativo do primeir presidente da República da Guiné-Bissau, logo em 1974...
Brincalhão, devia ser, tal como o também nosso conhecido sargento piloto Onório, outro "glorioso maluco das máquinas voadoras"... Eu acho que esta "estória" é uma grandessíma partida do Pombo (de bom gosto, e genial...) aos "cooperantes" que embarcaram. no Dakota , em Catió, em 1983...
E a propósito, Catió ou Cufar ? Se calhar era Cufar, onde os portugueses deixaram uma belíssima pista com capacidade para aterrar e descolar os aviões da nossa FAP...
Boa continuação das férias e nunca percam o sentido de humor... Luís
Tenho gratas recordações, tanto do Pombo como do Onório, com quem viajei em 64/65, o primeiro como piloto civil, o segundo como piloto militar.
Gratas recordações...
As minhas homenagens a ambos e que descansem em paz até ao nosso fatal reencontro.
JS
Gostei de ler as aventuras do colega de Luis Graca Francisco George
Mas ele contou apenas 4 aventuras, mas esteve lá muitos mais dias.
Só 1980 teve 365 dias.
Peço desculpa pelas gralhas, detesto escrever no telemóvel, nas esplanadas dos cafés:
(...) Não está em causa a competência e honestidade do COMANDANTE POMBO: ele podia ser um dos "nossos gloriosos malucos das máquinas voadoras", mas não era um caso "PATOLÓGTICO", um "ASSASSINO" e um "suicida"... O seu currículo atesta-o e não é por acaso que a FAP lhe incumbe A "MISSÃO" (prestigiante) de ser o piloto privativo do primeiro presidente da República da Guiné-Bissau, logo em 1974...
Mais gralhas:
(...) O último a rir é sempre o que RI melhor... o Pombo deve ESTAR a rebolar-se a rir da partida que pregou aos "doutores"... Lá no Olimpo dos Malucos das Máquinas Voadoras. Ab, LG (...)
O comandante Pombo tem 22 referências no nosso blogue e parecia-me um homem com sentido de humor, pelo pouco que com ele convivi:
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Comandante%20Pombo
Não conheço, pessoalmente, a dra. Clotilde Silva, pediatra, colega do dr. Francisco George, na Guiné-Bissau, em 1983... Espero que ainda esteja viva e, se nos ler, nos possa confirmar esta história que é de facto, insólita mas deliciosa...
Concordo com o nosso camarada, o comandante João Sacôto, que nunca poderiam ser 6 homens a empurrar um Dakota para ele pegar... em o Dakota algum dia iria "pegar de empurrar"... A minha leitura é muito mais simples: só pode ter sido uma "partida" do comandante Pombo...
Depois de reler todos os posters, com este assunto relacionados, só podemos, realmente , chegar à conclusão que o Pombo era um brincalhão pregou uma grande partida aos passageiros naquele dia e, tenho a certeza que não foi a única vez que pregou esta partida, pois a sua realização implica muita coordenação com toda a tripulação e até algum treino ou um bom planeamento difícil de executar sem falhas. Confesso que a minha primeira reação foi achar que seria partida do Dr. Francisco Jorge pregada aos seus familiares e amigos, mas refletindo melhor, não há dúvida foi uma de muitas partidas do Pombo aos seus passageiros.
Nos idos anos 70, um colega comandante da TAP, voando o saudoso Caravell, também brincou com os seus passageiros, pregando~lhes uma partida, durante um "pushback".
Um abraço,
JS
Ainda sobre o Comandante Pombo, cuja cara não me é estranha na foto publicada, eu além de viajar nas aeronaves militares, fiz também pelo menos 4 viagens em aviões do TAGP nas minhas duas viagens de férias à metrópole, ainda tenho um bilhete pelo menos, (225$00), de São Domingos-Bissau. Metade delas fiz nas DO iguais às militares, e as outras no CESSNA que também fazia estas viagens, e levava salvo erro meia dúzia de passageiros. Numa destas pelo menos se lá estava entre 67/69, fui com ele, embora não afirme.
Quanto ao Sargento Honório eu acho que era mais conhecido do que as Ostras, fiz uma viagem com ele em DO, mas não fez piruetas no ar, grande piloto.
Para ambos que já partiram, lá nos encontraremos, do outro lado da vida, na viagem sem avião e sem piloto. Que descansem em paz.
Agora esta estória, foi uma boa partida, venha ele de onde vier, pelo menos deu para parodiar e lembrar outras cenas e conhecer melhor outras vidas que não as
nossas apenas.
Virgilio Teixeira
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