1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Julho de 2022:
Queridos amigos,
O nome Osvaldo Lopes da Silva está diretamente associado à presença de quadros cabo-verdianos que tiveram um papel da maior importância nos derradeiros anos da luta. Leopoldo Amado já entrevistara longamente este quadro do PAIGC e do PAICV tudo a propósito da sua participação no cerco de Guileje. É um documento memorial de quem acompanhou ininterruptamente durante 28 anos a história da URSS e procurou estudar as sucessivas evoluções até à desintegração da URSS. Julião Soares Sousa saudará no prefácio a importância destes testemunhos, que são raríssimos. Atenda-se ao que ele vai escrever sobre o papel da URSS não só no apoio ao PAIGC como no relacionamento havido com outros movimentos de libertação. Não é surpresa o que ele escreve do mau relacionamento entre o aparelho dirigente soviético e o MPLA.
Um abraço do
Mário
Memórias de um quadro do PAIGC e PAICV na União Soviética
por Mário Beja Santos
"Crónicas Soviéticas", por Osvaldo Lopes da Silva, Rosa de Porcelana Editora, 2021, é uma narrativa de índole memorial centrada fundamentalmente na década de 1960 e que acompanha a vida deste quadro do PAIGC e PAICV no seu relacionamento com a URSS, até ao seu desmembramento.
O autor chega a Moscovo em finais de 1961, manterá uma relação ininterrupta de 28 anos com o país. Irá recordar as vivências do estalinismo, a ascensão de Khrushchov, a crise dos mísseis, a queda de Khrushchov, a invasão da Checoslováquia, uma narrativa que se prolongará até 1989, data em que ele visita pela última vez a URSS. Considera-se testemunha privilegiada da vida da União Soviética. Fala-nos dos seus estudos em Kiev, a tentativa dos anfitriões em dar explicações para as crises da Polónia e da Hungria, a doutrina da coexistência pacífica, mas o autor vai detetando situações anómalas, um exemplo.
“Na impossibilidade em que Cabo Verde se encontrava nenhuma intervenção no sentido de alterar uma evolução política que se anunciava destrutiva, fazíamos apelo aos amigos que nos acompanharam na Luta que se aproximassem mais dos guineenses, com ajuda e aconselhamento. Foi-me assegurado que a nossa interpretação dos acontecimentos ocorridos na Guiné-Bissau tinha pleno cabimento nas análises das autoridades soviéticas e aconselhavam-nos a deles tirar uma inequívoca conclusão: o projeto de Unidade Guiné-Cabo Verde estava morto e enterrado; tentar ressuscitá-lo só podia levar à desnecessária confrontação.”
O autor dedica um capítulo ao papel da URSS nas lutas de libertação, desvela que Khrushchov era apoiante da descolonização, daí a criação da Universidade Patrice Lumumba para milhares de jovens do terceiro mundo, e concedeu uma ajuda multiforme aos movimentos de libertação nacional.
Osvaldo Lopes da Silva cursava Engenharia Civil em Portugal quando, em 1961, aderiu ao PAIGC e partiu para o exílio. Completou o curso de Economia em Moscovo, foi comandante de artilharia na luta armada na Guiné, teve papel relevante no cerco a Guileje. Com a independência de Cabo Verde assumiu as pastas ministeriais da Economia e Finanças e posteriormente dos transportes, comércio e turismo.
É, indiscutivelmente, um ensaio histórico a ter em conta não propriamente por relato que o autor nos dá da evolução da URSS, mas do seu papel com as lutas de libertação nacional, havendo referências bem claras do apoio dado pela URSS ao PAIGC.
O autor chega a Moscovo em finais de 1961, manterá uma relação ininterrupta de 28 anos com o país. Irá recordar as vivências do estalinismo, a ascensão de Khrushchov, a crise dos mísseis, a queda de Khrushchov, a invasão da Checoslováquia, uma narrativa que se prolongará até 1989, data em que ele visita pela última vez a URSS. Considera-se testemunha privilegiada da vida da União Soviética. Fala-nos dos seus estudos em Kiev, a tentativa dos anfitriões em dar explicações para as crises da Polónia e da Hungria, a doutrina da coexistência pacífica, mas o autor vai detetando situações anómalas, um exemplo.
“O que ainda restava da paranoia securitária da era de Estaline atingia por vezes os limites do ridículo. Os cidadãos soviéticos não dispunham de lista telefónica. Nem mesmo os da maior cidade, Moscovo, com os seus 6 milhões de habitantes. Para ultrapassar a situação, a cidade de Moscovo, que já era imensa nos anos 60, era servida por uma rede de uns 10 quiosques, não mais, cada um depositário de uma lista telefónica.”
E descreve os interrogatórios de quem estava do lado de lá do balcão, tão minuciosos que afastavam os mais afoitos. Relata a vida universitária dos estudantes de África, Ásia e América Latina, as conversas havidas com antigos presos políticos, as prisões mais arbitrárias que imaginar se possa.
E descreve os interrogatórios de quem estava do lado de lá do balcão, tão minuciosos que afastavam os mais afoitos. Relata a vida universitária dos estudantes de África, Ásia e América Latina, as conversas havidas com antigos presos políticos, as prisões mais arbitrárias que imaginar se possa.
E acompanhamos as estimas e amizades que ele vai fazendo com gente que lhe fala da História da Rússia, ainda do tempo do Romanov e da ascensão do bolchevismo, dir-se-á que não há aqui elementos históricos novos, mas é uma narrativa muito bem-apresentada,
Osvaldo Lopes da Silva disseca o estalinismo em todo o esplendor dos seus crimes, vamos perceber o ódio enraizado dos polacos contra os russos, e mesmo antes da Segunda Guerra Mundial. Temos o corolário das purgas, antes de mais dos leninistas da primeira hora até ao complô que estava a ser montado sobre médicos judeus, estava igualmente prevista uma purga de físicos mas Estaline e Béria retraíram-se quando o físico-chefe deu a saber que o fabrico da bomba atómica se baseava na teoria da relatividade e da mecânica quântica, isto quando o aparelho comunista se preparava para exorcizar a “teoria idealista” da relatividade.
A narrativa prossegue dando conta da política de Estaline durante a Segunda Guerra Mundial, dos problemas emergentes com a China, as infâmias do acordo germano-soviético de não agressão de 1939, temos depois a era de Khrushchov, inicialmente cheia de esperanças, o abalo provocado pela crise dos mísseis de Cuba, a nova liderança soviética com Brejnev à frente, um período hoje inequivocamente classificado como de estagnação e da burocracia toda poderosa.
Em finais de janeiro de 1967, Amílcar Cabral chegou a Moscovo vindo de Cuba, dá instruções a Osvaldo para partir para Conacri. Está nessa altura em preparação uma formação militar em que participaram cabo-verdianos com novo armamento destinado à guerrilha. Salta o seu relato para a separação de Guiné-Bissau de Cabo Verde e escreve o seguinte:
A narrativa prossegue dando conta da política de Estaline durante a Segunda Guerra Mundial, dos problemas emergentes com a China, as infâmias do acordo germano-soviético de não agressão de 1939, temos depois a era de Khrushchov, inicialmente cheia de esperanças, o abalo provocado pela crise dos mísseis de Cuba, a nova liderança soviética com Brejnev à frente, um período hoje inequivocamente classificado como de estagnação e da burocracia toda poderosa.
Em finais de janeiro de 1967, Amílcar Cabral chegou a Moscovo vindo de Cuba, dá instruções a Osvaldo para partir para Conacri. Está nessa altura em preparação uma formação militar em que participaram cabo-verdianos com novo armamento destinado à guerrilha. Salta o seu relato para a separação de Guiné-Bissau de Cabo Verde e escreve o seguinte:
“Na impossibilidade em que Cabo Verde se encontrava nenhuma intervenção no sentido de alterar uma evolução política que se anunciava destrutiva, fazíamos apelo aos amigos que nos acompanharam na Luta que se aproximassem mais dos guineenses, com ajuda e aconselhamento. Foi-me assegurado que a nossa interpretação dos acontecimentos ocorridos na Guiné-Bissau tinha pleno cabimento nas análises das autoridades soviéticas e aconselhavam-nos a deles tirar uma inequívoca conclusão: o projeto de Unidade Guiné-Cabo Verde estava morto e enterrado; tentar ressuscitá-lo só podia levar à desnecessária confrontação.”
O autor dedica um capítulo ao papel da URSS nas lutas de libertação, desvela que Khrushchov era apoiante da descolonização, daí a criação da Universidade Patrice Lumumba para milhares de jovens do terceiro mundo, e concedeu uma ajuda multiforme aos movimentos de libertação nacional.
Os soviéticos eram pragmáticos, preferiam concentrar a ajuda na formação de quadros militares qualificados e graduar o fornecimento de material bélico à medida que o movimento de libertação nacional desse provas de controlar o terreno. Não esquece o grave diferendo sino-soviético e dá-nos uma imagem dos primeiros anos da luta dos movimentos de colónias portuguesas.
“O material fornecido pela União Soviética ao PAIGC começou por ser constituído por pistolas Makarov, carabinas SKS, pistolas metralhadoras PPCha, a pachanga dos guerrilheiros, morteiros, canhões sem recuo, tudo material que abarrotava os paióis dos tempos da II Guerra Mundial e que já não tinha qualquer utilidade para as renovadas e modernizadas forças armadas soviéticas.”
Refere o salto qualitativo de 1969 com os cursos abarcando artilharia, minas e armadilhas, o PAIGC passou a receber os mísseis terra-terra GRAD e cada vez mais AK, em detrimento de PPCha.
E recorda que o ponto mais alto da ajuda militar da URSS ao PAIGC foram os mísseis antiaéreos Strela. Essa ajuda militar dava especial atenção à formação militar, em centros de formação ou em bases navais.
E recorda que o ponto mais alto da ajuda militar da URSS ao PAIGC foram os mísseis antiaéreos Strela. Essa ajuda militar dava especial atenção à formação militar, em centros de formação ou em bases navais.
Também foi dispensado apoio à formação de pessoal de saúde, formaram-se algumas centenas de ajudantes de enfermagem. É igualmente referido que o principal interlocutor de Cabral era Boris Ponomariov, o responsável pela programação anual da ajuda soviética na luta do PAIGC. É aquando de uma dessas visitas que o autor nos relata o que pensava sobre a unidade de Guiné-Cabo Verde e as discussões havidas com Cabral. Osvaldo tinha sérias reservas, como escreve.
“A simples constatação da existência de fortes resistências ao projeto de unidade no seio de guineenses e de cabo-verdianos, as quais tenderiam a agudizar-se depois de vencido o inimigo comum, o colonialismo português, só poderia reforçar as minhas reservas. A plataforma que eu proporia seria no sentido de salvar o que fosse possível do relacionamento entre guineenses e cabo-verdianos, apresentado abertamente a unidade como um contrato para a luta, entre partes reconhecidamente diferentes, com claro respeito pela personalidade nacional de cada uma delas.”
E discute com Cabral, que lhe pergunta mesmo se ele pensava que queria impor a unidade pela via autoritária, se não tinha confiança nele. Ao que Osvaldo respondeu:
“Tenho toda a confiança no camarada Cabral. Não tenho é confiança num projeto que depende, em tudo, da boa fé de um só homem.”
O autor conclui a sua narrativa com a descrição da cooperação Cabo Verde-União Soviética.
Como observa em prefácio Julião Soares Sousa, há um mérito maior neste trabalho.
Como observa em prefácio Julião Soares Sousa, há um mérito maior neste trabalho.
“É que são praticamente inexistentes memórias de quadros de movimentos de libertação que, tendo feito formação na URSS ou algures. se predispuseram a relatar as suas vivências. Não podia deixar de enfatizar a importância deste contributo de Osvaldo Lopes da Silva para a História Contemporânea.”
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Nota do editor
Último poste da série de 1 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23401: Notas de leitura (1460): “O percurso geográfico e missionário de Baltasar Barreira em Cabo Verde, Guiné, Serra Leoa”, por Graça Maria Correia de Castro; Sociedade Histórica da Independência de Portugal, 2001 (Mário Beja Santos)
Osvaldo Lopes da Silva, fotografia da Infopress de Cabo Verde, com a devida vénia
Fotografia tirada na base de formação militar de Perevalnei (Crimeia), em abril de 1969. Vê-se, da esquerda para a direita: Osvaldo Lopes da Silva, Samora Machel, oficial soviético, Amílcar Cabral, Agostinho Neto e não identificado.____________
Nota do editor
Último poste da série de 1 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23401: Notas de leitura (1460): “O percurso geográfico e missionário de Baltasar Barreira em Cabo Verde, Guiné, Serra Leoa”, por Graça Maria Correia de Castro; Sociedade Histórica da Independência de Portugal, 2001 (Mário Beja Santos)
12 comentários:
Curioso que este caboverdeano pensava aquilo que muitíssimos caboverdeanos emigrados em Angola, mais talvez que na Guiné, pensavam sobre a ideia de Amílcar Cabral, diziam eles com sotaque acrioulado, Amílcar parbo.
Isto não impedia que Amílcar não fosse para eles muito admirado por todos.
Vd. aqui conversa, em português, com Osvaldo Lopes da Silva, da Fundação Amílcar Cabral, em programa da Rádio Televisão de Cabo Verde (RTC):
Show da Manhã: Conversa com Osvaldo Lopes da Silva, da Fundação Amílcar Cabral
rtc · 12 set 2018 17:54 ! Duração: 14' 47''
https://lifestyle.sapo.pt/video/lZ9zCrvuNvfCgaIUl4Yl
... Para ouvir e comentar, criticamente.
Caros amigos,
O homem não identificado deve ser o angolano Mário de Andrade que foi Presidente interino do MPLA e, mais tarde, dissidente do mesmo partido. Na GBissau do pós-idependência, salvo erro, exerceu funções de Director da Cultura e fez importante trabalhos de recolha e organização de trabalhos de ACabral.
Oh, meu caro Luís Graça, porque é que o Osvaldo Lopes da Silva há de continuar a falsificar, a a aldrabar a nossa História comum?
1- Porque não avança e explica a morte de Amílcar Cabral, às mão dos seus próprios correligionários.
2-Porque mente quanto ao efeito dos Strela? É verdade que foram um revés para as NT, mas os nossos Fiats, DOs, helicanhões, Noratlas, continuaram a voar, e muito, até Abril de 1974 e a despejar toneladas e toneladas de bombas sobre os guerrilheiros do PAIGC. Porque mentem estes homens, porque falsificam a nossa História? Temos nestes blogue o testemunho honesto e verdadeiro dos pilotos de FIATS 1972/1974 António Martins de Matos, do Niguel Pessoa.
Os anos passam e continuamos a ter gente a falsificar a verdade.
Abraço,
António Graça de Abreu
"Os anos passam e continuamos a ter gente a falsificar a verdade"... António, estou inteiramente de acordo contigo. E por isso eu deixei o "aviso": ouçam e comentem, criticamente (referi-ame à "conversa", de há 4 anos atrás, do Osvaldo Lopes da Silva, na RTC)...
O Osvaldo Lopes da Silva, "combatente da liberdade da Pátria", foi formatado pelo "pensamento único" na antiga União Soviética, foi (dizem) um "grande artilheiro" (em Guileje, e pouco mais), foi ministro durante o regime único de Cabo Verde, com o PAIGC, a seguir à independência...
Nem sequer enveredou pela carreira das armas, acho eu (peço menos não faz parte da lista dos históricos fundadores das Forças Armadas de Cabo Verde)... Mas continua a ser um admirador (mmesmo que crítico, por exemplo,em relação à questão da unidade Guiné-Cabo Verde) de Amílcar Cabral (figura controversa em Cabo Verde)... Está ligado à Fundação Amílcar Cabral, vive numa ilha... Tem oitenta e seis anos, já deve ter poucos amigos (e admiradores) e vai morrer com as suas "memórias" e a sua "verdade"...
Querias que ele fizesse autocrítica e haraquiri em público ? Com todos os membros de todas as "igrejas", não o vai fazer... Claro que, depois da "queda do muro de Berlim", do colapso da União Soviética, do fim do mito dos "amanhãs que cantam" e de tantos outros mitos, da decadência irreversível dos partidos comunistas na Europa, etc, é natural que hoje comecem a aparecer "crónicas soviéticas" e outras memórias... E ainda bem, mesmo que tardiamente...
Concordo contigo, quando dizes: "Porque mente quanto ao efeito dos Strela? É verdade que foram um revés para as NT, mas os nossos Fiats, DOs, helicanhões, Noratlas, continuaram a voar, e muito, até Abril de 1974 e a despejar toneladas e toneladas de bombas sobre os guerrilheiros do PAIGC. Porque mentem estes homens, porque falsificam a nossa História? Temos nestes blogue o testemunho honesto e verdadeiro dos pilotos de FIATS 1972/1974 António Martins de Matos, do Miguel Pessoa"...
Agora há uma coisa em que podemos divergir: a nossa "história comum" (Portugal, Guiné, Cabo Verde) não pode ser escrita "só deste lado", e muito menos com tiques eventualmente de sobranceria, da nossa parte.
António e Luís, até em Portugal alguma gente acompanhou ou ficou na dúvida se foram os "portugueses que mataram Amílcar Cabral", e como a campanha anti-colonial estava tão bem urdida pelos dirigentes caboverdeanos, que creio que ainda hoje andam alguns "esquerdismos" em Portugal com essa fé-
Eu por mim, que saí de Portugal (Angola) ainda em 1974, também fiquei na dúvida, pois eu era estranho a qualquer política e politiquice, sentia-m tão feliz no dia 24 de Abril, em Angola, que só voltei, para Portugal, e logo para Bissau, em Janeiro de 1980.
Aí fiz "o meu inquérito" distraidamente, durante vários anos perguntando sobre o assunto do assassinato de Amílcar Cabral, e na Guiné (o povo sabe tudinho) ninguém negava que fossem os portugueses, respondiam em geral com um tique estranho, que é um estalido feito com a língua, e viravam as costas, e estava dada a resposta.
Mas com o correr dos anos, fui aprofundando o assunto quando cheguei à conclusão que foram uns tantos caboverdeanos, muitíssimos poucos, que abreviaram o inevitável, e ainda na Guiné, verifiquei que ninguém reconhece o esforço e sacrifício do povo guineense, nem caboverdeanos, nem angolanos nem moçambicanos.
Agora uma coisa os caboverdeanos não querem reconhecer, que não foram os portugueses que assassinaram Amílcar Cabral, como eles e russos e cubanos e Sekou Toure propolaram aos 4 ventos, naquele momento em Conakry para o mundo inteiro.
Até escreveram um livro, os soviéticos a explicar tim-tim-por-tim-tim como as coisas ocorreram.
Mas uma coisa os caboverdeanos, hoje, podiam muito bem dizer ou parcialmente aceitar que a psico-social deles PAIGC, com as bocas do "catchurro com dos pés" contra as bocas de Spínola da "Guiné é dos Guineus" teve imenso impacto psicológico negativo anti caboverdeano nas hostes do PAIGC, e que moralmente haverá uma quota parte "spinolista" na revolta dos combatentes, e não lhe ficava nada mal ao PAICV, aceitar parcialmente essa realidade, aliás demonstrada com o 14 de Novembro contra o irmão de Amílcar.
Este Osvaldo Lopes da Silva é sobrinho do grande escritor cabo-verdiano, Baltazar Lopes (pai da literatura cabo-verdiana, a par do poeta Eugénio Tavares).
O "Chiquinho", o seu grande romance, é uma obra que eu li de um fôlego, e que ainda hoje gosto de reler... Tinha um filho no PAIGC, mas ele nunca se comprometeu publicamente com o PAIGC... E foi inclusivamente condecorado pelo Governo Português do antigamente...
https://expressodasilhas.cv/exclusivo/2017/04/29/baltasar-lopes-um-homem-para-alem-do-seu-tempo/53021
https://expressodasilhas.cv/exclusivo/2017/04/29/baltasar-lopes-um-homem-para-alem-do-seu-tempo/53021
Baltasar Lopes: Um Homem para além do seu Tempo
Expresso das Ilhas, 29 abr 2017 6:00
https://expressodasilhas.cv/exclusivo/2017/04/29/baltasar-lopes-um-homem-para-alem-do-seu-tempo/53021
Trata-se de um entrevista com Leão Lopes, sobre o professor, pedagogo, filólogo e escritor Baltazar Lopes (não sei se têm algum parentesco).
Aconselho a ler... O Leão Lopes, personalidade multifacetada (artista plástico, cineasta, escritor, investigor,professor universitário...) fez a sua tese de doutoramento, em França, na Universidade de Rennes II, em 2002 ("Baltasar Lopes: 1907-1989).
https://pt.wikipedia.org/wiki/Le%C3%A3o_Lopes
O que a entrada na Wikipédia não diz é que o Leão Lopes foi nosso camarada em Bambadinca, ao tempo do BART 2917 (1970/72). Era então furriel miliciano do BENG 447... Tem cinco referências no nosso blogue...
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Le%C3%A3o%20Lopes
António Rosinha
"...do assassinato de Amílcar Cabral, e na Guiné (o povo sabe tudinho) ninguém negava que fossem os portugueses..", provavelmente sabiam que a PIDE tinha informadores/colaboradores de todos os "portugueses de Minho a Timor"
A propósito, existe um documento/informação do Chefe de Posto da DGS do Mindelo, para o Chefe da Delegação da DGS, da Praia, que dá conta do seguinte:
"..........
Assunto: Colaborador
Para os devidos efeitos....
1-Encontra-se nesta Cidade, como tripulante do navio panamiano "...", o colaborador acima citado.
2-O mesmo, informou este posto, de que tem aliciados um grupo de seis indivíduos, prontos a dinamitar o depósito de munições do P.A.I.G.C., em Conakry, e a liquidarem o Amílcar Cabral.
3-A cada um estes indivíduos seria pago pela D.G.S. Dez Mil Escudos, caso estas operações tivessem pleno êxito.
4-A importância será paga depois das operações concluídas.
5-Por o assunto me parecer de interesse, levo-o à superior apreciação apreciação de V.Exª.
A Bem da Nação
Mindelo e Posto da D..S., 28 de Setembro de 1970 "
Então, este documento faz parte da acusação da PIDE estar metida no assassinato, a não ser que os dois Chefes da PIDE fossem cabo-verdianos, teriam sido os portugueses a tratar liquidar Amílcar Cabral.
Saúde da boa
Valdemar Queiroz
Valdemar, a sul da Madeira, quem se fiava nos informadores, como os "funcionários" da PIDE, sim porque a maioria deles funcionavam como funcionários públicos que iam em comissões de 4 anos, eram mais os barretes que enfiavam do que qualquer sucesso.
Limitavam-se a tratar os "turras" se a tropa lhos traziam de bandeja e pouco mais.
Apenas quem falasse os idiomas teria algum sucesso, de contrário era só barretadas, por isso é histórico que Spínola os evitava o mais que podia, assim como em Angola muitos Governadores de distrito fazia o mesmo que Spínola.
Houve casos caricatos, que nomeio um por tão público, em que em Angola/1966 uma vila (Teixeira de Sousa)é invadida por um grupo enorme de turras que durante a noite percorrem as ruas atacam o quartel e a única vítima mortal, surpreendida à saída noturna de uma visita feminina, foi precisamente o chefe da PIDE local.
Antº Rosinha e restantes camaradas
O ataque a Teixeira de Sousa (agora chamada Luau), junto à fronteira leste de Angola com o Congo, no dia de Natal, 25 de dezembro de 1966, foi obra da UNITA. Foi o primeiro ataque de todos quantos este movimento fez, tendo marcado a entrada na guerra por parte da UNITA, treinada e armada pela China maoista. Veja-se, a este respeito, a reportagem feita na época pela RTP:
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/inquerito-em-teixeira-de-sousa/
Fernando de Sousa Ribeiro
Porque no facebook o nosso camarada Amilcar Ventura diz que eu menti e que a verdade é que os Fiats deixaram mesmo de voar, tranascrevo a minha resposta ao Amílcar Ventura:
Não minto, não senhor Ventura. Os fiats voaram e bombardearam até Maio de 1974. Eu estive sediado em Cufar, sul da Guiné, CAOP 1 e Ccaç. 4740 até 20 de Abril de 1974. Como alferes, um dos meus trabalhos era, com a tropa de Cufar, dar apoio à Força Aérea que usava a pista de asfalto de Cufar, três quilómetros asfaltados. Como alferes da pequena logística de um Comando de Operações conheci praticamente todos os pilotos da Força Aérea que todos os dias voavam de Bissau para Cufar. Até Abril de 1974 voei com eles nos Noratlas, Allouette 3 e nas DOs, para Bissau e nos reabastecimentos dos aquartelamemtos mais a sul, Cobumba, Cabedu, Cafal, Caboxanque, Cadique, Bedanda, Cacine. Os Fiats bombardeavam e davam a cobertura aérea, até Abril de 1974.
Não falem nem tenham certezas sobre o que não conhecem, sobre o que não sabem.
Abraço,
António Graça de Abreu
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