quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25221: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Anexos: IV. Excertos do relatório da Op Safira Solitária (Morés, 20-24Dez71)

 

João de Almeida Bruno: em 20-24Dez71, já major, comandou a Op Safira Solitária. E será, com este posto, o primeiro cmdt do Batalhão de Comandos da Guiné entre nov72 e e jul73.0

O PAIGC, em comunicado em francês, dactilografado,  datado da noite de 4 de janeiro de 1972 (sic), diz que esta operação  mobilizou 800 inimigos, que tentaram em vão penetrar no coração do Morés (considerado um dos grandes santuários da guerrilha),  mas  que se saldou por uma retumbante derrota, com mais de 100 soldados colonialistas mortos !... E, no final, acrescenta-se, para nissov espanto: "o comandante da operação suicidou-se!"... (Iremos, em próximo poste, traduzir e reproduzir este delirante comunicado da propaganda do partido do Amílcar Cabral; e uma peça de antologia!)


 

Capa do livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, il., edição esgotada) 




O autor, em Bafatá, sua terra natal, por volta de meados de 1966.
(Foto reproduzida no livro, na pág. 149)


1. Ainda com base no manuscrito, digitalizado, do livro do Amadu Bailo Djaló, "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, il., edição esgotada) (*), estamos a  publicar alguns "Anexos" (pp. 287-299).

O nosso camarada e amigo Virgínio Brioe, o editor literário ou "copydesk" desta obra , facultou-nos uma cópia digital. (O Virgínio, com a sua santa paciência e a sua grande generosidade, gastou mais de um ano a ajudar o Amadu a pòr as suas memórias direitinhas em formato word, a pedido da Associação dos Comandos, a quem, de resto, manifestamos também o nosso apreço e gratidão...).

O Amadu Djaló, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem mais  de 120 referências no nosso blogue. Tinha um 2º volume em preparação, que a doença e a morte não lhe permitaram ultimar. As folhas manuscritaas foram entregues ao Virgínio Briote com a autorização para as transcrever (e eventualmente publicar no nosso blogue). Desconhecemos o seu conteúdo, mas já incentivámos o nosso coeditor jubilado a fazer um derradeiro esforço para transcrever, em word, o manuscrito do II volume (que ficou incompleto). E ele prometei-nos que ia começar a fazê-lo, "para a semana"...

 Reprduz-se a seguir o relatório (resumido) da Op Safira Solitária, Morés, 20-24Dez1971

Anexos

IV. Excerto do Relatório da operação “Safira Solitária” [1]


De 20DEZ71 a 24DEZ71, na região de Morés


- Cmdt: Major Almeida Bruno

- Adjunto Operacional: Tenente Saiegh/Cmdt 1ª CCmdsAfri

Forças envolvidas: 1ª e 2ª CCmdsAfri

- Agrupamento Alfa – Tenente Saiegh/Cmdt 1ª CCmdsAfri/4 GrsCmds (100H)

- Agrupamento Bravo – Alferes Carolino Barbosa/2º CCmdsAFRI4/4 GrsCmds (100H)

- Agrupamento Charlie (Reserva) – Alferes Candé/2ª CCmdsAfri/2 GrsCmds da 1º e 2ª CCmdsAfri (40H)


Desenrolar da acção:


  • Dia 21Dez71


- 0900 – IN emboscou NT entre ponto 9 e 10. Causados 04 mortos ao IN. NT sofreram 01 ferido grave e 05 ligeiros;

- 0945 – NT flageladas com mort. 82 em Santambato;

- 1030 – NT assaltaram o objectivo 40, tendo sido abatidos 68 elementos IN;

- 1100 – NT emboscaram Gr IN, causando 06 mortos, no objectivo 40;

- 1125 – NT flageladas com mort. 82 em Gã Fará;

- 1345 – Em encontro frontal das NT com Gr IN, estes sofreram 04 mortos e as NT 05 feridos ligeiros, junto ao objectivo 41;

- 1500 – NT foram emboscadas pelo IN sem resultados junto ao ponto 41;

- 1530 – Junto do objectivo 33, o IN sofreu 06 mortos e as NT sofreram 01 morto e 01 ferido ligeiro;

- 1630 – Capturados 09 elementos da população no ponto 29;

- 1700 – NT emboscadas pelo IN na cambança 7, sem resultados.

  • Dia 22Dez71

- 0600 – IN emboscou NT junto do objectivo 25 e sofreu 01 morto;

- 0730 – NT assaltaram um objectivo junto do ponto 25 e abateram 17 elementos IN;

- 0900 – IN emboscou no objectivo 25. IN sofreu 03 mortos e NT 01 ferido grave;

- 1030 – IN emboscou NT junto ao objectivo 25, sofrendo 43 mortos e apreendidas 02 GR. RPG-2. NT sofreram 01 ferido grave e 01 ligeiro;

- 1050 – 20 elementos IN abatidos junto do ponto 25;

- 1200 – Assaltado o objectivo 17, tendo o IN sofrido 28 mortos;

- 1250 – Junto do objectivo 17, em assalto ao acampamento, abatidos 42 elementos;

- 1300 – Por TMAN (helis) colocados a N do objectivo 40, 2 Grs. Cmds, antecedidos de ATIP;

- 1500 – NT abateram, em progressão, 06 elementos IN junto do ponto 24;

- 1600 – NT capturaram 19 elementos da população no ponto 35 e apreenderam 01 Esp. Aut. Simonov e 01 canhangulo;

- 1630 – No objectivo 40, NT emboscaram GR. IN, causando 04 mortos e capturando 02 Esp. Aut. Kalashnicov e 05 carregadores. NT sofreram 02 mortos e 03 feridos ligeiros;

- 1700 – NT emboscaram GR. IN junto do ponto 29, causando 04 mortos e capturando 01 Esp. Mosyn Nagan M/44. NT sofreram 02 feridos ligeiros;

- 2000 – Junto do objectivo 40, NT emboscaram Gr IN, causando 05 mortos.

  • Dia 23Dez71

- 0645 – NT foram emboscadas pelo IN, junto ponto 17, causando às NT 02 feridos ligeiros. IN sofreu 05 mortos e a captura de 01 Esp. Aut. Simonov.

- 0900 – Interceptado numeroso grupo na bolanha do objectivo 25, tendo o Gr IN sofrido 43 mortos.

- 1100 – NT emboscaram Gr IN junto ao objectivo 25, tendo abatido 28 elementos.

- 2130 – Forte gr. IN apoiado por barragem de fogos de morteiro 82 tentou assalto às posições NT, causando-nos 04 mortos, 09 feridos graves e 23 ligeiros, tendo sofrido baixas não confirmadas.

  • Dia 24Dez71

- 0100 – Forte Gr IN voltou a tentar assalto às posições NT, causando 01 morto, 03 feridos graves e 06 ligeiros. IN sofreu baixas não confirmadas.


NT: baixas em combate:

Mortos: 08


- Soldado Adulai Djaló (1ªCCA)

- Soldado Vicente Malef (1ªCCA)

- Soldado Aliu Djaquité (1ªCCA)

- Soldado Mamadu Camará (2ªCCA)

- Soldado Carlos Aliu Mané (2ªCCA)

- Soldado Quintino Gomes (2ªCCA)

- Soldado Deneba Denibo (2ªCCA)

- Soldado Mil Anso Seidi

Feridos graves: 15

Feridos ligeiros: 44


IN: 

Mortos confirmados: 217 (+ um nº indeterminado)
Capturados (População):  28


O que diz a CECA (2015): 

Operação "Safira Solitária" - 20 a 24Dez71

Na região de Morés-Santambato- Tambato-Gã Farã- Talicó-Cambajo--larom-Siure, Secyor 04 e COP 6, forças da 1ª e 2ª CCmds Afr efectuaram
uma nomadização. 

O lN reagiu por 21 vezes à penetração e progressão das NT, com maior intensidade nas regiões de Cubonge e Morés.

Foram causados ao lN 54 mortos confirmados, bastantes feridos e 283 elementos da milícias locais, todos armados, também mortos que reagiram à acção das NF. 

As NT sofreram 8 mortos, 15 feridos graves e 44 ligeiros. Recuperados 28 elementos da população, 2 esp autom "Simonov", 2 esp autom "Kalashnikov" com cinco carregadores, 1 esp "Mosin-Nagant",  met lig  "MG-42", 1 "longa" e 2 gran de LGFog  "RPG-2".

Foi destruído um acampamento lN.

Fonte: Excertos de: Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 6º volume: aspectos da actividade operaciona. Tomo II: Guiné, Livro III, Lisboa: 2015, pág. 46.

(Revisão / fixação de texto, negritos: LG)

 _____________

Nota do editor VB:
Blogue 
[1] Nota do editor: em “Uma noite nos cajueiros em Morés” (pp8. 212/224): Vd. poste de


____________

Nota do editor LG:

Último poste da série > 22 de fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25199: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Anexos: III. Lista dos "meus companheiros do Batalhão de Comandos, que morreram em combate, acidentes ou por doença" (n=59)

7 comentários:

Valdemar Silva disse...

A guerra na Guiné era assim: majores com grandes condecorações, e de cabelo comprido.

Anónimo disse...

Faltou assinar comentário anterior.
Valdemar Queiroz

Antº Rosinha disse...

Cabelo comprido, calça boca de sino e óculos Ray ban, era mais quando a guerra estava para terminar.

Não seria Valdemar?

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O nosso bravo general Almeida Bruno, que infelizmente já morreu (mas felizmente muito anos depois da notícia do seu "suicídio" na Guiné, no final da Op Safira Solidária, dada com manifesto exagero pelo Amílcar Cabral, uns dias dias, já em 4 de janeiro de 1972...), não teve uma boa "receção" no nosso blogue, por causa da frase, que todos reconhecemos que foi no mínimo "infeliz", e que ficou gravada para a eternidade em depoimento no programa "A Guerra", II Série, da autoria de Joaquim Furtado, que passou na RTP1, a 25 de Março de 2009...

Como seria de calcular, a expressão usada, "Bandos", para qualificar os camaradas das subunidades de quadrícula na Guiné (que se limitariam, segunbdo ele, a guardar o arame farpado e a bandeira portuguesa no mato, enquanto as "tropas especiais" faziam a guerra...) causou na altura uma grande indignação entre os membros da nossa Tabanca Grande e de outros camaradas que acompanhavam o nosso blogue:

Recorde-s eo excerto do depoimento do Gen Almeida Bruno, em causa:

(...) "Eu digo-lhe com toda a franqueza, sem qualquer crítica aos meus camaradas, mas esta é a verdade e a verdade tem de se dizer. A maioria esmagadora eram BANDOS, que estavam atrás do arame farpado, à espera que o inimigo atacasse para se defenderem. Havia muito pouca iniciativa, com excepção, como lhe disse, dos pára-quedistas e dos fuzileiros, isso de facto, esses nunca perderam, nunca perderam o rumo". (...)

Carlos Vinhal disse...

Juro solenemente pela minha honra que o, então, senhor Major Almeida Bruno não se suicidou no fim da Op. Safira Solidária. Ainda o estou a ver, a escassos metros de mim, em frente ao edifício do Comando de Mansabá, a receber as Companhias de Comandos Africanos que regressavam da dita operação ao Morés.
Muito sinceramente, tinha dele a ideia de um militar muito vaidoso, mesmo durante o tempo em que, como capitão, era Ajudante de Campo (?) do senhor General Spínola. Ficou célebre a frase: Aponta aí ó Bruno. Imitava muito o seu "mestre", até no uso de luvas.
Não gostei mesmo nada de ele ter dito que as tropas de quadrícula estavam à espera que as atacassem ao arame farpado, e muito menos, que nos comparasse com as tropas de eleite, muito bem alimentadas e dormidas. Nós comíamos mal, a maioria tinha péssimas instalações, íamos para as operações a pé com uma sande de sardinha de conserva no bolso e, chegados ao objectivo, já não podíamos com um gato pelo rabo.
Isto é o ponto de vista de um civil armado à força durante 3 anos.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Joaquim Luis Fernandes disse...

Se esta oper. "Safira Solitária" no Morés, causou ao In tão elevado número de mortos, 54+283, supostamente armados, não compreendo o reduzido número de armas apreendidas, menos de 10. Seriam armas sem interesse ( tipo fisga). Ou o In retirou as armas aos mortos antes de cairem nas mãos das NT?

Para se compreenderem e aceitarem estes números como corretos, um relatório mais detalhado desta operação, seria necessário. Deste modo vago, pode ser visto como propaganda ao estilo do PAIGC. E como costuma dizer-se: "não havia necessidade".

Sobre a bocarra do distinto Militar CMD, Almeida Bruno, dirigida às NT em quadrícola na Guiné, nos anos 73/74, não generalizando, e retirado o epíteto BANDO, não deixa de conter muito de verdadeiro.

Não é verdade, que nesse período, a componente da estratégia militar no CTIG era predominantemente defensiva?

Se fosse de modo diferente, como se explicam os ataques a muitos aquartelamentos, sem que as NT aí aquarteladas tivessem feito patrulhamentos de reconhecimento ofensivo, que tivessem prevenido, dificultado ou inviabilizado esses ataques pelo IN?
Basta pensar nas chamadas batalhas dos 3Gs.

Como explicar a situação em que se encontravam os quartéis de Guidage e Guileje, isolados, com grandes debilidades logísticas e sem informações sobre o IN, nas suas imediações ou para lá das fronteiras tão próximas?

E a responsabilidades dessas debilidades, devem ser assacadas em primeira linha, ao QG em Bissau.

Atentamente
JLFernandes

Eduardo Estrela disse...

Os bandos a que o sr general Almeida Bruno se refere, eram os que em Cuntima entre 1969 e 1971 saíam sistematicamente por períodos de 48 horas, ao nível de dois ou mais grupos de combate, para interdições ao corredor de Sitató. Estavam sempre dois ou mais grupos de combate o mato, para além de segurança próxima do aquartelamento, operações com e sem tropa especial, escolta às colunas a Farim o que obrigava a picar cerca de 40 KMS de estrada, envolvendo forças de Cuntima Junbembem e Farim. Quando o reordenamento de Cuntima foi iniciado, as colunas eram diárias de modo a transportar os materiais. O sr general Almeida Bruno fazia parte das poucas e honrosas excepções dos militares do quadro permanente que alinhavam no mato ao comando dos seus subordinados.
A guerra era decidida no conforto do ar condicionado de Bissau, e a maioria dos ditos comandantes das unidades do mato não saíam do arame farpado, enquanto a carne para canhão dos milicianos ía alimentando os desvarios dos políticos de Lisboa incapazes de compreenderem que a história estava a mudar.
Abraço fraterno
Eduardo Estrela