Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Patacão (em crioulo), massa, graveto, grana, carcanhol, guita, milho, maçaroca, cheta, caroço, arame, arjã, cacau, pastel, vil metal, tusto, cobres, prata, lecas, nota preta, pilim, massa, papel, aquilo-com-que-compram-os-melões... enfim, dinheiro! (como é prolixa, polissémica, rica, ao menos, a nossa língua).
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 1 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8845: Cem pesos, manga de patacão, pessoal! (7): Os produtos e as marcas que não havia em Lisboa... ou eram "proibitivos" - Parte VI (Magalhães Ribeiro/José Colaço)
Ora cá está um tema sobre o qual toda a gente, leia-se os antigos combatentes, pode aqui falar. E temos de resto falado, embora de maneira avulsa... E muito irregularmente. O que valia o dinheiro no nosso tempo, o que recebíamos, o que gastávamos, e em quê...
Reorganizámos os postes sobre o patacão, uniformizando os títulos, de acordo com a série, que já existia no início do blogue, "Cem pesos, manga de patacão pessoal"...
São já uns tantos postes, os publicados, que merecem ser relidos, revisitados, citados comentados, acrescentados (*).
Por este precioso documemto, acima reproduzido, que o Virgílio Teixeira guardou (foto de bilhete de viagem nos TAGP, de São Domingos para Bissau, em linha reta é uma distância muitoenor do que os cerca de 125 km por estrada), ficamos a saber que uma voltinha de Dornier (para apanhar o avião da TAP em Bissalanca, para a Metrópole) custava 224 escudos.
A preços de hoje, 224 escudos (do BNU) seriam 78 euros... Como se tratava de "pesos" da Guiné, teríamos que aplicar a taxa de desvalorização de 10% (praticada no comércio de Bissau de então, 100 pesos valiam 90 escudos da metrópole).
Portanto, grosso modo, eram 70 euros o bilhete de avioneta...
224 escudos ou " pesos" era caro...Eram 10 dias do "per diem" de um militar (24,5 escudos por dia para a alimentação).
O que se comprava mais com 224 escudos da Guiné em 1969 ? Duas garrafas de uísque velho...Dez almoços em Bafatá (bife com batas fritas e ovo a c cavalo).
Era, enfim, o equivalente, mais ou menos, a quanto se podia perder ou ganhar numa noite de lerpa (200 / 300 escudos em média, disse aqui o Humberto Reis, há 18 anos atrás). Ou a 90 maços de cigarros SG Filtro! (**).
Em suma, cem pesos já eram manga de patacão, pessoal !...
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 1 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8845: Cem pesos, manga de patacão, pessoal! (7): Os produtos e as marcas que não havia em Lisboa... ou eram "proibitivos" - Parte VI (Magalhães Ribeiro/José Colaço)
(**) Vde. poste3 de 28 de julho de 2005 > Guiné 63/74 - P129: Cem pesos, manga de patacão, pessoal ! (1): quanto se gastava e em quê... (Luís Graça / Humberto Reis / A. Marques Lopes / Luís Carvalhido / Sousa de Castro)
8 comentários:
Em 1970 uma viagem de Bissau para Cuntima e vice versa custava cerca de 300 pesos.
Abraço
Eduardo Estrela
Não me lembro se havia pagamento nas viagens de Nova Lamego-Bissau e se as avionetas eram dos TAG ou da FA.
Lembro-me haver uma ordem especial na escolha para os passageiros: primeiro militares e depois civis guineenses, só depois civis metropolitanos.
Fiz duas viagens Nova Lamego-Bissau para vir de férias e não paguei nada.
Valdemar Queiroz
Eduardo, os TAGP (Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa) era o nosso "táxi aéreo"... À borla, só na FAP... DE qualuqer modo, Cuntima-Bissau era mais longe do que São Domingos-Bissau... Eles deviam ter um tarifário em função das distâncias...
300 pesos de 1970 eram hoje 101 euros (na prática, 90, devido à diferença cambial)...
Tens aqui um simulador da inflação, na Pordata:
Pordata > Simuladores > Simulador de Inflação > Quanto vale hoje o dinheiro do passado ?
Trezentos pesos era metade do pré dos nossos soldados de 2ª classe (que eram só os guineenses)...
João Crisóstomo, Nova Iorque
Meus caros Virgílio Teixeira, Eduardo Estrela, Valdemar, Luís Graça …
Este post e vossos comentários trouxeram-me à memória o meu único vôo na Guiné de Bafatá para Bissau, (em 1966,) onde tomei avião para as minhas férias em Portugal, ( que eu programei com antecedência de maneira a poder seguir, nos ecrans do Monumental em Lisboa o campeonato mundial de futebol ,— ano em que Portugal podia e devia ter sido o campeão mundial mas acabou por ficar em terceiro lugar, apenas por sacanice dos ingleses. Ainda hoje "não os posso ver" por causa disso…)
Mas estava eu a falar do vôo Bafatá -Bissau: Se bem me lembro eu não paguei nada por esse vôo. Mas por outro lado ficou-me caro esse transporte: é que logo que levantámos vôo começou uma tempestade que ninguém esperava e eu (e todos os outros ) pensávamos que ia ser o fim da macacada para nós: íamos sentados , amarrados contra as paredes laterais do avião ( não me recordo o nome do avião mas penso que se chamava um “constelation” daqueles que haviam feito a segunda guerra mundial e o nosso governo comprou por tuta e meia depois ); entre nós aos nossos pés iam vários caixões com os restos mortais de alguns camaradas mais desafortunados que nós que faziam o seu último vôo para serem sepultados em Portugal.
Sucede que estes caixões nao tinham sido seguros e, como o avião parecia uma das caravelas em mar bravo no tempo dos descobrimentos, assim desamarrados eles resvalavam contra os nossos pés; e nós tentávamos, com berros e empurrões dos pés mantê-los no meio do corredor … e lembro-me de, ao passar por cima do Geba, ter pensado nas várias hipóteses que nos poderiam acontecer: cair no Geba e sermos almoço para os crocodilos; despenharmo-nos no mato e, se com sorte não ficássemos logo estatelados, sermos apanhados pelos “turras” , sabe Deus o destino depois… Não me recordo se nessa altura tive tempo ou se sequer me lembrei de pedir o auxílio dos céus, mas devo-o ter feito , pois eu na altura, recentemente sido do seminário, era crente quase “fanático” ainda, suficientemente ingénuo para aceitar milagres como um pão nosso de cada dia… . Mas tivémos sorte com a perícia do piloto e chegamos a Bissau.
João Crisóstomo, Nova Iorque
ahahahah, meu caro amigo João Crisóstomo.
Também era o que mais faltava, pagar bilhete e viajar com caixões ao lado.
E também com a tempestade, poderia, até, ser um funeral desigual de uns já prontos pra cova e outros ainda vivos.
Aqueles é que foram tempos do caraças.
Abraço e saúde da boa aí pelos Stats
Valdemar Queiroz
João: ou foste no Dakota (Douglas C-47) ou no Noratlas... À pala da FAP, quer dizer, do Estado Português, quer dizer, do Zé Pagante...
O serviço autónomo Transportes Aéreos da Guiné (TAG) foi criado a 2 de setembro de 1965. Tinha como objetivo a exploração dos transportes aéreos de passageiros, carga e correio naquela província ultramarina. Na realidade foi a criação da primeira companhia aérea da Guiné. O seu nome será posteriormente alterado para Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa (TAGP). Alguns de nós, mais isolados, foram seus clientes.
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