domingo, 24 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26187: Cem pesos, manga de patacão, pessoal! (8): uma viagem, de avioneta, nos TAGP, de São Domingos a Bissau, em 22/2/69, custava 224 escudos (ou "pesos"), o equivalente hoje a 70 euros (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


Guiné > Bissau > TAGP (Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa) > Cópia de bilhete de passagem, de S. Domingos para Bissau > 22 de fevereiro de 1969 > Avião: Dornier > Passageiro: Virgílio Teixeira > Valor pago: 224$00. Foto do álbum de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM; CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e S. Domingos, 1967/69).


Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Patacão (em crioulo), massa, graveto, grana, carcanhol, guita, milho, maçaroca, cheta, caroço, arame, arjã, cacau, pastel, vil metal, tusto, cobres, prata, lecas, nota preta, pilim, massa, papel, aquilo-com-que-compram-os-melões... enfim, dinheiro! (como é prolixa, polissémica, rica, ao menos, a nossa língua).
 
Ora cá está um tema sobre o qual toda a gente, leia-se os antigos combatentes, pode aqui falar. E temos  de resto falado, embora de maneira avulsa... E muito irregularmente. O que valia o dinheiro  no nosso tempo, o que recebíamos, o que gastávamos, e em quê...

Reorganizámos os postes sobre o patacão, uniformizando os títulos, de acordo com a série, que já existia no início do blogue, "Cem pesos, manga de patacão pessoal"... 

São já uns tantos postes, os publicados, que merecem ser relidos, revisitados, citados comentados, acrescentados (*).

Por este precioso documemto, acima reproduzido,  que o Virgílio Teixeira guardou (foto de bilhete de viagem nos TAGP, de  São Domingos para Bissau, em linha reta é uma distância muitoenor do que os cerca de 125 km por estrada), ficamos a saber  que uma voltinha de Dornier (para apanhar o avião da TAP em Bissalanca, para a Metrópole) custava 224 escudos. 

A preços de hoje,  224 escudos (do BNU) seriam 78 euros... Como se tratava de "pesos" da Guiné, teríamos que aplicar a taxa de desvalorização de 10% (praticada no comércio de Bissau de então, 100 pesos valiam 90 escudos da metrópole). 

Portanto, grosso modo, eram 70 euros o bilhete de avioneta... 

224 escudos ou " pesos" era caro...Eram 10 dias do "per diem" de um militar (24,5 escudos por dia  para a alimentação).

O que se comprava mais com 224 escudos da Guiné em 1969 ?  Duas garrafas de uísque velho...Dez almoços em Bafatá (bife com batas fritas e ovo a c cavalo).

Era, enfim, o equivalente, mais ou menos, a   quanto se podia perder ou ganhar numa noite de lerpa (200 / 300 escudos em média, disse aqui o Humberto Reis, há 18 anos atrás). Ou a 90 maços de cigarros SG Filtro! (**).

Em suma, cem pesos já eram manga de patacão, pessoal !...

___________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 1 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8845: Cem pesos, manga de patacão, pessoal! (7): Os produtos e as marcas que não havia em Lisboa... ou eram "proibitivos" - Parte VI (Magalhães Ribeiro/José Colaço)

(**) Vde. poste3 de 28 de julho de 2005 > Guiné 63/74 - P129: Cem pesos, manga de patacão, pessoal ! (1): quanto se gastava e em quê... (Luís Graça / Humberto Reis / A. Marques Lopes / Luís Carvalhido / Sousa de Castro)

8 comentários:

Eduardo Estrela disse...

Em 1970 uma viagem de Bissau para Cuntima e vice versa custava cerca de 300 pesos.
Abraço
Eduardo Estrela

Valdemar Silva disse...

Não me lembro se havia pagamento nas viagens de Nova Lamego-Bissau e se as avionetas eram dos TAG ou da FA.
Lembro-me haver uma ordem especial na escolha para os passageiros: primeiro militares e depois civis guineenses, só depois civis metropolitanos.
Fiz duas viagens Nova Lamego-Bissau para vir de férias e não paguei nada.
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Eduardo, os TAGP (Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa) era o nosso "táxi aéreo"... À borla, só na FAP... DE qualuqer modo, Cuntima-Bissau era mais longe do que São Domingos-Bissau... Eles deviam ter um tarifário em função das distâncias...

300 pesos de 1970 eram hoje 101 euros (na prática, 90, devido à diferença cambial)...

Tens aqui um simulador da inflação, na Pordata:

Pordata > Simuladores > Simulador de Inflação > Quanto vale hoje o dinheiro do passado ?

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Trezentos pesos era metade do pré dos nossos soldados de 2ª classe (que eram só os guineenses)...

Anónimo disse...

João Crisóstomo, Nova Iorque

Meus caros Virgílio Teixeira, Eduardo Estrela, Valdemar, Luís Graça …

Este post e vossos comentários trouxeram-me à memória o meu único vôo na Guiné de Bafatá para Bissau, (em 1966,) onde tomei avião para as minhas férias em Portugal, ( que eu programei com antecedência de maneira a poder seguir, nos ecrans do Monumental em Lisboa o campeonato mundial de futebol ,— ano em que Portugal podia e devia ter sido o campeão mundial mas acabou por ficar em terceiro lugar, apenas por sacanice dos ingleses. Ainda hoje "não os posso ver" por causa disso…)

Mas estava eu a falar do vôo Bafatá -Bissau: Se bem me lembro eu não paguei nada por esse vôo. Mas por outro lado ficou-me caro esse transporte: é que logo que levantámos vôo começou uma tempestade que ninguém esperava e eu (e todos os outros ) pensávamos que ia ser o fim da macacada para nós: íamos sentados , amarrados contra as paredes laterais do avião ( não me recordo o nome do avião mas penso que se chamava um “constelation” daqueles que haviam feito a segunda guerra mundial e o nosso governo comprou por tuta e meia depois ); entre nós aos nossos pés iam vários caixões com os restos mortais de alguns camaradas mais desafortunados que nós que faziam o seu último vôo para serem sepultados em Portugal.
Sucede que estes caixões nao tinham sido seguros e, como o avião parecia uma das caravelas em mar bravo no tempo dos descobrimentos, assim desamarrados eles resvalavam contra os nossos pés; e nós tentávamos, com berros e empurrões dos pés mantê-los no meio do corredor … e lembro-me de, ao passar por cima do Geba, ter pensado nas várias hipóteses que nos poderiam acontecer: cair no Geba e sermos almoço para os crocodilos; despenharmo-nos no mato e, se com sorte não ficássemos logo estatelados, sermos apanhados pelos “turras” , sabe Deus o destino depois… Não me recordo se nessa altura tive tempo ou se sequer me lembrei de pedir o auxílio dos céus, mas devo-o ter feito , pois eu na altura, recentemente sido do seminário, era crente quase “fanático” ainda, suficientemente ingénuo para aceitar milagres como um pão nosso de cada dia… . Mas tivémos sorte com a perícia do piloto e chegamos a Bissau.

João Crisóstomo, Nova Iorque

Valdemar Silva disse...

ahahahah, meu caro amigo João Crisóstomo.
Também era o que mais faltava, pagar bilhete e viajar com caixões ao lado.
E também com a tempestade, poderia, até, ser um funeral desigual de uns já prontos pra cova e outros ainda vivos.
Aqueles é que foram tempos do caraças.
Abraço e saúde da boa aí pelos Stats
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

João: ou foste no Dakota (Douglas C-47) ou no Noratlas... À pala da FAP, quer dizer, do Estado Português, quer dizer, do Zé Pagante...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O serviço autónomo Transportes Aéreos da Guiné (TAG) foi criado a 2 de setembro de 1965. Tinha como objetivo a exploração dos transportes aéreos de passageiros, carga e correio naquela província ultramarina. Na realidade foi a criação da primeira companhia aérea da Guiné. O seu nome será posteriormente alterado para Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa (TAGP). Alguns de nós, mais isolados, foram seus clientes.