Bilhete de avião de regresso a Lisboa, em 18 de dezembro de 1970
Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Terminada a comissão, o Valdemar Queiroz, que era de rendição individual (como todos os outros graduados e praças esepcialistas da CART 11), foi para Bissau onde gastou os últimos "pesos" (o patacão da guerra) e tomou o avião da TAP de regresso a casa, em 18/12/1970, como se pode comprovar no documento acima reproduzido.
O bilhete,como era só de ida, custou-lhe a módica quantia de 4740 escudos, incluindo 80$00 (que deve ser o imposto de selo e a taxa... "aeroportuária"). Lá se ia, quase todo, o "patacão" de um mês...
Recibo (?) nº 453, emitido pela agência de viagens Fernando S. Costa, Bissau, 13 de fevereiro de 1971
Foto (e legenda): © Carlos Vinhal (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
2. Já o nosso coeditor Carlos Vinhal (fur mil art MA, CART 2732, Mansabá,1970/72, SPM 1388) veio de férias, em 15 de fevereiro de 1971, e pagou à agência de viagens Fernando S. Correia a importância de 6430$80 (vd. documento acima).
Não sabemos se nesse valor estava incluído o preço da ligação aérea Lisboa-Porto (nem a comissão da agência). De qualquer modo, para ir de férias, um furriel miliciano tinha que desembolsar mais do que o que ganhava num só mês.
3. Quanto valeria hoje esse patacão ?
(i) 4340$00 (em 1970) seriam hoje 1455 euros (!) (uma roubalheira ?);
(ii) 6430$80 (em 1971) equivaleriam hoje a 1944 euros...
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Nota do editor:
7 comentários:
Em 1972, "um 1º cabo radiotelegrafista ganhava 1.500$00, sendo 1.200$00 por ser 1º cabo e mais 300$00, de prémio de especialidade" (Sousa de Castro, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74)... Para ir de férias (mais de 6 contos), tinha de juntar o patacão de 4 ou 5 meses... A TAP só cheva a Lisboa (e Porto), E a malta vinha de Viana do Castelo, Chaves, Bragança, Vila Real, Viseu, e por aí fora...
Uma roubalheira... E de resto não convinha nada, à tropa, que a malta viesse de férias... Vinha mais desmoralizada, como me aconteceu a mim... Luís
Quando fui a Bissau (e nomeadamente quando fui de férias, em meados de 1970), fui no "barco turra", nunca andei de cu tremido nos aviões da FAP...
Curiosidade em relação à palavra patacão, que era dito por toda a gente como se fosse uma palavra crioulo.
manga di patacão = muito dinheiro.
Em crioulo da Guiné não há os ditongos ão ou õe, então seria patacon mas esta palavra não existe em crioulo, o que existe é diñeru.
manga di diñeru = muito dinheiro e se for manga di diñeru branku = libra .
Patacão é o aumentativo de pataco.
Patacão :
1. moeda de cobre do tempo do rei Dom João III, 1502-1557
2. antiga moeda brasileira, mexicana e uruguaia
Seria interessante saber como é que patacão era sinónimo de dinheiro e dito pela gente da Guiné.
Não sei se patacão também é dito em Cabo Verde, Angola ou Moçambique.
É interessante verificar que no espaço de menos de um ano a viagem do Carlos Vinhal foi mais cara 2.100$00.
Essa diferença teria sido paga pela Companhia, pelo facto de a minha viagem de barco, cerca de 15 dias depois, poder ser, não sei ao certo, no valor de 6 contos e tal.
Não sei ao certo se era hábito esta "transação" ou se foi por ser próximo do Natal (18Dez)
e o barco só saiu 15 dias depois já em Janeiro.
Valdemar Queiroz
Valdemar, a tua viagem era só de ida (regresso), a do Carlos era de ida e volta!...
Quanto à origem da palavra patacão está bem observado, patacão quer dizer pataca grande, não é crioulo, é português... Mas todo o mundo a usava, nós e os nossos soldados e a população civil...
No crioulo de Cabo Verde, usa-se patakon, dinheru...
Já imaginaram se a malta toda de um batalhão (600 homens) pudessem vir de férias à Metrópole, "à borla", pelo menos uma vez durante a comissão ? Os problemas logísticos, disciplinares, operacionais, de gestão de pessoal, etc., que isso levantaria ? !... (Teórica e legalmente podiam ver, desde que tivessem patacão: é sempre a mesma história, o patacão é que, mais ordena...).
O Estado só garantia, à borla, a viagem de ida e volta, para os audazes protegidos da sorte, ou os sortudos e audazes...Quem lerpava, só passou a vir no "caixão de pinho" a partir de 1968...
Para muitos rapazes da nossa geração, nossos camaradas, foram as únicas vezes em que fizeram um "cruzeiro de barco" ou andaram de avião... (mesmo que depois tenha chegado o turismo de massas e os voos "low-cost": a "Easy-jet" por exemplo é fundada em 1995, há menos de 30 anos...).
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