Homenagem ao último soldado da 3ª Cª do B. Caç. 4612/72, que faleceu em 18 de Outubro de 1974, devido a grave ferimento num acidente no quartel de Mansoa, de nome Oldegário Alberto da Cruz Libório (natural da freguesia da Sé, em Faro).
Por Magalhães Ribeiro
Furriel Mil.º da CCS do BCaç. 4612/74 e
Jorge Canhão
Furriel Mil.º da 3ª Cªdo B. Caç. 4612/72
Furriel Mil.º da 3ª Cªdo B. Caç. 4612/72
O episódio mais pungente que presenciámos em toda a nossa vida militar e civil, e que nos traumatizou para o resto das nossas vidas, aconteceu com 2 infelizes soldados da 3ª Companhia do BCaç 4612/72, nas últimas horas que permaneciam na Guiné, após 22 meses de sacrificada e penosa comissão, quando se encontravam com o restante pessoal da companhia a entregar o armamento em sua posse, na arrecadação de material de guerra, nomeadamente as G3 e os respectivos carregadores , e foram protagonistas de um terrível e trágico acidente.
Tudo se passou num triste dia de Agosto de 1974, no quartel de Mansoa, quando eu conversava com o Furriel Miliciano Jorge Canhão da mesma companhia (meu grande amigo pessoal e nosso camarada bloguista), e íamos observando o seu pessoal, que por ali, espalhado em frente à arrecadação de material de guerra, cumpria uma das suas últimas ordens, que era a de entregar o material de guerra a seu cargo.
Tudo se passou num triste dia de Agosto de 1974, no quartel de Mansoa, quando eu conversava com o Furriel Miliciano Jorge Canhão da mesma companhia (meu grande amigo pessoal e nosso camarada bloguista), e íamos observando o seu pessoal, que por ali, espalhado em frente à arrecadação de material de guerra, cumpria uma das suas últimas ordens, que era a de entregar o material de guerra a seu cargo.
Indigitados para controlar as actividades estavam dois furriéis milicianos e um 1º Cabo. Enquanto um dos furriéis – o Jorge Canhão - acompanhava a fase que incluía desmontar, limpar e montar as G3s, e esvaziar de balas e limpar os respectivos carregadores, o segundo furriel inspeccionava juntamente com o 1º Cabo (sentados num banco dentro da arrecadação), se tudo estava funcional antes da entrega definitiva.
Estava tudo a decorrer normalmente, como se pode deduzir, no meio de alegres conversas e risadas de grande felicidade, motivadas na generalidade pela proximidade do fim quase 2 anos de pesadelos.
Para aqueles menos familiarizados com estas coisas, recorda-se que a inspecção de uma G3 para entrega, na rotina habitual, obrigava a fazer 4 operações: retirar o carregador (estivesse cheio de munições ou vazio), puxar a culatra atrás (para retirar qualquer bala da câmara), destravar a culatra para a frente e efectuar uma gatilhada em seco para o ar.
Eu estava de costas para a arrecadação e os soldados sentados no chão, e conforme iam completando as limpezas, iam-se levantando e entregando o material para inspecção.
No entanto, o elemento que fazia o teste às armas, esqueceu-se de retirar o carregador de uma delas (que se encontrava com munições), tendo procedido às manobras com a culatra e, quando ia premir o gatilho, o furriel que observava os seus movimentos, ao aperceber-se que havia entrado uma bala na câmara, instintiva e desesperadamente, deitou a mão à arma no sentido de tentar impedir o eminente disparo mas, infelizmente, não foi a tempo.
A bala disparada efectuou uma trajectória de baixo para cima, começando por atingir o militar mais próximo (o mesmo que tinha acabado de entregar a G3 inadvertidamente com munições no carregador), atravessando-lhe a anca, passou muito rente ao pescoço do segundo homem da fila que ali se ia formando e apanhou o terceiro violentamente na parte frontal do crânio.
Os 2 feridos com bastante gravidade, foram de imediato evacuados por helicóptero para Bissau, vindo-se a saber mais tarde, que o último deles, viria a falecer em 18 de Outubro de 1974 (6 meses depois do 25 de Abril), já em Portugal no Hospital Militar da Estrela, em Lisboa.
Assim desta forma cruel e chocantemente, sucumbiu o último soldado português na martirizante e fatídica guerra da Guiné.
Vai fazer 35 anos, que eu e o Jorge pensávamos prestar esta simples homenagem ao Oldegário, pedindo a Deus que o acolha no seu reino.
Por motivos óbvios a identificação de alguns intervenientes são omitidas.
Para aqueles menos familiarizados com estas coisas, recorda-se que a inspecção de uma G3 para entrega, na rotina habitual, obrigava a fazer 4 operações: retirar o carregador (estivesse cheio de munições ou vazio), puxar a culatra atrás (para retirar qualquer bala da câmara), destravar a culatra para a frente e efectuar uma gatilhada em seco para o ar.
Eu estava de costas para a arrecadação e os soldados sentados no chão, e conforme iam completando as limpezas, iam-se levantando e entregando o material para inspecção.
No entanto, o elemento que fazia o teste às armas, esqueceu-se de retirar o carregador de uma delas (que se encontrava com munições), tendo procedido às manobras com a culatra e, quando ia premir o gatilho, o furriel que observava os seus movimentos, ao aperceber-se que havia entrado uma bala na câmara, instintiva e desesperadamente, deitou a mão à arma no sentido de tentar impedir o eminente disparo mas, infelizmente, não foi a tempo.
A bala disparada efectuou uma trajectória de baixo para cima, começando por atingir o militar mais próximo (o mesmo que tinha acabado de entregar a G3 inadvertidamente com munições no carregador), atravessando-lhe a anca, passou muito rente ao pescoço do segundo homem da fila que ali se ia formando e apanhou o terceiro violentamente na parte frontal do crânio.
Os 2 feridos com bastante gravidade, foram de imediato evacuados por helicóptero para Bissau, vindo-se a saber mais tarde, que o último deles, viria a falecer em 18 de Outubro de 1974 (6 meses depois do 25 de Abril), já em Portugal no Hospital Militar da Estrela, em Lisboa.
Assim desta forma cruel e chocantemente, sucumbiu o último soldado português na martirizante e fatídica guerra da Guiné.
Vai fazer 35 anos, que eu e o Jorge pensávamos prestar esta simples homenagem ao Oldegário, pedindo a Deus que o acolha no seu reino.
Por motivos óbvios a identificação de alguns intervenientes são omitidas.
Um tiro apocalíptico
Mansoa, Guiné, Setenta e quatro
Findava ali a sua comissão
Naquele longo mês de Agosto
Mais um Heróico e Leal Batalhão
Para todos aqueles soldados
Era o dia mais feliz da guerra
Restavam umas escassas horas
Pr’a cada um… regressar à sua terra
Era o dia do espólio do material…
E, após longos meses de acção
Ali devolviam as suas armas
Frente à velha arrecadação
O passado juntos recordavam
Prevendo as famílias abraçar
Projectos p'ró futuro planeavam…
De repente... um tiro!?... soa no ar!?
Dois feridos de morte tombavam
A surpresa fez o sangue gelar
Meu Deus! Eles iam p’ra casa!
Abateu-se… ali… um Apocalipse glaciar
A bala saíra duma G3… por acidente
Numa distracção fatal!… Incrível!
Mais uma vez o “azar” ali matava
Coisa digna dum’obra de Maquiavel!
Mansoa, Guiné, Setenta e quatro
Findava ali a sua comissão
Naquele longo mês de Agosto
Mais um Heróico e Leal Batalhão
Para todos aqueles soldados
Era o dia mais feliz da guerra
Restavam umas escassas horas
Pr’a cada um… regressar à sua terra
Era o dia do espólio do material…
E, após longos meses de acção
Ali devolviam as suas armas
Frente à velha arrecadação
O passado juntos recordavam
Prevendo as famílias abraçar
Projectos p'ró futuro planeavam…
De repente... um tiro!?... soa no ar!?
Dois feridos de morte tombavam
A surpresa fez o sangue gelar
Meu Deus! Eles iam p’ra casa!
Abateu-se… ali… um Apocalipse glaciar
A bala saíra duma G3… por acidente
Numa distracção fatal!… Incrível!
Mais uma vez o “azar” ali matava
Coisa digna dum’obra de Maquiavel!
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Notas de vb:
1. Último artigo da série em
19 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3761: Efemérides (14): 19 de Janeiro de 1971, estrada Bula-S. Vicente...(António Matos)
2. Foi o então Furriel Miliciano O. E. da CCS do BCAÇ 46121. Eduardo Magalhães Ribeiro que, em 9 de Setembro de 1974 arreou a última bandeira portuguesa, no quartel de Mansoa, na presença de representantes do PAIGC que, por sua vez, hastearam a bandeira da nova República da Guiné-Bissau.