segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3858: Blogpoesia (30): Em Cutima, tabanca fula... (José Brás / Mário Fitas)

1. Mensagem de Mário Fitas(*), com data de 6 de Fevereiro de 2009:

Caros Luís, Carlos e Virgínio.

Satisfazendo o pedido do José Brás(**), repasso o seu e-mail com uma poesia profunda.

Vocês já repararam que a poesia na Tabanca Grande é Obra?

Já pensaram - ideia louca - de falar com esta malta toda da poesia, e editar “A Guerra na Guiné em Poesia?

Não sei!... deixem é loucura minha!


2. Mensagem de José Brás para Mário Fitas:

Mário
Não dá para acreditar!
Que se lixe!
Não é por isso que te envio este abraço em forma de e-mail.
É para te dizer que venhas.
Vem quando quiseres e... se quiseres ficar, há camas disponíveis e um espaço lindo.

Outra coisa.
Claro que me lembro do Branquinho. Voei com ele muitas vezes. Gosto (pelo que li) do que diz (escreve) e como diz.
Gostaria de entrar em contacto com ele
Se tiveres o seu contacto e achares que mo podes dar…

Um abraço... e um texto feito no Quebo para ti. Pertence a um maior escrito em Aldeia Formosa e que tem sido projecto aos baldões de afazeres e vontade, que teria um título ligado, de algum modo, à ideia de “missa agnóstica”.


Em Cutima
tabanca fula
no sul da Guiné
a vida simulava
o ritmo velho

o comerciante Fuad
comprava a mancarra
das lavras da aldeia
fazia o caminho de Bafatá
e vendi-a
no agente da CUF

no tempo vazio
vigiava a mulher
-libanesa ostensiva
de formas redondas
e mel nos olhos-

porém
a espingarda pendente
na parede da casa
do comerciante Fuad
não matava
nos olhos da libanesa Zuaida
nem a fundura da noite
nem a febre da esperança


Carlos Alberto
chefe-de-posto
continuava o registo
de pessoas
e bens
controlava os “gilas
de língua francesa
que vinham
da terra de Sekou Touré
contrabandear
rádios de pilhas
e informações do PAIGC

Carlos Alberto
sabia de mais
cobrava os impostos
encharcava de uisque
a febre e o medo
e quando
no calor do meio-dia
punha mais um filho
no ventre mulato
da mulata Mi-Zé
era mais uma mina
na estrada de Buba
mais uma rajada
de PPSH

na noite agitada
de batuque e luar
em Cutima-Fula
a “bajuda” Bina
contava as semanas
do prazo previsto
p’ra trocar o “cabaço
p´las vacas
do velho Adulai

porém…
no rufar do tambor
no ritmo da dança
o corpo bem feito
as coxas robustas
o peito empinado
os olhos
da “bajuda” Bina
sugeriam o sonho
de um destino diferente
trocada por vacas
entregar o cabaço
ao velho Adulai
não cabia no sonho
da bajuda Bina

nas redes suspensas
às portas das casas
e da árvore grande
no largo da aldeia
ou simplesmente
deitados na esteira
os homens grandes
mascavam a cola
de olhos fechados
teciam a rede da vida da terra
em palavras curtas
monossilábicas
contabilizavam
a “mancarra” colhida
em metros de pano
em sal
em petróleo
em sandálias novas
num “ronco” qualquer
que desse nas vistas
e lhes mantivesse
o prestígio
de velhos senhores de
cavalaria
o lucro certo
do comerciante Fuad

as máquinas
singer
dos alfaiates
na casa maior à entrada da aldeia
continuavam
o velho costume
de juntar o tecido ao destino da linha
mas nem tudo
o que dava
o labor das mãos-pretas
e o matraquear das máquinas
singer
era produto acabado
de linha e de pano

daquelas varandas
das mãos e dos olhos
das entranhas mais fundas
por estranhos caminhos
seguia o abraço
o grito de dor
a certeza
da vitória final

__________

Notas de CV:

(*) Mário Fitas, ex-Fur Mil da CCaç 763, Cufar, 1965/66, autor das obras, "Pami Na Dondo a Guerrilheira" e "Putos, Gandulos e Guerra".

(**) José Brás, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68, autor do livro "Vindimas no Capim", que lhe valeu o Prémio de Revelação de Ficção de 1986, da Associação Portuguesa de Escritores e do Instituto Português do Livro e da Leitura.

Vd.último poste da série de 31 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3688: Blogpoesia (29): Este ano não mandei cartões de boas festas a ninguém (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P3857: Tabanca Grande (113): José Manuel Moreira Cancela, ex-Soldado AM da CCAÇ 2382 (Guiné, 1968/70)

1. Mensagem de José Manuel Moreira Cancela, ex-Soldado AM da CCAÇ 2382, Bula, Buba, Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70, com data de 28 de Janeiro de 2009:

Caros camaradas editores Luís, Vinhal e Briote

Antes de mais passo a apresentar-me:
Sou o José Manuel Moreira Cancela, fui Soldado A.M. da CCaç 2382 e sou ex-camarada do tertuliano Manuel Traquina

Estive emigrado entre 1970 e 2003 e, em todo esse tempo, e por muito que procurasse, nunca consegui encontrar qualquer camarada de armas, até que um dia recebo um telefonema de Coimbra, do meu amigo Fausto, Enfermeiro, que conseguiu encontrar-me em 2006, através da lista telefonica, tão simples quanto isso.

Claro que fiquei feliz e muito emocionado e logo no ano a seguir fui à minha primeira concentração da nossa Companhia, que se realizou em Coimbra.

Não sei descrever a alegria que senti ao ver aquela malta com quem convivi durante dois anos. Claro que tive de me apresentar, pois à parte o Fausto com quem me tinha encontrado depois do telefonema, não reconheci ninguém, trinta e oito anos mudam-nos, e de que maneira.

Fica-me em especial recordação, aquele abraço do meu amigo Vieira, que me ia partindo todo. Ele ao ver que me apertou demais, volveu-me o seguinte, com aquele sotaque à moda do Porto que eu adoro:
- Desculpa lá, carago, é da imoçom.

Depois de um lauto almoço, fomos revivendo tudo que de bom e de mau passámos na Guiné e recordando as terras por onde palmilhámos. Foram elas: BISSAU, BULA, BUBA, ALDEIA FORMOSA, CONTABANE, MAMPATÁ e CHAMARRA e, em cada uma destas, há uma história para contar, mas fica para a próxima.

Caros editores, desculpem se isto não vai conforme, mas eu sou ainda muito periquito nisto.

Um abraço grande como o mundo, para todos os ex-combatentes e em especial os da Guiné
J.M.M.Cancela


2. Comentário de CV

Caro Cancela,

Quase podeis mandar formar a CCAÇ 2382 na Parada da Tabanca Grande. Ainda bem. Entra e junta-te aos teus camaradas Manuel Traquina e Alberto Sousa e Silva.

Desculpa, mas não percebi qual era a tua Especialidade. Depois esclarece-me.
Não te acanhes pela tua pouca experiência na Informática. Com tempo e persistência ficas mestre. Além disso, nós cá estamos para dar uma ajuda numa ou outra coisita menos bem.

Compreendo a tua alegria ao ver os teus camaradas, (desculpa este aparte, eles ainda são e serão para sempre teus camaradas) porque este ano realizou-se o primeiro encontro da minha Companhia (CART 2732, Mansabá, 1970/72) e senti o mesmo que tu.

Com respeito à piadinha do à moda do Porto, vou ignorar, para não nos zangarmos logo na primeira vez que trocamos impressões. Mas, bem vistas as coisas, os homens do Norte são mesmo assim, carago e o Porto é uma naçom.

Em nome da Tertúlia deixo-te um abraço de boas-vindas.
Carlos Vinhal
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da serie de 8 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3854: Tabanca Grande (112): Alberto Sousa e Silva, ex-Soldado de Transmissões da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3856: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (20): Resposta ao camarada e amigo J. Mexia Alves (Coutinho e Lima)

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Um momento poético-musical: da esquerda para a direita, o J. Luís Vacas de Carvalho, o J. Mexia Alves e o David Guimarães.

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Dois homens de Guileje e membros da nossa Tabanca Grande: à direita, (i) o Cor Art Ref Coutinho e Lima, autor do livro A retirada de Guileje: a verdade dos factos (Linda-A-Velha, DG Edições, 2008); e à sua esquerda, (ii) o ex-Fur Mil Op Esp José Casimiro Carvalho, da CCAV 8350, os Piratas de Guileje , a última unidade de quadrícula de Guileje (À nossa Tabanca Grande, acabaram de se juntar, já este ano, os ex-Alf Mil da CCAV 8350, João Seabra e Manuel Reis).

Fotos: ©

Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados.

1. Como eu costumo lembrar, há mais vida, felizmente, para além do nosso blogue e da blogosfera... A este propósito, o Joaquim Mexia Alves mandou-nos hoje esta mensagem que já partilhámos com o resto da nossa Tabanca Grande, e que nos sensibiliza:

Meus caros Luís, Virgínio e Carlos

Os amigos pertencem a todos os momentos das nossas vidas. Os amigos que passaram as mesmas coisas que nós talvez o sejam ainda mais.

Isto para vos dizer que na Segunda Feira, ao principio da tarde, vou estar no programa da Júlia Pinheiro [TVI, programa As Tardes da Júlia, das 14h às 17h], para falar sobre a minha vivência da fé cristã e católica.

Não tem obviamente a ver com a Tabanca Grande, mas tem a ver com a vida de um 'atabancado'.

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves


Lembrei-me que temos aqui, pendente de edição, um texto do Coutinho e Lima, em que é visado o J. Mexia Alves. Aproveitamos a oportunidade para publicá-lo, com as nossas desculpas, aos dois, pelo atraso.
Ao J. Mexia Alves já tive a oportunidade de lhe desejar um bom desempenho televisivo: "É uma responsabilidade e um privilégio... Podes atingir um auditório vasto. Aproveita esse momento bem para passar o teu testemunho de fé e de esperança" (...).
Ao Alexandre Coutinho e Lima, o nosso agradecimento e o nosso apreço por querer continuar a partilhar connosco, com os amigos e camaradas da Guiné, as memórias do seu tempo de efémero comandante do COP 5 (Janeiro a Maio de 1973). LG


2. Mensagem do Coutinho e Lima, com data de 22 de Janeiro último:


Assunto - A Retirada de GUILEJE – Considerações sobre o poste de 19 JAN 09 de MEXIA ALVES

[Negritos, no texto, da responsabilidade do autor]

Só hoje tive oportunidade de ler o poste 3760 de 19 JAN 09, do nosso Camarada e Amigo MEXIA ALVES (**).

Nas considerações que faz, cita várias vezes o poste 3737 de 14 JAN 73, da autoria do Sr Ten Gen da FA, António Martins dos Santos (***). A apreciação deste sobre A Retirada de Guileje, vai ser objecto de um comentário meu, rebatendo várias afirmações e conclusões do Sr Ten Gen, que não correspondem à verdade.

Exemplo:

“Desde 6 de Maio que os GC [Gr Comb] do Guileje não efectuaram qualquer saída do quartel…”.

Esta afirmação é uma mentira; basta ler o último parágrafo da pág. 32 e o primeiro parágrafo da pág. 33 do meu livro, que remete para o Anexo V; neste, elaborado pela 4ª. Repartição do Quartel General do Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG), são referidas as colunas de reabastecimento a Guileje; verifica-se que, após 6 MAI 73, foram realizadas colunas nos dias 7,11,14 e 16 MAI 73, isto é, 4 colunas.

Ora, o Sr Ten Gen, que diz ter tirado as conclusões depois da leitura do livro, ou não leu o Anexo V, ou se o leu, só ele pode explicar porque fez uma afirmação que é frontalmente contrariada pelo que consta no referido anexo, cuja autenticidade não pode ser posta em causa. A menos que o Sr Ten Gen considere que, nas colunas de reabastecimento, não saíam os Gr Comb de Guileje!

Tal como consta na pág. 28 do meu livro:

“ As colunas de reabastecimento eram verdadeiras Operações, que hipotecavam todos os meios operacionais disponíveis das duas guarnições”.

Não é especificamente referido no livro, mas é evidente que, não havendo água no quartel, esta era recolhida numa fonte a cerca de 4 Kms, na direcção do Mejo, isto é, no sentido contrário ao da estrada para Gadamael; o abastecimento de água era feito diariamente e, parece que é desnecessário referir, que esta actividade era efectuada pelos Gr Comb.

No próprio dia 18 MAI 73, à tarde (recordo que o ataque do PAIGC a Guileje, teve início com uma emboscada, neste dia às 7 horas), foi feito o indispensável reabastecimento de água (ver pág. 200 – resposta à 7ª. pergunta e pág.266, comentário 1).

A última saída de Gr Comb efectuou-se na manhã do dia 19 MAI, numa coluna para evacuação dos feridos da véspera, comandada por mim, na direcção de Mejo; devo referir que a Força Aérea não fez as evacuações solicitadas, a partir de Guileje, no dia 18; não questiono este facto, mas a promessa, não cumprida, feita pelo Sr Comandante-Chefe, na sua última visita a Guileje, em 11 MAI 73 (ver pág. 42 e 43). Recordo que um ferido grave (Cabo Metropolitano) faleceu 4 horas depois de te sido ferido na emboscada. Não se teria salvo se tivesse sido evacuado, em tempo oportuno?

Após esta actividade no dia 19, não mais saíram tropas do quartel, porque não estavam criadas as condições mínimas de segurança, nomeadamente a evacuação de feridos graves; pelo contrário, havia a CERTEZA DE NÃO EVACUAÇÃO e, como já acontecera, os feridos acabariam por morrer. Nestas condições, como é que um Comandante responsável podia atribuir missões de alto risco aos seus subordinados?

Nem tão pouco era mais viável a evacuação, através do rio, como fora efectuada no dia 19, porque os sintex (barcos com motor fora de borda) e os respectivos operadores não regressaram a Guileje.

Em função do que fica escrito, como é que o Sr Ten Gen pôde concluir que os Gr Comb não efectuaram qualquer saída, desde 6 de Maio?

Relativamente ao que o MEXIA ALVES afirma:

“Eu pessoalmente não vejo em nenhuma das descrições feitas algo que sustente que o quartel estava irremediavelmente perdido e que portanto devia ser abandonado, mas posso estar redondamente enganado.”

Ora desta afirmação, com os elementos de que dispõe, Mexia Alves entende que o quartel não devia ser abandonado (é a minha interpretação), a menos que esteja enganado. É evidente que não concordo com a sua analise, remetendo-o, bem como aos amigos tertulianos, para o que consta nas páginas 76 a 82 – “20. Decisão de efectuar a Operação de Retirada de GUILEJE”.

É curioso referir que, nem o Sr Ten Gen Martins de Matos nem o Mexia Alves fazem a mínima alusão aos factores que estiveram na base da minha decisão, constantes nas páginas indicadas atrás e este é um ponto crucial; para quem quiser analisar a situação com profundidade, é indispensável ler atentamente o que está escrito e depois concordar ou discordar sobre a validade ou não das minhas razões, avançando as suas.

Há algumas pessoas que, sobre o assunto, emitiram uma opinião “politicamente correcta”, como foi o caso do Sr Maj Gen Manuel Monge, no filme AS DUAS FACES DA GUERRA: só quem lá estava tinha a capacidade de tomar uma decisão, face à situação concreta.

A minha decisão de retirar não pode ser analisada, sem considerar a hipótese contrária, isto é, permanecer em Guileje; eram as duas modalidades de acção que podiam ser tomadas, importando apresentar os prós e contras de cada uma; na pág. 80 do meu livro ((9) . Previsão do futuro, a muito curto prazo) está expressa, de forma sucinta, a minha perspectiva do que aconteceria, se a decisão fosse permanecer.

Mais do que a minha avaliação da situação concreta, importa conhecer o que, sobre este assunto, pensava o Sr Brigadeiro Leitão Marques, Comandante Adjunto Operacional do Comando-Chefe, constante na acta da Reunião de Comandos de 15 MAI 73.

Esta reunião foi presidida pelo Sr General Comandante-Chefe, estando presentes os Senhores Comandantes dos 3 Ramos das Forças Armadas: Exército, Marinha e Força Aérea, Sr Comandante Adjunto Operacional, Sr Chefe do Estado Maior do Comandante-Chefe e os Senhores Chefes das Repartições de Operações e Informações.

Chamo a atenção acerca da data desta reunião – 15 MAI – isto é, 7 dias após o início do ataque do PAIGC a Guidage (8 MAI) e 3 dias antes de se iniciar o ataque a Guileje (18 MAI). Só não foram incluídas, no meu livro, transcrições desta importantíssima reunião, para não aumentar ainda mais o seu volume.

Segue-se a transcrição de parte das declarações do Sr Brigadeiro Leitão Marques:

“… O In está a preparar as necessárias condições para conquista e destruição de guarnições menos apoiadas por dificuldade de \acesso (GUIDAGE, BURUNTUMA, GUILEJE, GADAMAEL, etc), a fim de obter os êxitos indispensáveis à sua propaganda internacional e manobra psicológica – isto está já ao alcance das suas possibilidades militares.

Quanto às vantagens para manobra psicológica In, não podemos esquecer que qualquer êxito pode conduzir à captura de prisioneiros em número tal que possa constituir um elemento de pressão psicológica sobre a Nação Portuguesa. A dar-se este facto e aceitando que a orientação comunista prevalecerá, tal elemento será aproveitado ao máximo para desmoralizar a retaguarda e manter-se-á até serem atingidos os objectivos finais em todas as PU
.

Esta transcrição fala por si; não possuindo eu a informação privilegiada do Sr Brigadeiro, a avaliação que fiz da situação não foi substancialmente diferente da \posição do Sr Comandante Adjunto Operacional. Tendo em conta os factores já indicados, considerei a posição insustentável, decidindo retirar na manhã do dia 22 MAI, aproveitando o efeito de surpresa; não estou certo que, se permanecesse, mais um dia que fosse, a retirada pudesse ser viável.

Espero que, com estas considerações, tenha contribuído para que o Mexia Alves tenha ficado mais esclarecido.

Logo que li o poste do Sr Ten Gen, enviei um mail ao Luís Graça, em que dizia:

“…quem não conhecer o livro e só ler a sua apreciação, ficará com uma ideia errada do que aconteceu, o que poderá ser o caso de muitos tertulianos…”.

Parece que adivinhava. O poste do Mexia Alves, pessoa que, além de bem informada, considero que tem intervenções sensatas e equilibradas, demonstra à evidência que, determinadas afirmações e conclusões, não fundamentadas, sobre o “dossier” Guileje, podem tornar-se perigosas. Ainda bem que a apreciação do Sr Ten Gen Martins de Matos foi publicada no blogue; esta circunstância vai-me permitir rebater as suas opiniões, como fiz relativamente à não saída dos Gr Comb de Guileje.

Aproveito esta oportunidade para desejar aos Camaradas e Amigos da Tabanca Grande um ANO de 2009 repleto de êxitos pessoais e profissionais e especialmente com muita SAÚDE, extensiva a todas as famílias. Quero também agradecer todas as provas de solidariedade que, por diversas formas, tenho recebido.

Um grande abraço solidário

Coutinho e Lima
___________

Nota de L.G:

(*) Vd. último poste da série > 29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3811: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (19): Resposta de Nuno Rubim a António Martins de Matos

(**) Vd. poste de 19 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3760: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (15): A minha homenagem aos que viveram a Guerra da Guiné. (J. Mexia Alves)

(***) Vd. poste de 14 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3737: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (11): Um erro de 'casting', o comandante do COP 5 (António Martins de Matos)

Guiné 63/74 - P3855: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (5): As colunas Buba-Aldeia Formosa




1. Em mensagem de 17 de Janeiro de 2009, Manuel Traquina, ex-Fur Mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70, enviou-nos mais este episódido das Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo:



As Colunas Buba – Aldeia Formosa

As colunas militares de reabastecimentos que saíam de Buba, tinham pelo caminho o primeiro ponto de apoio em Nhala e o segundo em Mampatá este último já próximo de Aldeia Formosa.
Os quarenta quilómetros que separam as duas localidades muitas vezes demoravam cerca de dois dias a percorrer. Era preciso contar com muitos tiros, emboscadas, estradas minadas, além dos habituais atascamentos das viaturas na época das chuvas.
Não existiam quaisquer sistemas electrónicos de detecção de minas, assim os militares tinham inventado aquilo a que chamavam a pica, que não era mais que uma pequena verguinha de ferro pontiaguda numa das extremidades, e com ela se ia picando todo o terreno susceptível de ocultar aqueles engenhos explosivos. De salientar que locais havia, em que as estradas com terrenos arenosos ou lamacentos, se tornavam bastante perigosos, por isso os especialistas da matéria tinham que picar palmo a palmo todo o terreno, antes de passagem dos veículos que compunham a coluna. Algumas vezes aconteceu neste percurso, detectar e levantar quatro ou cinco minas anticarro e uma dezena ou mais antipessoal, mas por vezes um pequeno descuido levava a que uma tivesse escapado, e viesse a causar a destruição de uma viatura e as lamentáveis mortes e feridos.

Naquele dia de Junho de 1968, em Mampatá aguardava-se a passagem da coluna e, faziam-se os habituais preparativos para lhe prestar algum apoio. Via rádio sabia-se que tinha sido uma das colunas mais difíceis, era já o fim da tarde do segundo dia de marcha, tinha sido atacada três vezes, algumas minas tinham sido detectadas na estrada e contavam-se já alguns mortos e feridos.
Ao chegar a Mampatá, como era habitual, os primeiros cuidados iam para os feridos, alguém indicou dois soldados estendidos sobre um Unimog dizendo, a estes já não há nada a fazer. Porém, o Furriel Enfermeiro Chambel aproximou-se, verificou a pulsação, e disse:
- Este homem está vivo.

De imediato e com os poucos meios de que se dispunha, tentou-se a reanimação e transportou-se com urgência até Aldeia Formosa, onde um helicóptero aguardava e fez a evaquação para o Hospital Militar de Bissau.

Tal como em muitos outros casos, com os nervos em franjas os especialistas da saúde, faziam o que podiam para resgatar da morte muitos destes jovens vítimas da guerra.

Na foto poderemos ver um helicóptero de apoio à coluna, que se prepara para fazer uma evacuação. Ao centro a Enfermeira Pára-quedista Ivone

Manuel Batista Traquina
__________

Nota de CV:

(*) Vd. último poste da série de 15 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3457: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (4): Baptismo de fogo e gemidos na noite

Guiné 63/74 - P3854: Tabanca Grande (112): Alberto Sousa e Silva, ex-Soldado de Transmissões da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70

1. Mensagem de Alberto Sousa e Silva, ex-Soldado de Transmissões da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70, com data de 19 de Janeiro de 2009:

Caro amigo Luis Graça.
Permita a forma de o tratar como se fossemos conhecidos.
A vivência dos dois melhores anos da nossa vida, passados na Guiné, por onde percorremos os mesmos trilhos, bolanhas e sofrimento, leva-me abusar dessa ousadia.

Começo por o felicitar pelo excelente trabalho desenvolvido no seu Blog em prol dos combatentes. Possibilita recordar e reviver a comissão obrigatória passada e as localidades por onde passámos. Permite também, alguns antigos combatentes tomar conhecimento de camaradas que já nos deixaram, por já não fazer parte dos vivos. Parece que foi há meia dúzia de meses a nossa vivência na Guiné, mas já lá vão decorridos mais de 40 anos que estão sempre nas nossas memórias.

Ao reviver num momento de lazer uma busca no seu Blog, cheguei à conclusão de algo do meu arquivo pessoal eventualmente, ter interesse na divulgação. Após a análise que queira fazer e se vir interesse nessa divulgação, passo a indicar a minha situação militar:

Nome: Alberto Sousa Silva

Morada: Gavião
4760 - 004 Vila Nova Famalicão

Dados militares:
Posto - Soldado
Especialidade - Transmissões Infantaria Condutor Auto
Unidade - CCAÇ 2382 (Zé do Olho Vivo)

- Embarque para a Guiné no Navio Niassa em 01 de Abril de 1968

Zona Operacional:

- Norte - Aquartelamento de Bula (Treino Operacional - 30 dias)
- Sul - Aquartelamento de Aldeia Formosa (QUEBO) - População de Contabane/Mampatá/Saltinho/Nhala
- Sul - Aquartelamento de BUBA (quadricula)

No período operacional tivemos diversos contactos com o IN, nomeadamente, emboscadas no interior da mata e flagelações às povoações e aquartelamentos.
Desses contacos, realço a flagelação à povoação de Contabane no dia 22 de Junho de 1968.

Tinha a Companhia cerca de 30 dias de comissão e o forte combate que foi travado durante cerca de 60 minutos, o IN atingiu em parte o seu objectivo, destruição das tabancas. Com estas incendiadas e parte do material da Companhia destruido, conseguimos aguentar o fogo inimigo, e evitamos a sua penetração no interior da população. No dia seguinte, e para se inteirar das consequencias, tivemos a visita do Governador António Spínola, que inteirou-se da nossa situação e ordenou o abandono da Companhia dessa população, com destino a Aldeia Formosa. Sobre essa flagelação escreveu o Comandante da Companhia um artigo titulado (NOITE LONGA EM CONTABANE) anexo.

Realço também, a flagelação ao Aquartelamento de BUBA, com o plano da operação elaborado pelo IN e posterirmente obtive (anexo).
Pode ser o inicio de um historial a contar por outros colegas da Companhia, avivando as suas memórias e como eu tome a iniciativa.

Um grande abraço deste amigo desconhecido, mas imbuido do mesmo objectivo em prol de todos os combatentes que tão desprezados tem sido pela classe politica actual.

Alberto Silva



Operação do PAIGC - Ataque a Buba, 16 de Outubro de 1969 - Página 295 de "Guerra Colonial - Angola-Giné-Moçambique" editado em fascículos pelo Diário de Notícias, com a devida vénia

Idem, página 294

Idem, página 294


2. Comentário de CV:

Caro Alberto Silva, bem-vindo ao nosso Blogue.

Já cá tens um camarada da "Zé do Olho Vivo", o Manuel Traquina(*). Junta-te a ele e, como ele, envia as tuas recordações para publicarmos. Na verdade já cá temos umas quantas fotos que enviaste, que a todo o tempo irão sendo divulgadas nesta Página.

Como militar da área das Transmissões, terás algo para divulgar, que eventualmente pode não ser do conhecimento geral. Toda a gente sabe que o pessoal desta área estava sujeita à disciplina do sigilo. Entretanto já muita água passou debaixo das pontes e o que ontem era secreto, hoje pode ser divulgado.

Peço desculpa por teres estado algum tempo sentado do lado de fora da Tabanca, à espera de entrar, mas alguns problemas pessoais, meus, não me deixaram cumprir com regularidade a minha função de co-editor deste Blogue.

Com certeza que toda a tertúlia te envia um abraço de boas-vindas, sou por isso portador dele para ti.

Carlos Vinhal
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste com data de 15 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3457: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (4): Baptismo de fogo e gemidos na noite

Vd. último poste da série de 5 de Fevereiro > Guiné 63/74 - P3842: Tabanca Grande (111): José Brás, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Guiné 1966/68

Guiné 63/74 - P3853: Apontamentos sobre Guileje e Gadamael (Manuel Reis) (3): Lágrimas no desarmamento dos milícias de Cumbijã, em Agosto de 1974

1. Mensagem de Manuel Reis ( Ex-Alf Mil CCAV 8350) (*) para Vasco da Gama ( ex-Cap Mil CCAV 8351)

Assunto - Resposta ao poste P-3815, de Vasco da Gama (**)

[Subtítulos e negritos do editor L.G.]

Amigo Vasco da Gama:


Tive imenso prazer em te rever, passados tantos anos. Não me recordo de estar contigo “nos teus territórios” de Cumbijã e Colibuía o que me intriga, pois estive lá até 19 de Agosto de1974, data da entrega do aquartelamento ao PAIGC.


(i) Só me juntei à Companhia em Cumbijã, em finais de Novembro de 1973

Nem sequer sabia que o aquartelamento de Cumbijã tinha sido construído pelos teus homens, soube pela tua intervenção no blogue. Andámos desencontrados, a culpa foi minha pelos motivos que te apresento. Eu afastava-me sempre dos centros de decisão. Só fui uma vez a Aldeia Formosa e aproveitei uma ida à água.

Não segui com a Companhia, [a CCAV 8350,] para Cumbijã. Foi aproveitada a minha ida diária a Bissau, onde fazia tratamentos no Hospital Militar, para passar o testemunho à Companhia que ia ocupar o aquartelamento de Quinhamel. Assim decidiu o Capitão Patrocínio (falecido recentemente). Por esta razão só devo ter aparecido em Cumbijã, nos finais de Novembro [de 1973].


(ii) Em 15 meses tivemos 4 comandantes


O novo Comandante passou a ser o capitão Reis (do Quadro, hoje Major-General) e seguiu-lhe o Capitão Santos Vieira (do Quadro, hoje Coronel). A comissão deles era curta, como bem dizes, de 4 meses no máximo. Alguns mal lá pararam.

Em 15 meses tivemos 4 Comandantes de Companhia. Procurava estar onde eles não estivessem. O Capitão Reis estava em Cumbijã e eu pedi-lhe para ir para Colibuía desde que fosse possível. O Capitão Santos Vieira estava em Colibuía e eu pedi-lhe para ir para Cumbijã.

Até para Nhala fui. Estive, com o meu grupo de combate, a fazer protecção à Engenharia e assisti ao desenrolar dos tristes acontecimentos que levaram Braga da Cruz (Cap Mil) a ir apresentar-se a Aldeia Formosa, ao Comando. Tentei que tal não sucedesse, mas nada consegui, os Alferes estavam determinados a tirar partido da situação. Só entendo assim e foi esse o meu entendimento na altura. O 25 de Abril já tinha acontecido! Aliás tu conheces bem a situação.

Julgo que esta minha situação de “vagabundo” deve ajudar a explicar o nosso desencontro.

(iii) Em 4 de Junho de 1973, o nosso comandante era o Cap QP Caetano

Vamos aos esclarecimentos que me solicitaste.

[ Questão 1. Estando a vossa Companhia já em Gadamael, afirmas no teu texto e passo a citar: "No dia 4 de Junho 11 (onze) militares mal armados, saem para o mato pressionados pelo novo comandante da CCav 8350 e são emboscados a 500 (quinhentos) metros do arame". Podes dizer-nos quem era este comandante? V.G.]

O Comandante da CCAV 8350 que substituiu, em Gadamael, o Capitão Quelhas Quintas e ordenou a referida emboscada, foi o Capitão Caetano (Quadro), falecido pouco tempo após seu o regresso.

Claro que percebo o alcance do teu esclarecimento. A situação é difícil de entender, quando estamos num palco de guerra e a guerra está no auge. Não citei o nome na altura, porque me pareceu que não interessava a ninguém e qualquer discussão sobre o tema era inoportuna. De qualquer modo devo acrescentar que ele soube controlar a situação e os estilhaços caíram sobre mim e sobre um Capitão Miliciano, cujo nome não me ocorre. Foi enviado para lá, não recordo com que missão, apenas sei que estava, no dia anterior em Cacine.

Os dois tínhamos presenciado todo o desenrolar dos acontecimentos, cujos passos detalhados e alguns protagonistas vou continuar a omitir, para não magoar mais os familiares dos camaradas mortos, que eventualmente pudessem vir a ter conhecimento por esta via.

Destituiu-me do cargo de 2º Comandante (não era importante para mim), sem argumentação plausível, colocou-me nas zonas do aquartelamento mais expostas às flagelações, responsabilizou-me pelo espólio do Alferes morto na emboscada e encarregou-me de estabelecer contacto escrito com a mãe.

A troca de correspondência foi dolorosa para mim a para a mãe e julgo que não lhe minorou o sofrimento Transmitiu, ainda, para o exterior uma imagem negativa da minha pessoa, como cidadão e como militar, que viria a ter repercussões bastante profundas na minha maneira de ser e de estar.

Ao Capitão Miliciano desafiou-o, em Gadamael, para um duelo à antiga portuguesa, acompanhado de outro tipo de ameaças. Chegou a puxar dos galões servindo-se da antiguidade.


(iv) O estigma de Guileje e Gadamael marciou-nos para sempre

Isto aconteceu porque comentámos, com um grupo de camaradas, a delicadeza da situação. Não houve qualquer intenção de o criticar, ele era nosso superior hierárquico e merecia-nos todo o respeito. Estava uma noite de breu e não nos apercebemos da sua proximidade, caso contrário nada teríamos dito. Era uma situação muito desagradável e embaraçosa para ele. Nós sabíamos que sofria como todos nós.

O estigma de Guileje e Gadamael acompanhou-nos para sempre. Por isso, se tornou muito difícil a vivência da Companhia após o período de Guileje e Gadamael. Até um camarada meu, companheiro das lutas estudantis de 1969, em Coimbra, me aconselhou a sair da sua mesa, na Messe dos Oficiais em Bissau, porque o podia comprometer.

A presença dos nossos soldados, em Bissau, tornou-se problemática pelas provocações de que eram alvo e quase sempre degeneravam em confrontos físicos.

[Questão 2 - Depois de todas as tragédias no Guileje e em Gadamael, a CCav 8350 veio para o Cumbijã, julgo que no dia nove do mês de Novembro de 1973. Conviveram connosco, patrulhavam juntamente com os meus Tigres e eram comandados na altura pelo Capitão Reis, do Quadro Permanente, de quem guardo a melhor das impressões como ser humano. Veio a ser substituído pelo também oficial do Quadro e meu bom amigo Capitão Vieira que esteve presente no lançamento do tão falado livro do Coronel Coutinho e Lima. (As comissões da malta do Quadro eram mais curtas do que as nossas...). V.G.]

Mas então o que fizemos nós “nos teus territórios” de Cumbijã e Colibuia?

Mantivemos a actividade operacional que vocês faziam. Com Reis (Capitão), colocámos em dia 53 processos relativos a mortos e feridos. Não existia nada. Foi um trabalho, feito por mim, pelo Seabra (Alf Mil) e pelo Gonçalves (Alf Mil) e coordenado pelo Capitão. Trabalho meritório do Capitão Reis, que hoje teria graves repercussões nos familiares se não tivesse sido efectuado atempadamente.

Ainda durante o período do Capitão Reis iniciámos a construção de casas para a população, em Colibuía, o chamado reordenamento.

Após o 25 de Abril e já com o Santos Vieira (Capitão) no Comando da Companhia a actividade operacional quase estagnou. Como o Santos Vieira quisesse ficar em Colibuía, eu fui para Cumbijã depois de o ajudar a enquadrar-se com as actividades da Companhia. Em Bissau pintaram-lhe um quadro negro sobre os homens que ele ia comandar e os primeiros tempos foram de alguma apreensão. Nesta altura o Seabra ( Alf Mil) já estava colocado em Bissau.

Durante o meu período de Cumbijã (Junho, Julho e parte de Agosto de 1974) fazíamos a manutenção do aquartelamento e arranjávamos actividades ocupacionais do tempo livre. Era importante manter o pessoal ocupado e começar a prepará-lo para a recepção a grupos do PAIGC.

Não me recordo de qualquer referência à tua Companhia, a maior parte das questões eram sobre Guileje pelo facto de transportarem com eles muitos objectos que foram deixados lá: Sapatinhas, camisas, calções, ti-shirts e até uma agenda do enfermeiro.


(v) Os nossos ois encontros (tensos) com o PAIGC, depois do 25 de Abril


[Questão 3 - Os Tigres do Cumbijã embarcaram para Bissau a bordo

da LDG de seu nome BOMBARDA a 27 de Junho de 1974, sem que

tivessem tido a visita de qualquer elemento do PAIGC. Avistei uma vez um grupo de combate junto à estrada quando comandava a coluna do Cumbijã para o Quebo. V.g.]

[Questão 4 (...) Julgo que nos diálogos verbais que mantiveste com o PAIGC, teriam eventualmente falado sobre a minha Companhia que, duma zona povoada de minas, sofrendo inúmeros ataques ao aquartelamento, vivendo em barracas de lona e construindo pelos seus próprios meios valas de protecção e habitações com o mínimo de dignidade, assaltando Nhacobá, fazendo colunas diárias a Aldeia, ou protegendo Buba/Aldeia, com umas dezenas de contactos de fogachal, devia ter merecido da parte deles algum comentário. É uma parte da história da minha Companhia que me falha e nunca entendi qual foi a razão que impediu o PAIGC de ter confraternizado com OS TIGRES após o 25 de Abril, como o fez em tantos outros lados. Sei que esperou a nossa saída.... V.G.]

Tivemos dois encontros, o primeiro ocorreu no fim da estrada asfaltada, sob alguma tensão, pois íamos desarmados, e se algo corresse mal poderia ser problemático. No segundo encontro já se aproximaram do aquartelamento e foram banqueteados com um panelão de arroz. Nestes encontros esteve sempre presente o Capitão Santos Vieira que informado rapidamente se deslocava lá.

Os comícios políticos eram feitos pelos comissários políticos do PAIGC e eram direccionados ao grupo de milícias (20), mas a tensão era enorme, poucos apareciam e mesmo esses vinham contrariados. Uma das vezes tive de intervir para que o comício não degenerasse numa batalha campal.

O aquartelamento foi entregue a 19 de Agosto ao PAIGC e do grupo de milícias (***) apenas ficaram dois elementos, os restantes partiram rumo ao Senegal, digo bem Senegal. Eles conheciam bem as diferenças de actuação entre o Presidentes Senghor e Sekou Touré e preferiram contornar a Guiné pelo leste de modo a entrar no Senegal. Não sei se o terão conseguido, apenas soube que a travessia do Corubal se tornou complicada pela exigência monetária que lhes fizeram.

Fica aqui um pequeno escrito, elaborado na altura, referente à entrega das armas, no dia 18 de Agosto de 1974.

'AS TEIAS QUE O IMPÉRIO TECE'

Agosto de 1974.
A guerra terminara.
Encontrava-me em Cumbijã, sul da Guiné.
Comigo permaneciam dois grupos de combate e um de milícias.
Aproximava-se a data da entrega do aquartelamento.
É-me ordenado que desarme os milícias na véspera.
O desarmamento processa-se de uma maneira calma e ordenada.
O ambiente era pesado, de dor e tristeza.
Mamadu, sargento-milícia, dirige-se-me num tom sereno e educado
e recorda-me o momento

em que lhes tinha sido entregue o armamento.
Quantas promessas!...
Não tive palavras.
De lágrimas rolando pela face,
num abraço apertado,
despedi-me de Mamadu.
Até sempre!...


Um abraço amigo,
Manuel Reis

P.S. De Aveiro à Figueira da Foz ou vice-versa é perto.
_____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de

24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3788: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (1): Depoimento de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)

Vd. primeiro poste da série de 30 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3818: Apontamentos sobre Guileje e Gadamael (Manuel Reis) (1): Gadamael, eu te amo, eu te odeio

3 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3835: Apontamentos sobre Guileje e Gadamael (Manuel Reis) (2): Resposta aos comentários no P3788

(**) Vd. poste de 29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3815: Quatro considerações, a propósito dos Postes 3788 e 3789 (Vasco da Gama)

(***) Mensagem posterior do Manuel Reis:

Amigo Luís: Obrigado pela arrumação que deste ao texto. Mas o titulo que extraíste do texto não está correcto. Assim quando dizes: LÁGRIMAS NA ENTREGA DE CUMBIJÃ devias ter dito: LÁGRIMAS NA ENTREGA DO ARMAMENTO DOS MILÍCIAS ou LÁGRIMAS NO DESARMAMENTO DOS MILÍCIAS.

São coisas distintas e o que me doeu, de facto, foi o total abandono a que as milícias foram sujeitas.

A data está correcta. O desarmamento foi efectuado a 18 de Agosto e a entrega do aquartelamento a 19 de Agosto.

Um abraço amigo
Manuel Reis

Guiné 63/74 - P3852: As minhas andanças com a CCAÇ 1622 (Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68) (José Brás, ex-Fur Mil Trms)

1. Mensagem do José Brás (*): Caríssimos amigos Luís Graça e Carlos Vinhal Na sequência da apresentação do meu texto e da nota que o Carlos Vinhal me enviou, aqui vão os dados em falta para completar a entrada na Tabanca, A minha especialidade foi de Transmissões na Companhia de Caçadores 1622. Chegámos no Niassa numa noite de Novembro de 66 à vista das luzes do que nos disseram ser Bissau. Durante a noite fomos transladados para uma LDG que nos levou até Buba, navegando aquelas águas apertadas no escuro e na sombra da vegetação marginal. De Buba marchámos para Aldeia Formosa pela estrada principal, mais tarde alcatroada com festa e encerrada no mesmo dia. Em Aldeia Formosa mantivemos um Pelotão em destacamento em Cumbijã e outro de uma secção em Chamarra. Lá por Maio (se a memória não me atraiçoa), por troca com a Companhia do Capitão Cadete, rumámos a Mejo, onde ficámos quase até ao fim da Comissão, saindo para inaugurar um centro de recuperação em Bolama, após inspecção por junta médica deslocada a Mejo, concluir que a saúde daquela malta não permitia aguentar mais. Porque fiquei a entregar material, só saí de Mejo quando uma coluna fez o caminho de Guileje, onde vivi os primeiros dias da abertura de Gadembel. A estrada de Gadamael era já minha conhecida porque quase sempre me disponibilizei para deixar os rádios aos cabos e alinhar nas colunas, nas patrulhas, nas emboscadas, acho que num sentimento que, por um lado assumia solidariedade com os meus sacrificados irmãos, e por outro lado, mexia com a vontade de sentir aquilo por dentro, a ansiedade, algum medo e a espantosa alegria de regressar inteiro. De Gadamael rumei em batelão civil para Cacine, depois Catió (onde ia morrendo de intoxicação alimentar), Bolama (onde já não estava a minha Companhia) e, de Bolama a Bissau (à beira de um naufrágio), até Bissau, onde, de novo, já não estava a minha Companhia que, apesar de estar em Bissau para regressar, foi mandada para Teixeira Pinto. Chegado eu a Teixeira Pinto, a minha Companhia tinha ido para o Pelundo e só voltei a encontrá-la duas semanas depois para fazer parte de um coluna a Có. Todos juntos regressámos a Lisboa em Julho de 68. Com gente a menos, infelizmente, perdidos no corredor, em Chim-Chi Dari, na estrada Mejo-Guileje… E pronto! Como este texto é apenas para completar dados e como me parece já muito longo fiquemos por aqui com um abraço forte, longo e amplo. Montemor-o-Novo, 05.02.09 José Brás _________ Nota de L.G.: (*) Vd. postes de: 8 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3851: Blogoterapia (89): Ninguém tem razão sozinho, viva o debate e o abraço (José Brás) 5 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3842: Tabanca Grande (111): José Brás, ex-Fur Mil

Guiné 63/74 - P3851: Blogoterapia (89): Ninguém tem razão sozinho, viva o debate e o abraço (José Brás)

1. Mensagem do José Brás (*)

Caros amigos e camaradas

Luís, Carlos, Mário, Hélder… Duplamente feliz!

Primeiro… porque me deram entrada num excelente auditório que eu vinha espreitando há muito pela porta aberta.

Eu queria entrar, ou melhor, fui querendo entrar, a vontade a crescer à medida que crescia em mim, também, a descoberta da qualidade do blogue; da ampla democracia do debate e da pluralidade das opiniões em presença; da excelência de muitas entradas em termos de comunicação e mesmo do ponto de vista da construção literária; da necessidade objectiva e subjectiva dos personagens do romance para saltarem da ficção que os enredou então, para a realidade real, em dois tempos, um, o de actores de outras guerras e outros abraços do hoje, outro, hoje também, o de narradores das guerras do ontem.

Isto tudo, transformando-se, transfigurando-se, vestindo e despindo peles de ontem e de hoje, porque “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” e porque nenhum homem é apenas o que é hoje, mas, hoje é também o que foi ontem e, quase de certeza, o que for amanhã.

Na cabeça de um homem é cá uma confusão!

Fui querendo entrar…e entrei abraçando toda essa gente. A que concorda comigo e a que discorda.

Segundo…porque vim aqui encontrar alguns amigos que conhecia já… e já não via há muito (Fitas, Branquinho, Hélder), e outros que, sendo-o a partir de hoje, o eram já, de facto, há muito.

Bem sei que a cultura geral que nos entala, muita gente prefere rodear-se apenas dos que, com um sorriso e uma palmadinha nas costas, nos dizem que temos razão, muitas vezes apenas para nos meterem a naifa à primeira oportunidade. Por isso mesmo, qualquer um que semeie ao arrepio do vento, pode parecer meio doido, mas de facto, mantém a verdade da seara.

A polémica é tão necessária como a certeza de que ninguém tem razão sozinho.

Tanto quanto me parece (e lamento) há gente que nunca botou opinião apenas porque tem medo de estar errado e, com isto, nunca teve razão.

Viva o debate e o abraço.

Montemor-o-Novo, 06.02.09

José Brás

_____________

Nota de J. B.:

Hélder: Não tenho razões para dúvidas sobre a grandeza de alma de Mexia Alves, mesmo que não mesmo que não mo tivesses garantido tu.

Aliás, com almas menores não se polemiza, discorda-se no silêncio que elas merecem. Espero conhecer o Mexia Alves numa próxima oportunidade de convívio.

Um abraço para ti e também para ele.

José Brás

____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 5 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3842: Tabanca Grande (111): José Brás, ex-Fur Mil

Guiné 63/74 - P3850: Os meus 53 dias de brasa em Bissau (Cristina Allen) (2): Quarto, precisa-se, por favor!


O Marechal Spínola, a partir de retrato oficial na Presidência da República 
 

1. Mensagem de Joana Santos:

Caro Luís Graça,

A pedido da minha mãe, junto um texto seu,  destinado ao Blogue.
Depois seguirão mais dois e um outro para o Carnaval, segundo me disse.

Cumprimentos nossos,

Joana Beja Santos


2. Há uns dias atrás a Cristina Allen tinha-me respondido a um mail meu, em que procurava inteirar-me da sua saúde (ela acabava de ser sujeita a uma intervenção cirúrgica) ao mesmo tempo que lhe dava notícias de uma família com que ela havia privado na sua lua de mel em Bissau.

Caro Luís Graça,

Estou a recuperar bem, em casa, e agradeço o seu cuidado. Reenviou-me uma mensagem preciosa que me traz notícias da família que mais me acarinhou em Bissau.É interessante saber como o seu Blogue tem vindo a ser um ponto de encontro de pessoas que considerava perdidas para sempre. Já cumpri os meus 53 dias, e em breve receberá notícias minhas. Aterrei na Portela com todo o vigor.

Um abraço, Cristina


3. Os meus 53 dias de brasa em Bissau > Desespero controlado (II) (*)


Breve história do alguidar comunitário, com fim feliz

(Ao Cabral, que me desejou força!)


Referi, no último texto que enviei, que deixara o Alferes Beja Santos em “banho de Maria”, no Hospital Militar.

Para quem cozinha, nada de especial nesta comparação. O calor insuportável daquele quarto de três, a atmosfera carregada de fumo, o fervilhar dos ânimos, tinham qualquer coisa de um pudim, cozido em calor lento, que, por vezes, se deslaçava e tinha, lá no fundo, uma camada espessa, inexoravelmente queimada. O que estava certo. Aquela terapia só de leve se exercia, à superfície dos comportamentos. O resto descia ao fundo da memória e se, por vezes, se soltavam bolhas de agressividade libertadora e benfazeja, afadigavam-se logo os enfermeiros em alisá-las, à força de injecções e tranquilizantes comprimidos.

Considerações à parte, vivia-se o quotidiano.


Fachada do HM 241, Bissau


Nessa manhã em que seria hospitalizado, o Mário e eu faríamos as malas e procuraríamos outro quarto, na “Berta”. Estava ali um espaço fresco e sombrio, com uma larga cama. Sem desfazer as malas, desci para o almoço e deparei com uma execrável salada de feijão-frade com atum. Os feijões, minúsculos e mal cozidos, o atum, na prática inexistente, cebola avonde, a gritar pela intervenção rápida da escova e pasta de dentes! Pousei ainda os talheres, mas (“saco limpo cá tá firma!”) enfrentei o questionável cozinhado.

Uma mãozinha leve tocou-me no ombro. Era a Berta, untuosa, que me perguntava se gostara do almoço (“sim.”), se o meu marido vinha almoçar (“não, foi hospitalizado.”), por quanto tempo (“não sei”) e, por fim, o tiro certeiro: num quarto de casal, eu não podia ficar, seria perder dinheiro com uma pessoa que ocupava um quarto de duas… mas ela conhecia uma senhora que alugava quartos, pessoa muito decente, e eu poderia ir comer ali as refeições (“é o vais!”, pensei…).

A senhora trabalhava nos Correios, queria eu ir já? Respondi-lhe que me arranjassem um táxi, quanto antes, me dessem a morada, e ela prontificou-se. O motorista chegou e era ali mesmo, ao cimo de uma avenida, que terminava na Praça do Império. Conheci, assim, o João Carlos, e o seu táxi.

A nova senhoria mostrou-me um quarto em cuja cama eu mal cabia, e, de seguida, a casa de banho, à qual não chegava água corrente, e onde nada funcionava, a não ser um enorme alguidar onde, desculpava-se, eu teria que mergulhar a esponja. O democrático alguidar tinha um suspeito fundo de sarro, mas lá lhe fui dando a semana adiantada, que me exigia. Farejei o armário, que cheirava a desinfectante e a naftalina, espalhei pelo quarto umas gotas de Miss Dior (oh vanitas!) e adormeci exausta. Acordei a tempo de sair, comprar água “Perrier” (não havia “Vichy”) e mais um frasco de álcool.

Pior seria a noite. Comecei por secar a bacia do lavatório com a toalha comunal. Entornei-lhe dentro uma boa porção de álcool e acendi um fósforo. Ali estava a labareda das minhas desinfecções. Porém, daquela vez queimei a franja. E, de novo, a toalha me ajudou. Só então deitei a “Perrier” no lavatório, aguardando que as bolhas se desfizessem. Lavei a cara, limpando-a à fralda da camisa. 

Nessa noite, ainda tive que ouvir o Roberto Carlos, aos berros. E travei uma incansável batalha com uma grande barata de asas. Acendi a luz para ler e lá estava ela, em cima da mesa-de-cabeceira. Parecia olhar-me e saber, de antemão, o que faria. Tinha o chinelo na mão e, mal o erguia, a barata voava. Perseguia-a, brandindo a arma de arremesso, e ela voava, zumbia. Quando voltava a atirar-lha, ela saltava e, atraída pela luz do candeeiro, voltava, inocentemente, ao seu poiso. Recomeçava a batalha, e ficávamos na mesma. Deixei-a, enfim, gozar do espaço conquistado. Experimentando um “Vesparax” do David [Payne], dormi a sono solto.

Pois foi exactamente à esplanada da aleivosa Berta que, repetidos os rituais do álcool, dos fósforos e sumárias abluções, eu fui parar para um frugal pequeno-almoço, na manhã seguinte.

Talvez o Padre Afonso, que tinha sempre um cafezinho e biscoitos das suas “confessadas” para repartir comigo, conhecesse alguém que me albergasse com alguma dignidade. Pus-me a caminho, mas não fui longe. As tiras da sandália do pé direito soltaram-se quase todas da sola e, chinelando, fui até à praça de táxis – uma eternidade a alcançá-la. 

De novo, o João Carlos, o motorista que falava português. “Para o Pintozinho!”, disse, e ele: “Mas é já ali”. Mostrei-lhe a sandália e ele riu-se, dizendo que já tinha reparado. Ríamos os dois. Fiz-lhe um gesto com a sandália desfeita – ou parava de rir ou levava com ela! Ameaça vã, o rapaz não parava de rir. Recusou a gorjeta, e disse-me que, quando precisasse, bastava telefonar para a praça, estacionava sempre lá. Escreveu o nome e o número num papel. A pária da “Berta” encontrara transporte privado.

Tirei a outra sandália e subi descalça as escadas interiores. Da secção dos relógios e ourivesaria saltou uma mulher jovem, aos gritos: “MariCristina! MariCristina!” Reconheci o sotaque alentejano de Aljustrel, a minha terra. Houve um apertado abraço. Inesperada, estava ali a Fernanda Ramires, das mãos e agulha de ouro que, tão jovem, fazia maravilhas de costura. 

Desabei em lágrimas para cima dela, que também limpava as suas, comovida. Sua mãe, sua avó, tinham sido nossas vizinhas, acudido às nossas doenças, às nossas mortes, e havia, entre nós todas, uma cumplicidade amiga. Não tinha a Ilda, sua mãe, ajudado a amortalhar a minha avó? 

Contei-lhe da Berta, do alguidar, da franja queimada. Fizemos planos. O Quito, seu marido, havia de estar de acordo. E eu, já de sandálias novas, tinha na mão o molho de chaves da sua casa. Eram minhas. Tudo estaria por minha conta. Passava a ter uma sala, com aparelhagem para a minha música, cozinha, sala de jantar, um quarto fresco, uma casa de banho de luxo, pátio, lavadeira-engomadeira e a “bajuda” que escolhi, Joana. Bem podia o meu marido mandar-me embora, que eu não ia! Estava ali eu, a minha rocha, o meu respeito, o meu quartel.

Em uma dessas manhãs calmas que ali vivi, vi passar Spínola, quase nosso vizinho, num carro assustador (!), pernas abertas, entre sacos (de quê?) – outra pose para o seu retrato. Fiz-lhe um largo e divertido adeus. Um breve aceno seu – na minha rua, tinha ele público.

Foi o Luís Graça que colocou o seu retrato no Blogue? E, junto a ele, não estará o Bruno? – “Bruno, aponta!” (outro dito de Bissau).


Cristina Allen, Fevereiro de 2009

____________

Nota do editor L.G.:

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3849: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (8): Bula, vésperas do Natal de 1970

1. Mensagem de Luís Faria, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 3 de Fevereiro de 2009:

Olá, Carlos Vinhal

Sem lapso desta vez, segue outra passagem de "Viagem à volta das minhas memórias".

É bem verdade que com o passar da idade, a nossa memória remota se vai aprimorando (com algumas ajudas) e a próxima, ao invés vai-se esbatendo, criando-nos até por vezes problemas.

Tem sido curioso constatar que, ao ler determinadas passagens/comentários no vosso/nosso blogue, ao ver fotos ou na consulta de alguns apontamentos, disparam-se flashes de pormenores, momentos ou situações que talvez me tenham marcado pela positiva ou negativa (??) Por outro lado há lapsos de tempo, sitios, situações que sei que vivi, mas estão envoltas até ver, numa escuridão desesperante! Por vezes bem puxo pela cabeça... mas ela não sai! !!

Tudo de bom
Luis Faria


Bula - Vésperas de Natal 1970

A 1 de Dezembro de 1970, os Velhinhos do BCav 2868 passam a responsabilidade da zona para o BCaç 2928 e a minha rotina continua até ao dia 19, data em que a Operação Ronco Desejado (???!!!) de novo vai levar a Força às matas de Dungor, península a Norte do Choquemone, mas agora com responsabilidade própria e sob o comando do Cap Mil Mamede de Sousa que, saindo pela primeira vez, se fez acompanhar pelo Fur Enf Urbano e o nosso guia balanta Inchalà Guancane que já tinha acompanhado mais do que uma vez o meu Grupo em acções, sem consequências, nos arrabaldes das zonas de Ponta Matar, menos problemáticas e daí já o conhecer como guia. Desta Operação mantenho algumas lembranças bem vivas, que hoje transcrevo.

A bicha de pirilau pôs-se em marcha como de costume pelas 1/2 horas da manhã, em silêncio absoluto, tentando não alertar a população para a nossa saída. Como sempre em Capunga(?), tabanca à saída da povoação, lá estavam mirones à porta de moranças e não seria por insónia, julgo! Continuamos pela picada de Binar e infletimos para leste em direcção ao objectivo. Ultapassámos a zona desmatada e o capinzal, e entramos na mata verdejante e húmida.

Não sei por que razão, o Cap Mamede e o Urbano iam integrados no meu grupo, que julgo seguia em segundo lugar. A noite luarenta deu lugar à manhã, andava-se cautelosamente com o minimo de ruído, aos esses evitando os trilhos e de quando em vez agachávamo-nos para ligeiro descanso.



- Oh Inchalá, ainda estamos longe…?

- É já li Furié - e andávamos mais uma imensidão de tempo sempre às voltas e contra-voltas, rarissimamente em trilhos, conforme instruções dadas. Sabia que aquela zona não era para brincar. Como da primeira vez, comecei a ouvir umas rajadas curtas intervaladas. Engodo, já sabem que cá estamos e não sabem onde - penso. Redobro a cautela e continuo a andar. A mata é mais densa agora.
Sem aviso rebenta um fogachal tremendo da minha direita. O pessoal agacha ou deita-se, proteje-se, pois o tiroteio é muito intenso, mas parece-me alto. A zona de morte é extensa, dando-me a entender que é um grupo IN numeroso e dividido. As malditas das RPG estoiram por tudo o que é lado, distingo bem o matraquear das armas turras e as balas são profusas. Parecia o inferno!!

A meu lado está o Cap Mamede, que num dos pequeníssimos abrandamentos do tiroteio dirigido à nossa zona, se levanta talvez com intuito de ver alguem ou por julgar que tinha acabado, não sei. Digo-lhe para se deitar e protejer, o que fez sem denotar qualquer receio ou medo. O Urbano, também à minha beira, ajuda à missa! Com a sua sacola de primeiros socorros e a sua G3 parece-me talhado para aquelas andanças!

O tiroteio continua a prolongar-se, com alguns abrandamentos e não parecendo viável e seguro tentar qualquer manobra de envolvimento, já que para além das carateristicas da mata, a zona de emboscada era extensa, há que protejer e aguentar. Da frente do meu 2.º Grupo pedem enfermeiro e lá vai o Urbano prestar apoio. É o Castanhas (HK 21) que tem estilhaços das malditas RPG no corpo. Continua a refrega. Protejo-me atrás de uma árvore tipo cajueiro, folhagem cai, ouço xicotadas, sinto impactos no tronco da árvore e fico à rasca. Estou sob mira! Vejo um vulto encoberto por um arbusto… atiro e deixo de o ver. A meu lado está agora o Augusto(inho) com os seus dilagramas. Lança um, recarrega e diz-me:

- Furriel, acabaram... só balas! Péssimo! Naquela situação o dilagrama podia fazer a diferença.

A refrega continua, já lá irão uns bons 15 minutos até que por fim tudo acaba. Para além do Cabo Castanhas fica ferido o Seno (morteiro) também com estilhaços, julgo. Pelos vestígios encontrados, o adversário teve bastantes feridos e talvez até mortos. No sítio onde vi o vulto e atirei, nada só a cama na folhagem.

As evacuaçoes são feitas pelo heli em clareira próxima com segurança e a 2791 rearranca em pirilau de novo aos esses e a corta mato. O moral do pessoal era bom e continua-se atento. Estou tenso mas calmo. O Inchalá está sereno e diz-me mais ou menos isto que me ficou gravado:

- Furié manga de tura… nos saída mais e sorriu-se!

Fiquei preocupado. A palavra foi passada e uma meia-hora depois, se tanto, aí estão eles de novo, desta vez com menor intensidade. Riposta-se, pede-se apoio aéreo. O recontro continua e passado algum tempo aparecem dois T6 que julgo andassem na zona, fazem a vertical, circundam, picam, largam duas bombas nos locais indicados como prováveis de retirada do IN, ganham altitude circundam a zona e vão embora. Ainda não tinha visto a actuação de aviões em combate e só meses mais tarde voltei a ter essa oportunidade, mas dessa vez foram os Fiat. Foi para mim realmente um espectáculo inesquecível que ainda hoje me parece estar a ver.

Com o aproximar e chegada dos aviões, o tiroteio esmorece e acaba sem que tivessemos baixas. Há informação de que muito pessoal esgotara as munições. São pedidas e chegam-nos de helicóptero (canhão?). É feita a segurança numa pequena clareira e o Fur Castro corre agachado a buscar os cunhetes por duas ou tres vezes.

Remuniciados, há que avançar de novo. O pessoal continuava cauteloso, mas estoirado. Como não há duas sem três, pouca distância percorrida e tivemos novo contacto, creio que com um pequeno grupo que estaria em retirada e também sem cosequências. Já era demais e como tínhamos que passar lá a noite, ia ser o bom e o bonito, pensei.

A tarde caminha para o anoitecer e, para meu contentamento o Cap Mamede deu ordem de regresso à estrada de Binar, saindo da zona. Passada a estrada, emboscamos em linha com os topos reforçados, preparando-nos para passar a noite. No dia seguinte pela manhã, vejo uma mulherzinha chorosa que mando parar e pergunto-lhe o que faz ali? Marido curta perna, respondeu receosa (?!). Deixei-a seguir para a tabanca que era próxima, sem querer aprofundar a questão.

De regresso ao quartel, quando passava pela rua principal de Bula, recordo que habitantes nos olhavam de maneira não habitual e cheguei a ouvir manga de ronco. Chegados, fomos recebidos na parada pelas chefias, coisa não usual, com dezenas de camaradas a obsevar. Após o destroçar, o bar foi o meu objectivo imediato.

Posteriormente soube o porquê daquela recepção: o pessoal julgou que, dada a intensidade dos rebentamentos que ouviram e os pedidos que fizemos, estávamos a ser dizimados. Dizia-se até que o Amilcar Cabral por azar estava ou ia passar na zona onde andámos e por isso nos deparamos com segurança reforçada. É possível, nunca cheguei a saber. Aquele era um corredor de passagem entre o Norte e o Sul. Só sei é que embrulhámos forte e feio, que infelizmente houve dois feridos, mas que recuperaram, que podia ter havido muitos mais, que a rapaziada se portou à maneira e que no espaço de um mês era a segunda vez que embrulhava duro e na mesma zona. Só cerca de um ano mais tarde voltei a pôr as botas no Choquemone, aquando da visita do Ministro para a inauguração(?) da estrada Bula/Binar.

O Natal era daí a quatro dias e tudo estaria bem se no dia seguinte ao final da Operação, 21 de Dezembro de 1970, não tivesse havido o primeiro morto da Companhia, num acidente de viação na estrada Bula/João Landim. O Sold At Celestino do 4.º GComb, que de véspera no Choquemone se tinha safado incólome, morreu estúpidamente ao fazer a escolta a João Landim, integrado no Grupo, quando o perigoso Unimog (burrinho) em que seguia, entrou num buraco da estrada cuspindo todo o pessoal da viatura e provocando mais 6 feridos. Creio que só o Fur Fontinha que seguia no lugar do morto, saiu incólume. Nessa data o Celestino ficou em Paz.

Um abraço a todos
Luis Faria



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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3832: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (7): Bula - Dias de calmaria

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3848: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (2): Eu, a NI e o Miguel em Biambe, para um almoço de batatas fritas (Henrique Cerqueira)

1. Mensagem de Henrique Cerqueira, ex-Fur Mil do 4.º GCOMB/3.ªComp/BCAÇ 4610/72 e CCAÇ 13, Biambe e Bissorã, 1972/74, com data de Fevereiro de 2009:

Cá vai mais uma história da minha NI (mulher) de GUERRA(*).

Como contei na história anterior, a minha NI resolveu acompanhar-me em mais uma pequena (?) aventura em terras da Guiné. É que resolvemos visitar os meus antigos camaradas e amigos do BIAMBE.

Lembro que fui para a Guiné integrado no BCAÇ 4610/72, mobilizado no RI 16 - Évora e, na 3.ª Companhia que viria a ser colocada em Biambe, a qual viria a ser baptizada com o nome TÁ NO PAPO. A sede de Batalhão (CCS) ficou em Bissorã. E foi assim que acabei por bater com os costados na CCAÇ 13 que estava adstrita ao meu Batalhão.

Sendo assim e após este intróito, passemos à história da NI & C.ª.


Um almoço de Batatas fritas em Biambe

Como nós sabíamos que a malta do Biambe há muito não sabia o que era comer batatas, resolvemos que ir levar-lhas, porque o maior desejo do pessoal era mesmo comer umas batatinhas fritas já que, como a tertúlia sabe, na Guiné era só bianda e esparguete (ainda hoje odeio o referido esparguete). Assim, combinámos via rádio o dia da visita e o meio de lá chegarmos em segurança. Esta visita já foi feita após o fim das hostilidades, mas ainda havia muitas minas espalhadas pelas picadas, assim como já havia alguma insurreição entre gente civil relacionada com aquelas euforias pós-revolucionarias do género de nos irem chamando de Colonialistas, etc… Bom é então que se marca um Domingo e a malta do Biambe nos veio buscar a Bissorã a mim, à NI e ao meu filho Miguel.

Após a almoçarada e a respectiva socialização da NI e do Miguel com todos os meus antigos camaradas, a malta teve de nos levar de novo a Bissorã e desta vez todos regressámos bem atestadinhos de álcool fermentado. Embora eu nem por isso, até porque fui sempre muito bem comportadinho. Bem, vezes não são vezes.

Junto algumas fotos desse dia, lamentavelmente tenho muito poucas fotos, porque após a almoçarada (batatas fritas com… batatas fritas) e muita cervejinha e uns Dimples de seguida, retiraram a firmeza das mãos e a minha Chinão (máquina fotográfica) caiu e avariou. Sobraram algumas fotos, das quais anexo estas.

Regressados a Bissorã, tivemos que passar pela porta do Comando… Aí o Nunes (ex-Furriel) resolve insultar o Comando e demais gente. Claro que o rapaz estava mal disposto. Ele hoje até é professor em Coimbra, mas naquele dia deu-lhe para a má disposição. Levo o rapaz ao Bar da CCAÇ 13 para o acalmar e beber umas águas para arrotar.

E pronto, lá fiz merda outra vez. Não é que por causa do Nunes, das batatas, da cerveja e até do filho da pi…pi..pi… do Comandante. Quase que acabava na cadeia... eu sei lá que mais. E isto tudo à frente da NI do Miguel.

E porquê? Perguntam vocês.

Quando levo o Nunes ao Bar, está lá um Furriel natural da Guiné que como estava a ver que, com o fim da guerra, certas mordomias a que estava habituado iriam acabar, deu em deitar para fora o seu racismo, querendo até dar a entender que estava do outro lado. Foi então que ao ver o meu camarada Nunes naquele estado e talvez por alguma boca deste, o dito racista dá um estaladão ao meu amigo.

De certeza que o Nunes nem sentiu (por protecção das batatas e...), mas cá o rapaz sentiu e bem fundo. Disse-lhe:
- Ó camarada, estás a bater num camarada teu e ainda por cima ele está mal disposto!!!! O racista disse que me fazia o mesmo. Que chatice… o Henrique passou um dia memorável com a NI e o Miguel, junto dos seus camaradas do Biambe a comerem batatas fritas e todos felizes, porque a merda da Guerra tinha acabado e ao fim do dia aparece entre mim e meu camarada um dos piores inimigos daqueles dois anos de martírio que é um anormal racista armado em pessoa.

E pronto... ficou o caldo entornado ou seja a cabeça do racista bateu contra uma cadeira, que me apareceu nas mãos, e a partir daí foi uma batalha campal à porta do bar e bem perto do comando. Ainda hoje não sei como a cadeira se agarrou às mãos e até nem sei como a cadeira, que era boa, ficou inteira. Ainda hoje tenho pena dela.

A NI que tinha ficado na conversa com uma senhora libanesa ali perto, olhou e viu o seu Henrique e mais gente, todos entretidos a gastar energias e achando que já era de mais, foi tentar tirar cá o rapaz do meio da confusão. Só que a partir daí a situação piorou, porque entra na história mais um elemento perverso, que é o Comandante do Batalhão, na altura, penso que interino.

Eu sinceramente não podia mesmo com esse senhor, aliás ninguém gostava dele, só que tinham medo de lhe dizer (compreende-se não é?). Era mesmo uma figurinha desprezível. Veio envolver-se na contenda, tomando partido do racista. Levaram-nos para o Comando onde comecei a ser interrogado pelo dito Comandante, mas sempre sem hipótese de grande defesa, estando sempre a ser acusado de ser o mau da fita. Em boa verdade, eu era mal visto pelos donos da guerra, como sabem aquela história do Natal ainda estava muito fresca e por acaso o racista tinha sido beneficiado nesse ano de Natal. Os tais privilégios que faziam dele um senhor, até superior aos seus irmãos da Guiné.
De certeza que muitos de vós conheceram destes meninos.

No entanto a NI na rua vai passando pela angústia de saber o que irá acontecer ao gajo maluco com que se casou e embarcou naquela aventura. Entretanto eu estava metido num ninho de ratos a receber ameaças de prisão, despromoção, etc. Só que havia um anjo lá dentro que era o Sargento Ajudante, de quem lamentavelmente não sei o nome. Só sei que era do Norte e nós lhe chamávamos o pai de nós todos. Era o homem mais humano que algum dia conheci. Este homem disse-me durante um certo intervalo do interrogatório:
– Ó meu caralho, o que é que eu posso fazer por ti? Agora fizeste mesmo merda. Eu sei que até tens razão, mas estás na tropa.

O que é certo é que uma vez mais o tempo passou, não fui castigado, regressei à Metrópole integrado na minha antiga Companhia e enfim, TÁ NO PAPO

Estranho ainda hoje, porque não sei o que foi feito da minha Caderneta Militar. Será que um Anjo a levou para o Lixo Celeste?

Tudo isto foi fazendo parte da minha vivência com a NI e do fortalecimento da nossa vida de casal e pais, mas que arriscámos, ai isso arriscámos. Foi bom, éramos tão fortes… está bem... também um pouco irresponsáveis, mas que diabo, não houve coragem suficiente para ter dado o salto antes de ir para aquela treta da Guerra.

Atenção malta, porque nunca deixei de cumprir com a minha obrigação de militar, mas mesmo só por obrigação. Tivemos uma óptima relação com as populações, daí a possibilidade de algum fornecimento de frescos que os populares nos levavam a casa, permitindo pelo menos que o meu Miguel fosse comendo alguns legumes e fruta da época, e peixinho da Bolanha.
Mas isso será uma outra história da NI

Vou terminar esta história e afirmo que não pretendo atingir ninguém, porque acho que os factos só tiveram valor na época. Que vi muito racista a espezinhar irmãos da mesma raça, isso eu vi e a esses desprezo ainda hoje

Carlos, este texto está a ser escrito numa tarde chuvosa e provoca uma agradável nostalgia por nos sentirmos protegidos e livres dos tormentos que nos roubaram, pelo menos, dois anos da nossa juventude e a muitos outros toda a sua vida. Por isso é muito bom, mesmo muito bom, termos este meio de expressão através da escrita mais ao menos pública.

Um abraço a toda a Tertúlia
Henrique Cerqueira

NI e Nuno Miguel confraternizam com tropas do Biambe

O operacional Nuno Miguel no intervalo da Operação ao Biambe

Forças intervenientes na Operação ao Biambe

A família de Henrique Cerqueira, durante a Operação ao Biambe

Fotos: © Henrique Cerqueira (2009). Direitos reservados
Edição e legendas de CV

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Notas de CV:

(*) Vd. poste da série de 23 de Janeiro de 2009 > 23 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3779: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (5): Ni, uma combatente em Bissorã (1973/74) (Henrique Cerqueira)

Guiné 63/74 - P3847: (Ex)citações (15): São momentos destes em que nos tresmalhamos nos carreiros e nas neblinas cobrindo as bolanhas (Mário Fitas)

1. Comentário do Mário Fitas ao poste de 5 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3845: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (19): O aniversário do Cabo Tomé

São momentos destes, que fazem esta Tabanca muito Grande.

São estes os momentos em que nos tresmalhamos, nos escorregadios carreiros e nas neblinas cobrindo as bolhanhas.

Regredi!

21H00, a Companhia estava formada, o Meco (da Nazaré) segredou-me:
- O Fur G... acabou de foder a prisioneira maneta.

A Companhia saíu.

Madruga, dia seguinte, 05H00: O Furriel G..., o único a usar capacete, ficou com a cabeça em duas e o capacete com dois furos.

Maldita mata de Cabolol! Estavam à nossa espera!

Escreve!... Escreve Alberto Branquinho mostra aos incrédulos o que foi chafurdar na lama, no àlcool e na morte.

Sempre do tamanho do Cumbijã,
o velho abraço.

Mário Fitas