Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
Guiné 63/74 - P5758: Pré-publicação de Mulher Grande, de Mário Beja Santos (3): Dois anos maravilhosos: S. Domingos, Varela, Ziguinchor, antes da guerra...
Guiné-Bissau > Região do Cacheu > S. Domingos > Estádio de Amizade de S. Domingos > 1º Festival Cultural de S. Domingos: Nô laba rostu di nó Guiné (S. Domingos, 18-20 de Dezembro de 2009) > Dançarinos balantas de Ingoré. O festival foi um sucesso, envolvendo cerca de 5 mil participantes e espectadores. Juntou diferentes grupos artísticos, culturais, teatrais, folclóricos, de Aramé, Elia, Suzana, Varela, Cacheu, Ingoré, S. Domingos e Ziguinchor.
Segundo a AD - Acção para o Desenvolvimento que organizou esta iniciativa, "a valorização das diferentes facetas das manifestações culturais dos grupos étnicos existentes na Guiné-Bissau, alguns em perigo de desaparecimento por razões de absorção e integração por outras etnias, como os banhuns, cassangas e baiotes, permite à maioria o conhecimento e acesso a essas manifestações culturais, retirando-as do esquecimento e promovendo-as a património cultural nacional".
Por outro lado, "a actuação de grupos culturais locais favorece a criação e consolidação dos movimentos contra uma “cultura” urbana que despreza a tradicional, porque rural, lutando contra a intolerância e discriminação sexual e religiosa".
Foto: © João Graça (2009). Direitos reservados
1. Pré-publicação de excertos do próximo livro do nosso amigo e camarada Mário Beja Santos, Mulher Grande. Trata-se da terceira parte do Capº III (*):
Mulher Grande > III > A Guiné em chamas ou o “Tubabo Tiló”
por Mário Beja Santos
[III. 3] A exaltação de S. Domingos
S. Domingos era uma aldeia, a nossa casa ficava a 500 metros do porto. Olhe para o mapa e veja como estávamos próximos da fronteira. Pelo estradão, estávamos a 45 ou 50 minutos de Suzana, no bom tempo, e logo a seguir tínhamos a praia de Varela, a minha inesquecível praia de Varela. Por vezes íamos pelo estradão de Suzana até ao Cabo Roxo, não pode imaginar o panorama que dali se desfruta.
Para quem, como nós, até agora tinha estado longe de tudo, S. Domingos, se bem que uma povoação insignificante, aproximava-nos de território francês, e como o Albano mantinha relações muito cordiais com as respectivas autoridades, passei a ir com regularidade a Ziguinchor.
Era tudo em dimensão diminuta, estávamos, como disse, perto do porto, tínhamos uma tasca quase à porta de casa. A administração ficava em frente à nossa casa, a seguir havia a escola e um pouco mais abaixo o madeireiro. A nossa casa era o centro de S. Domingos, digo isto sem nenhum exagero, pois a estrada para Ziguinchor e para Varela passava-nos à porta.
Quando lá chegámos, depois de um longo dia de viagem que começou em Pirada, seguimos por uma picada até Sonaco, depois Bafatá, voltei a fazer aquele percurso que passa por Mansabá, revi Bissorã, onde matei saudades, seguimos depois por Barro, Sedengal até S. Domingos. Quando chegámos quase ao anoitecer, cheia de pó por dentro e por fora, olhei para a casa e disse para comigo: “Mais uma casa velha para arranjar, mais móveis para comprar, mais costura, pareço a Penélope, aprumo e desmancho, quando me estou a afeiçoar às coisas, chegou a hora de partir!”.
A casa impressionou-me bem, tinha gerador e não tinha prisão no rés-do-chão, como no Gabu. Estávamos lá há poucos dias, quando fomos convidados pelos colegas do Albano a visitar Ziguinchor. Foi uma sensação maravilhosa de ter um restaurante a algumas dezenas de quilómetros de casa, havia lojas de tecidos e um estabelecimento onde se podiam comprar produtos franceses, sobretudo conservas. Não pode imaginar a minha alegria de entrar numa outra loja que tinha livros franceses, comovi-me quando vi romances da Colette, Romain Rolland e André Gide.
Para minha surpresa, na primeira vez que vim à rua em S. Domingos abeirou-se um branco com a pele muito tisnada, tirou o chapéu colonial e saudou-me: “Sou o Toscano, não sou parente do seu marido, sou o Toscano madeireiro”. O chefe de posto era o Braga, branco tal como a mulher, fui madrinha do filho que ali nasceu, estávamos ali há mais de um ano. Recordo que havia dois padres italianos em Suzana.
Penso que vamos encontrar bastantes imagens da região de S. Domingos, das férias em Varela, dos passeios com amigos franceses, aqui nos meus álbuns. Tenho agora uma confidência a fazer, foi em S. Domingos que pela primeira e única vez vi o Albano com os copos. Ele foi dar um passeio, eu estava de cama, quando regressou vinha a rir-se, fez-me uma careta e disse: “Benedita, desculpe, hoje não durmo aqui, não estou bem, senti que bebi demais, o padre recebeu vinho para a missa, fomos provar, não sei como me embebedei!”. Dito isto, com as mãos a agarrar a barriga dava grandes gargalhadas, caiu no chão, levantou-se e saiu. Eu olhava para aquilo tudo sem abrir a boca, sinceramente o único medo que tive foi que aquelas cenas se voltassem a repetir.
O importante é que eu sentia mais alegria em S. Domingos, a tal sensação de estar perto de tudo, de poder viajar, encontrar gente, comprar uma revista, passear, ter a satisfação de marcar um almoço ou um lanche. E a certa altura, quando a professora partiu tive a emocionante experiência de dar aulas. Senti que era uma vocação tardia, iria gozar aqueles momentos com toda a intensidade.
Desculpe insistir, desde Bissorã que eu não me dava tão bem com a Guiné. Às vezes penso que foi Ziguinchor que mudou tudo. Logo que chegámos a S. Domingos mudámos de motorista, o Guilherme foi trabalhar para a meteorologia em Bissau, o Albano admitiu o Xuxo, era ele que me levava às compras em Ziguinchor.
Aos sábados, sempre que possível, íamos passear a Varela. Nunca mais esqueci Varela com o seu extenso areal e palmares ao fundo, o concessionário do restaurante continuava a ser o Sr. Refrega e o ajudante, o Sr. Vasco. O governador da Guiné tinha aqui um palácio. Foi tudo saqueado em 1961, logo a seguir ao ataque a S. Domingos. Faço-lhe uma confidência, não sei se me estou a repetir, nunca mais me ocorreu querer voltar à Guiné, mas ainda hoje tenho saudades de Varela e de algumas viagens que fiz a Ziguinchor.
Em 1959, fizemos obras na casa de S. Domingos (durante as obras vivemos na casinha de Varela) e demos uma festa. Onde gostávamos de receber era em Varela. É neste período que eu senti uma grande mudança no estado de espírito do Albano. Pela primeira vez, via-o trazer trabalho para casa, eram os relatórios sobre a evolução da situação no Senegal, em Bissau sabia-se perfeitamente a qualidade e a quantidade de informações que ele possuía.
Várias pessoas me disseram mais tarde que não havia ninguém na Guiné, no Norte, tão bem informado como o Albano. Regularmente, por este tempo, o Albano era chamado a Bissau para reuniões de carácter confidencial. Como não havia estabelecimentos comerciais em S. Domingos, acompanhava-o, fazíamos a viagem até Cacheu, daqui para Teixeira Pinto e depois Bissau.
A recordação que melhor guardo foi este período maravilhoso de 2 anos, o Albano começara a estudar a economia dos Felupes e preparara uma monografia sobre a habitação dos Banhuns. Sei que não vai acreditar, mas a Christine Garnier viveu uma semana em nossa casa, viajava discretamente para o Senegal, quando chegou começou por dizer que preparava uma reportagem, mais tarde abriu o jogo, quando revelou a finalidade da sua viagem ficámos de boca aberta: fora o próprio Salazar que lhe pedira um relatório sobre o que se estava a passar no Senegal, trabalhou o documento com o Albano todas as noites, ele mais tarde confessou-me que o documento identificava com inteiro rigor as novas realidades.
Já disse e insisto que nunca falava de trabalho com o Albano, mas uma noite ele confessou-me: “Benedita, tudo vai mudar na Guiné com o que se está a passar em Dakar e Conacri, há gente que está a ser preparada para a guerra, não lhe escondo que há gente a fugir da Guiné para nos fazer guerra. Temo o pior”. Antes de partir, a Garnier disse-nos que o relatório tinha sido enviado à D. Maria, a governanta de Salazar. Desculpe estar tão repetitiva.
[Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
[Continua]
_______________
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 2 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5747: Pré-publicação de Mulher Grande, de Mário Beja Santos (2): Da Guerra do Turu-Ban ao Tubabo Tiló, passando pelo deslumbrante Corubal
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Guiné 63/74 - P5757: O Nosso Livro de Visitas (82): "Projecto de Documentário sobre Bafatá" (Silas Tiny)
Bafatá, 1962 a 2010
Amigos,
O meu nome é Silas Tiny e sou um jovem realizador, que neste momento está a desenvolver um documentário sobre a cidade de Bafatá, versando o período da Guerra Colonial e o tempo actual.
Neste momento preciso de entrar em contacto com portugueses, que lá tenham vivido e servido militarmente.
Queria saber se é possível colocarem um poste com a seguinte informação:
"Projecto de Documentário sobre Bafatá"
Aos camaradas da Guiné, Amigos e participantes no blogue, o meu nome é Silas Tiny e sou um jovem realizador que vive em Portugal.
Neste momento estou a desenvolver um projecto de Documentário sobre a cidade de Bafatá. Começo por explicar melhor o projecto. Este meu projecto surgiu quando li uma reportagem no blogue do Sr. Jorge Rosmaninho, que fala de um operador de cinema que viveu na cidade de Bafatá e que, ainda hoje, continua a fazer a sua rotina diária como trabalhador do Sporting Clube de Bafatá, como se ainda aquele cinema estivesse a funcionar.
Se quiserem até podem consultar mais pormenorizadamente a história clicando no link: http://opatifundio.com/site/?p=9.
Gostei tanto desta história, que pensei logo em fazer um documentário que abrangesse este homem, a cidade de Bafatá e o cinema do Sporting Clube desta localidade.
Quero fazer um apelo a todos os camaradas, seus familiares, amigos (ex-militares e civis), que tenham mantido alguma actividade nesta cidade, ou que saibam de histórias interessantes e importantes, ou que conheçam pessoas ligadas a estes temas, para entrarem em contacto comigo, mandando-me um pequeno e-mail descritivo, para o meu endereço de correio electrónico [...] ou através dos números de telemóvel [...] ou telefone [...].
Por favor, não hesitem.
Podem também consultar o site da produtora que está associada ao desenvolvimento deste projecto: http://www.realficcao.com
P.S. - A informação é esta. Peço-vos isto porque o vosso blogue tem tantos camaradas e porque vindo do blogue eles podem ficar mais entusiasmados a colaborar coisa que eu não tenho conseguido com muito sucesso até ao momento. Em anexo tem uma foto minha caso queira colocar.
Abraços e cumprimentos a todos,
Silas Tiny
___________
Nota de M.R.:
Vd. também os postes relacionados:
16 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5658: O Nosso Livro de Visitas (81): António Marquês, ex-Fur Mil da CCAÇ 4810 (Moçambique), comenta o nosso Blogue e dá-nos conta dos seus contactos com pessoas ligadas à Guiné-Bissau
Gostei tanto desta história, que pensei logo em fazer um documentário que abrangesse este homem, a cidade de Bafatá e o cinema do Sporting Clube desta localidade.
Quero fazer um apelo a todos os camaradas, seus familiares, amigos (ex-militares e civis), que tenham mantido alguma actividade nesta cidade, ou que saibam de histórias interessantes e importantes, ou que conheçam pessoas ligadas a estes temas, para entrarem em contacto comigo, mandando-me um pequeno e-mail descritivo, para o meu endereço de correio electrónico [...] ou através dos números de telemóvel [...] ou telefone [...].
Por favor, não hesitem.
Podem também consultar o site da produtora que está associada ao desenvolvimento deste projecto: http://www.realficcao.com
P.S. - A informação é esta. Peço-vos isto porque o vosso blogue tem tantos camaradas e porque vindo do blogue eles podem ficar mais entusiasmados a colaborar coisa que eu não tenho conseguido com muito sucesso até ao momento. Em anexo tem uma foto minha caso queira colocar.
Abraços e cumprimentos a todos,
Silas Tiny
___________
Nota de M.R.:
Vd. também os postes relacionados:
16 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5658: O Nosso Livro de Visitas (81): António Marquês, ex-Fur Mil da CCAÇ 4810 (Moçambique), comenta o nosso Blogue e dá-nos conta dos seus contactos com pessoas ligadas à Guiné-Bissau
Guiné 63/74 - P5756: FAP (46): Recordando o inferno do HM 241, as heli-evacuações, o cubano Cap Peralta, os Alouettes III, celebrando a camaradagem e a amizade... (Jorge Narciso)
1. Comentáriod o Jorge Narciso (*) ao poste 1 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5741: Blogoterapia (142): Aquela janela virada para o heliporto (Jorge Teixeira/Portojo)
De Jorge para Jorge
Caro:
Ao passar hoje pelo blogue, de imediato me chamou a atenção a foto do heli aterrado no HMB [, HM 241, Bissau], contida no teu Post.
E como a ti, também ela me suscitou um tal corropio de lembranças, que, acredita-me, quase me atordoam.
E como a ti, também ela me suscitou um tal corropio de lembranças, que, acredita-me, quase me atordoam.
Tentando alinhar ideias:
Como mecânico dos helis, foi exactamente no Hospital Militar que (excepção feita, naturalmente, à BA12) mais vezes aterrei na Guiné. E também a mim as recordações que suscita, serão tudo menos agradáveis. Seja a da lembrança das condições (fisicas e ou psicológicas) infra-humanasde homens que para ali transportei, seja a indescritível visão da sala de horrores, chamada triagem, onde eles eram colocados; de cada vez que ali tinha que ir recuperar macas. São imagens que jamais se esquecem.
Mas outra lembrança conseguiste, com o teu Post, desenterrar do fundo do meu subconsciente, a da evacuação do Capitão Peralta, a qual passo a transmitir, a quente, tal como a memória me debita.
Antes porém e à falta de outros registos, resolvi ir ao Google e digitar: Capitão Peralta.
Resultados:
- Ferido e capturado em 18 Nov 69 durante a operação JOVE, realizada pelo Páras entre os dias 16 e 19, no corredor de Guileje.
- A base dessa operação, a partir de onde os Paras foram heli-transportados, foi Aldeia Formosa.
Vamos agora à minha memória, que espero não me esteja a atraiçoar, sequer a iludir, e na qual (apesar da evidente redução de neurónios) quero ainda confiar.
Coloco os resultados dessa pesquisa em dois planos:
- O das quase certeza (ou com menor grau de falibilidade) e o das incertezas associadas, que evidencio entre parêntesis.
Assim:
(1) Só não estava no voo em que viste o Capitão Peralta aterrar no HM, pelas condições extra-ordimárias e que decorreu essa evacuação, cujos contornos passo a descrever.
(2) Em operações como esta, em que, independemente da Tropa participante, a base se situava num aquatalamentos longe de Bissau, para aí se deslocavam normalmente: 5 helis + 1 heli-canhão, transportando uma equipa de manutenção e uma Enfermeira.
Dali partiam, então, fazendo as viagens necessárias para, transportando 5 ou 6 militares por heli, os colocar, protegidos pelo canhão, na ZOPS.
Se a operação se resumia a um dia, permaneciam os helis nessa base em alerta, para: evacuações, eventuais transportes das Tropas para outras posições na mesma ZOPS e finalmente para a sua recuperação no final da Operação.
Nos casos em que a Operação fosse por mais de um dia, ficaria em todos os dias em que esse decorresse e na base da mesma, no minimo um heli de alerta (com Piloto, Mecânico e Enfermeira) para eventuais evacuações e o heli-canhão para protecção destas e para intervenções de tiro, se solicitadas.
(3) Nesta Operação em particular, é seguro que estive presente, desde logo porque recordo perfeitamente o objectivo apontado para a mesma (nos helis e durante os voos, mesmo que não quisessemos, ouvíamos muita informação dita classificada): captura do NINO.
Como mecânico dos helis, foi exactamente no Hospital Militar que (excepção feita, naturalmente, à BA12) mais vezes aterrei na Guiné. E também a mim as recordações que suscita, serão tudo menos agradáveis. Seja a da lembrança das condições (fisicas e ou psicológicas) infra-humanasde homens que para ali transportei, seja a indescritível visão da sala de horrores, chamada triagem, onde eles eram colocados; de cada vez que ali tinha que ir recuperar macas. São imagens que jamais se esquecem.
Mas outra lembrança conseguiste, com o teu Post, desenterrar do fundo do meu subconsciente, a da evacuação do Capitão Peralta, a qual passo a transmitir, a quente, tal como a memória me debita.
Antes porém e à falta de outros registos, resolvi ir ao Google e digitar: Capitão Peralta.
Resultados:
- Ferido e capturado em 18 Nov 69 durante a operação JOVE, realizada pelo Páras entre os dias 16 e 19, no corredor de Guileje.
- A base dessa operação, a partir de onde os Paras foram heli-transportados, foi Aldeia Formosa.
Vamos agora à minha memória, que espero não me esteja a atraiçoar, sequer a iludir, e na qual (apesar da evidente redução de neurónios) quero ainda confiar.
Coloco os resultados dessa pesquisa em dois planos:
- O das quase certeza (ou com menor grau de falibilidade) e o das incertezas associadas, que evidencio entre parêntesis.
Assim:
(1) Só não estava no voo em que viste o Capitão Peralta aterrar no HM, pelas condições extra-ordimárias e que decorreu essa evacuação, cujos contornos passo a descrever.
(2) Em operações como esta, em que, independemente da Tropa participante, a base se situava num aquatalamentos longe de Bissau, para aí se deslocavam normalmente: 5 helis + 1 heli-canhão, transportando uma equipa de manutenção e uma Enfermeira.
Dali partiam, então, fazendo as viagens necessárias para, transportando 5 ou 6 militares por heli, os colocar, protegidos pelo canhão, na ZOPS.
Se a operação se resumia a um dia, permaneciam os helis nessa base em alerta, para: evacuações, eventuais transportes das Tropas para outras posições na mesma ZOPS e finalmente para a sua recuperação no final da Operação.
Nos casos em que a Operação fosse por mais de um dia, ficaria em todos os dias em que esse decorresse e na base da mesma, no minimo um heli de alerta (com Piloto, Mecânico e Enfermeira) para eventuais evacuações e o heli-canhão para protecção destas e para intervenções de tiro, se solicitadas.
(3) Nesta Operação em particular, é seguro que estive presente, desde logo porque recordo perfeitamente o objectivo apontado para a mesma (nos helis e durante os voos, mesmo que não quisessemos, ouvíamos muita informação dita classificada): captura do NINO.
(4) No dia 18 (Precisei a data na citada consulta na Net), portanto no 3º dia da Operaçãp, voei (seguramemte de Aldeia Formosa) para essa ZOPS onde aterrei, no helicóptero que fez a evacuação do Capitão Peralta, não continuando no voo para o HM de Bissau,
PORQUÊ?
(4) Os Alouette III têm capacidade para transportar 6 passageiros, para além do piloto (este e mais dois à frente) e até 4 no banco traseiro.
Em evacuações com feridos em maca, essa capacidade ficava reduzida, pois para além dos 3 lugares à frente, normalmente ocupados pela tripulação (Piloto, Mecânico e Enfermeira, na maioria dos casos), apenas é possivel alojar 1 ou 2 macas na rectaguarda, que, por transportadas transversalemente, impedem (ou dificultam, algumas vezes me tocou vir meio sentado meio em pé, nas abas da maca) utilizar os lugares traseiros.
No caso desta evacuação (Cap Peralta), tendo sido determinado, no terreno, que o capturado devia ser acompanhado no voo por escolta armada, foi necessário ocupar, por quem a fez, um dos lugares destinados à tripulação.
Para resolver o problema e - repito - se a memória não me atraiçoa, registou-se um caso que me lembre único:
O helicanhão, que fazia a protecção à evacuação, ATERROU NA ZOPS, nele embarcado o mecânico (eu prÓprio) e voado (junto ao apontador) para Aldeia Formosa, donde posteriormente regressei a Bissau (outra nebulosa é que não me recordo como - noutro heli ? de DO ? ), pois no canhão não foi concerteza.
Como remate a estes factos, este voo no canhão foi para mim perturbante, pois que uns meses antes (Julho/meu 3º mès de Guiné) estive também para voar (nesse caso por experiência passiva que, para sorte minha, não concretizei) no retorno duma outra Operação em Galomaro, voo esse com um fim trágico, traduzido no despenhmento do heli (a que assisti) ocorrido em Bafatá, com a morte do meu comandante: Maj Rodrigues (Piloto) e dum camarada de todos os dias, o Machadinho - como lhe chamávamos - , Mecânico Armamento/Apontador.
Um dia destes tentarei fazer o relato que me for possivel desta outra dramática ocorrência.
Voltando ao Post e à tua solicitação ao Jorge Félix (tantos Jorges), quase seguramente ele ainda estava nessa data na Guiné.
Como atrás referi, não me lembro se terá sido inclusivE participante nos factos, em qualquer caso terá certamente presente memórias relacionadas e, quem sabe, como tem a sorte (que a FAP me coartou) de ter os seus registos de voo, pode buscar nos mesmos confirmações
Amanhã envio-lhe uma mensagem a chamar a atenção para o Post.
E como este já vai longo, por aqui me fico.
Recebe um abraço
Jorge Narciso
2. Comentário de L.G.:
Tenho uma dívida para com este camarada, que conheci pessolamente há dias, em Oeiras, e que me escreveu, no dia dos meus anos, palavras que me tocaram (#)... (Aliás, tenho uma dívida, muito grande, para com as dezenas de camaradas que me disseram coisas que me sensibilizaram, emocionaram, e que não foram decididamente simples palavras de circunstância, ou de etiqueta social; ainda não arranjei para lhes dar uma palavrinha pessoal, personalizada...). É que este camarada, da FAP, fez milhares e milhares de milhas nos céus da Guiné, na mesma altura em que eu lá estive, esteve em missões no Sector L1, na zona leste, seguramente em operações onde eu estive, em que houve heli-evacuações e apoio do heli-canhão... e só agora, passados quarenta anos, é que damos um abraço... Mais: ele pede expressamente para eu o incluir na lista dos meus amigos... E eu ainda não lhe respondi!
Pois, vou aproveitar o ensejo para lhe dizer, em público, aqui no nosso blogue, que camaradas como o Jorge não precisam de ser sujeitos a um período probatório, a exames de selecção, a testes de amizade... O Jorge é daquelas pessoas que de imediato inspiram confiança, que são transparentes, afectiosas, bem formadas, empáticas... Pessoas de palavra, que não precisam de dizer muito ou escrever muito. O Jorge é daqueles camaradas que eu ponho logo na lista dos favoritos, no arquivo que diz: AMIGOS... Jorge, haveremos de selar o gesto com um copo na Lourinhã, em Vilar / Cadaval ou num nosso próximo encontros, numa das nossas já numerosas tabancas!... Quem sabe, talvez na Tabanca do Centro, já no fim do mês, se agenda mo permitir... Até breve! Um Alfa Bravo. Luís
Por uma vez (durante o recente colóquio em Oeiras) tivemos a oportunidade, já prevista, de selar com um gesto de cumprimento uma rápida mas agradável troca de palavras de saudação.
Creio, no entanto, não ter sido essa a primeira vez que estivemos fisicamente perto, pois durante os anos de 69 e 70 fomos contemporâneos na Guiné; e isto porque, para além daquela extraordinária coincidência do meu reencontro como Humberto Reis, com quem constantemente conviveste [em Contuboel e Bambadinca, Junho de 1969/Março de 1971] , basta fazer um mero exercício de cálculo de probabilidade, que aliás é também válido para qualquer outro camarada em qualquer ponto da Guiné.
Tendo eu sido, durante todo o tempo em que permaneci na Guiné um, dos em média, 5 ou 6 mecânicos permanentes na linha dos hélis e que neles sempre voavam (excepção feita nas acções de embarque e desembarque de tropas durante operações), significa que também em média em cada 5 ou 6 vezes que um héli aterrou junto de ti, num estaria eu !
Cada um de nós cruza-se, pois, ao longo da vida com um incomensurável número de pessoas; dessas, estabeleceremos comunicação com uma quantidade ainda muito significativa, e destas conhecemos efectivamente um número ainda apreciável.
Só que: cruzarmos, contactarmos ou conhecermos, não representa, só por si, que se gerem 'proximidades'. Proximidades essas que podem até nem ser físicas.
Mas quando tal acontece, é nesse número, naturalmente mais reduzido, que estão aqueles com quem efectiva e assumidamente comungamos... AFECTOS; nas suas diversas, mas complementares, formas: Amor, Amizade, Camaradagem, Solidariedade, Compreensão, Consensualidade, etc. etc.
Pela forma como estás na vida, como te relacionas com os que te rodeiam e mais ainda pela predesposição natural que possuis para gerar esses afectos, QUERO, à luz dos nossos (mesmo que eventuais) encontros anteriores, dos (reais) presentes e da sua continuidade futura, manifestar, em jeito de parabéns, o meu regozijo pela celebração de mais esta tua primavera (não importa quantas somas já) e que, na sua continuidade futura com os que te são queridos, mantenhas a tua nítida lucidez de pensamento, sempre acompanhada da forma física que mais desejares.
PEDIR-TE O FAVOR DE ME ACEITARES NO NÚMERO DOS TEUS AMIGOS
Recebe um afectuoso abraço
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 20 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5305: Tabanca Grande (188): Jorge Narciso, ex-1º Cabo Esp MMA, BA 12, Bissalanca, 1969/70
(...) Abr de 69/Dez de 70) - BA 12 / Bissalanca - Linha da frente dos Alouette III (onde ao fim de pouco tempo, e devido à tardia nomeação, apesar dos meus 20 anos, comemorados aliás no Saltinho durante uma missão de abastecimento, era o cabo especialista mais antigo - tempo de FAP - da mesma linha).
Fiz ali algumas centenas de horas de voo, só não sei quantas, porque a minha caderneta de voo (que não sei porquê me obrigaram a entregar no regresso, diziam que para entrega posterior) está em parte incerta, se é que ainda existe (penso que não é caso único) (...)
Fotos: © Jorge Narciso (2009). Direitos reservados
Guiné 63/74 - P5755: Em busca de ... (117): Pessoal de Transmissões dos cursos de Árca D'Água e EPT à Graça (B. Sardinha/J.C. Neves)
O nossos camaradas Belarmino Sardinha (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, 1972/74, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau), e José Carlos Neves (ex-Soldado Radiotelegrafista do STM, Cufar, 1974), querem organizar um convívio de pessoal de Transmissões que tirou a Especialidade em Arca D'Água (Porto) e Escola Prática de Transmissões, à Graça.
Aqui fica o apelo
PESSOAL DO STM e RADIOTELEGRAFISTAS
(Batalhões e/ou Companhias)
Como a generalidade dos militares, onde se incluem muitos Radiotelegrafistas, estavam integrados em Batalhões e/ou Companhias e confraternizam anualmente, lembrou-se o camarada Carlos Neves, Radiotelegrafista do STM, de reunir num almoço todos os que tiraram a Especialidade no Regimento de Transmissões, em Arca D'Água, no Porto ou na Escola Prática de Transmissões, à Graça, em Lisboa, e que fizeram Serviço na Guiné
Assim, não só se encontravam os do STM como muitos outros, todos os que quiserem, que embora não tendo pertencido ao STM fizeram conjuntamente a Especialidade em Arca D'Água e Graça.
Para o efeito, o camarada Carlos Neves criou o e-mail, radiotelegrafistas@gmail.com, para onde podem inscrever-se os interessados, bem como opinarem o que acharem por útil para nos reunirmos.
Este e-mail tem também a vantagem de não sobrecarregar o pessoal em serviço à Tabanca Grande ou qualquer outras das Tabancas Pequenas, Médias, Nano ou Micro existentes onde este mail venha a ser divulgado, sendo certo que contamos com o boca a boca entre a malta para reunirmos o maior número possível de pessoal de Transmissões.
À vossa disposição e espera fica o e-mail acima indicado.
Belarmino Sardinha e José Carlos Neves
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 1 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5743: Em busca de ... (116): O Ruiguila procura ex-Condutores da CCAV 2749 do Abrigo Os Volantes, Piche, 1970/72
Guiné 63/74 - P5754: (Ex)citações (56): Falando de descolonização com Filomena Sampaio (José Brás)
1. Mensagem de José Brás* (ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), com data de 27 de Janeiro de 2010:
Carlos
A uma troca de comentários entre mim e o José Belo, apareceram vários outros comentários, todos eles, felizmente, agradáveis de ler, não porque concordassem a 100% connosco mas porque, mesmo no que discordavam, eram claros e amistosos.
Entre eles, a amiga Filomena enviou o que se segue:
"Para quem pouco ou nada percebe do assunto, torna-se cada vez mais difícil compreender a colonização/descolonização, mas ficamos com algumas ideias (positivas/negativas?) quem sabe um dia, possamos acreditar numa só versão sobre o assunto.
Gosto de ler os seus textos.
Filomena"
Achei por bem enviar-lhe uma mensagem sobre o assunto directamente para o seu endereço porque me pareceu que não deveria estar a massacrar os nossos camaradas e o espaço do blogue com as minhas maluqueiras pessoais.
Já recebi dela resposta agradecida.
No centro do cozido do centro (que bom que estava!) alguns camaradas afirmaram que gostariam de vê-lo publicado porque eu havia falado nele e o José Dinis já o tem e parece que gostou.
Daí que o envio aqui, ficando à tua guarda e decisão, julgando eu que a amiga Filomena não se oporá a que seja editado, sendo que, se for, deve ser antercedido do seu próprio comentário para melhor entendimento geral.
Um abraço
José Bras
Mensagem do camarada José Brás para a nossa amiga tertuliana Filomena Sampaio
Caríssima amiga
Em primeiro lugar uma nota.
Escrevo -lhe directamente porque me parece abusivo da paciência dos camaradas da Tabanca, manter por mais tempo este debate, embora também receie que o seja a utilização do seu endereço, sobretudo porque não tenho a certeza absoluta que seja a amiga, a pessoa que comentou mais que uma vez os meus postes, aliás, o que lhe agradeço.
Tem toda a razão no que diz, sobretudo porque imagino que se refere, não a si, mas a muita outra gente que, infelizmente, não teve nunca acesso a um debate verdadeiro sobre o assunto, e o que teve sempre foram leituras parciais, ora de um grupo, ora de outro, contraditórias entre si muitas vezes, senão mesmo radicalmente opostas, quase sempre incompletas e com inverdades gradas pelo meio, deixando o informado a pão e laranjas na iminência de não crer em nada nem em ninguém.
Se há alguma coisa que não quero, uma é assumir aqui ares professorais de pessoa que tem resposta segura e definitiva, e a outra é impingir-lhe a ideia de que sou eu quem tem razão. De facto, não tenho senão a minha razão, que em muitos pontos não bate certo com a razão de outros.
A minha amiga sabe que razão e verdade não são coisas absolutas, uniformes e definitivas nos seus enunciados, mas o resultado da acumulação de outras e variadas razões e verdades que a vida e a realidade, lidas por um ou por outro, podem não fazer não coincidir.
Vamos lá ver. Então não existem razões e verdades unas e indiscutíveis que sejam factos concretos, com identidade, com tempo, com modo e com lugar certos e que aplicadas às vidas das pessoas produzem os mesmos efeitos e consequências em todos?
Não sei responder-lhe de modo absoluto mas posso dizer-lhe que não acredito, porque as pessoas que sofrem tais razões e verdades são diferentes uns dos outros, sentem de modo diferente porque nasceram, cresceram e consolidaram o seu ser, em movimento e em realidades também diferentes.
Repare!
Um jovem nascido na Cova da Moura não pode ver com o mesmo olhar um polícia na rua com sua pistola à cinta, como o verá o porteiro de um prédio de luxo, para ficarmos apenas entre pobres. No entanto um polícia é uma pessoa concreta, a sua pistola e as suas balas também o são e matam do mesmo modo a porteiro ou a suspeito marginal, podendo dizer-se, então, que os olhos de um e do outro deveriam realizar a mesma leitura. Nem falamos das diferenças de leitura que o polícia faz, olhando para um ou para o outro dos seus observadores do exemplo.
Colonialismo.
Muito brevemente poderá ser dito que é a ocupação de um País ou de um território por outro País com o objectivo de explorar recursos naturais, o solo, o mar ou o sub-solo, tendo para isso que dominar as gentes que já habitavam tais terras e detinham nelas uma história e uma cultura diferentes e modos de vida adaptados a essa história e a essa cultura.
Grosseiramente se diz ainda hoje que potência colonial eram todos os países que ocuparam terras distantes das suas originais, sobretudo na África e na América, e que durante anos subjugaram os povos naturais, tratando-os, primeiro como escravos, mais tarde como mão d'obra barata, sempre apartados de qualquer ideia de igualdade e mesmo de desenvolvimento civilizacional.
De facto, o avanço científico e tecnológico que chegou na Europa com a revolução industrial e o advento do capitalismo, separou entre si tais potências, uma vez que o uso da ciência e da tecnologia permitia a quem as detinha uma exploração mais rápida e mais funda em menos tempo e com menos meios.
Foi assim que vimos ingleses, por exemplo, enviar para a Rodésia máquinas, engenheiros, arquitectos, médicos, técnicos de toda a ordem e fazer dos negros locais os operários a quem ensinavam a desempenhar tarefas e profissões mais desenvolvidas, pedreiros e carpinteiros, condutores de maquinaria, serralheiros e mecânicos, operadores de máquinas várias.
Portugal, País onde a primeira máquina a vapor chegou 100 anos após o início da sua utilização na indústria inglesa, enviava para Angola carros de bois, pedreiros, carpinteiros, sapateiros, tasqueiros e, na sua maioria agricultores pobres de uma pobre agricultura braçal portuguesa, analfabetos quase todos.
As relações entre brancos e pretos na Rodésia, apesar do ensino e da formação, era muito mais evidentemente racista do que a dos portugueses em Angola, pobre gente, ela também já colonizada no seu país, habituada a grandes sacrifícios, e misérias e a modos de vida não muito diferentes dos que tiveram de suportar lá, convivendo com negros, amancebando-se com as mulheres, fazendo filhos mulatos e exercendo todas as profissões humildes que os ingleses deixavam aos locais na Rodésia.
Quer dizer que a Inglaterra foi um verdadeiro colonizador, sacou muito mais dos recursos existentes e para o fazer desenvolveu muito mais a Rodésia e os rodesianos do que Portugal fez em Angola. Do ponto de vista estrito da ciência económica e cultural a Inglaterra era uma potência colonial e nós uns pobres diabos.
Não quer isto dizer que é menos legítimo ou mais ilegítimo o colonialismo de um e de outro e que um era mais repressivo e racista que o outro, apenas porque na Rodésia ingleses viviam numa sociedade completamente apartada dos negros e em Angola os portugueses se misturavam com os negros e, por vezes, viviam em condições de vida não muito melhores.
Aquando das descobertas e logo que se começou a explorar os territórios, a realeza europeia tratou de imediato de fazer leis que proibiam a implantação de oficinas e fábricas de transformação dos recursos, obrigando a que estes viajassem aos países dominadores para aí serem transformados e muitas vezes re-enviados por preços mil vezes superiores. Com tais medidas proibiram sempre qualquer tipo de desenvolvimento, fosse ele industrial ou cultural e obstaram à acumulação dos capitais indispensáveis para garantir as transformações económicas e sociais.
Como os povos locais não se submetiam com facilidade, eram tratados à chibata, pela espada e pelas espingardas e, nisso, se igualaram sempre colonizadores ricos e pobres.
Durante os quinhentos anos de domínio português em Angola, nunca houve cinco anos seguidos sem alguma forma de resistência dos povos locais, e de guerra, ao contrário do que a história oficial sempre nos fez crer.
Esta é uma interpretação individual e minha, naturalmente não inventada por mim mas bebida no tal caldo cultural em que cresci. Não faltará quem desdiga isto, ainda que sejam factos históricos assumidos, aparentemente sem hipóteses de contestação.
Dirão que portugueses não batiam nos negros e eu vi muitos portugueses baterem nos seus empregados; dirão que portugueses pagavam bem aos trabalhadores e eu sei e toda a gente sabe que os exploravam com fúria; dirão até que os negros nos queriam lá e eu sei que não é verdade e que estavam cheios de raiva contra nós, independentemente de casos particulares em que havia de facto tratamento mais humanizado; dirão que aquela terra era também sua porque nela tinham crescido e construído família, explorações agrícolas, comerciais e industriais e eu não direi que não há aí muita verdade e que não é deplorável a forma violenta como foram despojados de tudo e expulsos.
A meu ver, o verdadeiro culpado de tudo isso foi o regime que não soube ler a história, não segui o caminho das outras potências coloniais, não previu a inevitabilidade das alterações nem as conveniências políticas, mantendo uma guerra violenta e prolongada e aumentando raivas que poderiam ter sido atenuadas atempadamente.
Muito concretamente, sobre cada coisa ou ideia, pode perguntar-se em jeito curto.
Foi bom ou foi mau que portugueses tivessem daqui partido em caravelas e sofrido o que sofreram, descobrindo os caminhos para outras paragens e outras gentes?
- uns dirão que sim porque foi um magnífico contributo que Portugal deu para alargar a ideia de mundo, e mesmo o mundo geográfico e concreto, conhecer outras gentes com seus costumes e culturas, descobrindo que não estávamos sós e que havia outras fés e outros deuses, outros recursos essenciais à humanidade para dar um salto e sair dos restos de feudalismo para uma sociedade moderna e que isso justifica sofrimentos e crimes:
- outros dirão logo que não porque a nossa matriz era a Europa e não a África ou a América, e era com a Europa que deveríamos ter crescido e não de costas viradas para ela, indo ocupar terras habitadas por outros povos com culturas e recursos que não tínhamos o direito de ocupar e suprimir, e menos ainda subjugando, matando, saqueando.
Entre estes dois extremos terá de ser a amiga que pensa e escolhe, incluindo, se quiser, talhando pelo meio, isto é, nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
E o que serve para este exemplo servirá para todas as outras questões, incluindo as verdades e as razões que cada um exibe na discussão da guerra colonial e da descolonização
Peço-lhe desculpa pelo tempo e pelo tom meio petulante da minha resposta, senão petulante de todo, aconselhando a leitura de alguns livros como "As veias abertas da América Latina" de Eduardo Galeano, ou, por exemplo, uma obra mais pequena e simples, agora mesmo saída da mão de uma portuguesa nascida em Moçambique, por sinal parente do camarada tabanqueiro Juvenal Amado, com o título "Caderno de Memórias Coloniais" de Isabela Figueiredo, retrato de um colonialismo que se diz diferente, sem abordagens a grandes temas filosóficos ou históricos, mas utilizando as cenas simples do quotidiano nas relações entre brancos, e entre brancos e negros na antiga Lourenço Marques.
São livros que, por vias diferentes nos dão retratos muito vivos sobre o que foi a colonização/descolonização e o racismo.
Cumprimentos amistosos e à família
José Brás
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 24 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5702: (Ex) citações (51): Falando de descolonização com António Rosinha (José Brás)
Carlos
A uma troca de comentários entre mim e o José Belo, apareceram vários outros comentários, todos eles, felizmente, agradáveis de ler, não porque concordassem a 100% connosco mas porque, mesmo no que discordavam, eram claros e amistosos.
Entre eles, a amiga Filomena enviou o que se segue:
"Para quem pouco ou nada percebe do assunto, torna-se cada vez mais difícil compreender a colonização/descolonização, mas ficamos com algumas ideias (positivas/negativas?) quem sabe um dia, possamos acreditar numa só versão sobre o assunto.
Gosto de ler os seus textos.
Filomena"
Achei por bem enviar-lhe uma mensagem sobre o assunto directamente para o seu endereço porque me pareceu que não deveria estar a massacrar os nossos camaradas e o espaço do blogue com as minhas maluqueiras pessoais.
Já recebi dela resposta agradecida.
No centro do cozido do centro (que bom que estava!) alguns camaradas afirmaram que gostariam de vê-lo publicado porque eu havia falado nele e o José Dinis já o tem e parece que gostou.
Daí que o envio aqui, ficando à tua guarda e decisão, julgando eu que a amiga Filomena não se oporá a que seja editado, sendo que, se for, deve ser antercedido do seu próprio comentário para melhor entendimento geral.
Um abraço
José Bras
Mensagem do camarada José Brás para a nossa amiga tertuliana Filomena Sampaio
Caríssima amiga
Em primeiro lugar uma nota.
Escrevo -lhe directamente porque me parece abusivo da paciência dos camaradas da Tabanca, manter por mais tempo este debate, embora também receie que o seja a utilização do seu endereço, sobretudo porque não tenho a certeza absoluta que seja a amiga, a pessoa que comentou mais que uma vez os meus postes, aliás, o que lhe agradeço.
Tem toda a razão no que diz, sobretudo porque imagino que se refere, não a si, mas a muita outra gente que, infelizmente, não teve nunca acesso a um debate verdadeiro sobre o assunto, e o que teve sempre foram leituras parciais, ora de um grupo, ora de outro, contraditórias entre si muitas vezes, senão mesmo radicalmente opostas, quase sempre incompletas e com inverdades gradas pelo meio, deixando o informado a pão e laranjas na iminência de não crer em nada nem em ninguém.
Se há alguma coisa que não quero, uma é assumir aqui ares professorais de pessoa que tem resposta segura e definitiva, e a outra é impingir-lhe a ideia de que sou eu quem tem razão. De facto, não tenho senão a minha razão, que em muitos pontos não bate certo com a razão de outros.
A minha amiga sabe que razão e verdade não são coisas absolutas, uniformes e definitivas nos seus enunciados, mas o resultado da acumulação de outras e variadas razões e verdades que a vida e a realidade, lidas por um ou por outro, podem não fazer não coincidir.
Vamos lá ver. Então não existem razões e verdades unas e indiscutíveis que sejam factos concretos, com identidade, com tempo, com modo e com lugar certos e que aplicadas às vidas das pessoas produzem os mesmos efeitos e consequências em todos?
Não sei responder-lhe de modo absoluto mas posso dizer-lhe que não acredito, porque as pessoas que sofrem tais razões e verdades são diferentes uns dos outros, sentem de modo diferente porque nasceram, cresceram e consolidaram o seu ser, em movimento e em realidades também diferentes.
Repare!
Um jovem nascido na Cova da Moura não pode ver com o mesmo olhar um polícia na rua com sua pistola à cinta, como o verá o porteiro de um prédio de luxo, para ficarmos apenas entre pobres. No entanto um polícia é uma pessoa concreta, a sua pistola e as suas balas também o são e matam do mesmo modo a porteiro ou a suspeito marginal, podendo dizer-se, então, que os olhos de um e do outro deveriam realizar a mesma leitura. Nem falamos das diferenças de leitura que o polícia faz, olhando para um ou para o outro dos seus observadores do exemplo.
Colonialismo.
Muito brevemente poderá ser dito que é a ocupação de um País ou de um território por outro País com o objectivo de explorar recursos naturais, o solo, o mar ou o sub-solo, tendo para isso que dominar as gentes que já habitavam tais terras e detinham nelas uma história e uma cultura diferentes e modos de vida adaptados a essa história e a essa cultura.
Grosseiramente se diz ainda hoje que potência colonial eram todos os países que ocuparam terras distantes das suas originais, sobretudo na África e na América, e que durante anos subjugaram os povos naturais, tratando-os, primeiro como escravos, mais tarde como mão d'obra barata, sempre apartados de qualquer ideia de igualdade e mesmo de desenvolvimento civilizacional.
De facto, o avanço científico e tecnológico que chegou na Europa com a revolução industrial e o advento do capitalismo, separou entre si tais potências, uma vez que o uso da ciência e da tecnologia permitia a quem as detinha uma exploração mais rápida e mais funda em menos tempo e com menos meios.
Foi assim que vimos ingleses, por exemplo, enviar para a Rodésia máquinas, engenheiros, arquitectos, médicos, técnicos de toda a ordem e fazer dos negros locais os operários a quem ensinavam a desempenhar tarefas e profissões mais desenvolvidas, pedreiros e carpinteiros, condutores de maquinaria, serralheiros e mecânicos, operadores de máquinas várias.
Portugal, País onde a primeira máquina a vapor chegou 100 anos após o início da sua utilização na indústria inglesa, enviava para Angola carros de bois, pedreiros, carpinteiros, sapateiros, tasqueiros e, na sua maioria agricultores pobres de uma pobre agricultura braçal portuguesa, analfabetos quase todos.
As relações entre brancos e pretos na Rodésia, apesar do ensino e da formação, era muito mais evidentemente racista do que a dos portugueses em Angola, pobre gente, ela também já colonizada no seu país, habituada a grandes sacrifícios, e misérias e a modos de vida não muito diferentes dos que tiveram de suportar lá, convivendo com negros, amancebando-se com as mulheres, fazendo filhos mulatos e exercendo todas as profissões humildes que os ingleses deixavam aos locais na Rodésia.
Quer dizer que a Inglaterra foi um verdadeiro colonizador, sacou muito mais dos recursos existentes e para o fazer desenvolveu muito mais a Rodésia e os rodesianos do que Portugal fez em Angola. Do ponto de vista estrito da ciência económica e cultural a Inglaterra era uma potência colonial e nós uns pobres diabos.
Não quer isto dizer que é menos legítimo ou mais ilegítimo o colonialismo de um e de outro e que um era mais repressivo e racista que o outro, apenas porque na Rodésia ingleses viviam numa sociedade completamente apartada dos negros e em Angola os portugueses se misturavam com os negros e, por vezes, viviam em condições de vida não muito melhores.
Aquando das descobertas e logo que se começou a explorar os territórios, a realeza europeia tratou de imediato de fazer leis que proibiam a implantação de oficinas e fábricas de transformação dos recursos, obrigando a que estes viajassem aos países dominadores para aí serem transformados e muitas vezes re-enviados por preços mil vezes superiores. Com tais medidas proibiram sempre qualquer tipo de desenvolvimento, fosse ele industrial ou cultural e obstaram à acumulação dos capitais indispensáveis para garantir as transformações económicas e sociais.
Como os povos locais não se submetiam com facilidade, eram tratados à chibata, pela espada e pelas espingardas e, nisso, se igualaram sempre colonizadores ricos e pobres.
Durante os quinhentos anos de domínio português em Angola, nunca houve cinco anos seguidos sem alguma forma de resistência dos povos locais, e de guerra, ao contrário do que a história oficial sempre nos fez crer.
Esta é uma interpretação individual e minha, naturalmente não inventada por mim mas bebida no tal caldo cultural em que cresci. Não faltará quem desdiga isto, ainda que sejam factos históricos assumidos, aparentemente sem hipóteses de contestação.
Dirão que portugueses não batiam nos negros e eu vi muitos portugueses baterem nos seus empregados; dirão que portugueses pagavam bem aos trabalhadores e eu sei e toda a gente sabe que os exploravam com fúria; dirão até que os negros nos queriam lá e eu sei que não é verdade e que estavam cheios de raiva contra nós, independentemente de casos particulares em que havia de facto tratamento mais humanizado; dirão que aquela terra era também sua porque nela tinham crescido e construído família, explorações agrícolas, comerciais e industriais e eu não direi que não há aí muita verdade e que não é deplorável a forma violenta como foram despojados de tudo e expulsos.
A meu ver, o verdadeiro culpado de tudo isso foi o regime que não soube ler a história, não segui o caminho das outras potências coloniais, não previu a inevitabilidade das alterações nem as conveniências políticas, mantendo uma guerra violenta e prolongada e aumentando raivas que poderiam ter sido atenuadas atempadamente.
Muito concretamente, sobre cada coisa ou ideia, pode perguntar-se em jeito curto.
Foi bom ou foi mau que portugueses tivessem daqui partido em caravelas e sofrido o que sofreram, descobrindo os caminhos para outras paragens e outras gentes?
- uns dirão que sim porque foi um magnífico contributo que Portugal deu para alargar a ideia de mundo, e mesmo o mundo geográfico e concreto, conhecer outras gentes com seus costumes e culturas, descobrindo que não estávamos sós e que havia outras fés e outros deuses, outros recursos essenciais à humanidade para dar um salto e sair dos restos de feudalismo para uma sociedade moderna e que isso justifica sofrimentos e crimes:
- outros dirão logo que não porque a nossa matriz era a Europa e não a África ou a América, e era com a Europa que deveríamos ter crescido e não de costas viradas para ela, indo ocupar terras habitadas por outros povos com culturas e recursos que não tínhamos o direito de ocupar e suprimir, e menos ainda subjugando, matando, saqueando.
Entre estes dois extremos terá de ser a amiga que pensa e escolhe, incluindo, se quiser, talhando pelo meio, isto é, nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
E o que serve para este exemplo servirá para todas as outras questões, incluindo as verdades e as razões que cada um exibe na discussão da guerra colonial e da descolonização
Peço-lhe desculpa pelo tempo e pelo tom meio petulante da minha resposta, senão petulante de todo, aconselhando a leitura de alguns livros como "As veias abertas da América Latina" de Eduardo Galeano, ou, por exemplo, uma obra mais pequena e simples, agora mesmo saída da mão de uma portuguesa nascida em Moçambique, por sinal parente do camarada tabanqueiro Juvenal Amado, com o título "Caderno de Memórias Coloniais" de Isabela Figueiredo, retrato de um colonialismo que se diz diferente, sem abordagens a grandes temas filosóficos ou históricos, mas utilizando as cenas simples do quotidiano nas relações entre brancos, e entre brancos e negros na antiga Lourenço Marques.
São livros que, por vias diferentes nos dão retratos muito vivos sobre o que foi a colonização/descolonização e o racismo.
Cumprimentos amistosos e à família
José Brás
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 24 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5702: (Ex) citações (51): Falando de descolonização com António Rosinha (José Brás)
Guiné 63/74 - P5753: Notas de leitura (61): Armor Pires Mota (6): Estranha Noiva de Guerra, uma obra prima à espera de reconhecimento (Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Janeiro de 2010:
Queridos amigos,
É uma sensação maravilhosa e um reconforto enorme encontrar pela frente esta gema literária. A Âncora Editores propõe-se reeditar o romance. Vamos ver o que é que responde o Armor Pires Mota.
Um abraço do
Mário
Armor Pires Mota (6)
Estranha Noiva de Guerra: Uma obra-prima à espera de reconhecimento
Beja Santos
“Estranha Noiva de Guerra”, nova incursão de Armor Pires Mota na literatura da Guerra Colonial, é uma verdadeira surpresa, o mais agradável dos imprevistos para quem começou a conhecer a sua obra de fio a pavio. Não é uma guerra qualquer. O herói chama-se Bravo Elias, combate em Mansabá, a trama do romance decorre numa operação ao Morés, inicialmente parece um êxito até que a reacção do IN é brutal, desarticulando as tropas portuguesas no teatro de operações. Num dado momento, o Bravo Elias fica só com o Perdiz, faz parte dos supremos regulamentos de um combatente não deixar morto ou moribundo por mãos alheias, os camaradas vão zelar para que ele tenha tumba ou hospitalização, não se subtrai a dignidade a quem está à sombra da bandeira portuguesa. Inicia-se uma espantosa via-sacra em que aparece Mariama, a guerrilheira, que lhe promete levá-lo até ao quartel. É uma gramática riquíssima, um compromisso entre o português castiço, a narrativa à Hemingway com foros da narrativa delirante latino-americana. Conversa-se com o Perdiz como se ele estivesse vivo, anda por ali um cão que fará toda esta romagem, no mais puro estado de fidelidade; e até existe John, um pássaro, que se serve das migalhas de casqueiro na palma da mão estendida.
A cumplicidade entre o Bravo Elias e Mariama vai crescendo. Ambos fazem uma padiola para carregar o defunto e o material bélico, o esquife segue aos solavancos: “O sol batia nas covas dos olhos. Os raios voltando ao espaço, pareciam ensanguentar os arbustos, o azul do céu e eu assustava-me, ao passo que os pássaros, depois de feito o ensaio geral pela manhã, se davam ao luxo de uma sesta bem antecipada. Porém, mal tínhamos andado para aí cinco tiros de funda, vi, com susto que Mariama soçobrava do esforço. À uma, descemos a padiola. Aproveitei aí para compor o cabelo do Júlio Perdiz. A rapariga, entretanto, fazia-me sinal para que eu me sentasse. Com aceno de cabeça, disse que sim. Puxou-me pelo braço. Brincando, tacteou-me os poros com uma adaga de fogo branco, avassalando a alma, os nervos”. É uma paixão que desperta. É preciso escrever-se muito bem para não enveredar pela lamechice, o autor descreve com sabedoria e rigor toda a ternura que desponta.
Atravessa-se a bolanha de água pastosa, o calvário prossegue, aquela região chama-se Lala Samba, os jagudis voltam a atacar o finado, arrancam-lhe os olhos, metade de uma orelha, o nariz. Aos tombos, chegam a Cumbijã Sare, lavam o que resta do Perdiz, Mariama parece em transe, está no seu “chão”. Chegamos a uma nova etapa da via-sacra, aparecem dois guerrilheiros, Mariama enrola uma justificação, chegam à tabanca de Sambuiá, onde um velho, de nome Mamadú Keta antigo alferes de segunda linha, irá oferecer um cachimbo ao Bravo Elias. É o fascínio de uma reconciliação, do atar e do desatar vínculos diluídos pela guerra. E assim se chega à recta final: “Ladeámos Tabassai junto aos morros de baga-baga. Para diante, havia a certeza do arame farpado, o odor forçado da tranquilidade. Realmente, do enorme poilão, que se perfilava no horizonte de aço, saltou um novo bando de jagudis, que investiu contra o resto do Perdiz. Arranquei-me do desânimo, pequei da G-3 e limpei seguramente meia dúzia no seu voo raso e pesado”. A via-sacra vai evoluir. Armor Pires Mota escreve magistralmente um ataque a Mansabá como nunca encontrei na literatura da Guerra Colonial: o vigor da encenação, os sons, as imagens de sofrimento, as águas-fortes das correrias e dos rodopios. É nisto que os dois jovens guerrilheiros do Morés matam Mariama. O apocalipse está completo, o Bravo Elias olha à volta todo este mundo devastado, com odores dos escombros e dos estragos das armas, John pia assustado, era um fio de voz que doía. E assim termina esta obra incomparável: “Então, resolvi erguer-me de onde estava, aéreo e pardacento, e, cambaleando muito, fui à procura de John por cima de um mundo de destroços”.
Quando se acaba de ler este livro incomparável, assalta logo ao espírito a inquietação: foi por cegueira ou alheamento que “Estranha Noiva de Guerra” não é livro que ande de mão em mão dos combatentes, das pessoas que gostam da boa língua portuguesa, que distinguem a qualidade da água chilra?
É totalmente incompreensível o desconhecimento desta obra, pior ainda, nada fazer em silenciar a originalidade desta escrita. Vou já à procura de editor para ela. Há que fazer justiça a “Estranha Noiva de Guerra”.
Em 1999, Armor Pires Mota edita “Terra Ferida”, uma homenagem a quem sofre no Golfo, na Bósnia, em Timor, no Kosovo ou em Angola. Mas não esqueceu os deveres contraídos com a Guiné, a quem dedica o poema Guiné/98, um apelo à paz e ao carinho que devemos às crianças:
Aos livros de contos, de sonho e de paz,
os meninos encostam seu trémulo ouvido
mas agora sabem que as palavras
eram apenas de vidro
ou aragem de veleiro
ou breve rumor de korás
na alegria profunda
de noites no terreiro.
...........................................
...........................................
As asas são ainda dos meninos,
(netos dos meus amigos
de Mansoa, Bissau ou Bissorã)
mas os olhos só têm voo
de medo e de nada
e não abrem destinos,
quando os cavalos de morte
relincham sombras, nuvens, desatinos,
e devoram inteiro o sol da madrugada.
Armor Pires Mota suspendia as suas viagens ao tempo da Guiné, passava a investigar a história da sua região, Oliveira do Bairro. Então, em 2008, regressa à Guiné com “A Cubana que dançava flamenco”. Silas Macário foi raptado, vive inauditas peripécias, acaba por se render aos encantos de uma enfermeira, uma rapariga dos seus vinte anos, uma cubana. É agora este o livro que tenho para ler e fazer a respectiva recensão, aguardando que Armor Pires Mota abra novamente os cofres da memória de combatente na Guiné.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 1 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5744: Notas de leitura (60): Estranha Noiva de Guerra, de Armor Pires Mota - I (Beja Santos)
Queridos amigos,
É uma sensação maravilhosa e um reconforto enorme encontrar pela frente esta gema literária. A Âncora Editores propõe-se reeditar o romance. Vamos ver o que é que responde o Armor Pires Mota.
Um abraço do
Mário
Armor Pires Mota (6)
Estranha Noiva de Guerra: Uma obra-prima à espera de reconhecimento
Beja Santos
“Estranha Noiva de Guerra”, nova incursão de Armor Pires Mota na literatura da Guerra Colonial, é uma verdadeira surpresa, o mais agradável dos imprevistos para quem começou a conhecer a sua obra de fio a pavio. Não é uma guerra qualquer. O herói chama-se Bravo Elias, combate em Mansabá, a trama do romance decorre numa operação ao Morés, inicialmente parece um êxito até que a reacção do IN é brutal, desarticulando as tropas portuguesas no teatro de operações. Num dado momento, o Bravo Elias fica só com o Perdiz, faz parte dos supremos regulamentos de um combatente não deixar morto ou moribundo por mãos alheias, os camaradas vão zelar para que ele tenha tumba ou hospitalização, não se subtrai a dignidade a quem está à sombra da bandeira portuguesa. Inicia-se uma espantosa via-sacra em que aparece Mariama, a guerrilheira, que lhe promete levá-lo até ao quartel. É uma gramática riquíssima, um compromisso entre o português castiço, a narrativa à Hemingway com foros da narrativa delirante latino-americana. Conversa-se com o Perdiz como se ele estivesse vivo, anda por ali um cão que fará toda esta romagem, no mais puro estado de fidelidade; e até existe John, um pássaro, que se serve das migalhas de casqueiro na palma da mão estendida.
A cumplicidade entre o Bravo Elias e Mariama vai crescendo. Ambos fazem uma padiola para carregar o defunto e o material bélico, o esquife segue aos solavancos: “O sol batia nas covas dos olhos. Os raios voltando ao espaço, pareciam ensanguentar os arbustos, o azul do céu e eu assustava-me, ao passo que os pássaros, depois de feito o ensaio geral pela manhã, se davam ao luxo de uma sesta bem antecipada. Porém, mal tínhamos andado para aí cinco tiros de funda, vi, com susto que Mariama soçobrava do esforço. À uma, descemos a padiola. Aproveitei aí para compor o cabelo do Júlio Perdiz. A rapariga, entretanto, fazia-me sinal para que eu me sentasse. Com aceno de cabeça, disse que sim. Puxou-me pelo braço. Brincando, tacteou-me os poros com uma adaga de fogo branco, avassalando a alma, os nervos”. É uma paixão que desperta. É preciso escrever-se muito bem para não enveredar pela lamechice, o autor descreve com sabedoria e rigor toda a ternura que desponta.
Atravessa-se a bolanha de água pastosa, o calvário prossegue, aquela região chama-se Lala Samba, os jagudis voltam a atacar o finado, arrancam-lhe os olhos, metade de uma orelha, o nariz. Aos tombos, chegam a Cumbijã Sare, lavam o que resta do Perdiz, Mariama parece em transe, está no seu “chão”. Chegamos a uma nova etapa da via-sacra, aparecem dois guerrilheiros, Mariama enrola uma justificação, chegam à tabanca de Sambuiá, onde um velho, de nome Mamadú Keta antigo alferes de segunda linha, irá oferecer um cachimbo ao Bravo Elias. É o fascínio de uma reconciliação, do atar e do desatar vínculos diluídos pela guerra. E assim se chega à recta final: “Ladeámos Tabassai junto aos morros de baga-baga. Para diante, havia a certeza do arame farpado, o odor forçado da tranquilidade. Realmente, do enorme poilão, que se perfilava no horizonte de aço, saltou um novo bando de jagudis, que investiu contra o resto do Perdiz. Arranquei-me do desânimo, pequei da G-3 e limpei seguramente meia dúzia no seu voo raso e pesado”. A via-sacra vai evoluir. Armor Pires Mota escreve magistralmente um ataque a Mansabá como nunca encontrei na literatura da Guerra Colonial: o vigor da encenação, os sons, as imagens de sofrimento, as águas-fortes das correrias e dos rodopios. É nisto que os dois jovens guerrilheiros do Morés matam Mariama. O apocalipse está completo, o Bravo Elias olha à volta todo este mundo devastado, com odores dos escombros e dos estragos das armas, John pia assustado, era um fio de voz que doía. E assim termina esta obra incomparável: “Então, resolvi erguer-me de onde estava, aéreo e pardacento, e, cambaleando muito, fui à procura de John por cima de um mundo de destroços”.
Quando se acaba de ler este livro incomparável, assalta logo ao espírito a inquietação: foi por cegueira ou alheamento que “Estranha Noiva de Guerra” não é livro que ande de mão em mão dos combatentes, das pessoas que gostam da boa língua portuguesa, que distinguem a qualidade da água chilra?
É totalmente incompreensível o desconhecimento desta obra, pior ainda, nada fazer em silenciar a originalidade desta escrita. Vou já à procura de editor para ela. Há que fazer justiça a “Estranha Noiva de Guerra”.
Em 1999, Armor Pires Mota edita “Terra Ferida”, uma homenagem a quem sofre no Golfo, na Bósnia, em Timor, no Kosovo ou em Angola. Mas não esqueceu os deveres contraídos com a Guiné, a quem dedica o poema Guiné/98, um apelo à paz e ao carinho que devemos às crianças:
Aos livros de contos, de sonho e de paz,
os meninos encostam seu trémulo ouvido
mas agora sabem que as palavras
eram apenas de vidro
ou aragem de veleiro
ou breve rumor de korás
na alegria profunda
de noites no terreiro.
...........................................
...........................................
As asas são ainda dos meninos,
(netos dos meus amigos
de Mansoa, Bissau ou Bissorã)
mas os olhos só têm voo
de medo e de nada
e não abrem destinos,
quando os cavalos de morte
relincham sombras, nuvens, desatinos,
e devoram inteiro o sol da madrugada.
Armor Pires Mota suspendia as suas viagens ao tempo da Guiné, passava a investigar a história da sua região, Oliveira do Bairro. Então, em 2008, regressa à Guiné com “A Cubana que dançava flamenco”. Silas Macário foi raptado, vive inauditas peripécias, acaba por se render aos encantos de uma enfermeira, uma rapariga dos seus vinte anos, uma cubana. É agora este o livro que tenho para ler e fazer a respectiva recensão, aguardando que Armor Pires Mota abra novamente os cofres da memória de combatente na Guiné.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 1 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5744: Notas de leitura (60): Estranha Noiva de Guerra, de Armor Pires Mota - I (Beja Santos)
Guiné 63/74 - P5752: In Memoriam (35): Humberto Pereira Vieira, Soldado Condutor Auto de Transmissões da CART 2339, Mansambo, 1968/69 (José Martins)
1. O sobrinho do nosso Camarada Humberto Pereira Vieira, que foi Soldado Condutor Auto de Transmissões da CART 2339, Mansambo, 1968/69, de nome Humberto Gomes da Silva, enviou-nos em 25 de Janeiro último, o seguinte apelo:
Humberto Pereira Vieira
Soldado Condutor Auto de Transmissões
CART 2339, Mansambo, 1968/69
Olá,
Espero que tudo esteja bem.
Chamo-me Humberto Silva e sou sobrinho de um camarada vosso que nos “deixou” na Guiné...
O seu nome é Humberto Vieira...
Gostava que se pudesse, me enviasse informações sobre ele...
Os seus pais ainda estão vivos: Abílio Vieira e Maria Amélia, ambos naturais de Baião/Amarante, a viver em Matosinhos - Porto.
O Humberto está no cemitério de Sendim, em Matosinhos / Porto, no regime geral...
Sem mais de momento e na esperança que tenham algo a contar sobre ele...
O meu e-mail pessoal é: humsgsilva@hotmail.com
Um abraço,
Humberto Silva
2. Em 28 de Janeiro de 2010, o nosso Camarada Torcato Mendonça, que pertenceu à mesma CART, enviou-nos a seguinte mesnagem:
Quanto á morte do Humberto nada ou pouco posso acrescentar. Saí nesse dia para a Moricanhe. Tenho isso descrito em escrito e creio que publicado.
Certamente algum de vós, se estava em Mansambo, melhor na emboscada e, caso se recorde do Humberto, disso falará.
Abraços a todos do,
Torcato
3. Também em 28 de Janeiro de 2010, o nosso Camarada José Martins, habitual colaborador no blogue em todas as matérias relacionadas com as movimentações das diversas Unidades, que estiveram na Guerra do Ultramar, a pedido do Luís Graça, enviou-nos os seguintes elementos sobre a CART 2339, os seus mortos e condecorações:
Caro Luis e Humberto
Em anexo segue o que consegui obter sobre o nosso camarada Humberto Vieira.
Como sempre, os elementos foram obtidos juntando algumas franjas de diversas proveniências.
Não esquecer que no blogue há elementos que pertenceram à mesma companhia, como o Torcato Mendonça, Carlos Marques dos Santos e Ernesto Ribeiro (não sei se me falha algum), que podem dar uma visão menos histórica e mais pessoal do nosso camarada.
Companhia de Artilharia nº 2339
Mobilizada no Regimento de Artilharia Ligeira nº 3 em Évora, embarcou em Lisboa em 14 de Janeiro de 1968. Era comandada pelo Capitão Miliciano Graduado de Artilharia Arnaldo Manuel Pedroso de Lima e ostentava como divisa “Viriatos” assim como a Divisa da unidade mobilizadora “Lealdade e Nobreza”. Posteriormente estivaram no comando da subunidade o Capitão de Artilharia Augusto Moura Soares e o Capitão de Artilharia Raul Alberto Laranjeira Henriques.
Tendo desembarcado em Bissau no dia 21 de Janeiro de 1968, tendo seguido para o Xime afim de efectuar a instrução de adaptação operacional, sob a orientação do Batalhão de Artilharia nº 1904, tendo substituído a Companhia de Caçadores nº 1551, ficando com a função de intervenção e reserva, às ordens daquele batalhão, instalando-se em Fá Mandinga a partir de 15 de Fevereiro de 1968.
Participou em operação nas regiões de Galo Corubal, Siai, Velel e regulados de Canha e Maná.
Iniciou a construção do aquartelamento de Mansambo em 21 de Abril de 1968, para onde foi transferido em 6 de Maio de 1968, com a criação daquele subsector, tendo ficado integrado na zona de acção do Batalhão de Artilharia nº 1804 e, posteriormente, do Batalhão de Caçadores nº 2852.
Em 11 de Junho de 1968, a sua actividade foi orientada para os trabalhos de reordenamento das povoações de Afiá e Candamã, assim como a promoção socioeconómica das populações da área, para onde deslocou forças por períodos curtos e variáveis, alem de ter destacado efectivos em reforço das guarnições de Geba, Xime e Bambadinca, entre outras.
Rendida no subsector de Mansambo pela Companhia de Caçadores nº 2401, em 21 de Novembro de 1969, regressou a Bissau para aguardar embarque para a metrópole, o que se verificou em 4 de Dezembro de 1969.
Os mortos da subunidade:
FERNANDO RIBEIRO DE SOUSA, 1º Cabo Enfermeiro nº 02143467, natural da freguesia e concelho de Penafiel, solteiro, filho de Agostinho Ribeiro de Sousa e de Gracinda Rosa, faleceu 24 de Julho de 1968, vítima de ferimentos em combate na região de Moricane durante um ataque ao aquartelamento. Foi inumado no Cemitério de Penafiel.
HUMBERTO PEREIRA VIEIRA, Soldado Condutor Auto de Transmissões nº 06788767, natural do lugar de Cabaço, freguesia de Santo Cruz do Douro e concelho de Baião, solteiro, filho de Abílio Vieira e Maria Amélia, faleceu 19 de Setembro de 1968, vítima de ferimentos em combate junto da fonte de Mansambo. Foi inumado no Cemitério nº 2 de Matosinhos.
JOÃO MANUEL JACINTO FIGUEIRAS, 1º Cabo Condutor Auto Rodas nº 03281467, natural da freguesia de São Pedro, concelho de Faro, casado com Maria do Carmo Santos Medeiros Figueiras, filho de Ludgero Gregório Figueiras e Ermelinda Jacinto Figueiras, faleceu 25 de Setembro de 1968 no Hospital Militar nº 241, Bissau, vítima de ferimentos em combate, em 19 desse mês, junto da fonte de Mansambo. Foi inumado no Cemitério de Faro.
CARLOS ARMANDO DE SOUSA DUARTE, Soldado de Atirador nº 08913767, natural da freguesia de Santa Marinha, concelho de Vila Nova de Gaia, solteiro, filho de Serafim, Alves Duarte e Benilde Alves de Sousa, faleceu 3 de Dezembro de 1968, vítima de acidente, afogamento no Rio Pulom, em Mansambo. Foi inumado no Cemitério Paroquial de Santa Marinha.
CARLOS MANUEL DA COSTA PIMENTA, Soldado de Armas Pesadas nº 08842267, natural de Colaria, freguesia de Freiria, concelho de Torres Vedras, solteiro, filho de Manuel Simões Pimenta e Nazaré Costa, faleceu 3 de Dezembro de 1968, vítima de acidente, afogamento no Rio Pulom, em Mansambo. Foi inumado no Cemitério Paroquial de Freiria.
JOSE FERREIRA BESSA, Soldado Atirador nº 00884067, natural da freguesia de Santa Eulália, concelho de Lousada, solteiro, filho de António Ferreira de Bessa e de Maria da Glória Carvalho Bessa, faleceu 3 de Janeiro de 1969, vítima de ferimentos em combate num ataque ao aquartelamento de Mansambo. Foi inumado no Cemitério Paroquial de Cristelos - Lousada.
JOAQUIM MARTINS BARBOSA, Soldado Atirador nº 09171367, natural da freguesia de São Salvador do Campo, concelho de Barcelos, solteiro, filho de Manuel Sepúlveda Barbosa e Sofia Martins da Ponte, faleceu 29 de Setembro de 1969, vítima de ferimentos em combate na estrada entre Mansambo e Bambadinca. Foi inumado no Cemitério Paroquial de São Salvador do Campo.
JOSÉ FRANCISCO GAIÉ CASADINHO, Soldado Atirador nº 08731567, natural da freguesia de São Matias, concelho de Beja, Casado com Eugénia Rosa Horta, filho de António Piriquito Casadinho e Luísa Rosa Gaié, faleceu 2 de Outubro de 1968, vítima de acidente de viação no aeroporto de Bissalanca. Foi inumado no Cemitério Paroquial de S. Matias.
Condecorações
O 1º Cabo Atirador de Artilharia MARINO DA COSTA LOBO CAMPOS, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra de 3ª Classe, por acção desenvolvida no dia 30 de Julho de 1969, publicada na Ordem do Exército nº 9, Série III de 1970.
Um abraço fraterno,
José Martins
Fur Mil Trms da CCAÇ 5
___________
Nota de M.R.:
Vd. também os postes relacionados:
10 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4171: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (16): Emboscada na Fonte de Mansambo
4 de Setembro de 2009> Guiné 63/74 - P4894: Parabéns a você (23): Torcato Mendonça, ex-Alf Mil da CART 2339 (Os Editores)
(Existem dezenas de links de postes do Torcato Mendonça sobre esta matéria!)
Vd. também os postes da I Série:
04 Maio 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXIII: Pedro, o filho do Saagum.
2 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXV: Do Porto a Bissau (12): A fonte de Mansambo (Albano Costa)
14 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCVIII: A emboscada na fonte de Mansambo (19 de Setembro de 1968) (Carlos Marques dos Santos)
9 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DIX: As baixas da CART 2339 (Mansambo, 1968/69)
12 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXLII: História da 'feitoria' de Mansambo
Vd. último poste desta série em:
10 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5088: In Memoriam (34): Alf Mil Inf Mário Henriques dos Santos Sasso, da CCAÇ 728 (José Martins)
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Guiné 63/74 - P5751: Parabéns a você (73): Germano Santos, ex-Op Cripto da CCAÇ 3305/BCAÇ 3832 (Mansoa, 1971/73) (Editores)
1. Hoje dia 2 de Fevereiro de 2010 está de parabéns o nosso camarada Germano Santos (ex-Operador Cripto da CCAÇ 3305/BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73.
Embora um pouco a fora de horas, não queremos deixar passar este dia sem vir desejar-lhe uma longa vida junto de sua família e amigos.
Germano Santos entrou para a Tabanca Grande no dia 3 de Maio de 2007, como consta no Poste 1814.
Caro Luís Graça,
Chamo-me Germano Santos e estive na Guiné entre 1970 e 1973.
Fui Operador Cripto do Batalhão de Caçadores 3832 que operou, sediado em Mansoa, nas regiões de Cutia, Infandre, Braia, Porto Gole, Bissá, Jugudul, Uaque, Bindouro e Rossum.
Tive oportunidade de regressar à Guiné em 1998, e rever Mansoa e Jugudul. Deu ainda para dar um salto a Bissorã, João Landim, Quinhamel e ao Arquipélago de Bijagós, designadamente a Ilha das Galinhas, antiga rota dos escravos, sem esquecer Bissau.
É com muita saudade que leio, oiço e falo da Guiné e, obviamente, de Mansoa, onde passei dois anos da minha juventude.
Estou a organizar, conjuntamente com outros camaradas, o almoço anual do batalhão (este ano realizou-se no dia 5 de maio, em Lisboa, no Páteo Alfacinha).
Só agora descobri o seu sítio na Net e vou olhar para ele com outros olhos assim que possa.
Tenho algum material fotográfico da Guiné, nomeadamente de Mansoa e de camaradas meus; se quiser posso-lhe remeter algum. Diga-me só como devo fazer.
Um abraço e parabéns pelo seu trabalho sobre a Guiné.
Aqui umas fotos do nosso camarada em arquivo no nosso Blogue.
T/T Carvalho Araújo > 19 de Dezembro de 1970 > CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832 > 1º Cabo Operador Cripto Germano Santos, no dia de embarque para a Guiné
Germano Santos, de camuflado e óculos de sol, passeando por uma rua de Mansoa
Guiné > Região de Bissau > Cumeré > CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832 > Finais de 1970 > 1º Cabo Operador Cripto Germano Santos, junto a um heli, no dia em que o General Spínola visitou o batalhão, antes de este ser colovado em Mansoa.
Guiné > Região do Óio > Mansoa > c. 1972 > O Germano Santos junto a um enorme embondeiro
Finalmente os postes de sua autoria:
4 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1814: Tabanca Grande (8): Apresenta-se o Operador Cripto da CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832 (Mansoa, 1970/73) , Germano Santos
11 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1835: Tabanca Grande (10): Germano Santos, ex-1º Cabo Op Cripto, CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73
12 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1840: A trágica história dos sapadores Alho e Fernandes da CCS do BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73 (César Dias / Gerrmano Santos)
8 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1934: Mansoa era uma vila lindíssima, um jardim (Germano Santos)
15 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1953: O cruzeiro das nossas vidas (6): Ou a estória de uma garrafa, com o SPM de Mansoa, que viajou até às Bahamas (Germano Santos)
18 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1968: Cusa di nos terra (2): O Embondeiro, aliás, Poilão, de Mansoa (Germano Santos)
18 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3071: Os nossos regressos (11): Guiné, 1970/73. Porra, é muito tempo. (Germano Santos).
13 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3305: O meu baptismo de fogo (8): Mansoa, 1 de Abril de 1971 (Germano Santos)
3 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4132: Efemérides (19): O ataque a Mansoa, no dia das mentiras, 1 de Abril de 1971 (Germano Santos)
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 29 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5725: Parabéns a você (72): Luís Graça, ex-Fur Mil da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 - O Rei Luar (Migueis da Silva)
Embora um pouco a fora de horas, não queremos deixar passar este dia sem vir desejar-lhe uma longa vida junto de sua família e amigos.
Germano Santos entrou para a Tabanca Grande no dia 3 de Maio de 2007, como consta no Poste 1814.
Caro Luís Graça,
Chamo-me Germano Santos e estive na Guiné entre 1970 e 1973.
Fui Operador Cripto do Batalhão de Caçadores 3832 que operou, sediado em Mansoa, nas regiões de Cutia, Infandre, Braia, Porto Gole, Bissá, Jugudul, Uaque, Bindouro e Rossum.
Tive oportunidade de regressar à Guiné em 1998, e rever Mansoa e Jugudul. Deu ainda para dar um salto a Bissorã, João Landim, Quinhamel e ao Arquipélago de Bijagós, designadamente a Ilha das Galinhas, antiga rota dos escravos, sem esquecer Bissau.
É com muita saudade que leio, oiço e falo da Guiné e, obviamente, de Mansoa, onde passei dois anos da minha juventude.
Estou a organizar, conjuntamente com outros camaradas, o almoço anual do batalhão (este ano realizou-se no dia 5 de maio, em Lisboa, no Páteo Alfacinha).
Só agora descobri o seu sítio na Net e vou olhar para ele com outros olhos assim que possa.
Tenho algum material fotográfico da Guiné, nomeadamente de Mansoa e de camaradas meus; se quiser posso-lhe remeter algum. Diga-me só como devo fazer.
Um abraço e parabéns pelo seu trabalho sobre a Guiné.
Aqui umas fotos do nosso camarada em arquivo no nosso Blogue.
T/T Carvalho Araújo > 19 de Dezembro de 1970 > CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832 > 1º Cabo Operador Cripto Germano Santos, no dia de embarque para a Guiné
Germano Santos, de camuflado e óculos de sol, passeando por uma rua de Mansoa
Guiné > Região de Bissau > Cumeré > CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832 > Finais de 1970 > 1º Cabo Operador Cripto Germano Santos, junto a um heli, no dia em que o General Spínola visitou o batalhão, antes de este ser colovado em Mansoa.
Guiné > Região do Óio > Mansoa > c. 1972 > O Germano Santos junto a um enorme embondeiro
Finalmente os postes de sua autoria:
4 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1814: Tabanca Grande (8): Apresenta-se o Operador Cripto da CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832 (Mansoa, 1970/73) , Germano Santos
11 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1835: Tabanca Grande (10): Germano Santos, ex-1º Cabo Op Cripto, CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73
12 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1840: A trágica história dos sapadores Alho e Fernandes da CCS do BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73 (César Dias / Gerrmano Santos)
8 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1934: Mansoa era uma vila lindíssima, um jardim (Germano Santos)
15 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1953: O cruzeiro das nossas vidas (6): Ou a estória de uma garrafa, com o SPM de Mansoa, que viajou até às Bahamas (Germano Santos)
18 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1968: Cusa di nos terra (2): O Embondeiro, aliás, Poilão, de Mansoa (Germano Santos)
18 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3071: Os nossos regressos (11): Guiné, 1970/73. Porra, é muito tempo. (Germano Santos).
13 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3305: O meu baptismo de fogo (8): Mansoa, 1 de Abril de 1971 (Germano Santos)
3 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4132: Efemérides (19): O ataque a Mansoa, no dia das mentiras, 1 de Abril de 1971 (Germano Santos)
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 29 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5725: Parabéns a você (72): Luís Graça, ex-Fur Mil da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 - O Rei Luar (Migueis da Silva)
Guiné 63/74 - P5750: Convívios (183): 1º Encontro/Convívio do BCAÇ 4513 (Fernando Costa)
1. O nosso Camarada Fernando Costa, ex-Fur Mil Trms da CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, MAR73/SET74), enviou-nos a seguinte mensagem, acerca do Encontro/Convívio do seu batalhão:
1º Encontro/Convívio
Batalhão de Caçadores 4513
(BCAÇ 4513)
Realizou-se a 8 de Dezembro na Mealhada, o primeiro encontro dos elementos das quatro companhias que compunham este Batalhão.
Por ser o primeiro, os organizadores do evento estavam um pouco receosos de pouca adesão por partes dos ex-militares.
Redondamente enganados. Estiveram presentes na totalidade 104 pessoas, sendo 59 ex-combatentes e 45 familiares.
Na sua maioria, não se viam desde Setembro de 1974.
Ficou decidido que os futuros encontros passariam a ser no aniversário do embarque do Batalhão para a Guiné, ou seja a 16 de Março. Quando esta data calhar a um dia de semana, passará para o sábado seguinte.
Assim, anunciamos o próximo evento:
“37º Aniversário do Embarque para a Guiné”
Data: 20 de Março de 2010
Local: Regimento de Infantaria nº 15 – RI15 - Tomar
Programa:
10h00 - Cocktail de recepção do pessoal e acompanhantes;
11h00 - Homenagem aos mortos junto ao Monumento da Unidade com Colocação de uma coroa de flores;
11h15 - Agradecimento ao RI 15;
11h30 – Missa;
12h00 - Visita guiada ao Regimento;
13h00 -Saída em cortejo para o almoço, que será servido na Quinta da Gracinda (em Valdonas – a aproximadamente 2.000 metros do Regimento).
Se és um elemento do ex-4513/73, aparece com a família para reviver no presente, o que fomos no passado.
Inscrições:
e-mail – bcac4513@gmail.com
Fernando Costa
Fur Mil – Trms da CCS
Tel: 213145321 - 964217393
Um abraço,
Fernando Costa
Fur Mil Trms da CCS/BCAÇ 4513
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
Subscrever:
Mensagens (Atom)