quarta-feira, 29 de junho de 2011

Guiné 63/74 – P8484: Parabéns a você (279): Santos Oliveira, nasceu a 29 de Junho de 1942 (Os Editores)



1. Com um abraço de parabéns do camarada Miguel Pessoa


29 de Junho de 2011



69ºAniversário





OS NOSSOS PARABÉNS





1. O nosso camarada Santos Oliveira, que foi 2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66, completa hoje o seu 69º aniversário.


Em nome do Luís Graça e demais Camaradas desta tertúlia desejamos, neste dia, ao nosso camarada Santos Oliveira, as maiores felicidades e uma longa vida com saúde q.b., junto de seus familiares e amigos.



O Santos Oliveira está connosco desde Novembro de 2007.
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Guiné 63/74 - P8483: Parabéns a você (278): José Firmino, ex-Soldado At da CCAÇ 2585/BCAÇ 2912 (Tertúlia / Editores)

PARABÉNS A VOCÊ

DIA 29 DE JUNHO DE 2011

JOSÉ FIRMINO

NESTE DIA DE ANIVERSÁRIO PARA O NOSSO CAMARADA JOSÉ FIRMINO, A TERTÚLIA E OS EDITORES VÊM POR ESTE MEIO DESEJAR-LHE AS MAIORES FELICIDADES E UMA LONGA VIDA COM SAÚDE, JUNTO DE SEUS FAMILIARES E AMIGOS.
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Notas de CV:

José Firmino foi Soldado Atirador na CCAÇ 2585/BCAÇ 2884 que esteve em Jolmete nos anos de 1969 a 1971

Vd. último poste da série de 24 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8468: Parabéns a você (277): Vasco Joaquim, ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2912 (Tertúlia e Editores)

terça-feira, 28 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8482: Os nossos médicos (28): Diamantino Lopes, cirurgião do HM241, praxista coimbrão, com grande sentido de humor (António Paiva / J. Pardete Ferreira)

1. Excerto de uma história, passada no HM 241 (Bissau),  já aqui contada pelo nosso camarada António Paiva (*):

(...) Certo dia, com sinais emergência, chega ao Hospital [Militar 241] um jipe da PM. Não era para menos, no banco do pendura vinha um Senhor Oficial devidamente fardado e de boina bem posta, fazendo honras à sua farda e à Unidade que representava, mesmo que o sangue lhe escorresse pela face.

Saiu do jipe e entrou pelo Hospital adentro sem tirar a boina. Logo à entrada do corredor foi chamado à atenção, por um médico, que naquela Unidade não se entrava com boina na cabeça.

Resposta pronta, mais ou menos nestes termos:
- Sou militar, sou oficial (Alferes) e estou devidamente fardado.


No corredor ouve-se uma voz, vinda da boca do Alf Mil Med Diamantino Lopes (**):
- Eu trato dele.

Podem crer que o tratou bem, não descompondo o rigor militar de S. Exª. Nem entrou no Posto de Socorros, foi directo para Pequena Cirurgia.

O Alferes, depois de sentado, ia para tirar a boina, o que foi impedido pelo médico.
- Deixe-a estar, aqui quem manda sou eu.

Recurso necessário: Uma tesoura, para cortar a boina e pôr metade para cada lado.

Depois do espaço aberto, foi executado na perfeição o tratamento adequado. Só não sei se foi a quente ou a frio, se levou agrafes ou ponto cruz, a verdade é que saiu de lá tratado e a boina unida com fita adesiva.

Já me esquecia, O Sr. Alferes tinha partido a cabeça ao bater com ela na porta de um armário que se encontrava aberta.

António Paiva (ex-Soldado Condutor Auto no HM 241 de Bissau, 1968/70) [, foto à direita]



2. Comentário ao poste, com data de hoje, da autoria de J. Pardete Ferreira (ex-Alf Mil Med, HM 241, Junho de 1969/  ) [, foto à esquerda]:


Obrigado,  camarigo: esta história é mais que verdadeira. O médico era o Dr. Diamantino Lopes, com a alcunha coimbrã de "O Tocha", grande praxista. Pequenino, bem penteado, gozão sem ares disso, com 33 de pé, foi mobilizado com 15ª Companhia de Comandos, se bem me lembro e, ao olharem para ele, todos aqueles matulões começaram a mandar piropos:
- Isto é que é o médico?.

Sem pestanejar, lá foi a resposta pronta:
- Eu sou a amostra clínica, o médico vem aí atrás!.

Foi ele, igualmente, quem recebeu o Capitão Peralta no HM241, pois tinha-se atrasado nas consultas e era o único elemento da Cirurgia que estava presente. Era de Penela e ao regressar foi para o Hospital de Leiria. (***).


Alfa Bravo. 
José Pardete Ferreira
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Notas do editor:


(*) Vd. poste de 21 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6445: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (12): Um PM devidamente fardado apesar das circunstâncias (António Paiva)


(**) Lista dos médicos em serviço no HM241, de cujo nome se recorda o António Paiva (1968/70)
 
(i) Cirurgiões:
Dr. Diaz Gonçalves, Cirurgia Geral [Substitui o Dr. Fernando Garcia, que terminou a comissão em 1967]
Dr. Cavadinha Gomes, Neurocirurgia
Dr. Saavedra Machado, Cirurgia cardiotorácica
Dr. Herculano Biscaia da Silva, Ortopedista e Inspector Chefe do Serviço de Saúde.
Dr. Ventura, Ortopedista
Dr. Trigo de Sousa, Ortopedista
Dr. Martins Fernandes, Otorrino
Dr. Diamantino Lopes (Não me lembro a especialidade)


(ii) Médicos de estomatologia:
Dr. António Lebre Moreira de Figueiredo, Inspector Chefe do Serviço de Saúde
Dr. Ernesto Mendes Ferrão
Dr. Vieira Alves
Dr. Malícia


(iii) Serviço de Sangue:
Dr. Arlindo Baptista


(iv) Serviço de RX:
Dr. Nascimento [, António Nascimento e Sousa, natural de Alcobaça, recentemenete falecido, acrescenta o nosso JERO]


(v) Outros Médicos:
Dr. Maurício
Dr. Maymone Martins
Dr. Trindade
Dr. Victor de Sousa (regressou comigo no Carvalho Araujo, onde a bordo do mesmo tivemos um trabalho bem difícil por causa do apêndice de um camarada).

(***) Últimos dois postes da série > 


23 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8313: Os nossos médicos (26): J. Pardete Ferreira, ex-Alf Mil Med (Teixeira Pinto e Bissau, 1969/71), criador literário do Paparratos

28 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8481: Os nossos médicos (27): Com o Dr. Carlos Ferreira Ribeiro,fui um dos que operou o Cap Cubano Peralta; e com o Dr. João Carlos Azevedo Franco, fui um dos últimos a ver o corpo do malogrado Major Pereira da Silva (J. Pardete Ferreira)

Guiné 63/74 - P8481: Os nossos médicos (27): Com o Dr. Carlos Ferreira Ribeiro,fui um dos que operou o Cap Cubano Peralta; e com o Dr. João Carlos Azevedo Franco, fui um dos últimos a ver o corpo do malogrado Major Passos Ramos (J. Pardete Ferreira)


A. Comentário de J. Pardete Ferreira (ex- Alf Mil Med, CAOP, Teixeira Pinto; HM241, Biossau, 1969/71) ao poste P8474:



1. Fui para Teixeira Pinto [, para o CAOP1,] , de DO 27, numa manhã dos primeiros dias de Fevereiro de 1969! 

Fui requisitado para Bissau no final de Junho do mesmo ano...  (...) O meu cartão [, emitido pelo QG Bissau, com data de 24 de Junho de 1969] está assinado pelo Director do HM241, Major Médico Felino de Almeida (falecido em Janeiro do corrente ano).

Com o Dr. Carlos Ferreira Ribeiro, Ortopedista, fui efectivamente eu que operou a ferida da parede torácica do Cap Peralta. 


2. Já não estava em Abril de 1970 em Teixeira Pinto, é verdade, mas fui eu com o Dr. João Carlos Azevedo Franco, de Matosinhos, quem foi ao Dakota buscar os corpos [das vítimas do massacre do chão manjaco]. Por vontade expressa da Esposa do Major Passos Ramos, a fim de os filhos poderem ver o Pai uma última vez, a urna metálica deste vinha com uma abertura que permitia ver-lhe a face e a parte da frente do tronco.  Vinha de camuflado e com os seus galões de Major bem à vista. 

Aceitei prolongar por pouco mais de três semanas a minha Comissão a fim de permitir que o Dr. Bruges e Saavedra, chefe da Equipa Cirúrgica,  viesse de férias. Se ele não voltasse, teria de continuar até ele ser substituído. Como "prenda" regressei pela TAP.


[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]


B. Comentário do editor:


Recorde-se: O capitão Pedro Rodriguez Peralta, capitão do Exército Cubano, de 32 anos, instrutor ao serviço do PAIGC, foi gravemente ferido a 18 de Novembro de 1969, no corredor de Guileje, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, no decurso da Op Jove, conduzida por forças pára-quedistas do BCP 12 e destinada a capturar o próprio 'Nino' Vieira. 

Enviado para o HM241 (Bissau) e depois para Lisboa, foi devidamente tratado  pelas autoridades portuguesas.  Foi julgado em Tribunal Militar e condenado em 2 anos e 2 meses de prisão. Depois do 25 de Abril de 1974, o capitão Peralta foi libertado.  

Em 2008, com o posto de coronel reformado, pertencia ao Comité Central do Partido Comunista Cubano.  Era seguramente o mais célebre dos 437 combatentes que, segundo o regime de Havana, terão combatido, no TO da Guiné, nas fileiras do PAIGC, entre 1966 e 1974 (Dos quais terão morrido 9 ou 17, conforme duas fontes cubanas oficiosas, já aqui citadas no nosso blogue).


C. Nota posterior, de 6 de Julho de 2011 (JPF):  

(i) Camarigo, por alguma razão Flaubert fazia 15 manuscritos antes de entregar uma obra. Por experiência pessoal e conversas com amigos, agora que utilizamos os infoscritos, mesmo quando em certos casos fazemos o print, passa-se por determinadas palavras, quando não frases completas, de um texto e lêmo-lo sempre de forma errada ou deformada.

Sem que este argumento, bem estudado, queira significar desculpa, apesar de várias leituras, quase diárias, só ao fim de três semanas é que notei que, se bem que seja o major Pereira da Silva quem está na fotografia publicada, pelo menos duas vezes, quem veio com a urna com uma abertura foi o major Passos Ramos, que eu vi com o Azevedo Franco e, depois, a sua digníssima esposa e os filhos!  Quase que foi uma alucinação colectiva, pois ninguém se apercebeu do meu erro.

 Não gostaria que a história contasse uma mentira. Tentei corrigir directamente no blogue. Penso que, por insuficiência técnica, não o consegui fazer. Mea culpa.José Pardete Ferreira


(ii) Comentário de L.G. : 

Meu camarada J. Pardete: Lamentavelmente o erro é do editor... Nunca foi teu. Quem tem de dar a mão à palmatória sou eu. Fui eu que troquei o nome dos majores. Um lapsus linguae. Foi já feita a correcção do título do poste P8481. 

Um Alfa Bravo. Luís

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P8480: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (19): Em louvor da Ajuda Amiga e do Carlos Fortunato, divulgador de tecnologias simples e amigas do ambiente


Guiné Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana:

Título da foto > Água fresca na tabanca  / Data de Publicação > 5 de Junho de 2011 / Data da foto > 31 de Março de 2011 / Palavras-chave > Tecnologias amigas do ambiente


A ONG portuguesa “Ajuda Amiga” tem apoiado diversas tabancas da Guiné-Bissau, especialmente através da doação de livros e mobiliário escolar, equipamento, t-shirts, computadores, impressoras, material informático, sementes hortícolas e material frutícola. [Vd. também  página no Facebook].

Carlos Fortunato [, membro taambém da nossa Tabanca Grande, ] é um dos seus dirigentes que vem regularmente ao país e em especial à “sua” Bissorã do coração, aproveitando para trabalhar com os agricultores em formas de organização que permitam obter recursos financeiros para as suas comunidades.

Em Março de 2011, organizou um curso de formação onde estavam diversas ONG guineenses, sobre o uso de tecnologia simples para obter água fresca e limpa na tabanca, assim como o de conservar legumes por mais tempo, a partir do uso de dois potes de barro, um dentro do outro contendo areia fina.


Foto (e legenda): © AD - Acção para o Desenvolvimento (2011) (Reproduzido coma  devida vénia)
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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8361: Notícias do nossos amigos da AD - Bissau (18): No Dia Mundial da Criança, pensando na Alicinha do Cantanhez e em todas as crianças do mundo (Alice de Lisboa)

Guiné 63/74 - P8479: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (25): Abençoada chuva que tanto tardaste

1. Mensagem de José da Câmara* (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73), com data de 27 de Junho de 2011:

Meu caro amigo Carlos Vinhal,
Junto encontrarás mais uma pequena história minha.
Na província da Guiné os fenómenos da natureza, as chuvas e as trovoadas, marcaram-nos pela sua beleza e pelo perigo que ofereciam.
Esta história acompanha o deflagrar de reacções humanas provocadas por uma tempestade na Mata dos Madeiros.

Esta noite de 26 para 27 de Junho, em 1971, marca o início da operação "Sempre Alerta" e, com ela, o fim da nossa presença na Mata dos Madeiros.
A história ficará para uma próxima visita às minhas memórias.

Para ti e para os nossos camaradas um abraço imenso,
José Câmara


Memórias e histórias minhas (25)

Abençoada chuva que tanto tardaste!

No início do mês de Junho de 1971 recebemos a confirmação de que o próximo destino da CCaç 3327 seria os chamados destacamentos de Teixeira Pinto.

O começo da monção ditaria a nossa libertação daquela prisão infernal chamada Mata dos Madeiros. Os muros, os arames farpados e as algemas que ali nos detinham eram as condições de sobrevivência e o trabalho insano a que continuávamos dotados.

Nesse ambiente horrífico, agora com mais uma luzinha de esperança a alumiar a nossa moral, as árvores, ajudadas pelas catanas afiadas dos capinadores, continuavam a saltar dos seus pedestais e, com gritos alucinantes, ajoelhavam-se no barro vermelho que lhes tinha servido de alimento. Os seus ramos, num último apego à vida, estremeciam de dor.

Finalmente inertes, os seus troncos até então fortes e viçosos abraçavam num último beijo o solo que lhes serviria de mortalha e em pó se tornariam. Jamais seriam testemunhas cúmplices e coniventes do flagelo humano que, tantas vezes, se desenrolaram debaixo das suas copas, a guerra. Para elas a guerra chegara ao fim.

Muito atrás do corte frontal das árvores, o rufar dos motores das potentes máquinas eram a garantia do prolongamento daquela língua negra, túrgida, rectilínea a penetrar a virgindade daquela mata imensa, sedenta das nossas vidas.

A nós, militares da CCaç 3327, estava reservado garantir a segurança possível ao estupro daquela linda donzela, a Mata dos Madeiros. Tudo feito em nome de um futuro desenvolvimento sócio e económico daquela zona, e de uma estratégia militar bem visível aos nossos olhos: cortar as linhas de penetração ao PAIGC entre as míticas matas da Caboiana e do Balenguerez , o acesso à rica zona de gado e arroz que ficava para além do rio Costa Pelundo e um acesso rápido e mais seguro entre Teixeira Pinto e Cacheu.

Naqueles troncos, agora voltados ao pó, víamos os nomes inscritos de muitas vidas ceifadas pela morte. Os bagos de suor e as lágrimas anónimas derramadas e a derramar por muitos outros mais continuaram a alimentar aquele rio caudaloso, a estrada Teixeira Pinto/Cacheu.
Tínhamos a consciência de que aquele lugar nunca mais seria como dantes.
Hoje, tal como ontem, o futuro da Guiné, uma Guiné Melhor, continua a passar por aquela estrada e por aquela mata.

A certeza da nossa ida para os Destacamentos de Teixeira Pinto trouxe um salto qualitativo na moral de todos os nossos militares que, em abono da verdade, nem era mau a partir da nossa saída de Bissau. Saímos à vontade para o mato, mas com cautelas redobradas. Tínhamos a certeza que o inimigo andava por perto. Cada um sentia-se responsável pelo grupo e este por cada um. A disciplina nos patrulhamentos e nas emboscadas tinha atingido níveis de grande qualidade. Pessoalmente, sentia-me orgulhoso dos meus comandados e tenho a certeza de que os meus camaradas sentiam o mesmo.

A CCAÇ 3327 era uma Companhia altamente disciplinada no mato. A salientar o homem do morteiro carregando um cinturão de granadas. (Foto cedida pelo 1.° Cabo J. M. Sousa, do 3.° GComb)

Éramos uma excelente Companhia, comandados por um homem bom e generoso.
Foi numa saída de 24 horas que aconteceu aquilo que tanto ansiávamos: a chegada das chuvas, melhor dizendo, a chegada de um dilúvio.

Foi assim que o descrevi à minha madrinha de guerra:

Mata dos Madeiros, 26 de Maio de 1971

“….. Os capinadores vão embora no próximo dia 29, sábado. Nós vamos ficar por aqui mais uns dias. Por bem ou por mal não sabemos quando, mas não estamos receosos.
As chuvas deram ontem o primeiro sinal. Foi pouca, mas o suficiente para regressarmos ao acampamento. Os relâmpagos e os trovões completavam o quadro. Estava escuro como o carvão e, como se costuma dizer, não se via um palmo à frente do nariz. A arma numa mão e a outra apegada ao camarada que ia na frente. Éramos 51 homens a andar dessa maneira. Eu vinha na frente. Foi uma experiência nova para mim, nada aconteceu e fui dar direitinho ao acampamento.”

Capinadores na Mata dos Madeiros preparam-se para regressar às suas casas.

A chegada dessas chuvas precipitou a necessidade dos civis em abandonar os trabalhos da estrada. Afinal, eles também eram gente e tinham que atender à sementeira do arroz, aproveitando as primeiras chuvas.

Hoje a essa distância no tempo não tenho a certeza dos capinadores terem regressado às suas moranças no referido dia 29 de Junho. Não fiz mais nenhuma referência sobre o assunto. Sei que saíram bastante mais cedo que os operadores das máquinas.

O nosso regresso ao acampamento tinha sido ordenado pelo Comandante da Companhia. Para ele não fazia sentido tamanho sacrifício da nossa parte. Entendeu que se nós não podíamos, naquelas circunstâncias, progredir ou emboscar em segurança e que o inimigo também teria as mesmas dificuldades.

Tudo teria seguido o seu curso normal se, no dia a seguir a essa noite de chuva, o Comandante da Companhia não tivesse ido ao quartel do Bachile, sede da CCaç 16 e onde estava instalada a secretaria da nossa Companhia. Também era ali que nos abastecíamos de água, cozíamos o nosso pão e recolhíamos o correio.

Secretariava a Companhia o 1.° Sargento João Augusto Fonseca, um senhor já com alguma idade. Era um homem pouco sociável, introvertido. Como qualidade indesmentível, era um profissional extremamente dedicado ao seu trabalho. Devido à minha maneira de ser dava-me razoavelmente bem com ele. Talvez por isso, o Cap. Rogério Alves várias vezes me pediu para o ajudar na secretaria. O que fazia com gosto.

Ao entrar na secretaria o Capitão Alves foi saudado pelo Sargento Fonseca com palavras mais ou menos assim:

- Com que então mandou regressar os grupos do mato a noite passada…!!!

Perante a surpresa desta saudação o Capitão Alves apercebeu-se que as notícias corriam depressa, na verdade depressa demais. Através das Transmissões, com inocência ou não, alguém dera conhecimento ao Sargento Fonseca. De algo que não lhe dizia respeito.

O Capitão Rogério Alves apercebendo-se de imediato que o 1.° Sarg Fonseca, pela sua atitude, podia representar um perigo para a disciplina institucional da Companhia, retorquiu:

- Senhor Primeiro Sargento Fonseca, agradeço que, de imediato, faça requerimento para ser transferido de Unidade.

Foi o que aconteceu. No mês de Novembro, o Sargento Fonseca era transferido para a Companhia Terminal, em Bissau.

José Câmara
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8413: O dia de Portugal em Taunton, MA (José da Câmara)

Vd. último poste da série de 11 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8402: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (24): Perdendo a plumagem

Guiné 63/74 - P8478: Notas de leitura (251): Mansas, Escravos, Grumetes e Gentio – Cacheu na encruzilhada de civilizações (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Junho de 2011:

Queridos amigos,
Cacheu é um local incontornável na aproximação entre o colonizador e os autóctones guineenses, desde a primeira hora.
Este livro tem o mérito apresentar comunicações que permitem concluir que não é possível estudar a história de Cacheu apartada de outras estruturas políticas e económicas vizinhas, sobretudo a Gorée (ponto alto do tráfico de escravos), o espaço Kaabunké e a sua vivência específica que permitiu a penetração islâmica. Se há cidade guineense que pode utilizar com propriedade a expressão “cidade antiga” é Cacheu.

Um abraço do
Mário


Cacheu, quando era a jóia da coroa e a encruzilhada de civilizações

Beja Santos

“Mansas, Escravos, Grumetes e Gentio – Cacheu na encruzilhada de civilizações” é o repositório das comunicações apresentadas no IV Centenário da Fundação da Cidade de Cacheu (1588-1988), coordenado por Carlos Lopes, estudioso hoje renomado à escala internacional (INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, 1993).

Trata-se de uma miscelânea de comunicações apresentadas num evento histórico de alto significado. Estruturado em quatro partes, o essencial é acolhido na primeira parte (a dimensão histórica da cidade de Cacheu) e nalgumas das comunicações enunciadas na segunda parte). Os estudos sobre o crioulo e a organização do colóquio são matérias que extravasam, para o caso em apreço, a atenção do leitor.

Porquê mansas, escravos, grumetes e gentio? Por se tratar de categorias sociais indispensáveis para entender como Cacheu foi a alavanca da colonização portuguesa na Guiné. Os mansas são sinónimo da realeza na terminologia Mandinga, uma sociedade em muitos aspectos feudal; os mansas só puderam ter a importância que se lhes atribuiu porque tinham um poder económico e político considerável: o comércio dos escravos, era comum a prática de capturar escravos, este tráfico esteve na origem da prosperidade dos rios da Guiné; os grumetes decorrem da presença europeia, constituem a categoria social que articula a relação social que os mestiços ou próximos da “civilização” estabeleceram com as populações locais, aparecendo como porta-vozes junto do branco ou do cabo-verdiano; o gentio rotula todas as outras populações em torno dos não integrados na “civilização”. Carlos Lopes identifica as principais etapas da história de Cacheu: uma primeira etapa que vai até 1588; uma segunda etapa que se estende até 1878, corresponde à construção de uma fortaleza, à instalação de uma administração portuguesa na costa, já com veleidades de ocupação territorial, corresponde a um período de crises do poder central português, de revoltas permanentes dos autóctones contra os capitães-mores da feitoria; uma terceira etapa, correspondente à instalação da administração provincial em Bolama, na época em que se estabeleceram as fronteiras do território, em que se perde, a favor dos Franceses, a região do Casamansa; uma quarta etapa, posterior ao tratado Luso-Francês (1886 e que vai até à pacificação do território, período em que Cacheu viveu momentos de intensa transformação).

Os participantes que analisaram a dimensão histórica da povoação de Cacheu concluíram que não é possível estudar a sua história sem situar a feitoria em relação às estruturas políticas e económicas vizinhas. Foi nesse contexto que a investigadora Maria Emília Madeira dos Santos interveio sobre a importância dos lançados ou tangomaos (tangomaus, tangomãos ou tangomans). Essencialmente, foram os pioneiros europeus nesta região, no tempo em que a costa da Guiné se estendia entre o Cabo Verde e a Serra Leoa. Era homens de diversos estratos sociais, aventureiros, renegados e cristãos novos que se lançavam no interior, subtraindo-se, na maioria dos casos, às autoridades portuguesas – lançavam-se no desconhecido que era a terra e a lei dos gentios. Havia judeus, mestiços, degredados e até fidalgos. A investigadora dá depois conta das acusações que caiam sobre estes lançados: faziam concorrência ao resgate de embarcações portuguesas, eram tidos por ladrões de fama e do crédito, traidores; foragidos de Portugal, intrusos ou hóspedes em África. Ocuparam-se do comércio da troca: as mercadorias vindas da europa eram fundamentalmente bretãs, mas havia, além disso, contaria da Índia, roupa branca e pintada da Índia; em troca, os lançados entregavam aos comerciantes couros, marfim, cera, goma, âmbar, anil, escravos e ouro. Escreve a historiadora: “Os pontos escolhidos nos tangomaus, para se fixarem eram de preferência a costa ou as margens dos rios com boa navegabilidade que lhes permitissem um fácil acesso ao mar. Este posicionamento facultava-lhes o contacto com os navios europeus e com o sertão. Importa não esquecer que a partir do terceiro quartel do século XVI as naus francesas passaram a aparecer na costa e o rio Grande encontrava-se à mercê dos seus roubos; seguiu-se a chegada dos ingleses. Os lançados comerciavam sem escrúpulos com portugueses, franceses ou ingleses. Isolados, sem lei, sem justiça e sem religião, na dependência do poder africano e dos capitães dos navios, cedo se tornaram dispensáveis e desapareceram sem deixar rasto.

Cacheu é também uma encruzilhada religiosa, para aqui confluem o fervor islâmico, as práticas animistas e as tentativas de missionação. João Vicente, da diocese de Bissau, apresentou uma comunicação sobre “Quatro séculos da vida cristã em Cacheu”. Como é público e notório, a missionação falou no essencial, isto a despeito de, a partir dos anos 30 do século XX, ter havido um grande esforço por parte do bispo de Cabo Verde, nos anos 40 chegou a haver 3 escolas de missões, a catequização foi feita por professores catequistas, muito imperfeita, e Cacheu, a quem se chamou a “Roma da Guiné” não irradiou a mensagem cristã.

Falando dos aspectos económicos e implicações sociais da presença colonial, Daniel Pereira, da Direcção-Geral da Cultura de Cabo Verde, apresentou uma intervenção sobre a fundação da Companhia de Cacheu (1671-1676). É uma exposição luminosa que abarca a situação dos rios da Guiné ao longo de todo o século XVII, detalha pormenores sobre a formação da Companhia e reflecte sobre a política de organização de companhias comerciais em Portugal, relacionando-a com o mercantilismo, em oposição ao comércio livre. A Companhia de Cacheu foi entendida como a única forma de “conservar e instituir e fazer crescer o comércio em benefício da Coroa”. Fez surgir grandes tensões pois veio ferir os interesses dos homens das ilhas de Cabo Verde, habituados como estavam a dispor de ampla liberdade de acção nos rios da Guiné e que vira na Companhia de Cacheu um grave competidor. De acordo com a historiografia, a criação desta Companhia surge num quadro de profunda desagregação do comércio português nos chamados rios da Guiné, a Coroa já não estava em condições de fazer face às investidas dos estrangeiros, a presença dos portugueses era tolerada pelos autóctones desde que pagassem tributo.

Igual importância teve a comunicação de Wladimir Brito, da Universidade do Minho sobre a importância de Cacheu para a instalação da administração colonial da Guiné. O estudioso debruçou-se sobre a evolução dos capitães contratadores para as companhias de navegação e destas para a presença da administração pública da Guiné, mediante companhias coloniais e mais tarde a emergência de uma verdadeira administração pública da colónia. No início do século XIX, Portugal tinha estabelecido na Guiné duas capitanias, a de Cacheu e a de Bissau. Com as alterações que o liberalismo veio imprimir, ocorreram a partir de 1882 alterações de tomo nas estruturas político-administrativas tanto na Guiné como em Cabo Verde. Em 1842 Cacheu voltou a retomar a sua autonomia (deixou de estar dependente de Bissau) passando a depender directamente de Cabo Verde, a situação vai oscilar até 1879 data em que foi criada a província da Guiné, completamente autónoma de Cabo Verde.

Se Cacheu avulta como o lugar geográfico-político onde se realizaram os primeiros contactos entre os povos africanos e europeus, e se tornou o ponto de partida à abertura da Guiné à colonização, é uma memória a preservar o papel que exerceu no intercâmbio cultural e é símbolo do sofrimento humano em torno do esclavagismo.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8469: Notas de leitura (250): A Guerra de África 1961 - 1974, por José Freire Antunes (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8477: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (23): Notícias da Maria Arminda e da Aura Teles... E em Agosto haverá um festival com a "promessa de que as enfermeiras páras vão saltar" (J. Pardete Ferreira)

1. Segunda e última  parte da mensagem do novo membro da nossa Tabanca Grande, J. Pardete Ferreira (*):

Data: 26 de Junho de 2011 22:36
Assunto: Desfazendo suposições



Só à laia de despedida: ontem, festejou-se o 24º aniversário da Associação de Pára-Quedistas de Setúbal e, surpresa das surpresas, apareceu, como sempre a Maria Arminda e trouxe a reboque a Aura Teles, a Chaparra de Vendas Novas.

Como sempre, a Maria Arminda traz practicamente sempre uma ou outra Enfermeira Pára-Quedista para a acompanhar... e assim, algumas delas vão continuando vivas nas nossas memórias.

Atenção, está a preparar-se um festival aéreo, em Setúbal/Évora, em 7 de agosto p. f. com a promessa de que as Enfermeiras Páras vão saltar! (**)
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Notas do editor:


(*) Vd. poste de 27 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8474: Tabanca Grande (292): José Pardete Ferreira, ex-Alf Mil Médico (Teixeira Pinto e Bissau, 1969/71)


(**) Último poste da série > 2 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6920: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (21): Não posso levar a mal... por me/nos tratarem tão carinhosamente (Rosa Serra)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8476: As nossas melhores fotos (2): O Major Pereira da Silva, num zebro, no Rio Mansoa, com outros oficiais, incluindo eu (J. Pardete Ferreira)


Foto: ©  J. Pardete Ferreira (2011). Todos os direitos reservados.


1. Primeira parte de mensagem do novo membro da nossa Tabanca Grande, J. Pardete Ferreira (*):


De: J. Pardete Ferreira 


Data: 26 de Junho de 2011 22:36
Assunto: Desfazendo suposições.


Há já alguns anos esta fotografia foi publicada no nosso blogue (**). Com a força que a minha presença na foto atesta, posso descrever:


De esquerda para a direita: 


(i) Major Pereira da Silva (Sherlock Holmes dos bigodes);


(ii) [Por detrás do Major, um ] Capitão Miliciano, cujo nome não me lembro, vindo do Pelundo ou de Có, substituir o Capitão Barbeitos;


(iii) Marinheiro,  manobrador do Zebro, [, a navegar no Rio Mansoa, ] com os dois motores Mercury de 40 CV cada, uma bomba para a época; 


(iv) Tenente Coronel Pinheiro, 1º Comandante do BCaç  [2845, Teixeira Pinto, 1968/70] que dava a logística ao CAOP;


(v) Capitão Comando Jorge Duarte de Almeida (abatido no quartel do Batalhão de Infantaria da GNR por um cabo "pirado da mona" - diz-se - mas... uns anos mais tarde;  possuidor de linda voz;  esta de um gajo andar na guerra e não lhe ter acontecido nada de grave e vir a morrer dum tiro é do caraças!);


(vi) [E, por fim, em primeiro plano, à direita,] Este vosso camarigo, qual Ícaro renascido das cinzas, visto que num dos pontos me confundiram com o Alferes [Mil Cav Op Esp, Joaquim João Palmeiro Mosca], que foi morto com os Majores;


(vii) [Fotógrafo, que obviamente não aparece na fotografia, o] 2º Comandante do BCaç da Logística [, BCaç 2845,], Major Guilhermino Nogueira da Rocha.


Sei que a memória já nos vai pregando partidas. Não me considero infalível. E é por isto que a Tabanca Grande tem de continuar: hoje eu digo isto, amanhã tu acrescentas-lhes aquilo... ou apresentas a tua versão dos factos: porque não ?!. (***)

2. Comentário do editor:

O BCAÇ 2845  foi mobilizado pelo GACA 2. Partiu para a Guiné em 1/5/1868 e regressou a 3/4/1970. Esteve em Teixeira Pinto e teve três comandantes: Ten Cor Inf José Martiniano Moreno Gonçalves; Ten Cor Inf Aristides Américo de Araújo Pinheiro [, que aparece aqui na foto]; e Ten Cor Inf Armando Duarte de Azevedo.

Undiades de quadrícula:

(i) CCAÇ 2366 (Teixeira Pinto, Jolmete, Bissau, Quinhamel; Comandante: Cap Mil Art Fernando Lourenço Barbeitos);

(ii) CCAÇ  2367  (Olossato, Có, Teixeira Pinto, Cacheu, Bissau; comandantes. Cap Inf José Júlio da Silva de Santana Pereira; e Cap Inf José Augusto da Costa Abreu Dias); e

(iii) CCAÇ 2368 (Cacheu, Bissorã, Teixeira Pinto: comandante: Cap Inf Manuel Joaquim Sampaio Cerveira).

Fonte: Adapt. de Matos Gomes, C.; Afonso, A. - Os anos da guerra colonial: volume 9: 1978 - Continuar o regime e o império. Matosinhos: QuidNovi. 2009.
________________

Notas do editor:


Guiné > Chão Manjaco > 1970 > Os três majores (Pereira da Silva, Passos Ramos e Osório) em acção psico, numa lancha a motor. O Alferes, que aparece em primeiro plano, poderá ser o Palmeiro Mosca, também assassinado em 20 de Abril de 1970. Por lapso, num post anterior, os três majores apareceram por outra ordem, errada.

Foto: Cortesia de Afonso M.F. Sousa (2007)

(***) Último poste da série > 18 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7632: As nossas melhores fotos (1): O obus 14, Bedanda, 1971 (Amaral Bernardo) e 1972 (Vasco Santos)

Guiné 63/74 - P8475: Ser solidário (110): A Tabanca Pequena – Grupo de Amigos da Guiné-Bissau, vai realizar um ENCONTRO / CONVÍVIO no próximo dia 16 de Julho de 2011 em Matosinhos (José Teixeira / José Rodrigues)


A Tabanca Pequena – Grupo de Amigos da Guiné-Bissau, vai realizar um ENCONTRO / CONVÍVIO aberto a todos os seus associados familiares e amigos, no próximo dia 16 de Julho de 2011.

Alguns de nós cruzamo-nos às Quartas-feiras na Tabanca de Matosinhos. Outros há, que por razões pessoais, profissionais, da distância ou outras, raramente se comunicam.

Estamos unidos por laços de amizade e solidariedade que são a razão da existência da nossa Associação. Há que alimentar esta corrente que une tantos ex-combatentes da Guiné.



Assim sendo, vimos por este meio convidar todos os associados, seus familiares e amigos a partilhar o nosso ENCONTRO / CONVIVIO.

Agradecemos a inscrição até ao dia 13 de Julho para:
Zé Teixeira: 966 238 626
Zé Rodrigues: 967 409 449

15 gotas de água por pessoa

Inscreve-te.
Inscrições limitadas.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8471: Ser solidário (109): Grupo de sapadores ao serviço de uma ONG continuam a picar a terra na Guiné-Bissau em busca de minas e armadilhas (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P8474: Tabanca Grande (292): José Pardete Ferreira, ex-Alf Mil Médico (Teixeira Pinto e Bissau, 1969/71)

1. Há cerca de um mês atrás lançamos,   ao nosso camarada José Pardete Ferreira,  o seguinte convite:

"(...) queremos dirigir formalmente o convite para se sentar, aqui, connosco no bentem da nossa Tabanca Grande, sob o mágico, frondoso, secular e fraterno poilão, onde cabe toda fauna do mundo, desde os morcegos aos irãs, desde os tugas aos fulas, desde os manjacos aos balantas, desde os inimigos de ontem aos amigos de hoje...  Ele próprio já constatou que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande" (*)



2. Há três, a 24 de Junho, mandou-nos a seguinte lacónica mensagem, acompanha da sua foto actual [, à esquerda]:

Alfa Beta! Evacuação Yankee.


3. Ontem, a meio da tarde, mandou-nos um resumo do seu Curriculum Vitae que reproduzimos a seguir.


RESUMO DO CURRICULUM VITAE > José António Pardete da Costa Ferreira [ex-Alf Mil Médico, Teixeira Pinto e Bissau, 1969/71)

(i) Nascido em Lisboa a 1941.02.15.

 
(ii) Cirurgião – Médico Especialista em Medicina Desportiva.

(iii) Algumas funções desempenhadas:

Director Clínico do Hospital de São Bernardo (Setúbal);


Director do Centro de Medicina Desportiva de Setúbal;

Director do Serviço de Cirurgia II do Hospital de são Bernardo (Setúbal);

Médico da Selecção Nacional de Andebol;

Membro dos corpos gerentes da Sociedade Portuguesa de Medicina Desportiva e da Sociedade Portuguesa de Hidatidologia;

Professor da Escola Industrial e Comercial de Setúbal;

(iv) Membro de várias Sociedades Científicas portuguesas e estrangeiras, sendo sócio fundador de algumas delas.


(v) Membro das Sociedades Literárias e Artísticas: SOPEAM (Sociedade Portuguesa dos Escritores e Artistas Médicos) e CEB (Centro de Estudos Bocageanos – Setúbal)

(vi) Autor de uma centena de Comunicações científicas (duas das quais premiada).

(vii) Autor de cerca de cinquenta Artigos Científicos publicados.

(viii) Medalha Militar do Ultramar com a menção Guiné 1969/70.

(ix) Medalha dos 25 anos de trabalho no Hospital de São Bernardo (Setúbal).

(x) Vários Louvores, um dos quais em Diário da República.

(xi)  Membro de vários Clubes, Associações e outros Organismos de intervenção Social, tendo feito parte dos corpos gerentes de algumas delas, destacando-se três Presidências do Rotary Club de Setúbal.


(xii)  “Team leader” do IGE com o Distrito Rotário 4.700, Rio Grande do Sul, Brasil, em 2004 (Rotary Foundation).

(xiii)  Presidente da Direcção da Alliance Française de Setúbal.


(xiv) Presidente da Direcção da Federação das Alliances Françaises de Portugal.

(xv) Antigo Bolseiro da ACTIM (Governo Francês), Yale University, Fundação Calouste Gulbenkian e Fundo Social Europeu.


(xvi) Jornalista de crónica desde 1967 em vários jornais e revistas.

(xvii)  Editorialista desde 1990.

(xviii) Autor de várias poesias publicadas em jornais e revistas portuguesas, Franco-portuguesas e holandesas.

(xix) Autor de várias letras para fado.

(xx)  Autor do Prefácio do Livro "Um Sorriso de Esperança", de Estefânia Campos e José Campos, cujo conjunto traduziu para francês.

(xxi) Traduziu para português a poesia “Canto de Ellen III D 839, de Sir Walter Scott.

(xxii) Autor do discurso proferido na Cerimónia Comemorativa do Dia do Combatente, organizada pelo Núcleo de Setúbal da Liga dos Combatentes, em 9 de Abril de 1998.

(xxiii)  Publicou “ O Paparratos – Novas Crónicas da Guiné – 1969/1971" (romance); Prefácio – Edição de Livros e Revistas, Lda – ISBN: 972-8816-27-8 (DL nº 213619/04).

(xxiv) Publicou “Paris, ir e voltar"  (romance), Prefácio – Edição de Livros e Revistas, Lda – ISBN – 978-989-8022-49-3 (DL nº 266056/07).

(xxv) Vencedor, em 2005, da competição EMS da INTERVIEW-NSS BV (Câmara de Comércio de Amsterdão), com a sua poesia, escrita em português, “Paris, Cidade Luz!”.

(xxvi) Tem no Prelo: "Cadê Papi?" (romance policial).

(xxvii) Criador do Blog 100 bites ou A Revolução das Urtigas (ensaio).

(xxviii) Participou em várias Feiras do Livro, nomeadamente em Lisboa e Vilamoura

4. Comentário de L.G.: 

Estão cumpridas as formalidades (**). Temos mais um camarada médico na nossa Tabanca Grande.  Para além das duas fotos da praxe, acaba de mandar-nos um texto em que comenta uma das nossas fotos em que aparece o malogrado major Pereira da Silva, um dos três majores mortos em 20 de Abril de 1970 no massacre do chão manjaco. Esse texto será oportunamento publicado. Ao nosso novo membro da Tabanca Grande ( o nº 505), desejamos-lhe  as nossas mais entusiásticas boas vindas e muitas luas ao pé de nós. Um grande alfa bravo,  meu e dos demais editores. Luís Graça

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 23 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8313: Os nossos médicos (26): J. Pardete Ferreira, ex-Alf Mil Med (Teixeira Pinto e Bissau, 1969/71), criador literário do Paparratos

(**) Último poste da série > 22 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8461: Tabanca Grande (291): Teresa Reis (1947-2011), foi aos nossos quatro primeiros encontros, e falhou o último, o VI, porque teve um encontro inesperado com a morte... Hoje vela por nós, sob o nosso sagrado, secular, mágico, frondoso, fraterno poilão...

domingo, 26 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8473: (Ex)citações (140): Todo esse material bélico a desmontar pelos sapadores é tanto nosso como do PAIGC (Carlos Silva)

Comentário deixado pelo nosso camarada Carlos Silva* (ex-Fur Mil Inf CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71), co-fundador e dirigente da ONGD Ajuda Amiga, no Poste 8471:


Aqui no Post tu vens dizer que “...O Sané… Hoje, integra um grupo de sapadores que com o apoio de uma ONG vocacionada para a desmontagem de minas e armadilhas, dedicam o seu tempo a procurar e desmontar as milhares de minas, armadilhas e bombas QUE FICARAM NO TERRENO, desde o tempo da guerra. A mata do Cantanhez é ainda um terrível ninho dessas fábricas de morte.”

De facto é verdade e não é só na zona do Cantanhez, aliás nós em 2008 aquando do Simpósio de Guiledje, até vimos granadas de obus e de morteiro na zona, que hoje servem para o MUSEU, creio eu.
No entanto, todo esse material bélico tanto é nosso como do PAIGC, aliás eles próprios já nos vários conflitos, incluindo o de 1998 espalharam milhares delas no Território como testemunha o ex-embaixador americano na Guiné, cujo artigo aqui insiro. Portanto, o mal não está só do nosso lado.

Foto: Julia Richtey / VOA, com a devida vénia
O ex-embaixador americano na Guiné-Bissau, John Blacken, mostra algumas das 126.000 minas que a sua organização, HUMAID, retirou do país.


Guiné-Bissau sem minas terrestres dentro de um ano

Uma organização dedicada à remoção de minas terrestres na Guiné Bissau indicou que o país ficará livre de minas no ano de 2012.

O grupo HUMAID indicou estar prestes a concluir as operações na Guine Bissau, uma nação de um milhão e seiscentas mil pessoas, localizada entre o Senegal e a Guiné Conakry.
O antigo embaixador dos Estados Unidos na Guiné Bissau, John Blacken, que dirige aquela organização, ma infestou a esperança de remover as minas anti pessoais e anti tanque, espalhadas pelo norte e o sul do território a meio do próximo ano.

Cerca de mil e quinhentas pessoas foram mortas pelas minas, deixadas ao longo de três conflitos, incluindo a guerra de Libertação na década de setenta, a guerra civil dos finais dos anos noventa e a rebelião de Casamance de 2006.

A prioridade da HUMAID foi a cidade capital de Bissau, que se transformou em zona de guerra durante o conflito civil de 1998 e de 1999.
Milhares de civis tiveram de fugir da violência e ao regressarem à cidade, desconheciam a colocação de minas nos arredores de Bissau, a linha da frente do conflito.

Blacken sublinhou que se sentiu motivado a ajudar o país, onde tem vivido desde de se ter reformado do serviço diplomático nos finais dos anos oitenta.
“Não tínhamos dinheiro, mas oito de nós, começamos a recolher munições que não tinham explodido, e que se encontravam no centro da cidade”.

Blacken obteve o dinheiro que necessitava para adquirir mais equipamento e obter o pessoal, e tem tido suficiente apoio financeiro de doadores internacionais.
Bissau foi declarada livre de minas em 2006.
A maioria da equipa de Blacken são antigos soldados que foram re treinados na desminagem. Trata-se de um processo perigoso e lento que envolve em estabelecer um perímetro baseado na detecção de minas e de entrevistas com os locais.
O pessoal divide a área e trabalha em blocos de um metro de lado, espetando varetas no solo para tentar encontrar os explosivos.

A HUMAID já destruiu, desde o ano dois mil, 126 mil 709 minas, sem nunca ter um acidente. A HUMAID está a operar nos campos de mina da guerra de libertação com Portugal.
Blacken destaca que quando a sua equipa começou a trabalhar na área os locais disseram que evitavam acidentes não atravessando os terrenos adjacentes às suas casas.
Mil e duzentas pessoas foram vitimadas pelas minas, um número sem conta de vacas, que estavam a pastar.

Blacken destaca que no caso de o explosivo estar em condições, a mina pode ficar activa durante décadas, tornando-se mais frágil com a passagem do tempo.
“Temos muita satisfação no que fazemos. Satisfação cada vez que retiramos uma mina, pois retiramos uma ameaça à vida de alguém”.

Não são muitas as ONG´s que podem dizer que ficaram sem trabalho após terem cumprido o seu mandato, e Blacken afirma-se orgulhoso do que a sua equipa obteve.

Foto e texto VOA NEWS.COM PORTUGUÊS, com a devida vénia.

Com um abraço amigo
Carlos Silva
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Notas de CV:

- Negrito da responsabilidade do editor

(*) Vd. poste de 5 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8223: Convívios (322): 24.º Encontro do pessoal do BCAÇ 2879 (Guiné, 1969/71), dia 28 de Maio de 2011 em Pombal (Carlos Silva)

Vd. último poste da série de 25 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8321: (Ex)citações (139): Comentário ao Post 8318 - Notas de Leitura - Porque Perdemos a Guerra, de Manuel Pereira Crespo (José Manuel M. Dinis)

Guiné 63/74 - P8472: Controvérsias (127): Ser ou não ser combatente ou ex-combatente (Henrique Cerqueira)

1. Mensagem do nosso camarada Henrique Cerqueira (ex-Fur Mil do 4.º GCOMB/3.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74):

Caro Carlos Vinhal
Vou escrever um artigo de opinião, e como de costume deixo ao teu critério o interesse da publicação do mesmo.

Há alturas em que não consigo calar aquilo a que chamamos consciência adquirida com a experiência dos anitos. Vai daí escreve-se aquilo que nos vai na alma, ainda pelo facto de termos este nosso próprio local onde aceito as regras impostas.

Bom agora vou mesmo passar ao assunto e até lhe vou dar título.


EX-COMBATENTES

Caros Camaradas tertulianos,
Não era minha intenção de falar sobre este assunto de ser ou não Ex-Combatente pela "Pátria", mas não há como escapar, é que a minha consciência não pára de dizer: - Vá lá Henrique diz alguma coisa, não te cales...

O que se passa é que eu não me considero Ex-Combatente nem Combatente pela "Pátria" de então só pelo facto de ter ido à Guiné como militar e até ter estado envolvido em combates. Vou tentar explicar.

Quando embarquei para a Guiné no dia 19 de Junho de 1972, por acaso dia do meu aniversário, nenhum dos responsáveis do país, autoridades superiores ou seja ninguém me perguntou se queria ir defender a "Pátria", numa região de que eu nada sabia, nem entendia, região de onde nem eu ou meus familiares usufruíamos de algo. Aliás para toda a "nossa suposta África" sempre que se queria emigrar tinha de se ter Passaporte, Carta de Chamada, amigos na PIDE ou noutras organizações afins, etc., etc., etc.

Assim sendo e como estava a dizer, no dia do embarque eu jurei que iria tudo fazer para sobreviver e tudo fazer para voltar vivo e inteiro à "minha Pátria".
Daí todos os meus dias em dois anos foi sempre sobreviver... sobreviver.

Já escrevi antes que nunca fui bom militar, ou como quiserem Combatente, ou outra coisa qualquer que alguns gostam muito de se gabar. No entanto fui sempre que possível cumpridor das ordens hierárquicas, respeitador de colegas e civis, mas sempre que permitido eu vestia as minhas roupas civis. É que eu fui um dos milhares de entre os civis que foi obrigado a combater por algo que não era a nossa Pátria, o que se veio a demonstrar com as independências, não é?

Aproveito a onda para dizer que eu não apoio as caridadezinhas que se vêm fazendo um pouco por toda a Guiné. Cada um é como cada qual. No entanto penso na população a quem chegam algumas migalhas, que são enviadas de modo efémero, pois quando a nossa geração, que lá esteve, morrer toda, e já não falta muito, essas migalhas vão faltar, e os povos que entretanto foram castrados do seu poder reivindicativo, até se esqueceram porque quiseram a sua legitima independência. Mas isto foi um parêntesis, voltemos ao assunto.

Eu não quero nada da Pátria para me confortar os anos "inúteis" e arriscados que passei nessa Guiné da altura, por tal não sou ex-Combatente nem Combatente dessa causa, mesmo que tenha estado envolvido em combates, tiros, minas e essa treta toda que hoje em dia só serve para dar algum colorido às nossas fantásticas Histórias da Guiné. Só lamento os nossos camaradas mortos e estropiados, muitos dos quais infelizmente não conseguiram sobreviver, eles, tal como eu, combateram pela Pátria que não a deles.

Também não preciso que a Pátria eduque os meus descendentes dando exemplos de patriotismo passado. Não, não quero. Eu educo os meus seguindo os princípios da moral e bons costumes, sem ter de recorrer a caridadezinhas ou autorecriminações por numa época em que nada era decidido por nós próprios, mas sim imposto pelo medo e repressão.

Na minha modesta opinião, só considero Combatentes, os que combatem por uma causa, os profissionais e pouco mais, os restantes combateram mais para sobreviver aqueles dois anos obrigatórios, e salvo raras excepções, é que continuavam a "combater".

Quero reafirmar que tudo que escrevi é a minha opinião, e só a manifesto porque respeito integralmente as outras opiniões e tal como o Mexia Alves escrevo com a "caneta e o coração próximo da boca", daí que possa eventualmente ferir algumas pessoas de ideias contrárias.

Também é verdade que quem não é escritor se arrisca a ser mal entendido, mas paciência, pelo menos agora somos donos das nossas acções e por isto sim eu sou um fervoroso combatente.

O desabafo está para já terminado.
Um abraço a todos os tertulianos.
Henrique Cerqueira
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3848: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (2): Eu, a NI e o Miguel em Biambe, para um almoço de batatas fritas (Henrique Cerqueira)

Vd. último poste da série de 23 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8467: Controvérsias (126): E no meio disto tudo isto... onde estão os combatentes, os tais que a Pátria devia contemplar? (Joaquim Mexia Alves)