quinta-feira, 28 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11325: Notas de leitura (469): Estudos sobre a Etnologia do Ultramar Português (Volume III)”, editado pela Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa, 1963... Usos e costumes: a tecelagem, o arrancamento da pele dos cadáveres, as práticas de necrofagia, o fanado, o choro, o bombolom... (Francisco Henriques da Silva, antigo embaixador)

1. Mensagem de Francisco Henriques da Silva, nosso camarada e grã-tabanqueiro, ex-alf mil, CAÇ 2402 / BCAÇ 2851 (,Mansabá e Olossato, 1968/70),  e mais tarde ex-embaixador de Portugal, na Guiné-Bissau (1997/1999)] [, foto à esquerda, 26 de Abril de 2012, Lisboa, Bertrand Dolce Vita Monumental, tertúlia,; foto de L.G.]


Data: 23 de Março de 2013 à40 19:00

Assunto: Estudos sobre a Etnologia do Ultramar Português (Volume  III), editação da  Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa, 1963


Meu caros amigos,


Aqui há umas semanas veio-me parar às mãos uma obra do maior interesse  que descobri, por mero acaso, na biblioteca particular de um amigo meu  e para a qual solicito a vossa atenção.Trata-se do livro "Estudos  sobre a Etnologia do Ultramar Português (Volume III)", editado pela  Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa, 1963. Um livro de vários  autores,  essencialmente focado em temas de antropologia (entre os quais  sobressai o nome de António Carreira), editado e totalmente dedicado à Guiné então Portuguesa.

Esta obra vem precisamente na linha da correspondência travada com o  Luís Graça, em que ambos reconhecemos que partíamos para as missões de  soberania no chamado Ultramar, qualquer que fosse o local, sem fazermos a menor ideia do que iríamos encontrar. Que povos? Que  línguas? Que religiões? Que usos e costumes? E a lista podia  continuar, sendo a Guiné, atenta a exiguidade do território, de uma  diversidade extraordinária, multifacetada e vibrante.

Explicavam-nos o funcionamento da "Dreyser", como montar uma emboscada  ou como comunicar no rádio, mas nada nos diziam sobre as realidades  geográficas, etnológicas, históricas, religiosas, etc. com que nos  íamos confrontar. Tratava-.se de um ponto essencial, mas os altos  mandos militares da época nunca pensaram nisso ou consideraram-no  desnecessário, como só muito tardiamente pensaram na chamada "acção  psicológica", como é do conhecimento público. Oficiais, sargentos e praças partiam na quase total ignorância do que era a Guiné e os seus  Povos e, no fundo, bastaria um pequeno esforço para dar a conhecer,  por exemplo, mesmo de uma forma resumida, a realidade sociológica da  Guiné. Isso, que eu saiba, jamais foi feito. Partíamos rumo ao
desconhecido, na escuridão total. Recordo que os norte-americanos na  Coreia e no Vietname - e suponho que noutros teatros de operações -  eram instruídos e dispunham de pequenos manuais de divulgação  relativos aos países e povos que iriam encontrar.

O livro em apreço é de um grande interesse e lança-nos muitas pistas  sobre a Guiné. Muitos reconhecerão práticas locais que aprenderam por  experiência própria.  Enfim, aqui vos deixo as minhas impressões.

Com um abraço cordial e amigo e as habituais "mantenhas"

Francisco Henriques da Silva

(ex-Alf Mil Inf  da CCaç 2402, e ex-embaixador de Portugal em Bissau)



Capa do livro  > Junta de Investigações do Ultramar -  Estudos sobre a etnologia do Ultramar português.  Lisboa : Junta de Investigações do Ultramar, 1963. Vol. III, 240 p. : il. ; 25 cm. (Estudos, Ensaios e Documentos. 102).


2. ALGUNS USOS E COSTUMES DA GUINÉ
por Francisco Henriques da Silva


O livro “Estudos sobre a Etnologia do Ultramar Português (Volume III)”, editado pela Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa, 1963, é uma obra coletiva de grande interesse, para todos aqueles que se sentem atraídos pela Guiné-Bissau e pelos seus diferentes povos, respetivos usos e costumes. Inserido na coleção “Estudos, Ensaios e Documentos”, cabe referir que é um livro que beneficia do contributo de vários autores da época, investigadores e estudiosos das questões etnológicas, entre os quais avultam nomes conhecidos, como é o caso, por exemplo, de António Carreira. 

Tanto quanto me apercebi teriam sido editados diversos volumes, sob aquele título genérico, cada um sobre uma das províncias ultramarinas sendo este sobre a Guiné, em que só são focados temas exclusivamente guineenses.

Os textos abordam assuntos tão diversos como o estudo da tecelagem, o arrancamento da pele dos cadáveres e as práticas de necrofagia, as mutilações genitais (ou seja, o fanado masculino e feminino – circuncisão, no primeiro caso, e excisão do clitóris, no segundo), as práticas funerárias dos Brames (ou mancanhas), os tambores “falantes” (o bombolom e outros instrumentos de comunicação por percussão à distância) e, finalmente, a etnonímia das populações autóctones da Guiné Portuguesa.

O primeiro texto – “Subsídios para o estudo da tecelagem na Guiné Portuguesa”, elaborado por Maria Emília de Castro Almeida e Miguel Vieira – começa por referenciar os povos tecelões do território: manjacos, papéis, brames, mandingas e fulas, portanto de várias origens étnicas e religiosas (animistas e islamizados). Contrariamente à tradição europeia, trata-se de uma profissão reservada ao sexo masculino. 

Em seguida, ao ser estudada a origem do tear em África e, baseando-se nas descrições dos primeiros cronistas e navegadores portugueses na região, concluem que o tear já existia quando da nossa chegada à Senegâmbia, uma vez que “a indústria do algodão na Guiné era já uma realidade quando os portugueses ali chegaram” (p. 46). Por conseguinte, não sendo de origem europeia seria presumivelmente de origem asiática. Teria tido inicialmente “uma possível mas fraca irradiação já nos princípios da nossa era, cremos, porém, que a verdadeira e intensa introdução do tear de pedais na Guiné seria mais tardia, no tempo da expansão muçulmana em África” (p. 51).

Independentemente da origem – presumivelmente asiática – e da sua transmissão através de povos islamizados, os autores assinalam que “os manjacos e também os papéis são os povos que mais se entregam actualmente à tecelagem e dos que sofreram menos a influência muçulmana” (p. 57). Muito provavelmente os tecelões manjacos terão exportado as suas técnicas para Cabo Verde, concluem também os autores.

Maria Emília C. Almeida e Miguel Vieira tecem alguns comentários sobre os diferentes panos guineenses e fazem a descrição tecnológica relativamente pormenorizada do seu modo de fabrico. O artigo contem mapas da distribuição dos diferentes povos da Guiné e ilustrações dos teares e das respetivas peças, bem como fotos dos tecelões em plena atividade e dos panos já confecionados.

[Cartoon, à esuqerda: António Barbosa Carreira, Ilha do Fogo, Cabo Verde, 1905- Lisboa, Portugalo, 1988. Fonte: Página de Barros Brito, com a devida vénia]


O artigo que se segue, da autoria de António Carreira,  intitula-se “Do arrancamento da pele aos cadáveres e da necrofagia na Guiné, Portuguesa”. No primeiro caso estamos perante uma estranha prática ancestral dos manjacos, conhecido na expressão crioula por “descascar defuntos”. Era uma prática, segundo Carreira, já pouco seguida no início da década de 1930 e que, entretanto, terá desaparecido. Ninguém, nem mesmo os mais idosos, era capaz de elucidar as origens deste ritual insólito, nem o objetivo último do mesmo. Apenas se sabe que se tratava de um rito funerário daquele povo e circunscrito em exclusivo aos manjacos, não se tendo verificado tal prática em nenhum outro grupo étnico. 

 Segundo relata Carreira, “ficámos sem saber se o descasque de defuntos fora, desde sempre uma verdadeira modalidade dos ritos funerários dos manjacos ou se seria um derivante ou substituto da antropofagia.” (p. 106). O autor interroga-se: “Da antropofagia – que se admite tenha existido em toda esta área – não teria resultado, por evolução, a necrofagia e, numa fase posterior o descasque de cadáveres?” (ibidem).


Todavia, nem entre os manjacos, nem entre os brames (mancanhas) foram detectadas práticas de
canibalismo, muito embora os felupes a praticassem em tempos remotos. Carreira admite, como mera hipótese de trabalho, que os manjacos a tivessem levado a cabo, muito embora não o possa provar, tendo, ao longo do tempo, evoluído para o descasque de cadáveres.

[ Foto à direita: Um felupe, 1821... Gravura norte-americana, imagem do domínio público, cortesia de Wikipédia]


A cerimónia revestia-se de uma certa complexidade, na medida em que previamente era necessário proceder ao interrogatório do defunto, o anúncio da morte, o sacrifício de vários animais, a que se seguiam danças e outras cerimónias para afastar os maus espíritos. O corpo depois era colocado num estrado, regado com álcool e defumado.

Como relata Carreira, “logo que a decomposição estivesse avançada, o descascador (o profissional chamado Natiêmá) procedia à operação do arrancamento da pele. Para tanto servia-se de enormes unhas, que propositadamente deixava crescer; elas constituíam a ferramenta do ofício” (p. 111). Depois o corpo era envolto em panos e inumado.

Quanto à prática da necrofagia que se verificava ainda na década de 50 entre os Felupes, os cadáveres eram enterrados quase à superfície da terra, durante uma semana, finda a qual, os corpos já putrefactos eram desenterrados, cozinhados e comidos. 

Outro dos costumes ancestrais dos felupes consistia em colecionar crânios dos inimigos caídos em combate e que eram utilizados em libações. Hábito que não nos deverá parecer tão exótico, na medida em que os antigos vikings também o praticavam. Membros de tribos inimigas que penetrassem em território felupe eram “assassinados em condições misteriosas; e a maior parte (dos crânios, entenda-se) provém, precisamente, dos cadáveres desenterrados e comidos nos festins do fanado (circuncisão) ou nos ritos especiais, nos Irãs.” (p. 116). 

Comer carne humana de cadáveres consistia numa cerimónia ritual que se revestia da maior importância entre os membros desta etnia. Comer determinadas partes do corpo do inimigo morto conferiria, a quem as devorasse, as mesmas qualidades do defunto, designadamente de coragem e bravura em combate,. Em regra, eram apenas comidos os corpos das pessoas que faleciam de morte natural ou que morriam em conflito armado, mas, muitas vezes, secretamente, os feiticeiros envenenavam pessoas com o fito de as devorarem, muito embora a tribo não tivesse necessidade de carne, porquanto tinha gado e a caça abundava. A necrofagia era um ritual mágico e envolto no maior secretismo.

A. Carreira conclui que “a influência da cultura portuguesa, da francesa e mesmo da africana não conseguiu vencer práticas milenares que a civilização do Ocidente condena, por repugnantes, como a necrofagia” (p. 121).

“Contribuição para o estudo das mutilações genitais na Guiné Portuguesa” é outro interessante artigo subscrito por António Carreira e bastante abrangente, pois abarca todo o território guineense e confere-nos uma panorâmica da extensão destas práticas. 

O autor divide a população local em 3 grupos consoante a diversidade da prática das mutilações sexuais: 

(i)  o primeiro grupo, é aquele em que se pratica a circuncisão nos indivíduos do sexo masculino e a excisão do clítoris nos do sexo feminino (trata-se de etnias islamizadas: fulas, mandingas, biafadas, nalus, banhuns, cassangas e balantas-mané); 

(ii) o segundo grupo confina-se apenas à prática da circuncisão, não se procedendo à ablação do clitóris (estão neste grupo os animistas: manjacos, papéis, brames, felupes, baiotes, balantas e mansoancas);

(iii) o terceiro e último grupo apenas pratica uma circuncisão de caráter simbólico, “por incisões superficiais na pele do pénis, seguidas de escarificações tegumentares simples” (p. 135) e nas mulheres umas incisões no baixo ventre (apenas os bijagós mantém este hábito ancestral).

Quer no caso da circuncisão, quer no da ablação do clitóris, ambas as cerimónias são genericamente designadas, em crioulo, por fanado.

A circuncisão consiste no corte da pele do prepúcio, em geral, com uma faca afiada de lâmina recta. Trata-se de uma cerimónia ritual de purificação (segundo Bastide, citado por Carreira) que só se realiza com uma periodicidade determinada (depende das etnias) e que implica provas físicas, algumas de grande dureza, e nalguns casos até castigos corporais; provas intelectuais e de conhecimento de vida e sócio-religiosas, como refere o autor. Existem igualmente múltiplos tabus e regras específicas, variáveis de tribo para tribo. Em geral, as cerimónias terminam com uma série de festas públicas.

[Foto à direita: Vaqueira manjaca... Detalhe de postal ilustrado da série Guiné Portuguesa. Cortesia de Joaquim Ruivo]


Dependendo das etnias, a circuncisão pode ocorrer na infância, puberdade, adolescência ou já na idade adulta. O autor não refere, porém, que, em muitos casos, os circuncisos podiam morrer de hemorragia, por inexperiência do “operador” ou de infeção (tanto quanto sei, pessoalmente, no caso dos balantas, eram utilizados emplastros com plantas e lama).

A excisão clitoridiana tem menor expansão que a circuncisão, que como se vê está generalizada a quase toda a população masculina, e segundo A. Carreira alguns elementos femininos de certos grupos étnicos (mandingas e fulas) opõem-se-lhe. Todavia, como sublinha, “o certo é que o costume tem, ainda, grande simpatia e aceitação das massas” (p. 172). 

Aparentemente, os rituais destas cerimónias são bastante mais simples e menos violentos que os da circuncisão, aparte a operação de excisão propriamente dita. O autor descreve-a da seguinte forma: “Consiste na ablação do clítoris por um corte transversal, dado com uma lâmina recta. Para o efeito, puxam o clítoris para fora, depois de seguro por uma espécie de anzol sem rebarba. Em uns grupos a ablação é total e em outros está limitada a uma pequenina porção da ponta.” (p. 144). 

A extracção ou corte dos lábios da vulva não é de todo em todo levada a cabo por nenhuma etnia guineense. Registe-se que a excisão do clítoris não constitui um mero rito de passagem, mas uma condição “sine qua non” para o casamento. Sem embargo de Carreira descrever com minúcia a operação, as cerimónias e as regras a observar, não regista em qualquer parte do texto o menor sinal de repúdio ou de horror perante o barbarismo e a crua brutalidade deste costume ancestral.

Para além de apresentar um mapa das mutilações sexuais na Guiné Portuguesa, o autor traça um quadro de cada uma da tribos e dos diferentes processos e cerimónias que nesta matéria que levam tradicionalmente a efeito.

O investigador José Lampreia elaborou um estudo intitulado “Da morte entre os Brames”. Segundo nos conta, no passado remoto, entre os Brames (mancanhas) na cerimónia do “choro” (funeral) chegava a ser sacrificado um casal de crianças se o defunto fosse um régulo. Essa prática terá desaparecido, mas o sacrifício de animais manteve-se e o abate do gado do defunto para alimentar toda a comunidade também, o que, aliás, como se sabe, não é costume exclusivo dos brames. 

Uma cerimónia com algumas semelhanças à do descasque de cadáveres dos manjacos também se praticava, contrariando, de algum modo, o que refere António Carreira que a considera exclusiva daquela etnia. É interessante saber-se como era determinado o local propício ao enterro do corpo. O ritualista acompanhava uma cabra e no local onde esta urinasse cravava-se uma estaca e era esse o sítio designado para se abrir uma galeria funerária onde seria enterrado o defunto.


[Imagem à esquerda: O bombolom...Cortesia do sítio italiano Parrocchia San Leonardo Murialdo di Milano]

“Talking drums in Guiné” é um texto em inglês da autoria de W. A. A. Wilson da Universidade de Londres e que menciona, entre outros instrumentos de percussão (tambores) para transmissão de mensagens à distancia, o bombolom. Seis tribos da Guiné comunicam por este meio – manjacos, papéis, mancanhas, bijagós, balantas e mansoancas. Trata-se de um método muito utilizado em várias partes de África. Contrariamente ao que se possa pensar, não se trata de um qualquer código morse ou algo de aparentado, mas a reprodução de uma língua em que cada sílaba é pronunciada, nesta caso tocada, num tom alto ou baixo, “cada palavra ou frase tem uma melodia particular: os tons altos e baixos são tão importantes como a posição do acento tónico em português ou inglês” (p. 216), como refere o resumo. 

O bombolom é um tronco de madeira escavado com uma frincha que se estende a todo o comprimento. O tocador com dois paus extrai os sons cavos ou mais agudos do instrumento. O som pode ser ouvido a vários quilómetros de distância.

Finalmente, o artigo “Sobre a etnonímia das populações nativas da Guiné Portuguesa” da autoria do professor António de Almeida. O autor defende a tese de que as designações de quase todos os povos da Guiné é de origem mandinga, com várias alterações introduzidas pela língua portuguesa ou pelo crioulo. Também existiriam etnónimos de outras origens designadamente fulas.
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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11309: Notas de leitura (468): Catarse, por Abel Gonçalves (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 27 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11324: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11/ CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte IX): Piche, vista aérea... E as valas onde se "despistou" o nosso camarada e amigo comum Renato Monteiro...



Guiné > Zona Leste > CART 2479/CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/70) > Piche, vista aérea > "Quando sobrevoei Piche... Vê-se as valas feitas pela CART 11 onde o Renato Monteiro se despistou"...

Foto (e legenda): © Abílio Duarte (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemenetar: L.G.]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Abílio Duarte, ex-fur mil art da CART 2479 (mais tarde CART 11 e finalmente, já depois do regresso à Metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa companhia de “Os Lacraus de Paunca”) (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70). (*).

Que história é essa do "despistanço" do meu amigo de Contuboel, o Renato Monteiro, o "homem da piroga" ?


2. Eis aqui a versão do Abílio Duarte... Espero que um dia destes o Renato Monteiro possa (e queira) apresentar a dele... Já o convidei... Mas ele tem mais que fazer: é hoje um conceituado fotógrafo e escritor...

[, Foto à direita, o Renato Monteior, o homem do remo, numa piroga com o Luís Graça, Rio Geba, Contuboel, Junho de 1969; foto de L.G.]



O que se passou, com o Monteiro, foi o seguinte: O Monteiro era, e penso que ainda é, uma extraordinária pessoa, e estava nitidamente a mais naquela guerra, assim como todos nós.
Conheci-o, muito bem, pois estivemos em Vendas Novas,e tiramos o mesmo Curso de Minas e Armadilhas, em E.P.E. em Tancos.

Ele e o Furriel Cunha, tinham um relacionamento com os africanos, muito diferente dos restantes quadros, e isso só lhes trouxe problemas. Quando a nossa Companhia deixou Contuboel, fomos para Piche, em Julho de 1969, para reforço operacional, pois tinham sido atacados. Quando lá chegamos, os pelotões, quando não iam para o mato, ficavam a abrir valas e construir abrigos.
Certo dia, e eu assisti ao diálogo, aconteceu o seguinte: Estávamos a coordenar os nossos soldados na abertura de valas, a terra era extremamente dura, fazia um calor doido o esforço era muito grande , toda a gente estava cansada, e era hora do almoço. Mas estava estabelecido que cada pelotão tinha que fazer uns tantos metros de vala, e de profundidade,(estás a ver o petisco). O bom do Monteiro vira-se para os soldados, e diz para pararem, e prepararem-se para ir comer.

Hora de azar, ia a passar ou estava a ver o trabalho, um Major do Batalhão lá de Piche, e vê o Monteiro a formar os homens, aproximou-se perguntando porque é que pararam o trabalho, e o Monteiro diz que os homens tinham que ir comer. Deu-se a bronca, era o Major a dizer que eles não podiam ir comer, enquanto as valas não estivessem prontas, e o Monteiro respondia que iam, porque ele é que mandava! Foi um 31 dos antigos.

O resto foi o que se sabe, inquérito, processo, prisão, despromoção e transferência. [O Renato Monteiro foi transferido, por motivos disciplinares, para a CART 2520, Xime, 1969/70. LG]

Eu tive mais sorte, pois ainda em Contuboel, tive um caldinho parecido. Estava de Sargento de Dia e,  ao jantar, conforme vinham da instrução os soldados,  iam comer ao refeitório, depois da companhia de brancos, a que estavamos adidos. Quando entraram os nossos primeiros soldados, sentaram-se, tudo bem. Estava eu á porta do refeitório, e vem o 1º sargento  daquela companhia, chamar-me, a dizer que os meus soldados não queriam comer!

Fui ter com dois deles que me mereciam respeito, um deles até bastante religioso, e perguntei o que se passava, explicaram, que o arroz não prestava e as conservas de sardinhas não estavam boas. Ok. Não querem comer não comem, vão comer á tabanca.

Estava eu,  mais o meu Cabo, a orientar os homens para sair do refeitório, vem o cabrão do
1º sargento,  aos gritos, que eu tinha que obrigar os soldados a comer.  Olha lá, como é ? Levantou-se um arraial, não passaram 5 minutos e aquilo já estava cheio de oficiais. Levaram-me ao Capitão deles, apareceu o meu, porquê isto, porquê aquilo, os homens  tinham que comer, etc. etc. Estou feito. Iam comunicar ao Major Azeredo, para Bolama,  que era o Director de Instrução, e que me iam embrulhar numa folha de 25 linhas.

Quando fomos a Bissau, para o Juramento de Bandeira, fui visitar uns camaradas da CCS, do meu Batalhão inicial em Penafiel, quando me disseram, que havia uma participação com o meu nome. Normal. Fiz várias perguntas, e disseram que aquilo dava prisão. Eu comentei, não acredito que me mandem preso para a metrópole, pois preso já aqui estou.

Até hoje, penso que o que me livrou foi alguém em Bissau, considerou que o que fiz era boa
politica, tendo em atenção a filosofia do Spinola com as tropas africanas. Safei-me. O Monteiro
não. São situações e momentos, que nunca esquecemos, de uma aventura de 22 meses, em terras
estranhas.

Guiné 63/74 - P11323: Convívios (507): 7º Encontro-Convívio do pessoal das unidades adstritas ao BART 2917, Viseu, 4 de Maio de 2013 (Benjamim Durães)


1. O nosso Camarada Benjamim Durães, que foi Fur Mil Op Esp/RANGER do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917 – Bambadinca -, 1970/72, solicitou-nos a publicação do seguinte convite para a festa do convívio anual do BART 2917 e unidades adstritas:



7º ENCONTRO-CONVIVIO DA CCS / BART 2917


DIA 04 DE MAIO DE 2013 EM VISEU-2


O 7º Encontro-convívio da CCS do BART 2917 é extensivo a todas as unidades que operaram sob o comando do BART [Cart 2714, 2715 e 2716, CCaç 12; Pel Caç Nat 52, 53 e 63, Pel Rec Daimler 2206 e 3085, Pel Mort 2106 e 2268, Pel Intend A/D 2189 e 3050, 20º Pel Art/GAC 7 e Pel Eng do BENG 447 de Bambadinca], seus familiares e amigos e será no dia 04 de Maio de 2013 em Viseu, no Hotel Onix situado a 3 Km do Centro de Viseu, na Via Caçador 16 (coordenadas GPS - N 40º 38' 36,9'' W 7º 51' 52,48''), com a concentração a partir das 08h30.

Os aperitivos terão início às 10h45 horas com o almoço às 13 horas com um prato de peixe e outro de carne.

O lanche-ajantarado terá início pelas 16h30 horas e que consiste de um porco no espeto acompanhado de arroz de feijão e caldo verde.

O custo do Encontro-Convívio é de 35,00 Euros para adultos e 20,00 Euros para crianças dos 07 aos 11 anos.

Quem quiser pernoitar no Hotel Onix, o custo é de 40,00 euros por quarto de casal e a marcação terá de ser efectuada até ao dia 15 de Abril para o organizador ÁLVARO GOMES SANTOS – ex-1º Cabo caixeiro – telemóvel 96 693 08 88 / telefone 232 641 470

A organização do evento está a cargo de BENJAMIM DURÃES - ex-Fur. Milº e ÁVARO GOMES SANTOS – ex-1º Cabo caixeiro, ambos da CCS/BART 2917.

Solicita-se que confirmem até dia 20 de Abril as presenças para:

- BENJAMIM DURÃES – telemóvel 93 93 93 315 ou através de correio electrónico duraes.setubal@hotmail.com ou

- ÁLVARO GOMES SANTOS – telemóvel 96 693 08 88 – telefone 232 641 470

A Organização agradece desde já a todos os camaradas de armas pela atenção dispensada com um até JÁ.

Um abraço,
Benjamim Durães
Fur Mil Op Esp/RANGER do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

25 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11311: Convívios (506): III Almoço mensal da Tabanca Ajuda Amiga, dia 28 de Março próximo na Cantina da Associação de Comandos, em Oeiras (Carlos Fortunato)

Guiné 63/74 - P11322: Memória dos lugares (228): O enigma de Sinchã Queuto, no setor de Paunca (Abílio Duarte, CART 2479/CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)



Guiné > Zona leste > Mapa de Paunca (1957) (Escala 1/50 mil) > Detalhes: posição relativa de Paunca, Paiama, Sinchã Abdulai e Guiro Iero Bocari, junto à fronteira co0m o Senegal. Há inúmeras tabancas começadas por Sinchã...mas não localiza Sinchã Queuto (LG).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



1. Pergunta do editor ao  Abílio Duarte, ex-fur mil art da CART 2479 (mais tarde CART 11 e finalmente, já depois do regresso à Metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa companhia de “Os Lacraus de Paunca”) (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70). (*)

Tenho dúvidas sobre a localização de Sinchã Queuto. Tenho que confirmar com o António Baldé. Se bem me lembro, ele disse-me que era "a seguir a Paunca, não longe de Paima, em direção à fronteira com o Senegal"...

A única Sinchã Queuto que eu encontro, através dos mapas, é a norte de Bafatá e a sul de Contuboel, longe dos sítios por onde a CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca)... Vou pedir ao Abílio Duarte para me esclarecer esta dúvida. E se chegou conhecer o alferes Matos, que é de Ovar. Esse Matos, da CART 11, esteve destacado em Sinchã Queuto com o António Baldé.

2. Resposta do Abílio Duarte, com data de ontem:

Em resposta ás tuas questões, tenho a informar o seguinte:

(i) Vim embora de Paunca em 20.12.70, e embarquei para Lisboa no Avião TAP em 22.12.70;

(ii) Até aquela data penso que nenhum alferes ainda tinha sido rendido; portanto não conheci o
Alf Matos,  que referes;

(iii) Não me recordo do António Baldé [, 1º cabo da CART 11, 1970/71];

(iv) Enquanto estive na Zona de Paunca, conforme confirmei na História da Companhia,  nunca estivemos naquela tabanca [, Sinchã Queuto];

(v) Estavamos em quadricula, e além de Paunca, estavamos também em Paiama, Guiro Iero Bocari e Sinchã Abdulai;

(vi) Naqueles tempos parece-me que as tabancas tinham mais de um nome e, pela situação que referes, ser a norte de Paunca penso,  que poderá ser Guiro Iero Bocari, que por acaso também não aparece no meu Mapa.

Sempre à tua disposição, um grande abraço
Abílio Duarte
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 25 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11310: Memória dos lugares (227): Vistas aéreas da doce e tranquila Bafatá, princesa do Geba (Humberto Reis, ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71) (Parte II)

Guiné 63/74 - P11321: Parabéns a você (552): Armando Pires, ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861 (Guiné, 1969/70); Carlos Vinhal, ex-Fur Mil da CART 2732 (Guiné, 1970/72); Eduardo Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil Op Esp da CCS/BCAÇ 4612 (Guiné, 1974) e amiga tertuliana Maria Dulcinea que pisou a terra vermelha de Bissorã

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11308: Parabéns a você (551): Rui Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 816 (Guiné, 1965/67)

terça-feira, 26 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11320: Feliz Páscoa para a tertúlia da Tabanca Grande (Manuel Joaquim)

1. Mensagem do nosso camarada  Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, BissauBissorã e Mansabá, 1965/67), com data de 25 de Março de 2013:

Meus caros Luís, Carlos e Eduardo, queridos camaradas da Guiné:
Para vós e, em vosso nome, para os membros deste blog, desta Tabanca Grande, vão os meus votos de Feliz Páscoa.

Como seria lindo, se fosse possível, todos nos abraçarmos a todos!
Junto um video que pode simbolizar a união para o cumprimento de um objectivo, neste caso uma união de base religiosa, uma procissão para glorificar a ressurreição de Cristo, "inneggiamo al Signore" (louvemos o Senhor).
Que em todos nós, religiosos ou não, crentes ou não na ressurreição, revivam (se for caso disso) ou não esmoreçam os sentimentos de fraternidade e de solidariedade tão necessários nos dias de hoje para acreditarmos nas nossas capacidades, como sociedade e como país.

Um grande abraço
Manuel Joaquim




A propósito do video:

O video que anexo é um excerto da ópera de Pietro Mascagni, "Cavalleria Rusticana", cinematografada por Franco Zeffireli em 1982. Nele intervêm o Coro e a Orquestra do "Teatro alla Scala" de Milão e a mezzo-soprano Yelena Obraztsova (Santuzza) .
Vale bem a pena ver o filme, para quem gosta de ópera e não só, está disponível no Youtube, com Placido Domingo (Turiddu), Renato Bruson (Alfio), Fedora Barbieri (Mamma Lucia) e Axelle Gal (Lola).

Esta cena espectacular de uma procissão pascal está composta por imagens, símbolos e atitudes populares que representam bem esta forma de expressão de religiosidade católica muito comum, há uns bons anos atrás, por toda a Europa mediterrânica. Algumas dessas procissões ainda hoje se fazem. Também em Portugal, basta lembrar Braga.

Sou, religiosamente, agnóstico mas este naco de filme emociona-me, faz-me voltar à minha infância. Vejo estas imagens e revejo-me, garoto, a saltar nas bermas do caminho e a subir a muros para melhor ver passar a procissão, amedrontado e ao mesmo tempo excitado pela visão do andor do Cristo Crucificado à frente de outros como os da Senhora dos Milagres, do S. Jorge, do S. Tiago, do S. Sebastião cravado de setas e a sangrar das feridas ...
A acompanhar esta memória visual vem também a memória olfactiva, vêm os aromas do fumo de incenso e os saídos da murta e do alecrim pisados durante a procissão, o cheiro dos foguetes queimados cujas canas eram um chamariz a que não sabia resistir e, por fim, os belos, aromáticos e doces folares ofertados pelos padrinhos.

Como é bom sentir assomar à superfície de mim a criança que sei que me habita. Mesmo não dando por ela muitas vezes, não a quero perder de maneira nenhuma.

Havemos de continuar juntos, precisamos de estar juntos para vivermos. Até ao fim.

Manuel Joaquim
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Guiné 63/74 - P11319: (Ex)citações (216): É lamentável que se perfilhe a teoria propagandista do IN/PAIGC, segundo a qual este cercou Guiledje em Maio de 1973 (Carlos Silva)


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (Novembro de 1971/ Dezembro de 1972) > Foto aérea de 1972 do aquartelamento e tabanca de Guileje, tirada no sentido oeste-leste.

Foto: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados.

1. Comentário deixado no Poste 11297 pelo nosso camarada Carlos Silva (ex-Fur Mil Inf CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71), no dia 24 de Março de 2013:

Amigos e Camaradas

A propósito do Post 11297 da autoria do Cor Coutinho e Lima em resposta ao que é publicado no livro “Alpoim Calvão Honra e Dever” a págs 311, de facto é lamentável que os autores, pelo menos os 2 militares, perfilhem a teoria propagandista do IN/PAIGC, segundo a qual este cercou Guiledje em Maio de 1973.

Aliás, até são contraditórios, pois por um lado dizem que o “…. PAIGC cerca Guidaje, a Norte, GUILEJE, na fronteira com Conakry “ e referindo ainda “…. Perante a incredulidade do inimigo que demora muitas horas até se aperceber de que estava a CERCAR uma instalação militar deserta.”

Afinal é caso para perguntar. O IN cercou ou não o nosso aquartelamento de Guileje??
Daqui resulta claro que não. E só quem não está de boa fé ou que não foi militar ou que não conhece os factos, só pode revelar uma ignorância desta natureza.

Já Aristides Pereira no seu livro “Uma Luta, um partido, dois países” pág. 205 mente descaradamente quando refere: 

“...Em fins do terceiro trimestre de 1972, Cabral, depois de aferir da importância do quartel como peça mestra de um dispositivo que pretendia reconquistar o controlo da fronteira sul, havia concebido o plano de assalto e tomada da fortificação de Guiledje, o que, porém, só veio a concretizar-se nos meses que se seguiram ao seu assassínio…..”, reafirmando a seguir: “Foi em Maio de 1973 que o PAIGC atacou e tomou Guiledje, o quartel mais bem fortificado da frente sul, que, pela, sua importância e localização, funcionava como ponto estratégico a partir do qual as forças coloniais controlavam a movimentação das FARP no Sul da Guiné em ligação com outras guarnições de menor importância.”

É nesta onda de mentira que também os autores do livro “Alpoim Calvão… “ e outros camaradas pactuam, deturpando os factos e prestando assim um mau contributo para a nossa História.

Meus Amigos, abstenham-se de pactuar com tretas destas. E se assim não é, então desafio para que apresentem provas concretas de que as vossas afirmações são verdadeiras, o que não conseguem.

Eu já aqui apresentei testemunhos relativamente à inexistência do mito do cerco a Guiledje, em comentário a propósito dos Posts 5403; 5417 e 5432, o qual reitero e aqui reproduzo.

“Não vou pronunciar-me sobre a retirada de Guileje, nem sequer fazer apreciações sobre a mesma, porquanto, não estive lá e felizmente não passei por esse pesadelo e nem sequer vou pronunciar-me sobre a tomada da decisão da retirada ou sobre a visão que cada um tem sobre esses momentos que viveu, deveras difíceis. Pois cada um tem a sua própria visão dos factos.

Compreendo as diferentes reacções que cada camarada possa ter tido naquelas situações vividas, na medida em que, eu próprio passei por diferentes situações complicadas e tive reacções diferentes nesses momentos.

Dito isto, apenas quero salientar que não concordo com a expressão que se vem referindo “cerco de Guileje” porquanto, das provas documentais, documento escritos, fotografias, etc. resulta claro que não houve cerco ao aquartelamento de Guileje, tanto que, em lado algum li ou ouvi referências onde o IN estivesse posicionado durante o hipotético cerco. Aliás, na audiência que um grupo de camaradas teve com o falecido Presidente Nino em 5 ou 6-3-2008 que se deslocaram à Guiné para participar no Simpósio de Guileje, onde estive presente, bem como, o Sr Cor Coutinho e Lima, Luís Graça, Abílio Delgado; José Carioca e outros, como não poderia deixar de ser, foi abordada a questão da retirada de Guilege. 

Nessa audiência recordo que o Presidente Nino falou sobre os constantes bombardeamentos de artilharia do PAIGC ao aquartelamento de Guileje e disse também que tiveram conhecimento da retirada das NT do local posteriormente e que passados 3 dias foram lá com todas as cautelas possíveis, pois as NT poderiam ter deixado o local armadilhado.
Feito o reconhecimento da zona, retiraram sem efectuarem qualquer ocupação efectiva. 


Em Março/2009, estive novamente em Guilege, Gandembel, Candembel [corredor da morte] onde falei com um ex-Comandante que actuava na zona, o qual também acompanhou-nos durante o Simpósio ano transacto e falámos sobre o tema. Claramente lhe disse, argumentando com os testemunhos atrás invocados, que não tinha havido “cerco a Guileje” e ele concordou comigo.

Face aos testemunhos atrás mencionados, tenho para mim, que não existiu qualquer cerco a Guileje, salvo o devido respeito que é muito, por opiniões contrárias.

Carlos Silva Ex-Fur Mil CCaç 2548/Bat Caç 2879”

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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 22 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11297: (Ex)citações (215): O ataque a Guileje (Maio de 1973) e o livro "Alpoim Calvão - Honra e Dever" (Coutinho e Lima)

Guiné 63/74 - P11318: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (64): Amigos brasileiros (Vasco Pires)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires, bairradino que vive no Novo Mundo, e que foi alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael (1970/72):


Data: 25/3/2013
Assunto: Amigos brasileiros

Caro Carlos,

Enviei o link da nossa "GRANDE TABANCA" para vários amigos brasileiros, recebi esta resposta do Eduardo Costa.

"Ó Lusitano,

Foi com muito interesse que fui até o site indicado mas devo confessar que não imaginava quão emocionante seria ler suas memórias.

Imagino o quanto os tempos de caserna foram marcantes, se para mim, que nunca cheguei perto de um combate, marcaram muito, para você e seus companheiros deve ter sido a experiência da vida de vocês.

Parabéns e saudades do amigo,

Eduardo C osta
Ex - 2º. Ten. Inf. (Exército Brasileiro)"


Talvez seja interessante publicar, o que achas?
forte abraço
VP
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Nota do editor:

Último poste da 15 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11254: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (63): O Benito Neves, de Abrantes, no restaurante A Lúria, S. Pedro de Tomar, com o Luís Graça, que foi ao lançamento de um livro a Tomar... Recordando com saudade o Victor Condeço (Entroncamento) e o José Henriques Mateus (Lourinhã)

Guiné 63/74 - P11317: Ser solidário (146): Almoço solidário e Assembleia Geral Ordinária da Tabanca Pequena (ONGD), dia 13 de Abril na cidade da Maia (Álvaro Basto)

C O N V I T E

TABANCA PEQUENA  (ONGD)
GRUPO DE AMIGOS DA GUINÉ-BISSAU

ALMOÇO SOLIDÁRIO E ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA

Caros associado(a)/amigo(a)
Vamos uma vez mais realizar este ano um almoço de solidariedade seguido de Assembleia Geral, que terá lugar no restaurante do Complexo Municipal de Ténis da Maia, em Vermoim, na Avenida Luis de Camões.

Gostaríamos de poder contar com a sua presença e a dos seus familiares, participando dessa forma não só numa animada e sadia confraternização, mas também contribuindo para a concretização dos projetos da nossa ONGD, que, conforme terão oportunidade de ouvir na altura, continuam a melhorar a vida de muitas crianças e jovens Guineenses.

Seguem-se o cartaz do almoço e a convocatória da Assembleia Geral Ordinária para todos os associados(as)

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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 23 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11300: Ser solidário (145): Relatório sobre as iniciativas da Tabanca Pequena ONGD na Guiné-Bissau (José Teixeira / AD)

Guiné 63/74 - P11316: Do Ninho D'Águia até África (61): Regresso à sua aldeia (Tony Borié)

1. Sexagésimo primeiro episódio da série "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177:


DO NINHO D'ÁGUIA ATÉ ÁFRICA - 61





A unidade militar a que o Cifra pertencia, era na área de Lisboa. No mesmo dia do desembarque entregou o resto dos trapos que trazia e pertenciam ao exército, teve que pagar vinte sete escudos e cinquenta centavos por alguns trapos que faltavam, como camisas e meias.


No jardim dessa unidade militar abriu a mala de papelão e fibra nos cantos, amarrada com uma corda, vestiu umas calças, uma camisa de manga curta e calçou uns sapatos à sua medida que tinha comprado na capital da província, enquanto esperava o embarque. Ao sair da unidade militar, gritou em plenos pulmões:
- Não sou mais Cifra, sou de novo o Tó d’Agar!

Na estação, em Lisboa, apanhou o comboio da linha do norte, que o levou à cidade. Aí mudou para o seu comboio, que com a locomotiva a vapor, mil cento e trinta e seis, a tal que tinha força de gigante, que abanava o cabanal onde estava o curral das ovelhas, que o Tó d’Agar, conhecia pelo apito, que fazia um ruído ensurdecedor sempre que passava no vale, rumo ao norte, a caminho da montanha a todo o vapor. Sim, foi essa locomotiva, que trazendo atrás de si o comboio das dez e meia, fez regressar o Tó d’Agar de novo para junto da sua família, na aldeia do vale do Ninho d’Águia.

Nessa noite houve festa na aldeia do vale do Ninho d’Águia, com foguetes e tudo, o agora de novo Tó d’Agar levou abraços e beijos de pessoas a chorar de alegria, a sua cara estava cheia de baba e ranho, que limpava às costas da mão, a mãe Joana chorava, os irmãos pulavam e cantavam, o pai Tónio, com um copo de “jeropiga” na mão, fazia vivas a toda a gente, os vizinhos faziam uma roda à sua volta e perguntavam se na Guiné havia macacos e leões, algumas raparigas suas amigas davam-lhe palmadas e agarravam-se a ele e beijavam-no por muitas vezes, os garotitos, alguns que tinham nascido depois de ele ir para o serviço militar, olhavam-no e depois vinham tocar-lhe, como se o Tó d’Agar fosse alguém estranho na aldeia, alguns cães ladravam, havia um “gira-discos” com música, havia uma garotita, toda suja, igual àquela que uma vez viu na capital da província da Guiné, que lhe pediu patacão para comprar bianda, e só com um bibe a cobrir-lhe o corpo, com o dedo na boca, comendo baba e ranho, que se aproximou do Tó d’Agar, tocou-lhe e pediu se podia levar um bocado de pão trigo da mesa onde havia comida, o Tó d’Agar disse sim, ela tirou três bocados de pão, um foi na boca, outro na mão e outro dentro do bibe, e o senhor Jaime Barbeiro fez um discurso.

A um canto, com uma mão na cinta e outra caída ao longo do corpo, com uma permanente que lhe fazia alguns caracóis longos, nos seus cabelos já “grizalhos”, com um vestido que lhe cobria a parte de trás do corpo e lhe deixava ver um pouco do peito e as pernas um pouco abaixo do joelho, estava a menina Teresa, que ao encarar o Tó d’Agar, com os seus olhos percorreu todo o seu corpo de alto a baixo, parando por uns segundos onde o corpo termina e começam as pernas, abraça-se a ele com força, e aí mais uma vez, não conseguiu tirar este peso, que é a menina Teresa em cima de si, e o To d’Agar sentiu-a toda encostada a ele, mesmo a empurrá-lo, quase que o fazia cair no chão, dá-lhe um beijo de lado, quase a apanhar a boca, e não lhe perguntou, se tinha feito boa viajem, ou se estava bem, a suas únicas palavras foram:
- Aaaiii..., trazes “aquilo” que eu te pedi, é mesmo grandote, tenho tantos desejos de vê-lo! Tó d’Agar, estás tão grande, tão crescido, pareces um homem, vem ver-me amanhã, logo bem cedo, quero apalpá-lo, tocar-lhe, e tú tens que estar presente, para me ajudares a que ele me dê boa sorte!


Todos vocês sabem o que era “aquilo” a que a desenvergonhada da menina Teresa, se referia!

(Fim da primeira parte)
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 23 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11299: Do Ninho D'Águia até África (60): O regresso a Portugal (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P11315: E as Nossas Palmas Vão Para... (6): A banda musical portuguesa "Melech Mechaya", nomeada para os "Independent Music Awards" (IMA), 12ª edição anual, para a categoria de "Melhor Álbum Instrumental"



1. Duas notícias reproduzidas, com a devida vénia do sitio dos Melech Mechaya

9 MAR 2013 O mais recente disco "Aqui Em Baixo Tudo É Simples" (ou "Melech Mechaya", na sua edição internacional) foi nomeado para a categoria "melhor álbum instrumental" dos Independent Music Awards [IMA] da Music Resource Group. O júri inclui nomes como Tom Waits, Suzanne Vega, Ziggy Marley ou Brandi Carlisle, e entre antigos nomeados e vencedores encontram-se Joan As Police Woman, Lee "Scratch" Perry e Melissa Auf Der Maur (ex-Smashing Pumpkins).

14 JAN 2013 O nosso disco "Aqui Em Baixo Tudo É Simples" chega aos Estados Unidos da América! Depois de distribuído numa dezena de países da Europa e no Japão, com a edição da editora italiana Felmay, o disco é distribuído nos Estados Unidos pela EOne e estará à venda a partir do dia 15 de Janeiro. (*)

2. Comentário de L.G.:

Damos, desde já, os nossos parabéns aos Melech Mechaya, a banda portuguesa de que faz parte o nosso grã-tabanqueiro João Graça. (Entrou para a Tabanca Grande em finais de 2009, depois de um périplo pela Guiné-Bissau). É bom ver o talento, a criatividade  e o esforço dos nossos jovens portugueses serem reconhecidos lá fora... e cá dentro.

Os Melech Mechaya têm alguns fãs, entusiásticos e incondicionais,  na nossa Tabanca Grande,  razão por que não achamos despropositada esta notícia. Para eles, os Melech Mechaya,  vão as nossas palmas (**). Que a sua música, ora divertida ora intimista, continue a ajudar a pulsar os nossos corações, a alimentar o caldeirão das nossas emoções e a alegrar as nossas vidas, convencendo-nos de que, afinal, "Aqui Em Baixo Tudo É Simples"...

cinco nomeados, a nível mundial, para a categoria "melhor álbum instrumental" da 12ª edição anual dos  IMA.  Para os portugueses  Melech Mechaya  já é um grande prémio estar nesta lista restrita. Os restantes são da Sardenha (Itália), da Eslováquia, de Espanha e dos EUA...

PS - Já agora uma informação para os nossos amigos e camaradas na região de Tomar: No próximo dia 5 de abril, os Melech Mechaya vão estar em Tomar, a bela cidade dos Templários, no Cine-Teatro Paraíso... às 21h30. Ao vivo!... Eles levam a alegria, a fantasia, a esperança e a emoção que são precisos para a gente viver e sobreviver todos os dias, e convencer-nos (ou iludir-nos)  de que, afinal, "Aqui Em Baixo Tudo É Simples"...

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Notas do editor:

(*) Biografia dos Melech Mechaya 

(i) Formados no final de 2006 com João Graça no violino, Miguel Veríssimo no clarinete, André Santos na guitarra, João Novais no contrabaixo e Francisco Caiado na percussão:

(ii) os Melech Mechaya são hoje apontados como a primeira e mais proeminente banda de música Klezmer em Portugal;

(iii) A sonoridade do grupo de Lisboa e Almada inspira-se ainda na músicas portuguesa, balcânica e árabe;

(iv) Salvatore Esposito, da revista italiana BlogFoolk, considerou-os “um dos casos mais interessantes da cena musical portuguesa”;

(v) Depois de dois discos lançados em 2008 e em 2009 – o EP “Melech Mechaya” e o LP “Budja Ba”, onde participam as Tucanas – os Melech Mechaya lançaram em Outubro de 2011 o álbum “Aqui Em Baixo Tudo É Simples”.;

(vi) Este registo conta com a participação da fadísta Mísia e do trompetista norte-americano Frank London, líder e fundador dos Klezmatics (vencedores de um Grammy em 2006);





Melech Mechaya - Gare No Oriente (com Mísia)... Vídeo (4' 57''): Disponível em You Tube > Melech Mechaya (Reproduzido aqui com a devida vénia...)



(vii)  Referido pela revista Blitz como um dos melhores álbuns do ano, “Aqui Em Baixo Tudo É Simples” foi editado internacionalmente em Maio de 2012 e conquistou a crítica europeia com “a sua identidade musical própria” (Eelco Schilder, da prestigiada revista alemã FolkWorld);

(viii) As extensas digressões dos Melech Mechaya levaram os seus espectáculos “simplesmente electrizantes” (João Bonifácio, Público) aos 4 cantos do país;

(ix) O quinteto actuou já em importantes festivais como o Rock In Rio Lisboa, Super Bock Surf Fest, FMM Sines, CCB Fora de Si, Festa do Avante!, Maré de Agosto ou Bons Sons, e fizeram ainda a primeira parte do concerto de Emir Kusturica & The No Smoking Orchestra no Coliseu de Lisboa.;

(x) A digressão de apresentação do novo álbum teve salas esgotadas de Norte a Sul do país, e passou por palcos como a Casa da Música (Porto) ou o Cinema São Jorge (Lisboa);

(xi) Fora de portas, a crescente carreira internacional dos Melech Mechaya tem conhecido sucessivos desenvolvimentos;

(xii) Com uma presença considerável em Espanha, onde foram cabeças de cartaz de diversos festivais e partilharam palcos com bandas como Portico Quartet e Kroke, os Melech Mechaya actuaram na Croácia, Brasil e Cabo Verde;

(xiii) Os seus concertos foram transmitidos na Rádio Nacional de Espanha e na Rádio Nacional de Cabo Verde, foram eleitos como “Awesome Contemporary Indie Band” pela KJHK Radio dos Estados Unidos ao lado de nomes como Beirut ou Gogol Bordello, e o último álbum foi disco da semana no prestigiado programa Fahrenheit na Radio 3 de Itália:

(xiv) Além do trabalho de estúdio e de palcos, os Melech Mechaya trabalham frequentemente em teatro e cinema;




Melech Mechaya - Mazel Tov (Live @ Festival Bons Sons)... Vídeo (2' 26''): Disponível em You Tube > Melech Mechaya (Reproduzido aqui com a devida vénia...)


(xv) Produzem os próprios telediscos, que foram distinguidos em vários festivais em Portugal, Alemanha e Estados Unidos, e escreveram a banda sonora completa para a curta-metragem de Joaquim Horta “Shortcut To Ivanov”;

(xvi) O tema “Los Bentos” faz parte do trailer do filme “O Comandante e A Cegonha” do realizador italiano Silvio Soldini, lançado em Outubro de 2012 pela Warner Bros., e várias outras músicas do grupo integram as bandas sonoras de diversas curtas-metragens, assim como da telenovela líder de audiências da SIC “Dancin’ Days”;

(xvii)  Fizeram a direcção musical de várias peças de teatro, destacando-se “Ivanov” pela companhia “A Truta”, e “Tempo Para Renascer”, pela prestigiada companhia catalã “La Fura Dels Baus”, num espectáculo para a Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura.


Guiné 63/74 - P11314: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11/ CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte VIII): Contuboel, 1969, longe do Vietname


Foto s/ nº > Abílio Duarte em Contuboel, 1969


Foto s/ nº > Abílio Duarte em Contuboel, 1969: "A capelinha na vila"



Foto s/ nº > Malta da futura CART 11. Contuboel, 1969



Foto s/ nº > O Alf Pinheiro e os seus dois furrieis [, o Abílio é o primeiro]


Foto s/ nº > Contuboel, 1969: "Eu, o Macias, o Pais, o Abílio Pinto, o Aurélio Duarte... Saudades desta rapaziada"...


Foto s/ nº > Contuboel, 1969: "O meu pelotão de instrução. Alguns foram depois para a CCAÇ 12"



Foto s/ nº > Contuboel, 1969: Parada


Foto s/ nº > Praia fluvial de Contuboel...Mlalta da CART 11...Vê-se o Pechinha...


Guiné > Zona Leste > CART 2479/CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/71) >  Contuboel >  1969


Fotos (e legendas): © Abílio Duarte (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemenetar: L.G.]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Abílio Duarte, ex-fur mil art da CART 2479 (mais tarde CART 11 e finalmente, já depois do regresso à Metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa
companhia de “Os Lacraus de Paunca”) (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70). (*).

Estas fotos são respeitantes a Contuboel, que era vila e posto administrativo. Tinha uma praia fluvial e belas tabancas, cheias de poilões. Fulas e mandingas coabitavam pacificamente. Contuboel era um oásis de paz, no meu tempo (e no tempo do Abílio Duarte, que esteve lá mais tempo que eu).

Segundo me disse o novo grã-tabanqueiro António Baldé, Contuboel nunca foi atacada durante a guerra. Recordo-me de andarmos desarmados num raio (ou diâmetro ?) de 15 km.  Ia-se a Sonaco, a norte, ou a Bafatá, a sul, nas calmas. Talvez por isso o Com-chefe tenha escolhido Contuboel para Centro de Instrução Militar da nova força africana. Bolama continuou a funcionar: formaram-se lá as CCAÇ 13 e 14. Em Contuboel, formaram-se as futuras CCAÇ 11 e 12.

Recordo-me de referir Contuboel como sendo "longe do Vietname", "far from the Vietnam"... Se calhar era uma visão idealizada do lugar, de qualquer modo tenho de Contuboel as minhas melhores recordações da Guiné... O inferno veio depois, ou conheci-o depois... (LG)

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Nota o editor:

Último poste da série > 20 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11281: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11/ CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte VII): Bafatá, uma piscina para três mil...

segunda-feira, 25 de março de 2013

Guiné 63/74 – P11313: Guiné 63/74 – P11313: Memórias de Gabú (José Saúde) (26): Sexo em tempo de guerra. Tabu?


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série.



Sexo em tempo de guerra



Tabu?



Indolente, obesa e com um falar melodioso a mulher grande impunha respeito à plebe que por norma a rodeava. A sua tabanca, simples e despida de preconceitos, situava-se entre o Quartel onde estava instalada a CCS do BART 6523 e Nova Lamego. Um passeio noturno da rapaziada levava o pessoal a uma visita espontânea a casa da mulher grande. 

Noites que procediam ao recebimento do fresco pré eram, normalmente, sinais evidentes para uma emboscada dos soldados à porta da idosa senhora. 

É do conhecimento geral, e não vamos escamotear a inequívoca verdade porque se sabe que o contraditório de opiniões existentes obedece a uma vénia e profunda reflexão, que o sexo foi sempre uma evidente prática comum entre os seres viventes. Desde os primórdios da humanidade que o ato se pratica em toda a sua extensão. Refere a Bíblia, património universal da Religião Cristã, que já Adão e Eva assumiram o sexo, ainda que virtualmente escondido, mas que no momento de calor e compaixão uniram os seus órgãos genitais e consumaram uma relação sexual. 

Neste contexto, importa assumir o ato com frontalidade e não optar pela surdez, procurando o eventual pecador (?) espontâneo imitar a velha avestruz num austero deserto Australiano: esconder a cabeça na areia para passar como um ser imaculado! 

Os tempos de guerra, prova-se cientificamente, são propícios a encontros amorosos. A guerra do ex Ultramar não passou incólume a desvarios praticados e não assumidos. 

A Guiné não foi um caso à parte. Em Nova Lamego, independentemente de encontros amorosos sob um silêncio colossal, havia quem fizesse render as aventuras de jovens em plena ascensão sexual a troco de patacão. Os pesos (escudos) na Guiné eram bênçãos divinas. Na minha conceção, embora discutível, admito que o ato sexual praticado pela mulher não passava exclusivamente por uma mera venda do corpo mas pela maneira mais prática em realizar uns magros pesos para sustentar inadiáveis compromissos familiares. 

Negócio? Isso era compromissos de gentes feitas com o sistema. A mulher grande que eu conheci em Gabu tratava o assunto com uma ligeireza perversa. “Arranjava” bajudas e a malta despejava os seus espermatozóides em vaginas dilaceradas pelos muitos serviços prestados. Consequências? Tudo era tabu! Há quem se refugie numa mítica opção tentando a todo o custo tapar o sol como uma peneira. 

Tímidos e envergonhados afirmavam que voltaram virgens. As mãos arrogaram-se às brincadeiras de putos. Parafraseando um velho político, já falecido, num momento áureo da Revolução de Abril, dizia ele para o camarada ao lado: “olhe que não!”… 

Não constringiremos cenas passadas. Verídicas! Assumo que não fui imaculado. Hoje, tal como sempre, dou a cara. Deixo em prosa uma etapa da vida que não me passou ao lado. Pratiquei atos sexuais, sim senhor, como tantos outros camaradas de armas em terras guineenses. 

Afirmo, com segurança, que numa noite quente eu e outro camarada, furriel miliciano da minha Companhia, ousámos desafiar a escuridão da tabanca e fomos parar junto a um casal de idosos que gentilmente nos recebeu propondo-nos, de seguida, uma visita à casa do lado, onde uma bajuda feita a favores sexuais nos recebeu. Aceitámos. 

Discutimos o valor, acertámos o custo e, isoladamente, lá fomos fazer o respectivo serviço. Depois de pagarmos e no meio de uma franca cavaqueira apareceu-nos a bajuda, aquela que tinha saciado os nossos eternos anseios carnais, com uma deficiência descomunal numa das pernas. Infelizmente era coxa. 

Ressalve-se, porém, que a rapariga era de facto bonita mas as contingências da vida carimbou-a com um enorme defeito físico. Olhámos um para o outro e em mansinho comentámos: “a nossa amante foi mesmo esta bajuda? Muito bem, o serviço está feito e nada a comentar”, ficou a experiência. 

Chegados ao Quartel, como era hábito, tomámos um delicioso banho com água barrenta e introduzimos na uretra do pénis uma milagrosa pomada que, ao que tudo indicava, queimava o mais atrevido intruso verme que, ocasionalmente, procurava poiso numa outra superfície humana desconhecida. 

Numa outra noite e com a luz ténue de um candeeiro já à meia haste, fui ter com a mulher grande e perguntei-lhe se por acaso havia bajuda nova: a mulher já experiente nestas andanças e com um olhar vazio, olhou-me de alto a baixo e atirou-me com esta: “ei furrie você é comando… manga di mau”. 

Sinceramente não me apercebi da sua ligeireza ao detetar no camuflado os dísticos que sempre transportava na farda. Acalmei-a e disse que era na verdade ranger, não comando, mas mau… nunca. Coloquei em solene a minha forma de ser e a cordialidade que sempre marcou a minha amizade para com o próximo. A conversa prolongou-se e às tantas, e num repente, a mulher grande brindou-me com o meu anseio. Ficou a certeza que outros desejos se seguiram. 

De outros encontros pseudo amorosos ressalta também uma visita ao bairro do Pilão, em Bissau. Vagueando entre a imprevisibilidade de ruelas de tabancas nada iluminadas, algumas completamente às escuras, acompanhado de um velho amigo, desafiei o imprevisto e fui ao encontro dos eternos desejos sexuais. Confesso que cheguei a temer a aventura. Passaram por nós homens negros, altos, de túnicas compridas, enfim, silhuetas que a determinada altura nos levaram a duvidar da fartura. Cumprimentávamos e eles, simpaticamente, respondiam. Tudo ok, comentámos. 

O Pilão era um bairro dos subúrbios de Bissau onde a malta da metrópole por norma não passeava. A noite tinha um cunho arrojado. A palavra passava e os tropas arrepiavam caminho. 

Porém, ousei desafiar essa perigosidade e encontrei uma jovem mulher de corpo descomunal, a quem me entreguei por alguns momentos de delírio sexual. Paguei e aventura terminou aí. Nunca mais a vi! 

Concluindo: Porquê escamotear verdades de jovens entregues a elementares gostos sexuais procurando, nalguns casos, tentar passar isento a constrangimentos entretanto criados? Tabu? Ou consequências lógicas dos nossos verdes anos? 

Resenha final: ASSUMAMOS! Deus fez o homem e a mulher e projetou os dois seres com um fim comum: AMAR E… PROCRIAR.




Um abraço deste alentejano de gema,

José Saúde

Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523


Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P11312: Tabanca Grande (391): António Baldé, fula, natural de Contuboel, português, apicultor, pai do Umaro e da Alicinha, ex-1º cabo, CIM, Bolama (1966/69), Pel Caç Nat 56 (São João, 1969/70) e CART 11 (Paunca e Sinchã Queuto, 1970/71), grã-tabanqueiro nº 610

1. António Baldé, fula, nasceu em Contuboel em 1944.  [Foto à esquerda, Alfragide, 27/7/2012]

Foi educado, até aos 12 anos, pelo chefe de posto local, o português José Pereira da Silva, ainda hoje vivo. (Mora em Oeiras, é vizinho da decana do nosso blogue, a dra. Clara Schwarz, mãe do nosso amigo Pepito.)

Fez a 4ª classe e isso abriu-lhe outras portas que outros miúdos da sua tabanca não puderam abrir. Lembra-se bem da serração do Albano, que ainda existia no meu tempo (junho/julho de 1969, quando Contuboel foi Centro de Instrução Militar, donde saíram, de entre outras, as futuras CART 11 e a CCAÇ 12).

Em 1966, foi chamado para a tropa. Fez a recruta e a especialidade no CIM de Bolama. Ficou lá dois anos. Promovido a 1º cabo, de artilharia, foi instrutor. Lá se formaram diversos Pel Caç Nat. Em 1969 é transferido para o Pel Caç Nat 56, sediado em S. João, frente a Bolama.

Em 1969 casou-se. Será o primeiro de quatro casamentos. Teve ou tem 15 filhos, o último dos quais a Alicinha do Cantanhez, filha da nalu Cadi Indjai (1985-2013).

Desse tempo, e do tempo do Pel Caç Nat 56 e 67, lembra-se com saudade dos furriéis Gil e Nuno, que gostaria de voltar a encontrar. Não faz ideia do seu paradeiro. Em São João esteve em 1969/70. 

Será depois transferido para a CART 11, que estava em Paunca. Esteve por lá em 1970/71. O comandante do seu pelotão era o alf mil Matos, que é de Ovar, e com quem ainda hoje convive e fala ao telefone. Já foi a um (ou mais) dos convívios da companhia. Esteve no destacamento de Sinchã Queuto [que eu só localizo a norte de Bafatá, e a sul de Contuboel, no mapa de Bafatá].

Saiu da tropa em finais de 1970 ou princípios de 1971. A mulher tinha ficado em Bolama. Assistiu depois à independência. Não tem boas memórias de Bambadinca desse tempo (teve de assistir a julgamentos populares selvagens e a execuções sumárias, bárbaras, pelo menos de um polícia admimistratibo e de um régulo, "inimigos púbicos nº 1 do PAIGC).  Mas não teve, felizmente para ele,  quaisquer problemas com os novos senhores da Guiné-Bissau. 

Ainda antes da independência tinha começado a trabalhar nos serviços agrícolas da província. Fez formação em floricultura, se não me engano. Foi ele e outros estagiários quem fez o jardim do Bairro da Ajuda, em Bissau, no tempo do administrador Guerra Ribeiro. Depois da independência começou a trabalhar com o engº agr Carlos Scwharz, no DEPA, na região de Tombali. Tem uma grande admiração pelo Pepito e pelo trabalho dele em prol do desenvolvimento da sua terra. (É cofundador, se não erro, e cooperante da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento).

No princípio deste século, veio a Portugal fazer um curso de apicultura, que é hoje a sua grande paixão. Acabou por ficar. Trabalhou como segurança numa empresa de construção, no concelho de Cascais. Entretanto, obteve a nacionalidade portuguesa. Tem um filho, de 13 anos, o Umaro Baldé, que vive com ele e que está a frequentar o 7º ano de escolaridade obrigatória, em Alfragide, e que ser informático.

De momento está desempregado. O seu sonho é voltar a Caboxanque onde tem casa, junto ao rio Cumbijã,  e desenvolver o seu projeto de apicultura no Cantanhez. Mas tem dois filhos pequenos para criar. Muçulmano, vai todas as sextas feiras à mesquita de Lisboa. É um bom crente. É uma homem afável, conhece meio mundo, e pediu-me para ingressar na Tabanca Grande. Está interessado sobretudo em partilhar os seus conhecimentos e a sua paixão como apicultor.


2. Comentário de L.G.:

[Foto à direita: Luís Graça e António Baldé, Alfragide, 27/7/2012]

Conheci o António Baldé, o verão passado, através da Alice Carneiro, minha mulher e nossa grã-tabanqueiro. Na altura escrevi o seguinte, em comentário ao poste P10213:

"A Alice, minha mulher, e nossa grã-tabanqueira, tem uma "afilhada" nalu, a Alicinha do Cantanhez. Aliás, temos. Assumo o meu papel de "padrinho". É amorosa, a filha da Cadi, que ela conheceu no sul da Guiné, em março de 2008. A Cadi é uma rapariga linda, um torrão de açúcar. Já teve um filho que lhe morreu, de paludismo, aos 4 meses. O Nuninho. Escrevi-lhe um poema. Era afilhado da Júlio e do Nuno Rubim.

[[Foto à esquerda: António Baldé e Alice Carneiro, Alfragide, 27/7/2012]

"A Alicinha tem sobrevivido. Conheci há dias o pai, António Baldé, fula, e nosso antigo camarada. Fez a tropa na CCAÇ 11, em Paunca. É natural de Contuboel. Tem 67 anos. Só conhece a filha de fotografia e vídeo. É um pai babado. Vive em Portugal há cerca de 10 anos. Somos nós que lhe damos notícias da mãe e da filha. 

"Tem casa em Caboxanque na margem esquerda do Rio Cumbijã. Um dia prometo ir lá passar umas férias. É apicultor, e quer votar à sua terra. Espantoso, como o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Ele vivia na zona de Cascais, onde era segurança. A empresa fechou, o Baldé está no desemprego. Um advogado, seu amigo, arranjou-lhe casa em Alfragide. Somos, pois, vizinhos de 'tabanca'. Vou vê-lo mais vezes. Só há dias é que o conhecemos. Um homem tranquilo e sábio, que trabalhou com o Pepito muitos anos em projetos agrícolas. Foi assim que esse foi parar ao sul.

"Ajudou-nos agora a fazer sumos com os frutos secos que a Cadi nos mandou, através do nosso amigo Pepito: veludo, cabaceira, alfarroba... Os sumos são uma delícia... Mãe e filha estiveram muito doentes, no princípio do ano. Valeu-lhes a ajuda dos nossos amigos Pepito, Zé Teixeira e Tiago Teixeira a quem deixamos aqui a manifestação pública do nosso agradecimento. Muito em particular, ao Dr. Tiago Teixeira, que tem uma relação especial com o hospital de Cumura, gerido pelos franciscanos. (...)"

Este fim de semana o António Baldé veio cá casa, com o filho,  almoçar. (O Umaro está com o pai desde os 6 anos.) Conversámos longamente. O seu sonho é poder legalizar os papéis do seu casamento (tradicional) com a Cadi e trazer para Portugal a sua filhota, a Alicinha, de 3 anos, agora órfã de mãe.  Não é fácil,  quando se está longe e é preciso vencer uma dupla barreira burocrática, a do seu  país de origem (a Guiné-Bissau) e a do seu país de adoção (Portugal).

Pois, bem, António, passas a ser o grã-tabanqueiro (quer dizer,  membro da nossa Tabanca Grande) nº 610. Vais ter oportunidade de me contar mais histórias o teu tempo de Guiné e de tropa. Espero que Alá te ajude a concretizar os teus sonhos, de pai e de apicultor. Da nossa parte, já sabes, tens aqui uma Tabanca Grande, cheia de amigos e camaradas... Sê bem vindo!
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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11249: Tabanca Grande (390): Ismael Augusto (ex-alf mil manut, CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70), novo grã-tabanqueiro, nº 609