quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13944: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XVIII: jullho de 1973: (i) mais um ataque, no Rio Geba Estreito, em São Belchior, a seguir ao Mato Cão, à uma embarcação civil, a "Manuel Barbosa"; (ii) colocação, em Bambadinca, da CCAÇ 21, como unidade de intervenção do CAOP2, comandado por Abdulai Jamanca; (iii) pemetração na mítica mata do Fiofioli.


Guiné >  Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > Rio Geba > c. 1968 >  Passagem de um barco civil, a caminho de Bambadinca, através do Rio Geba Estreito.  Fotos Falantes II, álbum do Torcato Mendonca. alf mil art, CART 2339 (Mansambo, 1968/69).

Foto: ©  Torcato Mendonça  (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]




1. Continuação da publicação da História do BART 3873 (que esteve colocado na zona leste, no Setor L1, Bambadinca, 1972/74), a partir e cópia digitalizada da História da Unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte (*)

[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, a Companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e não como voluntário, como por lapso incialmente  indicamos); economista, bancário reformado, formador; foto atual à esquerda].


O destaque do mês de julho de 1973 (pp. 61/63) vai para:

(i)  o ataque, no Rio Geba Estreito, em São Belchior, a seguir ao Mato Cão, à embarcação "Manuel Barbosa" (, ligada a uma comercial de Bissau, se não erro); o barco, civil,conseguiu chegar a Bambadinca com um ferido;

(ii) a colocação, em Bambadinca, da CCAÇ 21, como unidade de intervenção do CAOP2; era inteiramente composta por quadros e praças do recrutamento local, sendo comandada pelo cap cmd graduado Jamanca;

(iii) a CCAÇ 21 entra na zona de Mina / Fiofioli.


Jullho de 1973: (i) mais um ataque, no Rio Geba Estreito, em São Belchior, a seguir ao Mato Cão, à uma embarcação civil, a  "Manuel Barbosa"; (ii) colocação, em Bambadinca, da CCAÇ 21, como unidade de intervenção do CAOP2, comandado por Abdulai Jamanca; e (iii) as NT penetram na mítica mata do Fiofioli

Guiné 63/74 - P13943: Parabéns a você (821): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art da CART 2412 (Guiné, 1968/70) e Manuel Lima Santos, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3476 (Guiné, 1971/73)


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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13935: Parabéns a você (820): Abel Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742 (Guiné, 1967/69) e António Levezinho, ex-Fur Mil da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71)

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13942: (Ex)citações (251): Comentário ao artigo "Guiné, Guileje e o desnorte do reino" publicado em O Adamastor (3) (Coutinho e Lima)

1. Segunda parte do comentário feito pelo nosso camarada Alexandre Coutinho e Lima, Coronel de Art.ª Reformado (ex-Cap Art.ª, CMDT da CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné entre 1968 e 1970 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73), ao artigo "Guiné, Guileje e o desnorte do reino" publicado no Blogue "O Adamastor":


2.ª Parte do Comentário ao artigo
"Guiné, Guileje e o desnorte do reino" (1)

Continuando o comentário(*) ao artigo em epígrafe, do Sr. Ten. Cor. (TC) Brandão Ferreira (BD), vou agora analisar o que escreveu sobre as actuações do PAIGC em Guidage e Gadamael, bem como comparar o comportamento do Comando Chefe (COMCHEFE) no reforço a estas duas localidades e a Guileje. Indicarei ainda documentos que comprovam que o COMCHEFE soube, com antecedência, as intenções do PAIGC, relativamente a Guileje. Analisarei também, através de alguns extractos, a Acta da Reunião de Comandos realizada, m Bissau, em 15MAI73.

Sobre Guidage, o Sr. TC BD afirma:

“Guidage começou a ser atacada em 8 de Maio e esteve cercada e debaixo de fogo, constante, durante um mês.
Foram organizadas várias colunas de reabastecimento que foram duramente atacadas e, finalmente conseguiu-se reforçar a guarnição com uma companhia de paraquedistas. No entretanto montou-se uma grande operação que envolveu a totalidade dos efectivos do Batalhão de Comandos Africanos, sobre a base de Cumbamori, que apoiava as forças do PAIGC.
Durante este período as NT sofreram 47 mortos e mais de uma centena de feridos.”

Tal como sucedeu, no que respeita a Guileje, esta narrativa está muito incompleta.
Porque não estive em Guidage, nem tão pouco conheci aquela guarnição, socorro-me de um documento elaborado pela Repartição de Operações (REP/OPER) do COMCHE-FE, com o título:

“SITUAÇÃOEM GUIDAGE NO PERÍODO DE 08MAI73 A 13JUN73”.

Da análise desse documento, salienta-se:

"A hora tardia a que foi iniciada, em 08MAI73 (15 horas), a coluna de reabastecimento FARIM-GUIDAGE, o que teve como consequência a retenção da coluna, em virtude do accionamento de uma mina anti-carro, obrigando o pessoal a pernoitar no local.

O forte ataque à coluna, na noite de 08/09MAI 73.
O regresso da coluna a BINTA (tinha partido de FARIM), deixando no local 4 viaturas que, a pedido, foram destruídas pela Força Aérea; as Nossas Tropas sofreram, nestes incidentes, 4 Mortos e 30 Feridos, tendo provocado ao Inimigo 13 Mortos e elevado número de Feridos.

A realização em 10MAI73 (início às 05h00 horas) de uma nova coluna de reabastecimento BINTA-GUIDAGE, sob o Comando do Comandante do BCAÇ 4512 (FARIM).
Relativamente a colunas de reabastecimento, foram iniciadas 7 e atingiram Guidage 5, tendo as Nossas Tropas sofrido 22 Mortos e 70 Feridos; foram destruídas ou danificadas 6 viaturas. Quanto aos efectivos presentes em Guidage, no período indicado (08MAI/13JUN73), no primeiro dia (08MAI) a guarnição foi reforçada com 2 grupos de combate da CCAÇ 3 e depois com os Destacamentos de Fuzileiros 1 e 4, Companhia de Para-quedistas 121 e outras forças.

A operação, iniciada em 290530MAI73, de abertura do itinerário BINTA-GUIDAGE, reabastecimento e apoio da guarnição de GUIDAGE, envolvendo grandes efectivos, incluindo, entre outros, a 38.ª Companhia de Comandos, a Companhia de Para-quedistas 121 e os Destacamentos de Fuzileiros 1 e 4.

O Apoio Aéreo efectuado em 8, 9, 10, 13, 14, 18 e 19MAI73.

A realização da Operação AMETISTA REAL, levada a efeito pelo Batalhão de Comandos Africanos, com forte apoio da Força Aérea, que praticamente nela empenhou todos os seus meios: 4 helicópteros (para evacuações) e um helicóptero armado; aviões de ataque FIAT G-91, 4 Aviões DORNIER de Comando e Controlo da Operação; esta realizou-se de 17 a 21 MAI73 e a missão consistia em aniquilar ou, no mínimo, desarticular os elementos Inimigos na zona, nomeadamente a base inimiga de CUMBAMORY (Rep. do Senegal). Os resultados globais da Operação foram os seguintes: causados 67 Mortos ao Inimigo, bem como bastantes baixas prováveis provocadas pelo bombardeamento da Força Aérea; destruição de uma enorme quantidade de material e capturado diverso armamento; as Nossas Tropas sofreram 10 Mortos, 22 Feridos e 3 Desaparecidos.”

A transcrição do documento da REP/OPER, merece-me o seguinte comentário:
- A hora tardia a que foi iniciada (15 horas) a coluna do dia 08MAI73; não sei a razão por que tal aconteceu; em Guileje, tal não teria sucedido.
- O reforço efectuado à guarnição de Guidage, logo no primeiro dia (08MAI73) refere-se que as guarnições de Binta e Ganturé (onde se encontravam os Destacamentos dos Fuzileiros), pertenciam ao Comando do COP 3 (com sede em Bigene); por esse facto o Comte do COP 3 fez a manobra de meios que entendeu.

- A realização da coluna de 08MAI73, a partir de Farim, sede do BCAÇ 4512 (portanto não pertencente ao COP 3).
- A coluna do dia 10MAI73 (Binta- Guidage), foi comandada pelo Comte. do BCAÇ 4512, por determinação do COMCHEFE (mensagem RELÂMPAGO da REP/OPER do dia 9 MAI 73, às 21H30).
- O empenhamento de praticamente todos os meios da Força Aérea (sabendo o COMCHEFE, a partir de 18MAI73, que Guileje estava também sujeito à acção do IN), no apoio à Operação Ametista Real (17/21MAI73); penso que foi por este facto que o pedido de apoio aéreo, após a emboscada da manhã do dia 18MAI73, em Guileje, não foi satisfeito; a justificação que nos foi dada referiu que as condições atmosféricas não o permitiram; no entanto, não foi isso que constatámos, em Guileje. E não falo nas evacuações, pedidas e não satisfeitas, nesse mesmo dia 08MAI, que de qualquer maneira, nunca seriam feitas. Este assunto das evacuações já foi referido na 1.ª Parte.

“Guidage começou… e esteve cercada e debaixo de fogo constante, durante um mês.”

Repito que não estive em Guidage; dos elementos de que disponho (seguramente são mais do que os do Sr. TC BF), considero que é muitíssimo exagerada a afirmação de que esteve “debaixo de fogo constante, durante um mês”.

Consultando o Google, pode ler-se, sob o título “Guiné – O inferno dos três Gs: Guidage, Guileje e Gadamael” da autoria de Aniceto Afonso, com a data de 26 de Maio de 2012:

“Nos cerca de 20 dias que ficou cercada esteve sujeita a 43 ataques de foguetões de 122mm, artilharia e morteiros.”

Ora entre 43 ataques em 20 dias e “debaixo de fogo constante, durante um mês”, é uma enormíssima diferença. Guileje sofreu 37 flagelações, (com grande predominância de Morteiro 120 mm), em 80 horas. Não quero, de maneira nenhuma, menorizar a acção do PAIGC sobre Guidage, que, seguramente, foi muito intensa e prolongada.

Outra interrogação do Sr. TC BD:

“Que se terá passado então, para que o Comandante de Guileje tivesse apenas resistido quatro dias - com mais meios do que o seu camarada de Guidage - o TCor Correia de Campos, que se veio a revelar um valoroso Comte. - que chegou a estar no limite das munições e dos víveres?”

Vamos por partes.

“…com mais meios do que o seu camarada de Guidage…”

Quando me despedi do Sr. Comandante-Chefe, antes de seguir para Guileje, este disse-me que qualquer dia me ia fazer uma visita, que não pedisse reforços e que fizesse a manobra de meios que entendesse.
Porque o Subsector de Guileje era aquele em que devia ser feito o esforço principal, conforme decorria da MISSÃO, havia que proceder ao reforço da guarnição, o que fiz no dia em que lá cheguei - 22JAN73, tendo determinado que fossem deslocados para Guileje:
- 1 Grupo de Combate da CCAÇ 3520 (a Companhia tinha a sede em Cacine e um destacamento em Cameconde).
- Pelotão de Reconhecimento Fox (incompleto), que estava em Gadamael.
- Pelotão de Milícia 236, de Gadamael.

Foi esta a manobra de meios que entendi fazer.

O Sr. TCor Correia de Campos, que eu muito admirava e que antes de comandar o COP 3, em Guidage, já tinha dado provas de um valoroso combatente (não foi lá que se revelou), ao decidir não reforçar Guidage, teve as suas razões, talvez porque em caso de necessidade, tinha a certeza de poder contar com o apoio incondicional do COMCHEFE, como se veio a verificar.
Foi esta a única razão porque em Guileje havia mais meios que em Guidage; ainda bem que eu tinha reforçado a guarnição, em devido tempo, porque se estivesse à espera de reforços promovidos pelo Escalão Superior, bem podia “esperar sentado”.

“…chegou a estar no limite das munições e dos víveres.”

Relativamente à escassez de munições, o Comte do COP 3 (Sr. TC Correia de Campos), enviou, em 08MAI73, às 15h25, a seguinte mensagem RELÂMPAGO:

“GUIDAGE ENCONTRA-SE SEM MUNIÇÕES OBUS 10,5 MORT 81 E POUCAS 7,62. SOLICITO ENVIO MUITO URGENTE REFERIDAS MUNIÇÕES:”

O reabastecimento foi feito, na tarde desse mesmo dia, por 5 helicópteros para Bigene, transportando 150 granadas de Morteiro 81 e 30.000 cartuchos de 7,62 e por um avião NORD ATLAS para Farim, levando 92 granadas de Obus 10,5 cm e 12.000 cartu-chos 7,62.

No que diz respeito à escassez de víveres, não tenho nenhum conhecimento, nem vi nada escrito sobre o assunto.

Reportando-me à falta de munições, não se compreende muito bem que, no primeiro dia do ataque inimigo, tal tenha acontecido, mas certamente que houve motivo para que isso se verificasse. Talvez o facto de, maioritariamente, a guarnição ser constituída por pessoal nativo, seja uma eventual explicação.
Mais uma vez constato que, a verificar-se uma situação análoga em Guileje (o que era muitíssimo difícil acontecer), igualmente poderíamos “esperar sentados”, porque ninguém nos socorreria.

“Que se terá passado então, para que o Comandante de Guileje tivesse apenas resistido quatro dias…”

Chegámos ao cerne da questão.
Depois das diligências que entendi promover, amplamente descritas na 1.ª Parte deste comentário, que culminaram com o meu encontro, em Bissau, com o Sr. General Comandante Chefe, cuja decisão também já foi divulgada, regressei a Guileje, “com uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma”, como sói dizer-se.

Quando cheguei a Guileje, no final da tarde do dia 21MAI73, a situação encontrada foi a seguinte:

- Destruição total do Centro de Comunicações, incluindo todas as antenas.
- Existência de 1 Morto (Furriel Miliciano), provocado na flagelação dessa tarde.
- Estavam destruídas, como consequência das variadíssimas flagelações: cozinha, dois depósitos de géneros, depósito de artigos de cantina, forno, celeiros de arroz (ainda ardiam) e grande parte das palhotas da população.
- Muitos impactos nas valas.
- Varadíssimos rebentamentos (da ordem das centenas) dentro do aquartelamento.
- Falta de água potável, já referida.
- Escassez de munições de Artilharia, já descrita.
- Presença do In, do lado de Mejo (Este), com a primeira actuação nessa tarde.
- Toda a população estava recolhida nos abrigos da tropa, desde a primeira flagelação; a lotação dos abrigos tinha triplicado, o que, além de dificultar o movimento dos militares, fazia com que a habitabilidade fosse praticamente insuportável.
- Desde o dia 19, inclusive, a alimentação passou a ser ração de combate.
- Todo o pessoal estava arrasadíssimo, quer física, quer psicologicamente, pois as flagelações mantinham-se durante 3 dias e noites.

Depois de me inteirar das circunstâncias encontradas, fiz um estudo mental da situação, considerando os seguintes factores:

1 - Forte pressão do Inimigo, que se iria manter e, com grande probabilidade, seria cada vez maior. A Repartição de Informações do COMCHEFE tinha enviada no dia 20MAI (19H00), uma mensagem, com o seguinte texto: “NOT A2 REFERE EFECTIVOS 3.º CE MATA MEJO. AMMITE-SE POSSIBILIDADE MESMOS VIREM ACTUAR SOBRE ESSA.”
2 - Não atribuição de reforços
Com a decisão do Sr. Comandante-Chefe de me negar qualquer reforço, considerei insustentável permanecer em Guileje.
3 - Não evacuação de feridos
4 - Escassez de munições, especialmente de Artilharia
5 - Falta de água no aquartelamento
6 - Defesa da população

Na Missão atribuída ao COP 5, consta:

“Assegura a defesa eficiente dos aglomerados populacionais ocupados pelas NT…”

Nas circunstâncias presentes, não tinha condições para garantir “a defesa eficiente” da população.

7 - Destruição do Centro de Comunicações
8 - Novo Comandante do COP 5

Não me foi comunicado quando o novo Comandante do COP 5 - Sr. Coronel Durão, assumiria as suas funções. Mesmo quando isso se verificasse, a situação não melhora-ria muito, porque: - não viria acompanhado de reforços;
- não solucionaria o problema da água;
- não faria chegar a Guileje as munições de Artilharia;
- não garantiria a evacuação de feridos.

9 - Previsão do futuro, a muito curto prazo

A minha previsão era que o In, no dia seguinte - 22MAI, tivesse completado o cerco ao quartel, do lado de Mejo, com os efectivo do seu 3.º Corpo de Exército, que tinham sido deslocados para o efeito, no dia 20MAI.

Conjugando todos estes factores e ainda o facto de que a existência de um ferido, não impedia a retirada (se tivéssemos mais feridos, seria incomportável o seu transporte), decidi efectuar a retirada às primeiras horas do dia 22MAI, tirando partido do efeito de SURPRESA.
Estou absolutamente convencido, pela razão apontada atrás, que a retirada foi efectuada na altura correcta; passado mais um dia, o PAIGC teria impedido a nossa saída.

Posso agora responder à questão do Sr. TC BF, qual foi a que só tivesse resistido 4 dias.

A razão determinante foi a não atribuição de REFORÇOS, sem os quais, além dos factores indicados, não tínhamos condições para resistir mais tempo.

E não se argumente que, com a chegada do novo Comandante, os reforços também viriam. Havia forte probabilidade de o Sr. Coronel Durão, na sua deslocação de Gadamael para Guileje, ser interceptado pelo In, impedindo-o de chegar ao seu destino.
Não cabe no âmbito deste comentário fazer uma reflexão sobre o que teria acontecido se não tivesse acontecido a retirada. Não deixarei de a fazer, quando considerar oportuno.

Vou agora analisar a situação de GADAMAEL, começando por transcrever o que o Sr. TC BF escreveu:

“…e nada justificava o seu abandono tão prematuro, que veio a causar algum pânico em Gadamael Porto e poderia colapsar - por efeito de dominó - todo o dispositivo junto à fronteira.
As forças do PAIGC reagruparam-se então em torno de Gadamael e atacaram-na fortemente, tendo a situação sido resolvida rapidamente por tropas paraquedistas, enviadas de reforço.”

Antes de mais nada, não me considero, directa ou indirectamente, minimamente responsável pelo que aconteceu em Gadamael.
Quando a coluna retirada de Guileje, no início da tarde do dia 22MAI, chegou a Gadamael, já lá se encontrava o Sr. Coronel Durão (chegara nessa manhã de helicóptero), que passou a ser o novo Comandante do COP 5.

Importa agora referir parte das declarações do Sr. Coronel Durão, quando ouvido como testemunha, no âmbito do processo que me foi instaurado.

“4ª. Pergunta
Dada a sua experiência de combate, o moral das unidades que abandonaram Guileje, dada a sequência dos factos ocorridos de 18 a 21MAI73 e a decisão final adoptada, podia ter afectado estas profundamente e prejudicá-las quando empenhadas em futuras operações?

Resposta
Em minha opinião, por tê-las contactado em GADAMAEL durante cerca de 10 dias, aquelas tropas estão afectadas de tal modo que só dificilmente poderão ser mentalizadas ou recuperadas para acções de combate em que o Inimigo se mostre forte e determinado; verifiquei que no contacto com o Inimigo à distância de quilómetros do aquartelamento de GADAMAEL, os postos de armas ligeiras, de vigilância, disparavam as armas e a maioria dos militares metia-se dentro das trincheiras e abrigos; o estado psicológico do pessoal da Companhia de GUILEJE parece ter transtornado, no mesmo sentido, o pessoal de GADAMAEL; mas que, no aspecto de contactos no exterior do aquartelamento, a conduta dos mesmos parecia quase normal em relação às restantes unidades não especiais.”

No processo foi também ouvido o Sr. Alf. Mil. Médico Antunes Ferreira. Transcrevem-se as suas declarações:

“1ª. Pergunta
Estava em serviço na guarnição de Gadamael, em 22MAI73?

Resposta
Estava.

2ª. Pergunta 
Na sua qualidade de médico, pode descrever todos os factos e observações que permitam conhecer o estado moral e físico do pessoal da guarnição de Guileje, após a retirada, na noite de 21/22 MAI? 

Resposta
O que observei no pessoal da guarnição de Guileje consistia, fundamentalmente, em síndromas de esgotamento físico e psíquico em cerca de 100 indivíduos, sendo os mesmos extremamente marcados na maioria; epigastralgias em várias dezenas de indivíduos, podendo estimar-se em 50% da guarnição, relatando a maioria ingestão alimentar deficientíssima nos dias imediatamente anteriores; síndromas disentéricos em cerca de quatro dezenas de indivíduos; otalgias em várias dezenas, feridas e flictemas dos pés na quase totalidade do pessoal, assim como cãibras dos membros inferiores, em cerca de quatro dezenas de indivíduos. Analisando os síndromas observados em todo o pessoal da guarnição de Guileje, pude verificar que os oficiais e sargentos tinham uma vivência mais profunda e intelectualizada dos acontecimentos; não observei em nenhum momento qualquer situação que pudesse ser diagnosticada como reacção de pânico. Julgo ainda referir que, tentando averiguar, no desempenho das minhas atribuições, a etiologia de grande número de situações psíquicas observadas, me foi referido pela maior parte dos indivíduos que, entre as vicissitudes sofridas nos últimos dias, havia um factor de insegurança decorrente da quase certeza de inexistência de evacuação rápida, em caso de ferimentos graves.”

(Continua)
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Notas do editor

(*) Vd. postes de

27 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13804: (Ex)citações (243): Comentário ao artigo "Guiné, Guileje e o desnorte do reino" publicado em O Adamastor (1) (Coutinho e Lima)
e
27 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13808: (Ex)citações (244): Comentário ao artigo "Guiné, Guileje e o desnorte do reino" publicado em O Adamastor (2) (Coutinho e Lima)

Último poste da série de 21 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13924: (Ex)citações (250): a autogrua Galion e o cais de Bambadinca, quatro anos depois, em novembro de 1973

Guiné 63/74 - P13941: Manuscrito(s) (Luís Graça) (51) O Mundo é Pequeno e o Alentejo... é Grande: pois que viva o Cante!



Vídeo (1' 28''). Alojado em You Tube > Nhabijoes

Portugal Agro, Feira Internacional das Regiões, da Agricultura e do Agroalimentar, FIL - Feira Internacional de Lisboa,. Parque das Nações, Lisboa, 20-23 nov 2014 > Atuação, sábado, 22, do Grupo Coral e Etnográfico "Os Camponeses de Pias", de Pias, Serpa. Vídeo Luís Graça (2014)


1. Parece ser já amanhã, em Paris, que o cante alentejano poderá vir a figurar, de pleno direito, na lista de Património Cultural Imaterial da Humanidade.

No passado mês, no dia 27, foi entregue o parecer favorável de uma comissão internacional de especialistas da UNESCO. Tratava.se de um reunião prévia aos trabalhos do Comité do Património Imaterial da Humanidade, que está reunido em Paris, entre 24 e 27 deste mês,  e donde sairá a decisão final. A candidatura portuguesa foi considerada exemplar. As expetativas são muito altas.

Eu, pessoalmente, torço para que tudo corra bem na reta final. Amanhã serei alentejano e português. Não por chauvinismo, mas porque gosto do cante alentejano e me emociono a ouvi-lo, onde quer seja. O Mundo é Pequeno e o Alentejo... é Grande!

E a propósito do Cante, fico a saber que há 150 grupos corais e 3 mil cantantes, entre homens (mairotariamente) e mulheres, do Cante Alentejano.

O que é o cante ?

(...) "É um canto coral, em que alternam um ponto a sós e um coro, havendo um alto preenchendo as pausas e rematando as estrofes. O canto começa invariavelmente com um ponto dando a deixa, cedendo o lugar ao alto e logo intervindo o coro em que participam também o ponto e oalto. Terminadas as estrofes, pode o ponto recomeçar com um nova deixa, seguindo-se o mesmo conjunto de estrofes. Este ciclo repete-se o número de vezes que os participantes desejarem. Esta característica repetitiva, assim como o andamento lento e a abundância de pausas contribuem para a natureza monótona do cante."  (...) (Fonte: Wikipédia).

A sua origem histórica não é consensual.

(...) "Curiosamente, apesar de o cante alentejano ser uma expressão de mais arreigada implantação no Baixo Alentejo, o antropólogo Paulo Lima, director da Casa do Cante de Serpa e primeiro responsável pela candidatura desta forma musical a Património Cultural Imaterial da Humanidade atribuído pela UNESCO, conta-nos que "a referência mais antiga data de cerca de 1880 e encontra-se nas posturas da Câmara Municipal de Portel" (no Alto Alentejo). Curiosidade número dois: trata-se de "uma proibição de cantar nas tabernas em coro". Lima refere ainda outros registos pioneiros, como a fundação, em 1907, de um orfeão em Serpa e, igualmente na mesma cidade, a existência dos mais antigos registos sonoros, "em disco e em bobine", datados da década de 1930. (..:)

Quanto à origem, seguramente remota do cante...

(...) "As teorias dividem-se entre a sua génese na música gregoriana e nos cantos polifónicos sacros medievais, e aquelas que defendem como ponto de partida a música árabe. Ou, possivelmente, um encontro destes mundos, moldado pelo povo. Este é um dos pontos em que a catalogação e disponibilização do muito material publicado disperso que a Casa do Cante de Serpa está a coligir poderá ajudar a apontar caminhos." (...) (Fonte: Público).

Caros leitores, se tiverem oportunidade de ver não percam o documentário “Alentejo, Alentejo” , do português Sérgio Tréfaut, (que é de origem alentejana, do lado do pai, e francesa, do lado do pai, tendo nascido em São Paulo, Brasil, em 1965). O filme  foi distinguido como a Melhor Longa-metragem Portuguesa pelo IndieLisboa 2014. "O filme que também se inseriu na candidatura do cante alentejano a património da humanidade, mostrou a qualidade deste processo, disse na altura à Voz da Planície Paulo Lima, presidente da Casa do Cante e um dos elementos envolvidos na candidatura." (Fonte: Voz da Planície).


2. Portugal aderiu à UNESCO em 1965, retirou-se desta organização internacional em 1972 (por causa da questão colonial) e reingressou em 11 de setembro de 1974. Criou a sua Comissão Nacional em 1979 (Decreto-Lei Nº218/79 de 17 de julho),  sob a égide do Ministério dos Negócios Estrangeiros, onde se encontra sedeada. Portugal foi membro do Conselho Executivo de 2007 a 2009. Integrou em 1999/2005 e integra hoje (2013 - 2017) o comité do Património Mundial.

Algumas datas relevantes para o nosso país: (i) em 2008, Maria de Medeiros foi designada Artista da UNESCO para a Paz;  (ii) o dr. Mário Soares preside ao Prémio UNESCO Houphouët-Boigny para a Cultura da Paz;  (iii) em 2012, Jorge Molder doou a fotografia "A interpretação dos sonhos" à UNESCO;  (iv) todos os anos, no mês de maio, é celebrado o Dia da Língua Portuguesa; (v) em 2011, o fado foi classificado pela UNESCO como "património imaterial da humanidade"...



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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13922: Manuscrito(s) (Luís Graça) (50): O tempo que faz em Imbecilburgo

Guiné 63/74 - P13940: Lembrete (9): Convívo de Novembro, e de Natal, da Tabanca do Centro, dia 28 de Novembro de 2014 em Monte Real

1. Lembrete para o Convívo de Novembro, e simultaneamente de Natal, da Tabanca do Centro, a realizar já no próximo dia 28 de Novembro em Monte Real.


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Nota do editor

Último poste da série de 27 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13809: Lembrete (8): A apresentação do livro "O Corredor da Morte", de autoria do nosso camarada Mário Vitorino Gaspar é já amanhã, pelas 15h00, no Auditório Jorge Maurício da Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA), no Edifício ADFA, na Avenida Padre Cruz, em Lisboa

Guiné 63/74 - P13939: Fotos à procura... de uma legenda (44): na Tasca do Zé Maria, na Bambadinca ribeirinha, comendo lagostins do Rio Geba Estreito... Na foto, Humberto Reis, Tony Levezinho e José António Rodrigues (já falecido)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > Tasca do Zé Maria >  Um  dos nossos poucos luxos no mato... Os famosos lagostins do Rio Geba Estreito... Da direita para a esquerda, três camaradas da CCAÇ 12 (1969/71) Humberto Reis, Tony Levezinho (que ontem fez aninhos...) e o José António G. Rodrigues.. Penso que fui quem tirou esta foto com a máquina do Humberto Reis...

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


 1. Em matéria de comes & bebes..., quanto custava um quilo de camarões tigres, ou lagostins,  do Rio Geba Estreito, comidos na tasca do tuga Zé Maria a quem a malta chamava turra (por alegadamente  vender e comprar vacas aos turras), em Bambadinca, com uma linda vista para o rio.... ?

(i) custava cinquenta pesos um quilo de lagostins (, caríssimo, por ser arriscado o sítio onde os apanhavam);

(ii) com uma nota de 100 pesos, o tuga comprava duas garrafas de uísque novo e ainda lhe sobravam uns trocos;

(iii) o Old Parr (uísque velho, muito apreciado pelo tuga) já custava mais: 130 ou até 150 pesos, se não me engano:

(iv) um bife com batatas fritas e ovo a cavalo (supremo luxo de um operacional  da CCAÇ 12, preto de 1ª, como eu, o Tony Levezinho ou o Humberto Reis) na Transmontana, em Bafatá,  custava vinte a vinte e cinco pesos, com bebidas incluídas;

 (v) uma vaca raquítica, em Sonaco, comprava-se por 950 pesos;

(vi) nas tabancas, fulas, por onde passávamos e onde ficávamos uma semana ou mais, de cada vez, em reforço do sistema de autodefesa, era costume comprar, mesmo a custo, galinhas e frangos, a sete pesos e meio por bico;

(vii) um parto de  ostras em Bissau custava 20 pesos... 

...Legendas, aceitam-se!

Tudo isto um pretexto para homenagear o meu "amigo para a vida" e camarada da CCAÇ 12, o Tony Levezinho, que aparece ali na foto, na Tasca do Zé Maria, a banquetear-se com os famosos lagostins do Rio Geba estreitto... Tem à sua frente o alf mil Rordirguies, do 4º Gr Comb, já falecido... E à direita, da foto, o Humberto Reis.

Para os dois que ainda estão vivos da costa, vai um xicoração fraterno. LG

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Nota do editor:

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13938: Consultório militar, de José Martins (11): Quem foi o alf mil Linhares de Almeida, da CCAÇ 1547, morto em combate em 1/4/1967, e condecorado, a título póstumo, com a cruz de guerra de 2ª classe ?




Guiné >Bissau > s/d> Placa toponímica > Rua Alferes Linhares de Almeida... >  Foto comprada na Feira da Ladra, em Lisboa, pelo nosso camarada e colaborador permanente Mário Beja Santos.

(...)"E acontece mesmo, há para ali uma chusma de fotografias que diz Foto Iris, Bissau. Mexo e remexo, não encontro fio condutor, terá sido seguramente alguém que andou entre a Guiné e Cabo Verde, encontrei fotografias do porto de Mindelo, S. Vicente, bem bonitas por sinal. Não chove, pus mais um plástico e ali ponho os joelhos, para contemplar demoradamente as fotografias. Escolho três de que gostei muito, não sei explicar porquê. Talvez no Google encontrasse referências a esta CCAÇ 1547, a que pertenceu o alferes Linhares de Almeida, morto em combate em 1 de Abril de 1967. O Zé Martins que descalce a bota, ele é que é o estudioso e conte como foi. Outro bico-de-obra é saber onde é que estava esta rua, num muro enegrecido de onde brota capim: será Bissau? Quem se recordar faça o favor de me explicar aonde estava esta rua. " (...) (Excerto do poste P13870 )(*).


.Foto: © Mário Beja Santos (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Resposta do José Martins [ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70, TOC reformado, residente em Odivelas]. no âmbito do seu "consultório militar" (**):

Pela mão do Mário Beja Santos, surge a pergunta de quem é o “Alferes Linhares de Almeida” que dá o nome a uma rua que, julga-se, ser em Bissau.

A entidade que poderia dar resposta a esta pergunta, “quem e porquê”, já não existe, pois seria a Câmara Municipal de Bissau, entidade que detem/detinha a função de aprovar a atribuição de nomes aos arruamentos e praças.

Com a leitura do registo mencionado no 8º Volume – Tomo II – Livro 1 – MORTOS EM CAMPANHA – página página 252, da CECA, passamos a saber que Carlos Manuel Sousa LINHARES DE ALMEIDA, filho de Luciano Ribeiro de Almeida e de Maria do Céu Linhares Ribeiro de Almeida nasceu na freguesia de Nossa Senhora da Candelária, concelho de Bissau.

Para informações mais detalhadas, teriamos que pedir autorização, ao Arquivo Geral do Exército, para consultar o seu processo individual. Porém, caso ainda não terem decorrido 50 anos sobre o acontecimento, só seria possivel se um familiar directo o autorizasse.

Não está indicada a data de nascimento, Porém, dado ter-lhe sido atribuido, militarmente, o número 27/63, terá nascido em 1942. O seu nascimento naquela então Província Ultramarina Portuguesa, poder-se-á relacionar com algum cargo, civil ou militar, que o pai tivesse naquela possessão.

Foi mobilizado pelo Regimento de Infantaria nº 1, aquartelada na Amadora, para fazer parte da Companhia de Caçadores nº 1547 / Batalhão de Caçadores nº 1887. Da ficha da unidade (7º Volume – Tomo II – Guiné – Página 83 e seguintes), respigamos que a unidade embarcou para a Guiné em 7 de Maio de 1966, tendo chegado a 13 desse mês.

A unidade seguiu para Fá Mandinga para efectuar o IAO e ficar como unidade de intervenção e reserva do Batalhão de Caçadores nº 1888, tendo efectuado operações no Xitole e no baixo Corubal.

Entre finais de Maio de 1966 e principios de Junho de 1966, foi deslocada para Nova Lamego, para realização de uma operação na região de Pataque e outras.

Em Setembro é transferida para Bula, para executar uma operação da região de Jol, na dependência do Batalhão de Cavalaria nº 790.

Em Setembro de 1967, a Companhia de Caçadores nº 1547, é colocada em Bigene, com a responsabilidade do respectivo sector e com um pelotão destacado em Barro, ficando na dependência do seu batalhão.

Rendida no sector de Bigene, passa para Bissau em 2 de Novembro de 1967, sendo por missão a a segurança e protecção das instalações e das populações da área.

A unidade regressou á metrópole em 25 de Janeiro de 1968.

Voltando à “ficha de óbito” do nosso camarada Carlos Linhares de Almeida, constatamos que foi ferido em combate na transposição do rio Talicó, no regresso a Bigene. Como local do óbito é indicado o Hospital Militar de Bissau, o que demonstra que foi evacuado do local de combate, dando como data do falecimento a 1 de Abril de 1967.

Quanto ao local de inumação – Cemitério da Praia do Ribatejo, leva-nos a especular que a família seria oriunda daquela zona ou ali teria fixado residência.

Pela consulta dos registos constantes da página de Ultramar.terraweb, baseada nos livros da CECA que regista as condecorações atribuídas e os louvores que deram origem às mesmas, de todos os Teatros de Operação, verificamos que o camarada em questão foi louvado e foi-lhe atribuída, a título póstumo, uma Cruz de Guerra de 2ª Classe, por feitos em 1 de Abril de 1967. Pela coincidência de datas da acção em que foi distinguido e a data do óbito, somos levados a crer que, apesar de ter sido evacuado, não obstou sucumbir aos ferimentos em pouco tempo. O registo dos termos de atribuição da condecoração, pode ser visto do 5º Volume – Livro IV – Página 422, e o facto foi publicado na Ordem do Exército nº 18 – 2ª sério de 1967.
José Marcelino Martins
23 de Novembro de 2014

2. Nota do editor L.G.:

Há um Carlos Linhares de Almeida, "Juca", "irmã do Banana", identificado n uma foto do Grupo do Liceu Honório Barreto, sem data, e da autoria de Armanmdo Grego Ferreira, Jr. Está assinalado como o nº 2  na foto de grupo. Disponível no blogue NhaGente.


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Guiné 63/74 - P13937: Notas de leitura (653): “Navios com o nome Guiné”, da autoria do Capitão-de-Mar-e-Guerra Carlos Gomes de Amorim Loureiro (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Agosto de 2014:

Queridos amigos,
Graças ao nosso confrade Carlos Pedreño Ferreira, tive agora acesso a algumas pérolas verdadeiras e dou-vos notícia desta.
Nunca vi nenhuma embarcação na Guiné com tal nome e fica aqui um pouco da história dos navios com tal nome.
Vou bater à porta da Revista da Armada e de alguns investigadores, talvez eles saibam se houve navios com o nome Guiné depois dos anos 1960.

Um abraço do
Mário


Navios com o nome “Guiné” 

Beja Santos 

Em edição de autor datada de 1947, o Capitão-de-Mar-e-Guerra Carlos Gomes de Amorim Loureiro dava à estampa um conjunto de elementos compilados no ano do V Centenário da Guiné. Entende discretear um pouco sobre a história da região e faz uma observação que é extremamente útil para todos aqueles que ainda se sentem confundidos acerca das razões porque no passado a Guiné era conhecida por Senegâmbia: “Constitui a Guiné Portuguesa uma pequena parcela de outrora que, sem remontar à sua primitiva extensão que ia desde o Senegal até às cercanias do rio Orange, compreende, na era atual, a Senegâmbia, a Gâmbia, a Guiné, a Guiné Francesa e a Serra Leoa”.

Passemos para a navegação. Em 1888, constitui-se um serviço especial para a Guiné que era feito pela Empresa Nacional de Navegação A Vapor para a Guiné, parceria marítima formada por José Coelho Serra, que possuía o vapor Cidade da Praia e a Empresa Nacional de Navegação, que já possuía os vapores de Bolama e Bissau. Os vapores Bolama e Bissau foram construídos em Inglaterra nos anos 1880 e o vapor Cidade da Praia em Glasgow.

O primeiro “Guiné” foi um vapor da marinha de guerra, adquirido em 1879. Explica o autor: “Incidentes com o insubmisso gentio da região de Bolor, tornara imperiosa a aquisição de um barco, de caraterística apropriadas à navegação nos rios da Guiné, que pudesse chegar onde era necessário infligir justo castigo. Para tal fim, foram examinados o Silva Americano, vapor de quatro rodas, de 43 metros, construído para a Nova Companhia de Navegação do Quanza, os vapores Sena e Tete, em serviço na província de Moçambique, e até os rebocadores Operário, de 20 metros, do Arsenal de Marinha, e Norte, mas foram todos postos de parte, escolhendo-se um vapor de navegação do Sado, chamado Hugh Perry”. Tinha mais de 34 metros de comprimento e atingia a velocidade de 8,5 milhas por hora, o poder ofensivo era constituído por duas bocas-de-fogo, de bronze, que calibre 86 mm. Para defesa, contra tiros de espingarda e azagaias, tinha uma borda suplementar de ferro. Partiu para a Guiné em Abril de 1879, e ia comboiado pela curveta Bartolomeu Dias.

Escreve o autor: “Este navio contou na sua carreira militar o seguinte episódio, que vem relatado nas efemérides da lista armada da armada de 1899.
Em, Orango, encalhara uma barca austríaca, cuja tripulação foi roubada e maltratada pelo gentio daquela população. O cônsul da Áustria queixou-se, pedindo o castigo daqueles indígenas. Então a autoridade embarcou no vapor Guiné para punir o insulto. Seguiu o vapor para Orango e, em 1 de Junho de 1879, bombardeou a população com as duas peças que possuía, lançando contra ela 324 projéteis. Foi curta a vida deste navio, pois em 1883 naufragou na Guiné”.

Segue-se a história de três paquetes. Em 1905, a Empresa Nacional de Navegação adquiriu o vapor Açor à Empresa Insulana de Navegação. O paquete teve o seu nome mudado para Guiné. Tinha dois mastros e uma chaminé, não muito grande, e era movido por uma hélice. Como todos os barcos desta empresa, passou a usar o casco pintado de cinzento e a chaminé de preto. Manteve-se na carreira onze anos; em 28 de Maio de 1916, terminou a sua existência naufragando no baixo de Rui Pereira, na ilha do Fogo. Em 1922, a empresa Ed. Guedes Lda. adquire o vapor alemão La Plata. Nesse mesmo ano, as firmas Sociedade Agrícola da Ganda, limitada, Companhia do Amboim, e Ed. Guedes Lda., fundam a Companhia Colonial de Navegação que recebe dois navios rebatizados, o La Plata foi rebatizado Guiné. Fora construído na Alemanha, em Hamburgo. Diz o autor que era um belo barco, sem dúvida o melhor que tem servido a Guiné, com desenvolvidas superestruturas, dois mastros elegantes e uma chaminé onde se ostentavam as cores da companhia – verde, branco, verde. Naufragou na Guiné, em 24 de Agosto de 1930, quando seguia de Bissau para Bolama, enxurrou nas Areias Brancas, ficando desde logo condenado a perda total. Para substituir este Guiné, a Companhia Colonial de Navegação comprou o antigo San Miguel da Empresa Insulana de Navegação. Em 1938 foram introduzidos vários melhoramentos o navio ganhou boas acomodações, com lotação de passageiros de primeira, de segunda e terceira classes.

Por último, uma palavra sobre o rebocador do Arsenal da Marinha Guiné. Não se conhece praticamente nada da sua história, e o autor questiona: porquê Guiné, se o Arsenal usava nos seus rebocadores os nomes dos estabelecimentos de marinha, ribeirinhos do Tejo. Admite-se que a máquina deste rebocador possa ter sido aproveitada do navio de marinha que naufragara em Bolama em 1883, mas é uma hipótese. Alguém terá dito ao autor que este rebocador fora construído no Arsenal da Marinha com o destino à província do mesmo nome, mas nunca fora para lá mandado. Nos Anais do Club Militar Naval de 1885 descreve-se uma lancha construída no Arsenal da Marinha com destino à Guiné. Seria esta lancha o rebocador Guiné? Talvez.

No termo do seu trabalho, o autor fala doutros navios de marinha mercante e de guerra que possuíram nomes guineenses. Assim, as lanchas canhoneiras Cacheu e Farim, os vapores Bolama e Bissau e dois rebocadores Bissau, pertencentes ao estado, o último dos quais existia ainda à data da publicação, 1947. E faz um vaticínio: “Resta-nos desejar que um novo "Guiné" apareça, com o desenvolvimento do plano de reorganização da marinha mercante nacional, melhor e maior que os seus antecessores, barco que possua as convenientes acomodações para passageiros, com marcha razoável, 17 ou 18 milhas por hora, a província bem merece para o seu desenvolvimento”.


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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13923: Notas de leitura (652): “Quatro Rios e um Destino”, por Fernando Sousa, Chiado Editora, 2014 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13936. Facebook...ando (36): Joaquim Vidigueira Ferreira, natural de Santarém, técnico oficial de contas (TOC), ex-fur mil, CCAÇ 1498 / BCAÇ 1876 (Có, Jolmete, Bula, Binar, Ponate e Bissau, 1966/67)


Crachá da CCAÇ 1498 (1966/67), cuja divisa poético-épica é:  "Chorou-vos toda a terra que pisastes"


O fur mil Joaquim Vidigueira Ferreira, natural de Santarém


O fur mil Vidigueira Ferreira em Ponate, mais um topónimo do nosso calvário... Foto sem data...


Memorial aos mortos da CCAÇ 1498.. Presume-se que tenha sido erigido em Có.


O bolo do último convívio de "Os Vagabundos", em 28/6/2014


O nosso camarada e o seu neto mais novo, em dia de aniversário (71)

Fotos: © Ricardo Vidigueira Ferreira (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Camaradas, é bonito, toca-nos fundo, sensibiliza-nos, emociona-nos, ver filhos (e netos, e cada vez mais filhas e netas!), a preservar e divulgar as memórias do pai (ou avô) que passou (e penou) pelo TO da Guiné, no século passado, numa guerra de que já ninguém fala (ou não sabe ou não quer falar), nos idos anos de 1963/74... A guerra colonial na Guiné...

Na nossa página do Facebook, a da Tabanca Grande, fomos encontrar fotos e notas do Ricardo Vidigueira Ferreira, que vive em Santarém (ou é de Santarém), relativamente a seu pai, que foi nosso camarada na Guiné, o Joaquim Vidigueira Ferreira, ex-fur mil,  natural de Santarém, e que pertenceu à CCAÇ 1498 (Có, Binar e Bissau, 1966/67).(*)

"Hoje em dia, mesmo com alguns problemas de saúde continua a exercer a actividade de TOC [, Técnico Oficial de Contas], em Santarém"...

Temos um grã-tabanqueiro, o Armando Teixeira da Silva, que pertenceu à  CCAÇ 1498/BCAÇ 1876, que esteve em Có, Jolmete, Bula, Binar e Ponate (1966/67). A companhia fez em 28 de junho passado o seu convívio anual.

Ainda há dias alguém protestava porque, no nosso blogue,  não se falava de Có!


2. Desejamos ao nosso camarada Joaquim Vidigueira Ferreira boa sorte e boa saúde. Parabéns ao filho Ricardo, que vive na Amadora, e  de quem de resto já tínhamos publicado um poste, em 5 de dezembro de 2013 (*). E felicidades para o neto, mais novo,  que aparece aqui, numa foto, com o avô a celebrar os seus 71 anos, feitos este ano.

 E fica aqui o nosso convite para o Joaquim integrar este blogue, o blogue  Luís Graça & Camaradas da Guiné (que não se confunde com a página do Facebook). Já temos as duas fotos da praxe, falta apenas um pedido formal do Joaquim  para se sentar debaixo do poilão da nossa Tabanca Grande. Se o pedido for feito hoje, ele  passará a ser o grã-tabanqueiro nº 674.
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Guiné 63/74 - P13935: Parabéns a você (820): Abel Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742 (Guiné, 1967/69); e António Levezinho, ex-Fur Mil da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71)


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Nota do editor

Último poste da série > 23 de novembro de 2014 >  Guiné 63/74 - P13930: Parabéns a você (819): José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp do BART 6523 (Guiné, 1973/74)

domingo, 23 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13934: Agenda cultural (360): lançamento do livro "Estudos Gerais Universitários de Angola: 50 anos, história e memórias", edição Colibri, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 5ª feira, dia 27, às 18h00




1. A minha amiga Marília de Sousa, engenheira agrónoma reformada, natural de Angola, e a viver em Portugal desde 1975,  mandou-me este convite que quero partilhar com mais amigos de Angola. Trata-se do lançamento do livro "Estudos Gerais Universitários de Angola: 50 anos, história e memórias".  A iniciativa é de um conjunto de Antigos Alunos dos Estudos Gerais Universitários de Angola. A Marília de Sousa é coordenadora de uma equipa de seis e autora de alguns textos. A edição é da Colibri. A apresentação, a cargo da jornalista Helena Matos, é na Fundação Calouste Gulbenkian, Sala 1,  no próximo dia 27, 5ª feira. A minha amiga  fez o curso de agronomia no ISA, Lisboa, mas começou o ensino superior em Luanda.



2. Sobre a evolução do ensino superior universitária em Angola, 
leia-se aqui este excerto do sociólogo angolano Paulo de Carvalho, uma voz crítica mas respeitada no seio da sociedade angolana de 
hoje [ Fez a licenciatura e o mestrado  em sociologia pela Universidade de Varsóvia, Polónia, e o doutoramento em Lisboa, no ISCTE -IUL, em 2004, com uma tese sobre "Exclusão Social em Angola. O caso dos deficientes físicos de Luanda"]




 (...) O ensino superior foi implantado em Angola (então colónia portuguesa) somente no ano de 1962, com a criação dos Estudos Gerais Universitários de Angola. A Igreja Católica tinha, porém, criado em 1958 o seu Seminário, com estudos superiores em Luanda e no Huambo (...). À criação dos Estudos Gerais Universitários de Angola seguiu-se a criação de cursos nas cidades de Luanda (medicina, ciências e engenharias), Huambo (agronomia e veterinária) e Lubango (...)  (letras, geografia e pedagogia).

/...) Em 1968, os Estudos Gerais Universitários de Angola foram transformados em Universidade de Luanda, tendo em 1969 sido inaugurado o Hospital Universitário de Luanda. A Igreja Católica havia, entretanto, criado em 1962 o Instituto Pio XII, destinado à formação de assistentes sociais.

 (...) No período colonial, o acesso ao ensino superior destinava-se somente a quem integrava as camadas superiores da hierarquia social, podendo mesmo dizer-se que, nos primeiros anos de implantação em Angola, era difícil que alguém pertencente às camadas médias da hierarquia social tivesse acesso ao ensino superior. O local de nascimento, o local de residência e a posição social determinavam claramente o acesso a este nível de ensino, que reproduzia para as gerações seguintes a estratificação social da Angola colonial. (...)

(...) Com a proclamação da independência política de Angola, em 1975, foi criada a Universidade de Angola (em 1976), mantendo-se uma única instituição de ensino superior de âmbito nacional. No ano de 1985, a Universidade de Angola passou a designar-se Universidade Agostinho Neto, que se manteve até 2009 como única instituição estatal de ensino superior no país. Neste ano, a Universidade Agostinho Neto (UAN) foi “partida” em 7 universidades de âmbito regional, mantendo-se a UAN a funcionar em Luanda e na província do Bengo, enquanto as faculdades, institutos e escolas superiores localizados nas demais províncias passaram a ficar afectos às demais seis novas universidades estatais. (...)

(...) Os Estudos Gerais Universitários de Angola, instalados em 1963 em Luanda e Huambo, possuíam em 1964 um número de 531 estudantes. No final do período colonial, esse número tinha evoluído para 4.176, com um aumento médio de 22,9% ao ano (...). Com o processo de descolonização, o número de estudantes diminuiu para 1.109 no ano de 1977, o que equivale a uma diminuição drástica, em 73,4%. Só por aqui se comprova a tese apresentada acima, segundo a qual o acesso ao ensino superior estava no período colonial vedado aos angolanos, cuja maioria se enquadrava nas camadas sociais mais desfavorecidas. (...)

Fonte: Paulo Carvalho - Evolução e crescimento do ensino superior em Angola. "Revista Angolana de Sociologia (RAS)", 9, 2012, pp,  51-58 [Texto integral disponível aqui[

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P13933: (Ex)citações (251): Nunca é demais recordar: a tragédia do Quirafo... foi há mais de 42 anos (Álvaro Basto)



Tabanca de Matosinhos > 2009 > "O Batista e o Mário Migueis que,.  juntamente com o Paulo Santiago, muito têm contribuído para o deslindar da verdade dos factos"

Foto (e legenda): © Álvaro Basto (2009). Todos os direitos reservados.[Edição: LG]



Maia > Moreira > Cemitério local > Foto do Jornal de Notícias, edição de 18 de Setembro de 1974, mostrando o soldado António da Silva Batista, a visitar a sua própria campa. A notícia do jornal era: "Morto-vivo depôs flores na sua campa". Na lápide pode ler-se: "À memória de António da Silva Batista. Faleceu em combate na província da Guiné em 17-4-1972".

A foto, de má qualidade, foi feita pelo nosso camarada Álvaro Basto, com o seu telemóvel, na Biblioteca Pública Municipal do Porto, e remetida ao Paulo Santiago. O Álvaro Basto [ex-fur mil enf da CART 3492, (Xitole, 1971/74] constatou, pessoalmente, no Saltinho, a impossibilidade de reconhcer os cadáveres dos nossos camaradas, da CCAÇ 3490, que morreram na emboscada do Quirafo, em 17/4/1972,  inckuindo o António Ferreira, . O Batista, dado como morto, foi afinal o único desaparecido: foi feito prisioneiro pelo PAIGC e só libertado em Setembro de 1974. É, de resto, o único sobrevivente de quem temos falado até aqui... Mas há outros...

Foto: © Álvaro Basto (2007). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem: LG]


1. Texto do Álvaro Basto  publicado há mais de cinco anos no blogue da Tabanca de Matosinhos (*) [Reproduzido aqui com a devida vénia].

Esta poste vem a propósito do caso do João Maximiano, uma das vítimas da emboscada do Quirafo (**)

[foto à esquerda, de 1972, Álvaro Basto, ex-fur mil enf, CART  3492 / BART 3873, Xitole, 1972/74]


17 de Abril de 1972 foi uma data fatídica para uma série de camaradas nossos [, da CCAÇ 3490,. Salltinho,. 1972/74] que nos deixaram de forma abrupta e traiçoeira.

Nesse dia o [António da Silva] Batista, deitado no chão após o enorme rebentamento das granadas de "bazooka" que íam pousadas dentro da GMC onde ele se tinha empoleirado, viu aproximar-se um "turra" e deitar-lhe a  mão ao cano da espingarda para ver se estava quente ou frio.

Felizmente estava frio pois o terror tinha-o paralizado... estava salvo por agora. O tiro de misericórdia que lhe estava destinado ficou reservado para outros que se contorciam com dores no chão.

Foi levado pelos guerrilheiros, desarmado pelo mato em coluna que o fizeram atravessar o rio Corubal por um caminho de pedras submersas e viu a água subir-lhe pelo corpo acima até ao pescoço. De repente pensou que não sabia nadar... não morri da emboscada e vou morrer aqui afogado, pensou.... mas a água foi lentamente descendo e finalmente estava do outro lado.

Esperavam-no longos meses de doloroso cativeiro. Foi um dia de pesadelo para os poucos que sobreviveram e para os que foram em socorro das vítimas. Imaginaram-se cenas, especularam-se hipóteses. No princípio nem se sabia ao certo quantos faltavam.

37 anos depois, alguns dos nossos camaradas da Tabanca de Matosinhos, entre os quais, alguns que viveram aquela tragédia no local, vão depositar uma coroa de flores no túmulo do António Ferreira no cemitério de Águas Santas juntamente com a Cidália, a sua viúva, prestando desta forma uma singela homenagem a todos quantos nesse dia pereceram em tão traiçoeira emboscada. (***)

A nossa imaginação exacerbada pelo horror da tragédia e as nossas recordações incompletas e distorcidas pelo tempo, fizeram a Cidália acreditar que o seu amado António Ferreira poderia ter sido capturado vivo e, à semelhança do que aconteceu com o Batista, um dia ainda regressar para o seio dos seus.

Arrumadas as ideias e refeitos os factos, infelizmente ficou comprovado que não. O seu corpo descansa em paz no túmulo que lhe reservaram na sua terra natal.

Bem hajam todos quantos se têm esforçado pela determinação da verdade dos factos. (****)

Álvaro Basto
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Notas do editor:

(*) Vd. Tabanca de Matosinhos & Camaradas da Guiné > sexta-feira, 17 de Abril de 2009 > P148-A emboscada do Quirafo foi há 37 anos [Álvaro Basto]

(**) Vd, poste de 22 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13927: Ser solidário (174): Vamos ajudar o nosso camarada João Maximiano, que encontrei em Leiria, ex-sold cond auto da CCAÇ 3490 (Saltinho), que continua a sofrer com as recordações da terrível emboscada de que foi vítima no Quirafo, em 17/4/1972... (Juvenal Amado, ex-1º cabo cond auto, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74)

(***) Vd,. outros postes, do nosso blogue, publicados por ocasião da efeméride dos 37 anos da emboscada do Quirafo;

18 de abril de  2009 > Guiné 63/74 - P4207: In Memoriam (20): Para o António Ferreira e demais camaradas mortos no Quirafo (Juvenal Amado)

18 de abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4205: In Memoriam (19): António Ferreira, 1.º Cabo TRMS da CCAÇ 3490, morto em combate no dia 17 de Abril de 1972 (Cátia Félix)

17 de abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4202: Dia 17 de Abril de 1972. A emboscada do Quirafo, 37 anos depois (Mário Migueis)

17 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4200: Ainda e sempre a tragédia do Quirafo. Sortes distintas para António Batista e António Ferreira (Mário Migueis / Paulo Santiago)

31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4117: A tragédia do Quirafo: 37 anos para fazer o luto pelo António Ferreira (Paulo Santiago / Cátia Félix)

18 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4046: Ainda a atroz dúvida da Cidália, 37 anos depois: O meu marido morreu mesmo na emboscada do Quirafo ? (Paulo Santiago)

(****) Último poste da série > 21 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13924: (Ex)citações (250): a autogrua Galion e o cais de Bambadinca, quatro anos depois, em novembro de 1973

Guiné 63/74 - P13932: Memórias de Gabú (José Saúde) (45): Incompreendidos e injustiçados



1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mis uma  mensagem desta sua fabulosa série.

As minhas memórias de Gabu


Camaradas, 


Stress pós-traumático de guerra: uma patologia irreversível 

Incompreendidos e injustiçados

O tema é perseverso, admito. Mas, foi, é e será uma realidade inquestionável com o progredir do tempo. Todos nós conhecemos pormenores de uma guerra que transvazou sentimentos onde a nossa irreverente juventude se sobreponha a uma ordem de fatores que ditava uma indesmentível verdade na hora exata em que se lutava pela sobrevivência: “matar para não morrer”.

Confesso que a temática da guerrilha na Guiné mexeu, seguramente, com todos os camaradas que palmilharam trilhos comuns e sempre imprevisíveis. Jamais reneguei que nós, putos na casa dos vinte anos, formávamos “esquadrões da morte” e que nunca premeditávamos o momento subsequente. Depois… vinham os tormentos.

Revejo as nossas saídas para o mato, ou as colunas que, a espaços, eram facilmente sujeitas a confrontos reais com um IN que na orla do matagal emboscava jovens soldados sem medo. Aliás, os estridentes sons das armas foram “receitas” cabais para uma peleja que ditava fins incompreensíveis. Era assim a guerra que conhecemos.

Um enorme frenesim mexia com as nossas almas. Vidas destroçadas e um futuro incerto. E a certeza diz-nos que muitos camaradas morreram, outros ficaram estropiados, outros feridos com maior ou menor gravidade e outros viverão eternamente sob uma patologia a que se dá o nome de stress pós-traumático de guerra.

Incompreendidos e injustiçados os antigos combatentes sentem que são gentes onde o lapidar de enfadonhos sobressaltos, e que foram de facto muitos, se entrelaçam com emoções, algumas fatídicas, assim como num abismal desconforto de que resultaram perturbações inevitavelmente indestrutíveis.

Percebo e compreendo a atitude de camaradas que se refugiam no silêncio quando a temática abordada é a guerra. Aquela maldita guerra que terminou com a Revolução dos Cravos – 25 de abril – já lá vão 40 anos. Um espaço curto que significa o seu fim, é certo, porém as feridas, não sanadas, teimam manter-se à tona das nossas vivências quotidianas.

Suavizando esses instantes de autênticos arrojos, resta fixarmo-nos sobre a nossa presença na Guiné, sublinhando, com convicção, que para trás ficou uma comissão militar forçada e a certeza de que fomos enviados para os “corredores da morte” em defesa de falsas razões impostas por pseudointelectuais que não abdicavam da fútil frase impingida a todos os que partiam para a guerra em além-mar: “Em defesa da Pátria”.

Sou mais um dos antigos camaradas que jamais se resignará perante as imposições de uma classe política que não soube e desconhece os horrores vividos pelos antigos combatentes numa frente de guerra tida como desumana e desigual, creio.

É justo, por isso, que as nossas vozes se façam ouvir, exaltando para um padecimento horrível num espaço que não conhecíamos e donde trouxemos raciocínios fortes para implorámos justiça. Uma justiça feita pelos homens e não por “advogados dos diabos” que optam por falácias imorais, sendo que as suas teses subservientes aos senhores do poder carecem, obviamente, de um rigor que me atrevo a citá-lo como bárbaro. 


Observo com atenção depoimentos de antigos camaradas. Camaradas que, não obstante a virtualidade de sermos hoje pessoas que já mergulhámos na casa dos 60 anos, outros nos 70, ainda sofremos de sequelas do stress pós-traumático de guerra que muito nos atormenta. Julgo, aliás, que poucos dormem isentos de maquiavélicos sonhos que nos transportam a pesadelos incontroláveis.



José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523


Lembro, com um misto de nostalgia e de um suplício inquietante, a madrugada de 1 de fevereiro de 1985 uma ação levada a cabo no Bairro Alemão, em Beja, pelas FP 25. Morava no 6º andar de um edifício de uma rua próxima – 25 de abril - e ao ouvir os rebentamentos vim à janela, deparando-me então com um cenário que me transportou para outros lugares.

O meu estado de ansiedade foi enorme. A Guiné suplicava o recordar de ataques noturnos aos quartéis. O breu da noite implorava calma. Calma? Bolas, eu tremia que “nem varas verdes”. O resto da noite foi passada em branco.

No meu subconsciente existiam sons e imagens da guerra que pareciam não quebrar o infinito de um horizonte distante. Beja, naquela noite, foi palco de uma “guerrilha” que me transportou para as minhas memórias de Gabu que me fez recordar noites de insónia e de grandes pesadelos.

Camaradas, na minha ótica não é fácil tratar o tema da guerra de ânimo leve. Sou um ouvinte atento da temática. Sou, também, um espetador assíduo de comentários de antigos camaradas que timidamente contam detalhes pelos quais passou.

As esposas, senhoras que sempre souberam lidar com desastrosos momentos onde o desespero se cruzou com hilariantes atitudes do marido, foram, e são, personagens apaziguadoras de resquícios de uma guerra que trouxe, afinal, alterações comportamentais para os antigos combatentes que vivem ainda hoje manietados a um conflito onde foram apenas soldados de uma Pátria que persiste em subestimar a sua ação nas frentes de combate.

Incompreendidos e injustiçados, nós, antigos combatentes, apenas pedimos celeridade numa opção que se prende, simplesmente, com direitos afincadamente reclamados. Muitos camaradas já partiram para a eternidade; outros reclamam justiça; outros esperam em vão por resoluções que levam anos por decidir e outros aguardam pacientemente pelo dia em que sejamos, finalmente, reconhecidos. 

Camarada Juvenal Amado, este texto teve, também, como inspiração o post que assinas sobre o teu reencontro com o camarada João Maximiano e que esteve em Saltinho. Um homem que sofre de stress pós-traumático de guerra causado pela guerrilha do Guiné. Um camarada que esteve com a morte a seu lado.

Juvenal, meu amigo, sabes que este teu velho camarada absorve toda a informação sobre a temática de uma guerra que se estendeu por Angola, Moçambique e Guiné. Nessa colheita de informação retiro ensinamentos sobre essas três frentes de guerra e de onde resultam enfermidades eternas. O João Maximiano é, somente, mais um dos exemplos conhecidos Força, camarada! 


Incompreendidos e injustiçados permanecem, e é verdade, muitos dos nossos antigos camaradas. Fica o repto: até quando?



Um abraço, camaradas
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 

15 DE NOVEMBRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13899: Memórias de Gabú (José Saúde) (44): Imagens de Gabu em 1999