terça-feira, 25 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13939: Fotos à procura... de uma legenda (44): na Tasca do Zé Maria, na Bambadinca ribeirinha, comendo lagostins do Rio Geba Estreito... Na foto, Humberto Reis, Tony Levezinho e José António Rodrigues (já falecido)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > Tasca do Zé Maria >  Um  dos nossos poucos luxos no mato... Os famosos lagostins do Rio Geba Estreito... Da direita para a esquerda, três camaradas da CCAÇ 12 (1969/71) Humberto Reis, Tony Levezinho (que ontem fez aninhos...) e o José António G. Rodrigues.. Penso que fui quem tirou esta foto com a máquina do Humberto Reis...

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


 1. Em matéria de comes & bebes..., quanto custava um quilo de camarões tigres, ou lagostins,  do Rio Geba Estreito, comidos na tasca do tuga Zé Maria a quem a malta chamava turra (por alegadamente  vender e comprar vacas aos turras), em Bambadinca, com uma linda vista para o rio.... ?

(i) custava cinquenta pesos um quilo de lagostins (, caríssimo, por ser arriscado o sítio onde os apanhavam);

(ii) com uma nota de 100 pesos, o tuga comprava duas garrafas de uísque novo e ainda lhe sobravam uns trocos;

(iii) o Old Parr (uísque velho, muito apreciado pelo tuga) já custava mais: 130 ou até 150 pesos, se não me engano:

(iv) um bife com batatas fritas e ovo a cavalo (supremo luxo de um operacional  da CCAÇ 12, preto de 1ª, como eu, o Tony Levezinho ou o Humberto Reis) na Transmontana, em Bafatá,  custava vinte a vinte e cinco pesos, com bebidas incluídas;

 (v) uma vaca raquítica, em Sonaco, comprava-se por 950 pesos;

(vi) nas tabancas, fulas, por onde passávamos e onde ficávamos uma semana ou mais, de cada vez, em reforço do sistema de autodefesa, era costume comprar, mesmo a custo, galinhas e frangos, a sete pesos e meio por bico;

(vii) um parto de  ostras em Bissau custava 20 pesos... 

...Legendas, aceitam-se!

Tudo isto um pretexto para homenagear o meu "amigo para a vida" e camarada da CCAÇ 12, o Tony Levezinho, que aparece ali na foto, na Tasca do Zé Maria, a banquetear-se com os famosos lagostins do Rio Geba estreitto... Tem à sua frente o alf mil Rordirguies, do 4º Gr Comb, já falecido... E à direita, da foto, o Humberto Reis.

Para os dois que ainda estão vivos da costa, vai um xicoração fraterno. LG

__________________

Nota do editor:

7 comentários:

anónimUM disse...

Na Guiné, enquanto por lá passei 73/74, comi à "borla" muitas galinhas, porcos e vacas, tudo isto porque estive sempre no mato.
Só volta e meia - quando a minha companhia se mudava de uma zona para outra, passando por Bissau, é que se comia um bife com batata frita ou umas lagostas e/ou uns camarões.
Nuno Soares da Silva (BBAÇ 4514/73.

Luís Graça disse...

Com a devida vénia... Um dos mais fabulosos poemas e músicas sobre a nossa gesta dealém-mar... Grande Fausto, tão esquecido... LG

______________


Fausto : O barco vai de saída

Letra e música: Fausto
In: "Por este rio acima" gravado em 82
José João
O barco vai de saída
Adeus ao cais de Alfama
Se agora ou de partida
Levo-te comigo ó cana verde
Lembra-te de mim ó meu amor
Lembra-te de mim nesta aventura
P'ra lá da loucura
P'ra lá do Equador

Ah mas que ingrata ventura
Bem me posso queixar
da Pátria a pouca fartura
Cheia de mágoas ai quebra-mar
Com tantos perigos ai minha vida
Com tantos medos e sobressaltos
Que eu já vou aos saltos
Que eu vou de fugida

Sem contar essa história escondida
Por servir de criado essa senhora
Serviu-se ela também tão sedutora
Foi pecado
Foi pecado
E foi pecado sim senhor
Que vida boa era a de Lisboa


Gingão de roda batida
corsário sem cruzado
ao som do baile mandado
em terra de pimenta e maravilha
com sonhos de prata e fantasia
com sonhos da cor do arco-íris
desvaira se os vires
desvairas magias

Já tenho a vela enfunada
marrano sem vergonha
judeu sem coisa nem fronha
vou de viagem ai que largada
só vejo cores ai que alegria
só vejo piratas e tesouros
são pratas, são ouros,
são noites, são dias

Vou no espantoso trono das águas
vou no tremendo assopro dos ventos
vou por cima dos meus pensamentos
arrepia
arrepia
e arrepia sim senhor
que vida boa era a de Lisboa


O mar das águas ardendo
o delírio do céu
a fúria do barlavento
arreia a vela e vai marujo ao leme
vira o barco e cai marujo ao mar
vira o barco na curva da morte
e olha a minha sorte
e olha o meu azar

e depois do barco virado
grandes urros e gritos
na salvação dos aflitos
estala, mata, agarra, ai quem me ajuda
reza, implora, escapa, ai que pagode
rezam tremem heróis e eunucos
são mouros são turcos
são mouros acode!

Aquilo é uma tempestade medonha
aquilo vai p'ra lá do que é eterno
aquilo era o retrato do inferno
vai ao fundo
vai ao fundo
e vai ao fundo sim senhor
que vida boa era a de Lisboa

http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/html/fausto-barcoVaiDeSaida.html

Mário Beja Santos disse...

Tony Levezinho, Um abraço do dia de ontem. Lembro-te com saudade e desejo-te do coração as maiores felicidades pessoais. O Luís tem este condão de aproveitar uma fotografia e espevitar-nos a memória. No meu caso, foi refrigério para a alma, a Tasca do Zé Maria, e o Zé Maria em si, foram epicentros e Mecas da minha vida social. Atravessar o Geba, tantas vezes roido pela fome, ali fazia uma paragem para um mata-bicho ou dessedentar-me. Havia listas de compras, a tasca ligava com um estanco, onde se vendiam agulhas, linhas e tudo o mais que amaparava a nossa sobrevivência. E à tarde, depois de atravessar aquele caminho rodeado de casario, depois da rampa de Bambadinca, depois de acenar à senhora dos CTT, era ali que eu fazia a última paragem antes de me meter na canoa de Mufali Iafai. Foi o Zé Maria que me levou ao quartel na noite dramática de 16 de Outubro de 1969, depois da mina anti-carro de Canturé, ele conduzia atónito aquele alferes esfarrapado e queimado que por ali passara duas horas antes. Foi pois com alegria que revi o Tony Levezinho, vi o Rodrigues que já descansa para lá das nuvens e olhei nostálgico para aquele espaço onde me retemperei ao chegar e ao partir para outro lado do Geba. Um abraço do Mário

Anónimo disse...


Antonio Levezinho
25 nov 2014 15:33

Caro Luis

Sobre a foto, eu acho que ela foi tirada por ti, razão pela qual não estás à mesa, no momento.

Correspondendo ao teu desafio, começaria por intitulá-la de “Momentos”.

Com efeito, acho que esta palavra encerra em si a força da singularidade de eventos/atitudes que, na vida de todos nós, deixam marcas, por se tratarem de breves roturas com as nossas rotinas.

A foto retrata uma das poucas fugas ao nosso alcance, sempre que a janela de oportunidade ,para o efeito, surgia.

Na verdade, correr para Bafatá para emborcar cerveja e trincar o saboroso camarão do Geba era assim uma coisa redentora que, enquanto durava, atirava para bem longe o peso do nosso dramático dia a dia.

Nem Gambrinos, nem qualquer outra cervejaria afamada da nossa capital poderiam aspirar a serem tão desejados, pelos seus clientes, como eram os modestos refúgios(*) daquela cidade, de uma Guiné em sobressalto, pela incerteza do dia seguinte.

E claro, tratando-se de momentos, logo o recreio terminava quando, já bem atestados, fazíamos o percurso inverso, em cima do Unimog, de regresso àquela vidinha e acompanhados, em espírito, pelo pesadelo da tal emboscada que, felizmente, nunca aconteceu.

(*) Já não sei pôr o nome naqueles “oásis” que nos matavam a sede… e não só!

Com um Abraço
Tony Levezinho

Luís Graça disse...

Tony, obrigado, pelo comentário...

Quando íamos a Bafatá (,quando íamos e nos deixavam, no intervalo da nossa intensa atividade operacional), fazíamos me geral o circuito completo:

(i) comércio local, para alguma compra que nos fizesse lembrar a "civilização");

(ii) aperitivo dno restaurante das Libanesas (e "para limoar a vista");

(iii) "visita" à Ana Maria, a Helena e as demais meninas do Bataclã ("onde se ia mudar o óleo", uma expressão de antologia, chamem-lhe o que quiserem os/as politicamente corretos...):

(iv) o restaurante Transmontana (onde almoçávamos, o bifinho com ovo a cavlo e batatas fritas, com umas "bazucas")...

(v) mais umas voltinhas pela piscina e cais...

(vi) e depois o Café do Teófilo (o últimc copo , para a despedida, antes do regresso a Bambadinca)...

Mas os melhores lagostins, esses, eram de facto, os que comíamos no Zé Maria, em Bambadinca, perto já zona fluvial...

Tal como o melhor chabéu de frango era o do Rendeiro, Fernandes Rendeiro, já falecido, que ficava do lado esquerdo da rampa de Bambadinca, a 50 metros do arame farpado... A esposa, mandinga, era uma magnífica cozinheira... Nunca a vimos... Ele de vez em quando gostava de nos convidar para ir lá casa... e tirar nabos da púcara. Era da Murtosa, e vivia naquele fim do mundo desde os 17 anos...

Tony Levezinho disse...

O meu duplo agradecimento.

-Ao Mário Beja Santos pelos votos formulados, a propósito do meu aniversário, acompanhado de um forte e saudoso abraço.

- Ao Luis Graça por ter "acendido a luz" do "quarto escuro" onde, por vezes, a nossa memória não consegue (ou não quer) entrar.

Bem hajam.
Tony Levezinho

António Duarte disse...

Meus Caros Camaradas "Velhinhos" da CCAÇ 12,

Percorri estes caminhos em 1973, na Ccaç 12.

Quanto ao circuito nas visitas a Bafatá, só altero a ordem:

1) "Mudança de óleo" (recordo a Helena, a Teresa e a Sali Mato). Razão para ser a atividade nº 1. É que sempre gerava algum stress, pelo que o bife da Transmontanta, acompanhado com pão de farinha de arroz (lembram-se como era leve e oco), sabia melhor.

2) Quanto aos outros pontos estão certíssimos.
Abraços aos meus antecessores da CCaç 12
António Duarte
Cart 3493 - CCaç 12 - Dez 71 a jan de 74